• Nenhum resultado encontrado

Segundo Nucci (2018, p. 43), quem deixa o cárcere, especialmente aquele que passou muitos anos preso, necessita de um amparo do Estado para retomar sua vida em sociedade. Possuindo o apoio da família ou de amigos será mais fácil, porém, pode não ser a realidade, motivo pelo qual os organismos estatais precisam de aparelhamento suficiente para não abandonar o recém-saído do presídio. É fundamental, no mínimo, a busca conjunta do egresso e do Estado pelo emprego, sem contar, naturalmente, algum tempo em que se possa proporcionar morada e sustento a quem deixou o cárcere, porque cumpriu a pena ou está em livramento condicional.

Conforme Albergaria (1987, p. 31), entende-se como assistência penitenciária a assistência à saúde, jurídica, à educação, religiosa e, por fim, a assistência ao egresso, todas com previsão no artigo 11 da Lei de Execução Penal. Observa-se também que essas assistências devem alcançar tanto os presos definitivos, quanto os provisórios, levando em consideração que a lei não faz distinção entre eles, no que diz respeito à assistência. As diversas formas de assistência previstas na Lei de Execução Penal são de extrema importância no tratamento penitenciário, pois possuem o objetivo de modificar a personalidade do condenado, a fim de afastá-lo da reincidência e que seja possível reinseri-lo ao convívio social.

Sobre a assistência, o artigo 10 da Lei de Execução Penal dispõe que “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade", e completa, em seu parágrafo único, que "a assistência estende-se ao egresso". Confirma, assim, que a lei citada visa a encaminhar o condenado para o caminho da reeducação desde o início do seu ingresso no sistema até quando considerado egresso, auxiliando-o para a sua volta à sociedade. (BRASIL, 1984).

3.5.1 Da assistência ao egresso

A Lei de Execução Penal define, em seu artigo 26, nos incisos I e II, quem é considerado egresso, “I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período de prova”. (BRASIL, 1984).

Segundo Nucci (2018, p. 49), o conceito de egresso, de forma ampla , quer dizer a pessoa que se afasta de uma comunidade qualquer após um período de ligação mais ou menos duradouro:

O preso viveu em comunidade, no estabelecimento penitenciário – regimes fechado e semiaberto, motivo pelo qual é considerado liberado definitivo pelo prazo de um ano. Durante esse tempo, pode necessitar de orientação e amparo para a perfeita reinserção social. Se preciso for, o Estado deve providenciar alojamento e alimentação, em local adequado, por, pelo menos, dois meses. Não deveria ser considerado egresso o condenado que estava inserido em Casa do Albergado e, finda a pena, é liberado definitivamente. Afinal, ele já estava, praticamente, reintegrado à sociedade, tanto que trabalhava fora da Casa do Albergado durante todo o dia e somente nela comparecia para o repouso noturno e para passar os fins de semana.

Conforme Sá (2004, p. 25), a sociedade vê o egresso como um mero “preso extramuros”. Além disso, o Estado cria leis, mas não cria condições para que, ao cumprir sua pena, o ex-presidiário retorne ao convívio social, sem medo de lutar e vencer. Já na prática, a história é outra. Uma vez condenado, sempre será condenado, não importando qual foi o crime, a pena, o sofrimento.

O egresso, no momento em que sai da prisão, traz consigo os males do cárcere e ainda terá de enfrentar o preconceito da sociedade. Sendo assim, não tendo a devida assistência do Poder Público e ainda com a rejeição da sociedade, este indivíduo se torna ainda mais propenso ao retorno da prática do crime.

Diante disso, veja-se como leciona Sá (2004, p. 30):

Então o Estado, protetor dos direitos das pessoas, promulga leis para proteger aquele que precisa se ressocializar e se reintegrar à sociedade, e, aí, tudo começa a se perder: a sociedade continua com seus valores perfeitos, acabados, irredutíveis, mutáveis só a muito longo prazo; o Estado cria leis, mas não cria condições de colocá-las em prática, para tornar real o desespero de uma vida inútil e a ajuda pessoal não existe porque o ser humano, que poderia ter aprendido valores morais, espirituais mais condizentes à sua sobrevivência entre seus semelhantes, não teve a chance de aprendê- los, melhorá-los, ampliá-los ou mudá-los.

A esse respeito, Carnelutti (2001, p. 08) afirma que, ao indivíduo se sentir livre da prisão, sente o seu maior problema: não consegue emprego, devido aos seus maus antecedentes. Nem mesmo o Estado e nem o particular facilitam uma condição, sendo assim, a pena não termina para quem foi sentenciado.

3.5.2 Do trabalho

Sobre a assistência em forma de trabalho, ressalta-se que esta é fundamental para a evolução do preso e de sua ressocialização. Este tipo de assistência possui dois caminhos, um na forma de um direito do apenado, e o outro como um dever. O inciso II do artigo 41 da Lei de Execução Penal dispõe que “atribuição de trabalho e sua remuneração” constitui um dos direitos do preso. (BRASIL, 1984).

Como dito antes, o trabalho é visto, também, como um dever do apenado, sendo este exposto no inciso V do artigo 39 da Lei de Execução Penal, que dispõe que a “execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas” constitui um dos deveres do condenado. (BRASIL, 1984). Todavia, tal disposição não constitui ofensa ao inciso XLVII do art. 5º da Carta Magna de 1988, o qual dispõe que “não haverá penas, entre elas a de trabalhos forçados”. (BRASIL, 1988).

Infelizmente, não basta só a vontade do apenado de querer mudar, a sociedade como um todo tem que ter a vontade de aceitar e acreditar no ser humano, pois, como ensina Sá (2004, p. 33-34):

O trabalho dignifica o homem, mas o egresso deixou sua dignidade dentro dos muros da prisão, porque ninguém lhe dará emprego. Está o egresso do lado de fora da prisão, mas seu futuro e sua liberdade continuam aprisionados lá. Sua vida continua lá apesar de, teoricamente, estar livre.

A imposição do trabalho está ligada ao apenado no sentido de um dever de prestação pessoal, e não com uma visão de trabalho forçado, pela ideia de que não qualifica um trabalho lesivo que possa acarretar um mal à integridade do condenado. Na verdade, a consequência do trabalho é trazer benefícios, como uma remuneração, uma forma de remição e de criar a vontade no apenado de conquistar e sobreviver pelo seu labor. No mesmo sentido deste pensamento, leciona Marcão (2012, p. 33):

As vantagens da finalidade educativa resultam evidentes, especialmente quando aliado o trabalho à assistência educacional profissionalizante, visto que as estatísticas demonstram, à saciedade, que grande parte dos condenados ao cumprimento de pena criminal não conta com o aprendizado formal de uma profissão, e é cediço que a possibilidade de ativar-se no mercado formal de trabalho influencia positivamente no processo ressocializador e faz evitar a reincidência.

Ainda sobre a ideia de que o trabalho é uma ferramenta essencial para a reeducação, assim assevera Albergaria (1996, p. 113):

Realmente o trabalho deve ser encarado sob o enfoque interdisciplinar do tratamento reeducativo. O trabalho, como núcleo essencial da redenção da pena, deve ser avaliado

como parte integrante de um todo, o programa de reeducação do preso e sua reinserção social. Ensinam os mexicanos que a readaptação social efetiva é o fator determinante para concessão da remissão, isto é, a ênfase recai sobre o elemento subjetivo do instituto. Está, assim, a remissão [sic] integrada no tratamento reeducativo, como consequência de sua avaliação.

Sendo assim, entende-se que o trabalho é muito importante para o cidadão, ainda mais quando este é condenado e passa a conviver no sistema prisional. A função maior do trabalho é mostrar para o apenado que a vida vale muito mais a pena quando se luta por ela, de forma digna, conquistando um espaço na sociedade, de forma justa e respeitosa.

Estudados os principais temas necessários para o entendimento sobre a execução da pena, passaremos ao principal capítulo deste trabalho, que tem como objetivo responder a pergunta de pesquisa.

4 DA EFETIVIDADE DAS ASSISTÊNCIAS RESSOCIALIZADORAS APLICADAS ÀS REEDUCANDAS DO PRESÍDIO FEMININO DE TUBARÃO

Este capítulo objetiva responder o problema da pesquisa, fundamentado no estudo efetuado com as reeducandas do Presídio Feminino de Tubarão. O propósito do estudo é analisar a eficiência dos institutos ressocializadores previstos na Lei de Execução Penal e se estes são aplicados às reeducandas do Presídio Feminino de Tubarão, de acordo com as respostas alcançadas através de questionário aplicado.

Inicialmente, foram analisadas as informações obtidas através de dados quantitativos, realizando também a comparação com os dados obtidos pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen Mulheres (BRASIL, 2014), prosseguindo com a análise das respostas da pergunta qualitativa.

Por fim, exploram-se os institutos ressocializadores aplicados às reincidentes do Presídio Feminino de Tubarão, certificando se todos aqueles institutos previstos em lei são oferecidos.

Documentos relacionados