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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 O Processo do envelhecimento

Envelhecer é um processo natural relacionado a mudanças graduais e inevitáveis devido à idade, independentemente da saúde e do estilo de vida ativo e saudável do indivíduo. É de caráter progressivo, associado ao desgaste orgânico e a alterações nos aspectos culturais, sociais e emocionais das diferentes idades cronológicas (CIOSAK et al., 2011).

O envelhecimento é um processo complexo que envolve fatores diversificados, o que leva à criação de hipóteses para sua explicação. Há grande diversidade de teorias e fatores que descrevem as causas do envelhecimento, como a genética, a imunologia, a teoria do acúmulo de danos, a teoria das mutações, a teoria do uso e do desgaste e a teoria dos radicais, que aponta que o envelhecimento celular normal seja iniciado e acelerado pela ação de radicais livres. Não há consenso sobre os conhecimentos que poderiam explicar o processo biológico do envelhecimento, apesar de este ser palpável e visível (FRIES; PEREIRA, 2011).

As alterações fisiológicas intrínsecas ao envelhecimento são sutis e, embora não levem à incapacidade em sua fase inicial, causam níveis crescentes de limitações ao desempenho de atividades básicas da vida diária ao passar dos anos (ESQUENAZI; SILVA; GUIMARÃES, 2014).

O envelhecimento está relacionado à maior probabilidade de ocorrência de doenças crônicas não-transmissíveis, independentemente de fatores inerentes característicos, por exemplo, culturais, às populações. O processo de senescência normal leva a alterações moleculares, morfofisiológicas e funcionais. Além de estarem associadas à própria idade, estas alterações também se originam do acúmulo de danos causados por interações entre fatores genéticos e hábitos não saudáveis, como dieta desbalanceada, tabagismo, etilismo e sedentarismo (GOTTLIEB et al., 2011).

O envelhecimento que se registra nas sociedades ocidentais tem levado a um interesse crescente pela questão da qualidade de vida dos idosos (CALHA, 2015).

Com o envelhecimento da população, os desafios relacionados à prestação de serviços de saúde para os idosos devem ser enfrentados. O gasto público com saúde aumenta e os desafios associados a estes fatores poderiam ser melhor gerenciados com a provisão de maior atendimento domiciliar de longo prazo para os idosos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (OCDE, 2015).

A aquisição de conhecimentos na área do envelhecimento vem proporcionando a ampliação constante da perspectiva de alcançar qualidade de vida e felicidade de viver. O

processo de envelhecer traz consequências diretas a todos os níveis da organização humana, do individual-familiar ao político-econômico (BURLÁ et al., 2014).

Muitas percepções e suposições comuns sobre idosos são baseadas em estereótipos ultrapassados. As evidências são claras quanto à associação errônea sobre a perda das habilidades comumente associadas ao envelhecimento e à idade cronológica das pessoas (OMS, 2015).

Para a maioria das pessoas, a definição de idoso tem como parâmetro principal a idade, mas este tema é uma questão de muita divergência e diversas discussões em instituições e revistas científicas especializadas na área de geriatria e gerontologia. Orimo et al. (2006) propõem que o conceito de idoso deve estar atrelado a evidências obtidas das ciências sociais, culturais e médicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também entende que o uso de idade como critério não é adequado; o critério da idade é compreensível para fins de recebimento de pensão e beira os ≥ 60 anos quando utilizado. Neste contexto, este órgão internacional aponta que a maioria dos países desenvolvidos adota 65 anos como a idade cronológica que define o idoso, mas acrescenta que as concepções que levam a esta decisão são ocidentalizadas e não se adequariam, por exemplo, à situação do continente africano, na qual 50 anos seria a idade cronológica mais adequada para a obtenção de dados mínimos relacionados ao envelhecimento de pessoas deste continente e que podem subsidiar o planejamento e a efetuação de programas políticos voltados ao status de saúde desta população (WHO, 2016a).

A política nacional do idoso (BRASIL, 1994) considera idosa a pessoa maior de 60 anos de idade. Cerca de nove anos após a criação desta política, foi criado o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) que manteve a definição anterior. Interessante apontar, entretanto, que o Decreto nº 6.214 (BRASIL, 2007) define idoso como “aquele com idade de sessenta e cinco anos ou mais” para os fins do reconhecimento do direito ao benefício de prestação continuada da assistência social.

A condição de idoso não depende exclusivamente de fatores biológicos relacionados às limitações físicas. Contribuem também as vulnerabilidades e os fatores de risco da vivência desse período da vida que são diferentes em função do modelo social (CALHA, 2015).

Singh e Bajorek (2014) apontam que, mesmo na área de saúde, a definição de idoso possui singularidades de importante observação, reflexão e preocupação. Os autores demonstram que as diretrizes de práticas clínicas não são adequadas para definir pessoas idosas e fornecem recomendações sobre aplicação de tratamentos com limitações a estes.

Finalmente, sugerem que se deve levar menos em consideração a idade cronológica e focar mais na individualização do tratamento farmacológico para pessoas idosas.

O idoso “típico” é irreal. A diversidade das capacidades e necessidades de saúde de pessoas mais velhas não é aleatória, advindo de eventos que ocorrem ao longo do curso da vida e são passíveis de modificação, o que dá importância ao foco no ciclo de vida para se entender o processo de envelhecimento. Embora, com o avanço da idade, comumente surjam problemas de saúde, a idade avançada não é sinônima de dependência. Também, ao contrário do conhecimento popular, o envelhecimento tem muito menos influência nos gastos com atenção à saúde do que outros fatores, como os altos custos das novas tecnologias médicas (OMS, 2015).

Devido aos avanços científicos e à melhora da qualidade de vida, aponta-se a existência de uma "quarta idade" para pessoas com 80 anos ou mais e uma categoria "velhice extrema" para pessoas com idade superior a 90 anos (LAURETTI; MATTOS, 2011).

Os dados de envelhecimento no Brasil, considerando-se algumas diferenças regionais, vêm confirmando o acelerado processo de envelhecimento. Esse aumento da proporção de pessoas idosas afetará a gestão da atenção social e da saúde, que ainda priorizam ações de atenção à mulher, à criança e ao adolescente na saúde pública (POLARO et al., 2012).

2.3 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e Capacitação