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INOVANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: A INSERÇÃO DO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE

“Viver no duelo dos contrários, isto é, nem na duplicidade sem consciência nem no ‘justo-meio’, mas na medida e na desmedida; não numa resignação morna, mas na esperança e no desespero, não num vago tédio ou num vago interesse diante da vida, mas no horror e no maravilhamento” (Morin, 2003c, p.68).

Por meio da Teoria da Complexidade, defendida por Edgar Morin, perseguimos uma ciência com consciência, bem como um processo ensino-aprendizagem com uma visão humana em relação ao cuidar do outro, com uma visão que reduza a fragmentação do ensino do cuidar do outro.

É importante comentar que foi difícil trabalhar nesta perspectiva, principalmente porque significou um rompimento com um modelo linear, reducionista, até então estudado e vivenciado. As idas e vindas no estudo da Teoria da Complexidade foram uma constante, um exercício incansável porque era sempre mais fácil, mas não desejado, refletir em função de um paradigma que foi predominantemente vivido no exercício profissional.

A Teoria da Complexidade mostra-se de fundamental importância no sentido de permitir, conhecer e analisar o processo ensino-aprendizagem em um Curso de Graduação em Enfermagem, bem como, descrever a compreensão dos docentes sobre sua prática pedagógica que fluiu nos discursos.

Por meio dos sinalizadores pedagógicos complexos, pudemos vislumbrar a possibilidade de um ensino pautado na condição humana, na solidariedade, na interligação e na possibilidade de relacionar as partes ao todo e o todo as partes do saber. Sabemos que há muito que percorrer, porém para se desenvolver e tornar-se forte, é preciso passar por uma série de etapas, desafios e percalços. Antes de tudo, para crescer é preciso passar pelas fases de crescimento.

O processo ensino-aprendizagem não se constitui unicamente a resposta para todos os problemas, porém é parte vital dos esforços para criar as relações entre os seres

humanos. Portanto, a importância do papel do professor enquanto agente de mudança, no favorecimento da compreensão mútua, é sem dúvida, uma grande responsabilidade, pois exige competência técnica, além do desejo, prazer e amor pelo próprio conhecimento e pelos alunos.

A responsabilidade do professor consiste em participar da construção do conhecimento, situando-o num contexto, para que facilite ao aluno o estabelecimento de ligações dos saberes, além de contribuir para a formação da capacidade de discernimento e do sentido das responsabilidades individuais. Para isso, a responsabilidade de ensinar requer autocrítica, auto-avaliação, necessitando do seu comprometimento enquanto pessoa.

Da mesma forma, o professor deve preocupar-se em tornar evidente na educação, o contexto, o global, o multidimensional e o complexo, dimensões para um conhecimento pertinente. Esta preocupação, de ensinar os alunos a associarem e ligarem os saberes em uma trama única deve ser uma constante na vida do docente propiciando o desenvolvimento do aluno, calcado na realidade consciente e responsável.

A missão do professor ao ensinar a complexidade humana, começando por enxergar o aluno enquanto pessoa e ensinando-o a enxergar o seu paciente enquanto pessoa nos sinaliza a importância em valorizar a um só tempo, o biológico, o psíquico, o social, o espiritual e, portanto o humano como um ser complexo. O professor, assim como o aluno é um ser que ao mesmo tempo é singular e plural, uno e diverso, ou seja, um ser complexo; assim como a pessoa, que está sendo cuidada pelo aluno, também o é.

Dessa maneira, o professor ao ensinar o aluno a compreender a condição humana, reconhece em si mesmo a sua própria condição humana, da mesma forma que o aluno ao apreender a condição humana passa a reconhecer a sua e a do outro, ou seja, o processo ensino-aprendizagem centrado na pessoa é compreendido por projeção e pela dialógica professor-aluno.

Para ensinar a complexidade humana também requer do professor a disponibilidade para ouvir; a liberdade para dialogar, nos permitindo lidar com a incerteza, incitando a pensar aventurosamente, além de criticar o saber estabelecido, que se impõe

como certo, ao auto-exame e à tentativa de autocrítica. O professor deve também, estimular a criatividade e a curiosidade como estratégia de ensino-aprendizagem, que consiste no investimento de uma atividade pensante como recursos que favorecem o exercício de uma nova visão do mundo, porque tornam os sujeitos questionadores, longe de serem submetidos às ordens, mitos e crenças impostas. Diante de todos esses deveres e responsabilidades, faz-se necessário e de fundamental importância ressaltarmos que para ensinar é necessário afeto, carinho e amor.

O enfrentamento das incertezas no processo saúde-doença, por meio da construção do conhecimento no processo ensino-aprendizagem, é essencial para a convivência com a realidade. O conhecimento é entendido como um processo contínuo e dinâmico da vida, uma aventura incerta por comportar em si mesmo, permanentemente, o risco de ilusão e erro. Além disso, precisamos ter a consciência da sua incompletude. Da sua incompletude, mas não da sua impossibilidade.

Sabemos que o processo de aprendizado é também individual, portanto, a vivência e a experiências dos alunos devem ser consideradas no processo de construção do conhecimento, assim como a comunicação entre os indivíduos que tece uma rede social cada vez mais complexa, favorecendo o desenvolvimento das pessoas e ao mesmo tempo, o conhecimento e as possibilidades de sua emancipação.

Na construção do conhecimento há aspectos relevantes como a busca de suporte teórico-pedagógico em expoentes da educação. No decorrer deste estudo percebemos a grandeza e a importância da obra de Edgar Morin na Linha de Pesquisa de Formação em Saúde, bem como a de Paulo Freire.

O zênite do processo ensino-aprendizagem se faz por meio da transdisciplinaridade no intercâmbio e na articulação entre as disciplinas, na superação das fronteiras, decorrente de conceitos e pensamentos abertos e nas relações existentes entre as várias áreas do saber que a transdisciplinaridade se faz presente.

Não podemos deixar de valorizar, que a vontade e a fé na possibilidade de mudança para um processo ensino-aprendizagem na ótica da complexidade, sinaliza uma

preocupação pertinente à qualidade do mesmo pautado na ética da solidariedade e na religação dos saberes.

A grande força dos professores reside nos exemplos que dão manifestando sua abertura de espírito por meio do diálogo, da cooperação com os outros, da valorização do ato de compartilhar, da compreensão humana. A responsabilidade dos professores está em ensinar as pessoas à não se fecharem sobre si mesmas, de modo a abrir-se à compreensão dos outros baseados no respeito pela diversidade.

A educação baseada na Teoria da Complexidade prepara cada indivíduo a compreender a si mesmo e ao outro, ensinando-o e estimulando-o a ser solidário e responsável, por meio da construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social.

O papel da universidade, na qualidade de centro de pesquisa e criação do saber, pode sem dúvida, ajudar a resolver problemas que se colocam à sociedade. O trabalho em grupo e a cooperação de estudantes à serviço da comunidade são fatores que merecem ser encorajados, principalmente porque as instituições de ensino estão extraordinariamente bem colocadas para enriquecer o diálogo entre as pessoas, os povos e entre as culturas.

Tendo o professor uma importância fundamental no processo ensino- aprendizagem, é preciso que haja liberdade de expressão dentro das instituições e que a sua participação nas decisões relacionadas com a educação seja levada em conta.

Diante do que foi apresentado, podemos dizer que compartilhamos com Morin a necessidade da Teoria da Complexidade ser concebida como uma grande reforma do pensamento, como uma tomada de posição epistemológica. Acreditamos que por meio da reforma do pensamento, conseguiremos atingir as possibilidades: de ligarmos os saberes e enfrentarmos a incerteza; de substituir a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirrenferencial; de corrigirmos a rigidez da lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas e completar o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes.

-subsidiar reformulações nos currículos dos Cursos de Graduação em Enfermagem numa sintonia com as políticas educacionais e de saúde do país;

-disseminar e debater a Teoria da Complexidade no âmbito da Saúde; -canalizar esforços para um “ensino com consciência”;

-valorizar a condição humana no processo ensino-aprendizagem dos Cursos de Graduação em Enfermagem, mediada pela Teoria da Complexidade.

Dessa forma, propomos que os Sinalizadores Pedagógicos Complexos sejam utilizados individualmente ou em conjunto, na criação de conteúdos transdisciplinares em Projetos Pedagógicos de Cursos de Graduação em Enfermagem. Assim, novos estudos devem ser realizados com a finalidade de continuarmos a investigação desse paradigma que não se encerra com essa obra.