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Semelhantemente ao juiz togado, também o árbitro terá poderes para instruir o processo arbitral, sem que haja para tanto necessidade de interferência ou requerimento das

partes para produção de provas. O árbitro é quem deve deduzir a importância das provas, pois ele é o incumbido de julgar e se convencer dos fatos que ocasionaram a lide, se valendo das mesmas. Aqui, mais uma vez fazendo comparação como Código de Processo Civil, também são utilizadas as regras do ônus da prova. No mesmo sentido opina Garcez (2007, p. 243): “A função dos árbitros, malgrado alguns que não a consideram como tal, é jurisdicional, estando eles equiparados, enquanto árbitros, ao juiz togado, tendo como função promover a instrução do processo arbitral, sem depender da iniciativa das partes.”

Esta matéria está disposta no art. 22, caput, da Lei de Arbitragem, que versa: “Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício.” (VADE MECUM, 2010, p. 1601).

Ainda, em comparação com o juiz, o árbitro tem a autoridade de pedir documentos públicos, informações aos órgãos estatais; pode exigir que se faça oitiva de testemunhas que não tenham sido arroladas pelos litigantes; pode exigir a exibição de documentos, determinar exames e vistorias, ou ainda exigir que se repita qualquer atividade probatória que julgue obscura, incompleta. Aqui talvez a comparação que mais enfatize as semelhanças entre juiz togado e árbitro: em caso de substituição de árbitro, o novo terá a prerrogativa de exigir que sejam repetidas as provas produzidas anteriormente, em igual situação do que está previsto no art. 132, parágrafo único, do Código de Processo Civil. (CARMONA, 2009).

Porém, o árbitro será poupado das muitas formalidades previstas no processo estatal. Os árbitros têm a autonomia de determinar a produção de algumas provas, de imediato, e quanto à necessidade da produção de outras provas, poderá decidir em outro momento, tardiamente. Tal questão pode ser resumida nas palavras de Carmona (2009, p. 315): “Significa isto que nada impedirá os árbitros de deferirem desde logo a produção da prova oral para somente após apreciarem a necessidade de produzir a prova pericial.” Porém, cabe aqui uma atenção especial quanto ao contraditório, que não poderá ser prejudicado, já que as conclusões das provas periciais poderão exigir novamente oitiva das partes ou inquirição de testemunhas.

No que se refere ao pagamento das custas das provas, em princípio caberá à parte solicitante custear os gastos, porém, as partes são livres para escolher outra maneira de

arcarem com as custas, bem como quanto à ordem que as mesmas serão realizadas e à forma de inquirição de peritos, testemunhas ou partes. No entanto, na inércia das mesmas, caberá ao árbitro manifestar-se sobre tais questões. (CARMONA, 2009).

Partes e árbitros poderão indicar para compor o meio probatório um profissional especialista em determinado assunto, que dará depoimento técnico quanto a matérias relevantes para a produção de determinadas provas, o que poderá excluir a perícia convencional do procedimento. O mesmo ocorrerá no caso de o árbitro não ter formação acadêmica em Direito, o que torna complicada a análise crítica, o julgamento de questões técnicas, bem como a tomada de decisões, a interpretação de normas jurídicas, o direito aplicável a uma relação jurídica específica. Nesse caso, haverá necessidade de ouvir o perito nomeado. (CARMONA, 2009).

O depoimento das partes é prova capaz de esclarecer alguma situação que possa ter gerado dúvida no árbitro, utilizando-se do princípio da imediação, o qual aproxima o árbitro de chegar a uma decisão mais próxima da perfeição. Ainda, o árbitro poderá eventualmente conseguir da parte uma confissão provocada, no caso de o depoente admitir, sem a intenção, algum fato que lhe seja desfavorável. Sobre tal questão, Carmona (2009, p. 315) afirma o seguinte: “Caberá ao árbitro avaliar o comportamento do depoente: as respostas evasivas ou a pura e simples falta de comparecimento são elementos que serão somados aos demais colhidos durante a instrução processual para determinar o resultado do julgamento.” Cabe ao árbitro sentir a intenção, a boa ou má-fé e se aproveitar desta prova como meio de se aprofundar da realidade dos fatos, a fim de se beneficiar e chegar mais perto de uma decisão razoável.

Os meios através dos quais serão realizados os depoimentos também serão limitados pelo procedimento arbitral. Os depoimentos poderão ser colhidos através de computadores, videoconferências ou conferência telefônica, não havendo a necessidade da presença física da parte. Também poderão as partes empregar o meio habitual para produção de tal prova, através de audiências convencionais, sendo cada parte ouvida individualmente. O art. 22 da Lei de arbitragem evidencia que as partes não terão o dever de depor, uma vez que não podem ser coagidas para tanto. Os árbitros, nessa situação, avaliarão se a parte gera através de seu comportamento alguma dúvida ou suspeita, levando tais condutas também a julgamento. (CARMONA, 2009).

Quanto à prova testemunhal, ao árbitro caberá decidir se esta será importante, pertinente, necessária ao procedimento. Se entender que esta é imprescindível, o julgador definirá local, data e hora para que as testemunhas compareçam, através de fax, carta, telegrama, etc., desde que o meio de informação tenha aviso de recebimento. (CARMONA, 2009).

Em caso de não comparecimento da testemunha, o árbitro deverá avaliar se sua justificativa foi verdadeira, convincente. Se entender ser falso o motivo, o Poder Judiciário será acionado para atuar no feito. O mesmo ocorre quando a testemunha não justificar sua ausência: “Recusando-se a testemunha a comparecer sem justa causa, impor-se-á a necessidade de solicitar o concurso do Poder Judiciário para a condução sob vara.” (CARMONA, 2009, p. 317). Tal dispositivo tem cabimento no art. 22, parágrafo 2o, da Lei de Arbitragem (VADE MECUM, 2010).

Igualmente, o árbitro poderá se socorrer do Judiciário se a testemunha resistir injustificadamente a depor. Por meio de ofício, munido da cópia da convenção de arbitragem, conduzir-se-á ao juiz togado informando da necessidade essencial de ouvir a testemunha em questão, com solicitação coercitiva. O juiz tocado ordenará a condução da testemunha, com hora e data marcada ao local designado pelo árbitro para proceder a sua oitiva. (CARMONA, 2009).

No entanto, a presença do juiz no procedimento arbitral não deve ser entendida como superior à do árbitro, ou que o sujeite a subordinação. Ao contrário, espera-se que ambos tenham uma relação de coordenação. Nas palavras de Carmona (2009, p. 318): “Trata-se de nítida divisão de competência, que não comporta invasão de parte a parte: ao árbitro compete decidir se a prova testemunhal é útil, necessária e pertinente; ao juiz compete verificar a legitimidade do provimento arbitral através da conferência da regularidade da investidura do árbitro.”

Carmona (2009) salienta que a testemunha, como terceiro no processo, designado a colaborar com o andamento do mesmo, deverá ser avisada com antecedência na necessidade de sua oitiva, pois a ela deve-se causar o mínimo de transtorno possível. Na hipótese da oitiva ser marcada para ser realizada fora da comarca na qual reside, a testemunha não estará obrigada a comparecer. A parte interessada no depoimento desta testemunha poderá oferecer-

lhe transporte, mas esta não será obrigada a aceitar e comparecer, e neste caso sua ausência não será especificada como sendo resistência injustificável. Caberá, então, ao árbitro deslocar- se até a comarca de domicílio da testemunha.

Há ainda a faculdade de o árbitro eleger testemunhas técnicas, em caso de o litígio carecer de esclarecimentos quanto a questões mais complexas e específicas, só conhecidas por quem detenha conhecimentos especializados. Tais testemunhas não serão fiscalizadas com os institutos da suspeição e do impedimento, pois se assemelham aos assistentes técnicos, que atuam na lide com o fim de colaborar com a parte. Como exemplos, Carmona (2009) cita casos em que o árbitro sinta a necessidade de conhecimento da área de mercado, métodos de produção ou usos comerciais. E esclarece:

Tais testemunhas não deporão sobre fatos da causa, possivelmente não saberão detalhes sobre o litígio entre as partes e não falarão sobre acontecimentos que presenciaram e que envolvem os contendentes. O foco do depoimento estará centrado apenas na interpretação técnica de determinado fenômeno importante para que os árbitros possam decidir a causa. Nada impede que os depoimentos sejam ilustrados com a utilização de recursos audiovisuais (power point, filmes, slides, flip chart), que complementem as explicações que tais experts fornecerem aos árbitros. (CARMONA, 2009, p. 319, grifo do autor).

Note-se que aqui deve estar presente o princípio da oralidade, com o intuito de transmitir ao árbitro a confiança que é indiscutivelmente importante para a construção da prova.

Estudada a instrução no procedimento arbitral, os poderes instrutórios do árbitro, como são produzidas as provas e os terceiros que possam vir a ser envolvidos no procedimento, passar-se-á para o próximo ponto, que consiste na decisão arbitral, momento pelo qual o árbitro, fazendo as vezes do juiz estatal, profere a sentença. Tal matéria será abordada no próximo capítulo.

3 A SENTENÇA ARBITRAL E OS RECURSOS CABÍVEIS

O presente capítulo abordará a sentença arbitral, de modo a conceitua-la e definir seus efeitos e classificações. Analisará ainda os requisitos e dispositivos fundamentais que devem estar contidos nessa, bem como os limites da coisa julgada. Por fim, e não menos importante, será discutida a possibilidade de opor recursos contra sentença desfavorável a um dos litigantes e como funciona o sistema recursal da arbitragem.

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