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Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e Capacitação Farmacoterapêutica

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e Capacitação Farmacoterapêutica

Em décadas passadas, havia mais entes familiares para auxiliar nos cuidados ao idoso, mas o panorama atual da distribuição da população brasileira em faixas etárias aponta uma situação preocupante: cada vez mais aumenta o número de idosos na população e diminui a quantidade de membros das famílias.

É dever e responsabilidade das famílias o cuidado dos membros dependentes. Os atos praticados (ou não) pelo homem não podem resultar em lesão a alguém. Assim, o Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003, em seu artigo 3º, acentua a obrigação da família, da sociedade e do poder público, assegurando ao idoso a efetivação do direito ao respeito e à convivência familiar e comunitária, sendo dever de cuidado, o qual, se inobservado, gera uma conduta lesiva ao idoso (LIKES, 2015). Entretanto, o cuidado se torna cada vez mais escasso em função da redução da fecundidade, das mudanças na nupcialidade e da crescente

participação da mulher no mercado de trabalho. Este contexto passa a requerer que o Estado e o mercado privado dividam com a família as responsabilidades no cuidado com a população idosa (CAMARANO; KANSO, 2010).

O atual contexto do idoso no país demonstra que o estado e a sociedade devem agir na oferta de serviços alternativos a estes, como as instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) para uma população que se encontra cada vez mais vulnerável à fragilização e desprovida de adequada atenção familiar (POLARO et al., 2012). As ILPIs, públicas ou privadas, são uma opção, porém a residência nestas não é uma prática comum na sociedade brasileira (CAMARANO; KANSO, 2010).

ILPIs são instituições governamentais ou não, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade ≥ a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania (ANVISA, 2005).

Freitas et al. (2014) apontam que os idosos justificam sua escolha de morar em ILPI expressando as dificuldades impostas pelas alterações da velhice e pela quebra dos laços familiares, e que morar em ILPI não mudou efetivamente suas vidas, conseguindo adaptar-se ao local e conviver bem com estímulos internos e externos, igualmente significativos. Além disso, os idosos apontam o desejo de não retornar ao ciclo familiar para garantir a independência e a autonomia perdidas, o que se exemplifica nas falas de desejo de construção de um novo convívio com parceiras conhecidas na ILPI ou fora dela.

Salcher, Portella e Scortegagna (2015) apontam que, embora o cenário de cuidados de longa duração a idosos em ILPIs esteja se ajustando às normas e regulamentos técnicos em vigor (inclusive no quadro de recursos humanos), ainda há o predomínio da equipe centrado no cuidado das necessidades básicas dos idosos. Entendendo que a prestação de serviços farmacoterapêuticos é uma necessidade básica do paciente idoso em farmacoterapia e o quanto esta ação pode afetar sua qualidade de vida, as ILPIs precisam se esforçar em prestar este aspecto da segurança do paciente aos seus idosos residentes.

Independentemente do local de atuação e até mesmo do tipo de prestação e trabalhos (público ou privado) do profissional da saúde, sua ação com qualquer pessoa ou paciente requer constante capacitação.

Entretanto, como salientam Sampaio et al. (2011), o processo para qualificar profissionais que atuam com idosos, como os cuidadores, é considerado difícil e é dependente de fatores como a existência e a aplicação de leis que deem suporte ao profissional e o investimento das ILPIs nesse processo, as quais geralmente não levam em consideração

aspectos essenciais dos candidatos no ato de sua contratação (o que, infelizmente, não está previsto em regulamentação).

A capacitação profissional e o investimento em estruturas físicas dos locais de atendimento necessários à atenção ao idoso precisam contribuir para o viver mais saudável destes indivíduos, sendo responsabilidade da sociedade reivindicar o direito a um atendimento humanizado (LIMA et al., 2010).

Neste contexto, Neves et al. (2013) citam como medidas para a promoção do uso racional de medicamentos em idosos: (1) educação continuada dos profissionais prescritores; (2) qualificação dos sistemas de saúde para oferecer educação permanente e acesso a informações adequadas; (3) elaboração e implementação de listas de medicamentos e protocolos clínicos adequados às necessidades da população idosa. Percebe-se que duas das três ações propostas por estes autores relacionam-se claramente à qualificação de recursos humanos, principalmente em profissionais da saúde.

Bueno et al. (2012) reforçam a necessidade de que, diante desta realidade, prescritores e dispensadores conheçam os medicamentos que devem ser evitados e façam o acompanhamento necessário quando seu uso for imprescindível.

Desta forma, a prestação de serviços de saúde no país, entre os quais se incluem os serviços relacionados ao uso de medicamentos, necessita de constante atenção, treinamento e atualização. Na área de saúde, mesmo em sua base (utilizando-se como exemplo os cuidadores de idosos) torna-se salutar que toda a equipe multiprofissional possa ter acesso a conhecimentos gerais e específicos de atenção à pessoa idosa. Há diversas formas de se obter êxito em capacitação nesta área. Destacam-se os programas que atuam com segurança do paciente e com linhas de pesquisa específicas relacionadas ao uso de medicamentos em idosos. Entre os inúmeros conhecimentos desta linha de pesquisa, critérios apropriados ou inapropriados relacionados aos medicamentos utilizados são centrais e sine qua non para que o paciente idoso possa usufruir do uso de medicamentos de forma mais benéfica e menos prejudicial – uma ação ética e fundamental de um agente de saúde, conhecida há mais de 2.500 anos (REZENDE, 2009, p. 36), graças ao juramento de Hipócrates, do qual cita-se o seguinte excerto:

“[...] Aplicar os tratamentos para ajudar os doentes conforme minha habilidade e minha capacidade, e jamais usá-los para causar dano ou malefício. Não dar veneno a ninguém, embora solicitado a assim fazer, nem aconselhar tal procedimento”.