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O cabimento e a possibilidade de recursos no processo arbitral

A doutrina, em sua grande maioria, defende que a sentença arbitral não será, em qualquer hipótese, sujeita a qualquer tipo de recurso. Tal posicionamento é justificável se analisada a liberdade de escolha das partes quanto ao árbitro. Se a elas foi dada a autonomia de eleger um juiz arbitral a seu rogo, em comum acordo, pactuado na convenção de arbitragem, subentende-se que as partes devem concordar com a sentença, eis que confiam no árbitro, porque elas mesmas o escolheram. Caso contrário, beirariam a uma contradição absurda, já que se submeteram ao juízo arbitral por vontade própria. Nas palavras de José Arnaldo Vitagliano (2001, p.8-9):

O Art. 18 da Lei 9.307/96 menciona expressamente que a sentença arbitral é irrecorrível, ou seja, não existe um tipo de recurso apto a reformar o mérito da decisão prolatada pelo árbitro. Uma vez expedido o laudo arbitral, o mesmo é irrecorrível, faz coisa julgada com relação às partes e à matéria decidida.(19) Não existe, portanto, um mecanismo legal que possa devolver a matéria decidida a novo julgamento e reformar a decisão do árbitro, como ocorre nas decisões judiciais nos recursos de mérito, que são um remédio voluntário a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna.

Arenhart (2005, p. 20) concorda com tal posicionamento, ao afirmar: “A sentença arbitral não se sujeita a recurso de qualquer espécie, nem a homologação judicial (art. 18).” Porém, ensina ser possível a oposição de uma das partes, no prazo preclusivo de cinco dias (se as partes não tiverem delimitado previamente outro prazo), contados a partir do conhecimento da sentença arbitral, desde que comunique a parte oposta, requerendo ao árbitro que sane possível erro material anexo à decisão ou que torne clara eventual obscuridade, contradição, omissão ou dúvida constante na decisão. Tal hipótese visa sanar algum defeito na decisão, impedindo que se torne complicada a sua compreensão ou até mesmo a sua execução, semelhante aos embargos de declaração previstos no art. 535 do Código de Processo Civil.

Recebido o pedido de retificação/esclarecimento da sentença, os árbitros conferirão se os mesmos são tempestivos, pois caso o prazo já tenha espirado, as partes não poderão contar com os árbitros para admitir e corrigir os supostos erros apontados na sentença. Verificado o prazo, os árbitros deverão analisar o referido recurso quanto ao seu cabimento. Se os embargos forem conhecidos, os árbitros terão 10 dias para emendar a sentença, se acharem necessário, e então deverão comunicar as partes do feito.

Carmona (2009, p. 386) individualiza e caracteriza cada uma das falhas encontradas na sentença, que possibilitam o emprego dos embargos de declaração, como remédio processual, a fim de saná-los:

Pode ocorrer obscuridade quando são empregados termos dúbios, que comportem interpretação equivocada; a contradição decorre da utilização de proposições inconciliáveis entre si; a omissão caracteriza-se quando o julgador deixa de resolver alguma das questões suscitadas pelas partes, ou quando deixa de examinar – parcial ou integralmente – qualquer dos pedidos dos litigantes; e a dúvida ocorre como consequência da contradição e da obscuridade.

Importante que se entenda que, a respeito desta matéria, Carmona (2009, p. 383) esclarece que o legislador não utilizou a mesma terminologia encontrada no Código de Processo Civil, qual seja, embargos de declaração, para se referir aos embargos empregados na sentença arbitral, pois, para o autor, esta alternativa não é o mesmo que recurso, mas sim “[...] remédio semelhante aos embargos de declaração, seja para correção de erros materiais, seja para correção de omissão, contradição ou obscuridade da decisão.” (grifo do autor). Note- se que tal possibilidade empregada na arbitragem difere dos verdadeiros embargos do processo estatal, porque, além de tratar dos vícios listados no art. 535 do Código de Processo Civil, ainda abraça a possibilidade de sanar erros materiais, o que não está evidente no artigo citado.

A título de esclarecimento, erro material não é erro de julgamento, mas sim equívocos de expressão, que tornam algum dispositivo da sentença ilógico, sem sentido:

[...] pode ser notado com a simples leitura do provimento. É a troca de palavras, de números, de letras, é o erro de conta, de índice, de data, enfim, é o equívoco cometido por falta de atenção. Trata-se de um descompasso entre a vontade do julgador e o que acabou escrito, equívoco formal, involuntário e flagrante, que não se compadece com a lógica do provimento emanado. (CARMONA, 2009, p. 385).

Tal divergência quanto aos embargos se dá pelo fato de que na sentença estatal, os erros materiais não serão discutidos em sede se embargos de declaração, pois o órgão jurisdicional não cessa depois da homologação da sentença, como acontece no caso do procedimento arbitral. Depois de proferida a sentença, os árbitros ficarão no aguardo de cinco dias, tempo hábil para as partes proporem embargos, se for esta a sua vontade, para só então dar fim ao tribunal arbitral. Fica evidente, então, que será nos embargos a única oportunidade que as partes terão para pedir revisão de possível erro material. (CARMONA, 2009).

Suscintamente, a finalidade dos embargos é exposta por Carmona (2009, p. 389): “O objetivo dos embargos de declaração [...] continua sendo apenas o de completar-se o julgamento, não estando, porém, o julgador limitado, nesta complementação, aos resultados fixados sem a decisão da questão omitida.” Mesmo que atemporal, a decisão emendada pelos embargos surtirá os mesmos efeitos do que as outras previamente resolvidas.

Para finalizar, fica bastante claro que o sistema recursal da arbitragem é muito restrito, considerado até inexistente por alguns autores. O único recurso aceito contra a decisão imposta pelo árbitro é semelhante aos embargos de declaração, já conhecidos no processo estatal. Os embargos aceitos na arbitragem visam sanar obscuridade, omissão, contradição ou alguma questão referente ao direito material que tenha ficado pendente. Porém, devido aos propósitos adotados pela arbitragem, quanto à celeridade, informalidade e principalmente pela vasta liberdade disponibilizada às partes de escolherem a maioria das questões referentes ao procedimento arbitral, inclusive quanto a aqueles que proferirão a decisão, a arbitragem não comportaria um sistema recursal vasto, pois estaria divergindo quanto aos objetivos que almeja.

CONCLUSÃO

O primeiro capítulo voltou-se a conhecer a arbitragem. Definiu-se que essa é uma das maneiras alternativas de resolução dos litígios referentes a direitos patrimoniais disponíveis, que pode ser utilizada por pessoas capazes de contratar, sem a intervenção do Estado. Nesse sentido, constatou-se que o Poder Judiciário não poderá intervir no feito, salvo se houver resistência de uma das partes ou de terceiros em participar do procedimento. Analisou-se, também, a Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem), uma vez que a mesma se constitui em questão fundamental no que tange à garantia de mais uma possibilidade de acesso à justiça. Através da convenção de arbitragem, as partes escolhem, a seu rogo, o árbitro, figura semelhante ao juiz no processo estatal, destinado a proferir a sentença arbitral, tendo essa a mesma força da sentença judicial, bem como as leis e os princípios que serão empregados para resolver o feito, a maneira pela qual serão pagas as custas e os honorários advocatícios, os prazos, dentre outras questões referentes ao procedimento.

No mesmo caminho, foram abordadas as vantagens do instituto da arbitragem frente à justiça tradicional, a saber, a celeridade, a agilidade em resolver a lide, a autonomia possibilitada às partes e a confidencialidade, referindo-se ao instituto como um remédio alternativo e adequado, evitando a morosidade tão comum na justiça estatal. Discutiu-se a natureza jurídica da arbitragem, entendida como mista pela maioria dos doutrinadores. Foram apontadas, também, as diferenças entre arbitragem e mediação, tendo sido enfatizado que esta última se constitui numa forma consensual de resolução de controvérsias, dando-se por meio de um mediador escolhido ou aceito pelas partes. Nesse sentido, restou demonstrado que o mediador deve ser imparcial, ou seja, um facilitador do diálogo que não expressa opiniões e nem realiza o julgamento, sendo que as próprias partes deverão chegar à solução a partir da construção de um consenso. A mediação, por seu turno, tem cabimento em questões que

envolvem sentimentos, como conflitos familiares, escolares, de consumo, ambientais, hospitalares, dentre outros.

No segundo capítulo delimitou-se o momento em que a arbitragem é instituída, sendo este caracterizado a partir do aceite do árbitro em relação à sua nomeação, não se exigindo, para tanto, qualquer formalidade, podendo, inclusive, ser tácita. É a partir daí que nasce o processo arbitral, ocorrendo a litispendência e interrompendo-se a prescrição. Para iniciar a arbitragem, se já presente no contrato a cláusula compromissória, a parte interessada em dar início ao processo arbitral deverá informar a parte contrária, para que sua desavença seja regrada pelo juízo arbitral, dispositivo semelhante à citação do processo estatal. Quanto às partes passíveis de se utilizar de tal instituto, se delimitou as pessoas naturais capazes, bem como as pessoas jurídicas. Estudou-se, também, a instrução no procedimento arbitral, momento em que o árbitro, munido de seus poderes instrutórios, avalia a necessidade de produção de provas, através da oitiva de testemunhas, busca de documentos ou participação de peritos especializados na matéria, para melhor julgar a questão, sem que haja requerimento ou anuência das partes para tanto, com a vantagem de ser poupado de muitas formalidades presentes no juízo estatal.

O terceiro capítulo, por sua vez, ocupou-se em analisar a sentença arbitral e a eventual possibilidade de interposição de recursos. Constatou-se que a sentença é o momento pelo qual, na maioria das vezes, o julgador põe fim ao processo, tendo uma essência semelhante à sentença estatal, provida da mesma força e validade da referida decisão tradicional. As sentenças são subdivididas em terminativas e definitivas, sendo que as primeiras apresentam conteúdo unicamente processual e as segundas aplicam o direito ao caso concreto. Quanto ao resultado imposto aos litigantes, as sentenças arbitrais se distinguirão entre declaratórias, constitutivas e condenatórias. Quanto aos efeitos, as sentenças interferirão não só na vida das partes, como também em terceiros que tenham alguma ligação com a questão litigiosa. Ainda, as sentenças poderão ser finais, as quais finalizam o processo, ou parciais, que resolvem parte da lide. No mesmo sentido, assim que constituída, a sentença arbitral ocasionará os mesmos efeitos que a sentença judicial, e se condenatória, constituirá título executivo judicial.

Delimitou-se que a sentença arbitral faz coisa julgada, com o intuito de satisfazer as partes, desde que respeitados seus limites objetivos e subjetivos. Quanto ao sistema recursal da arbitragem, concluiu-se que este é praticamente inexistente, tendo em vista que o único

meio recursal disponível é através de um remédio semelhante aos embargos de declaração utilizados no sistema estatal, pelo qual é possível sanar omissão, contradição, obscuridade ou alguma questão referente a direito material. Tal recurso, por seu turno, deve ser oposto no prazo delimitado na convenção de arbitragem, ou em cinco dias, se outro não houver sido acordado, após o conhecimento da sentença arbitral, e desde que a parte contrária seja informada. Tal recurso visa a sanar algum defeito na decisão, evitando dificuldades em relação à sua compreensão e em relação à sua execução. Conhecidos os embargos, os árbitros terão 10 dias para emendar a sentença. A finalidade dos embargos é unicamente a de completar o julgamento, e não de discutir novamente matéria já decidida em sentença. A restrição em propor recursos no sistema arbitral se dá pelos objetivos almejados pelo mecanismo, como a informalidade, a celeridade e, principalmente, pela vasta autonomia outorgada às partes em escolher o árbitro, bem como as leis e os princípios de direito que serão adotados para proferir a sentença. Sendo assim, a arbitragem não comportaria um sistema recursal vasto, pois estaria indo contra os propósitos que almeja.

Conclusivamente, o presente trabalho de monografia analisou as principais características do sistema arbitral, apresentando-o como meio eficaz, célere, informal, confidencial. A arbitragem é vista não como a solução, mas sim como um caminho alternativo particular, considerando-se que cada dia mais o sistema judiciário estatal está abarrotado de litispendências que duram longos anos, possibilitando aos litigantes uma fuga a tal morosidade, uma liberdade considerável, não encontrada nas vias judiciais, a qual permite às partes a prerrogativa de escolher a maioria das questões, inclusive as leis e princípios a serem empregados pelo árbitro no procedimento.

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