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reconhecer a complexidade intrínseca do problema, isto é, a impossibilidade da decomposição desse problema em partes simples,

fundamentais. Na ausência de fundamentos, ausência que caracteriza o mundo atual, ‘mudar de sistema de referência’ também quer dizer tomar como fundamento precisamente a ausência de fundamentos. Em outras palavras, substituir a noção de ‘fundamento" pela coerência deste mundo multidimensional e multireferencial’ (Nicolescu, 1997).

Ao abandonar o pensamento reducionista, a transdisciplinaridade, assume a inconclusão do conhecimento e do próprio ser humano, rejeitando o saber concluído e as certezas convencionadas (D’Ambrosio, 2004).

Nos novos trechos, as docentes têm ciência da importância de um processo ensino-aprendizagem voltado para a transdisciplinaridade, bem como também nos remete a vontade de uma delas em constituir um grupo que compartilhe desses ideais como forma de promover um ensino abrangente:

“... É a oportunidade da gente poder trabalhar de uma forma que seja um tecido, que quem vê de fora, vê um tecido que é uma trama única. Mas quem vê de bem pertinho vê quantos fios estão envolvidos para formar aquela bela fazenda. Então eu acho que quando a gente fala de processo de transdisciplinaridade é exatamente isso: é unir os conhecimentos de uma forma única...”

“... Nossa!!!! Seria bárbaro se todo mundo tivesse a noção de um pouquinho de cada uma dessas coisas. Um pouquinho de psicologia, um pouquinho de sociologia, um pouquinho de filosofia, que ajuda a gente entender e a trabalhar com uma série de outras eventuais dificuldades... buscar recursos pedagógicos, didáticos, fundamentados na psicologia, na filosofia... sei lá onde mais, já é um grande passo...”

“... A gente precisa ter momentos de reuniões para a gente estar discutindo, estar lançando mão de técnicas de transdisciplinaridade que também, eu acho que isso favorece bastante você agregar e ao mesmo tempo distribuir melhor os conhecimentos...”

“... se o grupo de docentes compartilha do mesmo ideal, de fazer um ensino mais abrangente, se todos compartilham dessa mesma linha, a possibilidade da transdisciplinaridade fica muito mais propícia e você consegue trabalhar, acredito, essa transdisciplinaridade... seria muito mais exeqüível... Porque hoje também, a gente tem a transdisciplinaridade como uma coisa super boa. Só que mais uma vez a gente esbarra em como operacionalizar tudo isso...”

A transdisciplinaridade se coloca como a postura mais adequada para se trabalhar os conhecimentos, atualmente compartimentados. É necessário que haja a criação de espaços de interação entre os especialistas das diversas áreas do conhecimento, proporcionando discussões, aproximações, interações, ou seja, buscando a transdisciplinaridade para o favorecimento de uma compreensão mais abrangente, em busca de um sentido mais humano para o conhecimento.

Diante disso concordamos com Petraglia (2001) quando refere que é necessário que os educadores criem condições para que os alunos estabeleçam relações entre o conteúdo de uma disciplina e outra, entre as disciplinas e a vida, para que possam superar as limitações do pensamento linear, convidando a um conhecimento em movimento, a um conhecimento em vaivém, que progride indo das partes ao todo e do todo às partes; o que é nossa ambição comum.

Portanto é necessário que haja um grupo de profissionais que trabalhem juntos e em função de um objeto comum, na elaboração de um novo conhecimento que transcenda as diversas disciplinas, de modo que uma disciplina possa utilizar este conhecimento livremente, de forma ética, solidária ou pautada na ética da solidariedade (Santos, 2003).

Acreditamos assim como Santos (2003), que deva ser priorizado nos trabalhos individuais ou nos trabalhos em grupo, a religação dos saberes para maior aproximação de um determinado objeto de estudo e de trabalho, considerando-se que esta religação todo –parte ocorre de forma simultânea e enxergando que o todo é mais e menos que a soma das partes, pretendendo-se dessa forma, alimentar um pensamento capaz de considerar a situação humana no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios de nossa época. Vivendo...

“... a vivência ligada a prática. Eu tive a prática, eu tenho uma certa experiência, eu tenho o conhecimento... Você tem a prática e eu tenho a teoria, então vamos unir? Vamos unir para fazer o correto...”

Alguns educadores animados pela fé de reformar o pensamento e dar nova vida ao ensino, ainda que de forma solitária, podem dar início a esse movimento, que começará de maneira periférica e marginal. A iniciativa dessa minoria, a princípio incompreendida, as vezes perseguida, passará a ser disseminada e, quando se difundir tornar-se-á uma força atuante (Morin, 2002a; 2003b).

A fé na possibilidade de mudança não é limitada à fé de uma pessoa à uma religião. A fé na possibilidade de mudança é traduzida quando esta refere que a ideologia da transdisciplinaridade é instigante e possível. Porém, há muros virtuais que devem ser diluídos, para se conseguir a abrangência do ensino calcado neste novo paradigma. A fé traduz-se na crença de integração dos professores e na idéia de compartilhar esse mesmo ideal entre o grupo de docentes:

“... Porque hoje também, a gente tem a transdisciplinaridade como uma coisa super boa. Só que mais uma vez a gente esbarra como operacionalizar tudo isso ... Operacionalmente é uma coisa ainda muito complicada. Porque existem ‘n’ fatores que emperram. Você vai tentar... O professor está lá segunda, quarta e sexta, como é que ele vai fazer uma disciplina interdisciplinar se o outro só vem terça e quinta e eles nem sequer se conhecem? Então, existe uma coisa meio econômica, institucional que dificulta um pouco as coisas. Então, a transdisciplinaridade na teoria,

na ideologia é bárbara. Mas na hora de pôr na prática, para operacionalizar, tem vários muros que devem ser derrubados e que, isso é mais um dos entraves para a gente conseguir essa abrangência aí do ensino também. Mas se o grupo de professores é um grupo integrado, e assim, que compartilha desse mesmo ideal, talvez, por esse ser um ideal forte, esses muros acabam sendo... possam ser derrubados com um pouquinho mais de facilidade. Os muros entravam, emperram o trabalho transdisciplinar...”

Morin (2002a) defende que a reforma da educação, só pode ser realizada por meio de uma reforma do pensamento, obtida pelo pensar complexo. Porém, para que isso ocorra, deseja-se que o processo se inicie a partir dos próprios professores e se direcione aos alunos. Para isso, alguns fatores são importantes como o diálogo entre as diferentes disciplinas e entre os diferentes campos do conhecimento. E isso se torna possível quando realizado por meio da participação em grupos de estudo e pesquisa, junto com outros profissionais, aproximando-se assim, do pensar capaz de unir e solidarizar conhecimentos separados. Diante disso, é importante também que entre os docentes das diferentes disciplinas e dos diferentes campos do conhecimento, haja diálogo, troca, cooperação, ou seja, a valorização do ato de compartilhar e da solidariedade (compreensão humana).

Embora não haja menção à transdisciplinaridade, não podemos deixar de valorizar os recortes a seguir abrindo espaço para a solidariedade (compreensão humana) no grupo de docentes :

“... nada caminha em nome de uma única pessoa. Acho que isso caminha em nome de um grupo. A questão do diálogo, da divisão, do compartilhar informações é extremamente gratificante. Eu acho que isso que faz o curso crescer seja ele qual for, a gente fala de enfermagem porque é onde a gente está. Mas seja ele qual for, eu acho que isso propõe para a gente uma coisa assim que eu nunca encontrei em nenhum outro lugar. Realmente isso me deixa bastante feliz, bastante tranqüila. O que antes de entrar aqui eu não sentia... acho que o diálogo é troca... troca de experiências...”

“... aqui, encontro sempre uma pessoa que colabora, alguém que já fez, que já passou e que tem sugestão para dar para gente, que tem algo a acrescentar... Colaboração é exatamente isso... É você estar à disposição. É meio como se fosse uma empatia. Você se coloca no lugar do

outro... Não só trocar material, mas trocar idéia, trocar sugestão... É contar com o grupo, é estar à disposição do grupo e contar que o grupo fique a minha disposição...”

“... Uma coisa que me deixa muito feliz... é que a gente tem isso muito fácil entre esse grupo. Existe uma troca muito grande. Então, para mim, isso é fundamental. Não só para mim, mas para o bom andamento do curso, o bom andamento profissional...”

A grande força dos professores reside nos exemplos que dão, manifestando sua abertura de espírito por meio: do diálogo, da cooperação com os outros, da valorização do ato de compartilhar, da compreensão humana. A responsabilidade dos professores está em ensinar as pessoas a não se fecharem sobre si mesmas, de modo a abrir-se à compreensão, baseados no respeito à diversidade. Dessa forma, apesar da profissão de professor ser fundamentalmente uma atividade solitária, o trabalho em equipe é indispensável, para melhorar a qualidade da educação, e constituir passos positivos e libertadores para aperfeiçoar a solidariedade humana (Delors, 2003).

De acordo com Nicolescul (1997) o CIRET- Centre International de Recherches et d'Etudes Transdisciplinaires - elaborou, em colaboração com a UNESCO, o projeto A Evolução Transdisciplinar na Universidade, propondo alternativas para que cheguemos à transdisciplinaridade. São elas: a criação de institutos de pesquisa do sentido (que diz respeito ao investimento na formação de professores voltados à transdisciplinaridade); tempo para transdisciplinaridade (é recomendado às autoridades universitárias devotarem 10% do tempo de ensino de cada disciplina à transdisciplinaridade); criação de ateliês de pesquisa trandisciplinar (as universidades devem criar ateliês de pesquisa transdisciplinar, livres de qual-quer controle ideológico, político ou religioso, que congreguem pesquisadores de todas as disciplinas. Incluindo músicos, poetas e artistas de alto calibre, em projetos universitários específicos, a fim de se estabelecer um diálogo acadêmico entre várias abordagens culturais); criação de centros de orientação transdisciplinar (centros de orientação transdisciplinar serão destinados a fomentar vocações e a permitir a descoberta das possibilidades escondidas em cada pessoa); criação de ateliês pilotos de transdisciplinaridade e espaço cibernético (é recomendado encorajar e desenvolver todos os meios técnicos disponíveis, tendo em vista, dar à

educação transdisciplinar emergente a requerida dimensão universal, promovendo globalmente o domínio público da informação); criação de uma cadeira itinerante da UNESCO e de teses transdisciplinares de doutroramento (essa cadeira pode ser apoiada pela criação de um site na Internet que prepararia a comunidade internacional e universitária para a descoberta prática e teórica da transdisciplinaridade. A meta é colocar tudo em seu lugar a fim de que a semente do pensamento complexo e da transdisciplinaridade possa penetrar as estruturas e os programas das universidades do amanhã); desenvolvimento da responsabilidade (recomenda-se às universidades fazerem um apelo a favor da estrutura de uma abordagem transdisciplinar, notadamente no que tange a Filosofia da Natureza, a Filosofia da História e a Epistemologia, com o objetivo de desenvolver a criatividade e o sentido da responsabilidade dos líderes do futuro. É preciso introduzir cursos, em todos os níveis, a fim de sensibilizar e despertar os alunos, para a harmonia entre os seres e as coisas, a fim de assegurar que suas aplicações não contradigam uma ética da responsabilidade perante outros seres humanos e o meio ambiente); criação de fóruns transdisciplinares (para conciliar duas culturas artificialmente antagônicas - a cultura científica e as culturas literária e artística. Recomenda-se também que as universidades organizem fóruns transdisciplinares incluindo a História, Filosofia, e a Sociologia da Ciência e a História da Arte Contemporânea); inovação pedagógica e transdisciplinaridade (é essencial acompanhar o resultado das experiências, dando testemunho das inovações estritamente pedagógicas ligadas à abordagem do ensino transdisciplinar. As Universidades devem encorajar e estimular publicações que registram e analisam os maiores exemplos da experiência inovadora); criação de ateliês regionais e fóruns transculturais na Internet (para que as universidades possam favorecer a visão transcultural, transreligiosa, transpolítica e transnacional).

De acordo com Nicolescu (1997) a nova produção de conhecimento implica a necessidade de uma abertura multidimensional da Universidade em direção: à sociedade civil; a outros lugares de produção de um novo conhecimento (instituições privadas e empresas industriais e laboratoriais, organizações sem fim lucrativo etc.); ao espaço-

tempo cibernético; à meta da universalidade; à redefinição de valores que regem a sua própria existência.

Diante do que foi apresentado podemos dizer que viver o processo ensino- aprendizagem mediado pela transdisciplinaridade, é irmos de encontro à reforma do pensamento proposta por Morin, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos aos desafios dos tempos atuais. É importante finalizar este Sinalizador Pedagógico Complexo, acrescentando que “reformar” o pensamento implica que tenhamos, previamente, disposição interna para tal. É preciso “um querer” pensar transdiciplinar.

Ensinar a cidadania: a transformação da realidade

Neste sétimo Sinalizador Pedagógico Complexo, encontramos em Houaiss (2001, p.92) que cidadania é a condição ou direito de cidadão. Cidadão por sua vez, refere-se ao indivíduo que goza de direitos e deveres. De acordo com Couvre (1995) a Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), a proposta de cidadania refere-se ao fato que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. A todos cabem os domínios sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer, de expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos sociais, lutar por seus valores, enfim ao direto de ter uma vida digna de ser homem. Em relação aos deveres refere que devemos ser fomentadores da existência dos direitos a todos, ter responsabilidade em conjunto pela coletividade, cumprir as normas e propostas elaboradas e decididas coletivamente, fazer parte do governo, direta ou indiretamente, ao votar, ao pressionar por meio dos movimentos sociais, ao participar de assembléias no bairro, na escola, pressionar os governos municipal, estadual, federal e mundial, entre outros. Covre refere ainda que:

“... a cidadania é o próprio direito à vida no sentido pleno. Trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em termos

do atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do (s) homem(s) no Universo” (Covre,1995, p.11).

Em reconhecendo, ensinando e estimulando o aluno a ser cidadão, as docentes nos contam que:

“... aprender a lidar com o outro, respeitar o limite do outro, seja no meio da rua, na hora de atravessar o farol ou dentro de um hospital. Seja com um colega de trabalho com a mesma formação que eu ou com um profissional diferente da minha, mas é você realmente entender o ser humano...eu usei até o termo cidadania, porque eu acho que isso falta para a sociedade – ter um pouco de cidadania – o que dirá para os profissionais que se propuseram, creio eu por livre arbítrio, de cuidar de pessoas. Então, se eles não tiverem um pouco de cidadania, eles não vão conseguir entender Saúde Pública, eles não vão conseguir entender doenças sexualmente transmissíveis, na disciplina de ginecologia. Eles não vão conseguir entender coisas básicas...”

“... No nosso papel, a gente também tem que se preocupar com isso. O papel não é só daquela formação, naquele aspecto ‘x’ do conhecimento o qual você milita. Eu acho que você tem que prestar atenção na transformação, naquele cidadão como um todo... o foco central passa a ser a transformação daquele cidadão que ele (o professor) está ensinando...”

“... Além de estar contribuindo para a formação, estimular o raciocínio clínico e crítico do futuro profissional, não só nas questões técnicas, nas questões biológicas, mas de estar abrangendo outras questões sócio-econômicas, culturais, sociais, psicológicas que envolvem toda a nossa população tão sofrida, tão sacrificada e tão marcada no nosso país...”

Todo ser humano apresenta um enraizamento do ponto de vista da condição cósmica –física (somos seres vivos resultantes da diáspora cósmica), terrestre (como seres vivos do planeta Terra, dependemos vitalmente da biosfera terrestre) e da condição humana (à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, ou seja, a hominização é primordial porque nos mostra como a animalidade e a humanidade constituem, juntas, nossa condição humana). Portanto, nos reconhecemos a um só tempo, como seres cósmicos, terrestres, físicos e biológicos. Essas questões que fazem parte do enraizamento do ser humano, ou seja, de sua identidade terrena, pede uma

consciência e um sentimento de pertencimento mútuo que nos una à nossa Terra, considerada como primeira e última pátria. Estamos unidos na mesma comunidade de destino planetário: “... por isso é necessário aprender a ‘estar aqui’ no planeta. Aprender a estar aqui significa: aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar..., não mais somente pertencer a uma cultura, mas também ser terrenos...” (Morin, 2003b, p.76).

Morin (2003b) nos diz que devemos inscrever em nós as consciências: antropológica (que reconhece a unidade na diversidade); ecológica (a consciência de habitar, com todos os seres mortais a mesma esfera viva chamada biosfera); cívica terrena (a responsabilidade e a solidariedade para com os filhos da Terra) e espiritual da condição humana (decorre do exercício complexo do pensamento e que nos permite, ao mesmo tempo, criticar-nos e autocriticar-nos e compreender-nos mutuamente). Delors (2003) complementa dizendo que é preciso dar efetivamente a cada um, meios de compreender o outro, na sua especificidade e unidade, começando antes de qualquer coisa, do autoconhecimento, numa espécie de viagem interior guiada pelo conhecimento, pela meditação e pelo exercício de autocrítica, para que dessa forma, possa permitir a cada um agir enquanto membro de uma família, cidadão, enfim desempenhar o papel social que lhe cabe. Concomitantemente à essa idéia, é necessário ensinar a unir concentricamente as pátrias e integrá-las no universo concreto da pátria terrestre. Para isso, Morin (2003b, p.78) refere que: “... a consciência de nossa humanidade nesta era planetária deveria conduzir-nos à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo para indivíduo, de todos para todos”.

Para Morin somos verdadeiramente cidadãos, quando nos sentimos solidários e responsáveis. Eis o que ele nos diz:

“... Solidariedade e responsabilidade não podem advir de exortações piegas, nem de discursos cívicos, mas de um profundo sentimento de filiação, que deveria ser cultivado de modo concêntrico sobre o país, o continente, o planeta” (Morin, 2002a, p.74).

O vínculo social é mantido por um sentimento vivido, interiorizado de solidariedade do indivíduo para com o restante de sua pátria, de suas pátrias. A palavra

pátria é importante, pois concentra em si a significação de sua comunidade. A palavra começa de modo masculino (pai) e termina de modo feminino (mãe), sendo que em sua idéia, há substância maternal (mãe-pátria, lar) e substância paternal (autoridade que reconhecemos legítima). O que dá fundamento a está idéia, ou seja, o que fraterniza os filhos da pátria, é o sentimento de uma comunidade de origem, de uma comunidade de identidade forjada pela cultura, por meio de um idioma comum, de uma comunidade de destino, que eles almejam enfrentar juntos um destino futuro (Pena-Vega, Almeida e Petraglia, 2003, p.48). Em outras palavras:

“Compreender os outros faz com que cada um se conheça melhor a si mesmo. É de fato complexa a forma como nos identificamos. Cada indivíduo define-se em relação ao outro, aos outros, e aos vários grupos a que pertence, segundo modalidades dinâmicas. A descoberta da multiplicidade destas relações, para lá dos grupos mais ou menos restritos constituídos pela família a comunidade local e, até, a comunidade nacional, leva à busca de valores comuns, que funcionem como fundamento da solidariedade intelectual e moral da humanidade...” (Delors, 2003, p.49).

Para tal, contamos também com um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social, que é a educação. Ela tem uma especial responsabilidade na edificação de um mundo mais solidário. A educação baseada na Teoria da Complexidade prepara cada indivíduo a compreender a si mesmo e ao outro, por meio de um melhor conhecimento do mundo. Facilitando assim, uma compreensão dos acontecimentos, longe da visão simplificadora ou deformada, e dessa forma, ajuda cada pessoa a tornar-se cidadão, porque exige solidariedade e abertura à compreensão de si mesmo e dos outros. Sob diversas formas a solidariedade tem por missão criar, entre as pessoas, vínculos sociais que tenham a sua origem em referências comuns. Os meios utilizados abrangem as culturas e as circunstâncias mais diversas, e tem como objetivo essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social (Delors, 2003).

Concordamos com Delors (2003) quando diz que afirmar sua fé no papel essencial da educação no desenvolvimento contínuo, tanto das pessoas como das sociedades, conduz a um desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autêntico, de

modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões, as guerras. Freire (2003a, p.98), por sua vez, refere que: “... a educação é uma forma de intervenção no mundo".

A educação para Delors (2003, p.11-61) é um grito de amor à infância, à