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4.2 Caracterização dos entrevistados – Entrevistas Individuais

4.2.2 Inserção no mercado de trabalho, progresso e estabilidade

É quase uma opinião geral dos professores entrevistados que a inserção se dá através de sua

network. Tem que ter seu “QI – o famoso quem indica”. Dos 14 professores entrevistados,

somente três passaram por processos seletivos normais, os outros fizeram testes também, mas, por alguma indicação, senão não seriam nem chamados para fazer o teste. Além do fator “QI”, deve-se possuir um bom currículo. A questão da estabilidade, hoje, eles acham complicado, não é fácil; eles acham que o melhor é ter um vínculo com mais de uma instituição. Com relação a progredir na carreira e na instituição em que você está, você tem que ser humilde, pegar aquelas aulas que os professores mais antigos não querem, lecionar aos sábados, fazer sacrifícios.

PE2

“[...] primeiro acho que tem que ter um mestrado, só uma pós não está adiantando mais, uma experiência no exterior também conta muito, ter um inglês fluente, ter trabalhado em grandes empresas [...].”

“[...] bem a questão da estabilidade, eu acho um pouco complicada, eu vejo na instituição que estou lecionando o seguinte: os professores mais bem sucedidos, que estão há muito tempo na instituição, são aqueles que conseguem interagir com os alunos com trabalhos extra-classe. Estes professores levam os alunos para BOVESPA, para a FIAT, estes são considerados pelos alunos os melhores, vamos dizer assim ‘os bambambans’, são estes que conseguem mostrar para o aluno como é a realidade daquilo que ele está ensinando em sala de aula [...].”

PE3

“[...] eu acho que além da questão da sua rede de relacionamentos, você tem que começar. Às vezes, no início, a gente tem receio de bater na porta, o primeiro passo é você se colocar no mercado em que você que atuar, às vezes, você quer lecionar e o mercado nem sabe que você existe, você tem que entregar currículo, se preparar bastante, fazer contatos [...].”

“[...] a questão da estabilidade é difícil, eu acho que você deve lecionar em mais de uma universidade; porque se você começa a ter um grau de exigência salarial em uma faculdade você torna-se um peso, então, se você conseguir dividir em algumas instituições, aí você consegue equilibrar isso, tem faculdade que é contrato, não é o meu caso, eu sou funcionária mesmo da faculdade, mas tem faculdade que é contrato, então eles têm a liberdade de te mandar embora e você não tem os benefícios que você teria de um trabalho; então, se você tiver algumas opções, você não fica totalmente refém de uma faculdade [...].”

PE7

“[...] eu acho que, para começar, tirando a parte da indicação ‘QI’, eu acho que o professor [...] ele tem que ser uma pessoa que gosta de estudar, gosta de se atualizar, por que não adianta [...].”

PE8

“[...] eu vou falar da minha experiência, o que eu via como necessário para ingressar no mercado, foi a concepção que trabalharam comigo na UFMG, é que eu tinha que ter uma formação acadêmica mesmo, né, direcionada para pesquisa e para docência no ensino superior, foi o que eu busquei, tanto na linha que eu estudei na iniciação científica, quanto em diversos cursos, congressos. Eu tinha que conseguir formar um pouco de conhecimento para que eu pudesse depois ensinar, além de uma preparação para ensinar; então, no mestrado, eu fiz algumas matérias na faculdade de educação relacionadas com docência no ensino superior, o que me ajudou muito a sistematizar qual seria o meu plano de trabalho e as minhas estratégias de aprendizagem [...].”

PE9

“[...] Hum!!! Primeiramente formação. Né!!! Em 2º lugar é [...] rede de contatos, política e atualização [...].”

PE10

“[...] com certeza você tem que conhecer gente, né, como toda área você tem que conhecer, não adianta só entregar currículo, então se você não faz contato, seja num simpósio, num congresso, com as pessoas que já estão lá dentro e através disso você vai mostrando o seu trabalho, através desses contatos na faculdade, e mostrar também como é o seu trabalho, como é que você pensa [...].”

PE11

“[...] Primeiramente a questão de fazer um mestrado: acho que é importantíssimo, não ter assim apenas conhecimento prático ter também conhecimento teórico, conhecimento acadêmico e, para ser bem sucedido, é estar sempre atualizado academicamente e profissionalmente associando teoria e prática, porque hoje os alunos não querem ficar ouvindo somente teoria, querem entender isso para a realidade deles também [...].”

PE12

“[...] Em Belo Horizonte, em Minas Gerais, é por indicação. O famoso QI - quem indica. Isso é descarado mesmo, é indecente. E é o seguinte: o coordenador do curso só vai ler seu currículo se alguém chegar para ele e falar que conhece essa pessoa e vale a pena ler o currículo dela, ela é uma pessoa comprometida, etc.. Se não tiver isso, não entra, é dificílimo entrar, todas as instituições em que eu lecionei foi por indicação [...].”

“[...] muitas dificuldades, por ele próprio, sozinho! É muito difícil, ele tem que ser aquele cara fenomenal com aquele currículo brilhante. O que é difícil, porque todo mundo tem seus aspectos melhores e outros que deixam a desejar; eu acho que só aquele gênio, e mesmo assim, talvez ele nem chame atenção, talvez não seja isso que o curso quer, não seja o que o coordenador quer para o curso dele. Então depende, encontra muita dificuldade [...].”

“[...] com relação a progredir na carreira, olha, no início, para progredir, você tem que fazer certos sacrifícios, dar aula sábado, dar aula sexta-feira à noite. Aliás, eu comecei dando aula sexta à noite, no último horário. Graças a Deus foi a turma que me homenageou como paraninfa, que foi aí que eu consegui superar esse problema, mas você tem que fazer sacrifícios, não tem jeito; eu acho que você tem que tentar mostrar na instituição que está lecionando que você está interessado que aquela instituição cresça; e fazer mais cursos: você tem que se atualizar constantemente; hoje em dia o conhecimento escapa pela mão da gente, o tempo todo tem um novo conhecimento e você tem que ficar atualizado o máximo que puder: participar de congresso, participar de pesquisa, isso é fundamental [...].”

PE14

“[...] olha eu não tinha nenhuma experiência, foi por indicação mesmo, aqui de um colega de mestrado, a primeira aula que eu dei, eu não tinha experiência acadêmica nenhuma. A instituição de dia funcionava como colégio e, à noite, como faculdade; a mãe deste meu amigo do mestrado era professora deste colégio e aí, conversa vai, conversa vem, a mãe dele estava precisando de um professor de marketing. E ele se lembrou de mim. E ele me perguntou se eu queria dar aula e eu nunca tinha dado aula na minha vida e aí ele veio falando que a faculdade é pequena, que estava passando por

uma crise e aí eu fui. Comecei a minha carreira do zero: eu ainda estou no dois. Comecei do zero mesmo, no meu currículo não tinha nada de segmento acadêmico, eu não tinha completado o mestrado, nunca tinha entrado em uma sala de aula para dar aula e entrei nesse esquema sem orientação nenhuma e em uma faculdade em crise. Só para ter uma idéia, o coordenador que me contratou foi mandado embora, o que entrou nem tomou conhecimento que eu estava lá e o semestre rolando, não tinha ninguém preenchendo diário e também não tinha ninguém para assinar, e o semestre andando e a turma gostando e eu morrendo de medo e o cara que dava aula no início era um cara fera e eu naquela coisa assim [...] e aí você acaba descobrindo que é um pouco de dom também e de gostar de fazer as coisas, eu estudava para dar aula, e isso é raro [...].”