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Instituições envolvidas, tipo e origem das ações fiscalizatórias

Dos aspectos relevantes na análise do conjunto dos dados coletados sobre as Instituições responsáveis pela execução das ações, verifica-se que as ações conjuntas (duas ou mais instituições), de fiscalização ocorrem em pequeno número 23 de 294, menos de 10 % do total das ações realizadas. Por outro lado, como demonstrado no gráfico abaixo, de forma independente Ibama 106 ações e a PRF 83 ações, respondem por 65% das ações realizadas (Figura 10) sendo as instituições mais atuantes a efetivas no combate ao tráfico de agrotóxicos no RS.

Figura 10: Instituições que realizaram as ações de fiscalização ambiental de agrotóxicos no estado do Rio Grande do Sul, no período de 01.01.2010 a 31.12.2017. *Os números entre parênteses indicam a quantidade exata de ações realizadas por cada órgão independentemente ou de forma conjunta.

As ações fiscalizatórias são iniciadas de várias formas (Figura 11), sendo as de maior ocorrência, as chamadas “de rotina”, executadas em sua maioria pela PRF em patrulhamento e/ou barreiras ostensivas e as “programadas”, geralmente executadas pelo Ibama, e que tem como principal diretriz o planejamento prévio com a escolha de alvos, o mapeamento da região onde ocorrerá, sua logística, escolha dos equipamentos necessários, montagem da equipe de fiscalização e coleta de dados e informações julgadas necessárias para sua efetiva execução.

Em muitos dos casos, após passado o efeito surpresa, as ações programadas também podem se tornar ações de rotina, com patrulhamento e barreiras ostensivas nas estradas. O que não deixa de ser elemento efetivo de dissuasão no cometimento de ilícitos de qualquer natureza, ambientais ou não.

As de menor ocorrência são as chamadas ações “judiciais”, geralmente provenientes de ações de fiscalização anteriormente executadas e que geraram inquéritos policiais, transformando-se após os devidos procedimentos legais em ações judiciais.

Excelente fonte de informações, as ações de fiscalização geradas através de “denúncias” anônimas apresentadas aos órgãos de fiscalização completam os tipos das ações fiscalizatórias presentes neste estudo, podendo ser executadas de forma imediata, quando a informação recebida é de que o ilícito esteja ocorrendo naquele momento, ou de forma programada, quando é informado que o ilícito ocorrerá nos próximos dias.

Figura 11: Tipos de ação fiscalizatória relacionadas à fiscalização de agrotóxicos no estado do Rio Grande do Sul, no período de 01.01.2010 a 31.12.2017. *Os números entre parênteses indicam a quantidade exata de cada tipo de ação realizada.

Da gama de ações fiscalizatórias realizadas, as programadas são as mais efetivas e de melhores resultados, pois planejadas, selecionam alvos prioritários, otimizam o uso de equipamentos e equipes de fiscalização, com o uso de informações prévias e de inteligência preparando as ações antes de executá-las em campo.

Comparados os dados referentes às ações de fiscalização programadas com as ações de fiscalização de rotina (Figura 12), verifica-se o aumento gradual no número das ações de rotina de 10 ações executadas no ano de 2010 para pouco mais de 30 em 2017 (crescimento de 200%). Enquanto as ações programadas têm aumento exponencial registrado, passando de duas ações executadas em 2010 para quase 30 em 2017 (crescimento de 1500%).

Este fato se deve a alguns fatores entre os quais destacamos, no âmbito do Ibama, a implantação no ano de 2010 do Programa Nacional de Áreas Protegidas - PNAPA, que estabeleceu diretrizes, normas e procedimentos para a criação e planejamento das operações de fiscalização do Ibama para os anos subsequentes.

Dessa forma, o que antes era estabelecido de forma empírica e com base no conhecimento subjetivo de cada responsável pelos setores de fiscalização das superintendências dos estados e da sede do Ibama em Brasília, as operações de fiscalização passaram a ser construídas e planejadas em reunião presencial, com todos os atores envolvidos na fiscalização ambiental federal, resultando em enorme avanço na qualificação, eficácia e eficiência das operações de fiscalização do Ibama.

Figura 12: Comparativo entre ações de fiscalização de rotina e ações programadas, quanto à quantidade de autos de infração lavrados, relacionados à fiscalização ambiental de agrotóxicos no estado do Rio Grande do Sul no período de 01.01.2010 a 31.12.2017.

Isso se reflete diretamente no presente caso, com o aumento constante e significativo no número de autos de infração lavrados no período, de 16 autos de infração em 2010 para 68 em 2017, bem como do crescimento nas quantidades de produtos perigosos aprendidos (agrotóxicos), de 2.655 L em 2010 para 20.885 L em 2017 (crescimento de 1.000 %). Este aumento se deve principalmente, à decisão dos representantes do Ibama RS de, nas reuniões do PNAPA ano a ano, elencarem as operações de fiscalização de combate ao tráfico de agrotóxicos ilegais como prioritárias para o RS.

Cabe salientar que o auto de infração representa o exercício do poder de polícia do Estado (TRENNEPOHL, 2009). É um documento destinado a enquadrar a infração ambiental constatada, sua descrição, indicação das sanções, qualificação do autuado e informá-lo que será processado. Geralmente, quando identificada uma infração, é lavrado um auto de infração.

Nestes autos de infração, o tipo infracional mais cometido no tráfico de agrotóxicos, não poderia deixar de ser o de “Transporte de produtos perigosos...” (Figura 13), pois como a própria palavra “tráfico” sugere, ocorreu a movimentação ilegal de mercadoria, bem, animal, ou mesmo ser humano, de um local para o outro. Assim, responde sozinho o tipo infracional, “Transportar”, por 165 das 294 infrações avaliadas, ou 57 % do total. Se somado ao tipo infracional “Ter em depósito produtos perigosos...”, 55 das 294 infrações, veremos que apenas estes dois tipos respondem por 75 % das infrações analisadas.

Figura 13: Tipos de infração ambiental relacionadas a fiscalização ambiental de agrotóxicos no estado do Rio Grande do Sul no período de 01.01.2010 a 31.12.2017. *Os números entre parênteses indicam a quantidade exata de cada tipo de infração autuada.

Sendo o transporte e o armazenamento duas das principais ações ilícitas realizadas pelos agentes do tráfico, são também as de mais fácil fiscalização pois, na maioria das vezes, são flagradas em operações de rotina de fiscalizações ostensivas, justificando a ocorrência das mesmas em número tão mais elevado que as demais. O que de certa forma corrobora os dados do estudo que indicam a ocorrência intensa do tráfico de agrotóxico na região.

A figura 14 detalha a distribuição dos tipos infracionais que mais comuns no tráfico de agrotóxicos ilegais no RS, mostrando claramente que a maioria das ocorrências se dá junto as fronteiras do RS com o Uruguai e Argentina, sendo a porta de entrada destes produtos, principalmente os municípios de São Borja, Uruguaiana, Bagé e Jaguarão e, em especial, Santana do Livramento, como discutido anteriormente.

Além disso, as infrações são registradas principalmente nas Rodovias Federais e Estaduais, nos postos de controle da PRE e PRF, em sua área de patrulhamento ou em estradas vicinais próximas. Entretanto, apesar dos esforços destas Instituições nas ações de patrulhamento ostensivo e barreiras de vigilância, as mesmas não são suficientes para impedir em sua totalidade o tráfico de agrotóxicos e de outros produtos que ocorre nestas regiões.

Figura 14: Distribuição dos tipos de infração ambiental relacionadas à fiscalização ambiental de agrotóxicos no estado do Rio Grande do Sul no período de 01.01.2010 a 31.12.2017.

Em muitos dos casos, a vigilância policial e aduaneira são burladas, sendo utilizadas as mais variadas estratégias: fundos falsos e veículos de todos os tipos, utilização de linhas de ônibus intermunicipais para esconder o produto junto à bagagem, locais e horas em que a vigilância das autoridades não seja tão intensa e, principalmente, rotas alternativas, sendo utilizadas vias municipais secundárias de estradas de terra que poucos conhecem e que sofrem fiscalização esparsa e precária. Além de vários outros meios, que em muitos casos ainda não foram nem imaginados pelas autoridades policiais. A capacidade humana para o descaminho é notoriamente inesgotável.

As ocorrências envolvendo transporte e armazenamento de agrotóxicos traficados estão distribuídas praticamente por todo o estado e, em muitos casos, ocorrem já afastadas da região de fronteira, confirmando dessa forma a suspeita de que diversas ocorrências de tráfico de agrotóxicos burla os sistemas de vigilância e fiscalização policial e aduaneiro.

É possível ainda estabelecer algumas rotas percorridas por traficantes de agrotóxico ilegais acompanhando o trajeto através das rodovias Federais e Estaduais que chegam e saem da região de fronteira e as interligações que existem entre elas, estabelecendo inicialmente os locais mais propícios para estabelecer patrulhamento e barreiras de fiscalização fixas e móveis.

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