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CAPÍTULO 2 MATERIAL E MÉTODO

2.3 A geração e a análise dos dados

2.3.1 Instrumentos de coleta de dados

2.3.1.1 Os Questionários

Por ocasião do projeto coletivo, a que esta dissertação vincula-se, foram exploradas representações sociais acerca de cinco temas: AIDS, drogas, violência, sexualidade e perspectivas de futuro, analisando-se dados coletados em 813 questionários auto-aplicáveis, contendo 65 questões abertas e fechadas em cada um.

O trabalho francês, do grupo de pesquisa coordenado por Mme. Elizabeth Lage, tratou apenas do tema das perspectivas de futuro diante do contexto atual da AIDS. Eles partiram de entrevistas em profundidade para modelar o seu instrumento de enquete. Este questionário também tratava de temas periféricos que permearam os assuntos tratados das entrevistas, conforme descrito a seguir:

A versão definitiva [do questionário] abrangia os vários temas evocados nas entrevistas: escola, amigos, família, pais – perguntas que o jovem se faz a respeito do cigarro, da droga, da violência, da atualidade política e social, do futuro profissional ou pessoal, seus desejos e seus temores. Neste contexto, a AIDS aparece como um aspecto da atualidade (LAGE, 1998, p. 76).

Esses questionários foram cedidos à PUC-SP, onde foram adaptados para que as questões sobre Violência e Drogas fossem aprofundadas e recebessem atenção análoga àquelas sobre AIDS no estudo francês.

Os pesquisadores paulistanos revisaram sete versões do questionário, sempre com aplicação comentada na qual, durante o preenchimento, o sujeito informava suas dúvidas. Cada nova informação era avaliada e contribuía para a reformatação e re-aplicação do instrumento11.

Nessa versão existiam seis modelos de questionários; três para aplicação nas quintas e sextas séries e três para aplicação nas sétimas e oitavas. Em todos havia um bloco de perguntas com caráter descritivo da realidade cotidiana dos sujeitos e um bloco sobre as perspectivas de futuro dos estudantes. Nos questionários modelo 1 (5ª e 6ª) e 1 (7ª e 8ª), havia 22 indagações sobre o tema AIDS, no segundo tipo, sobre drogas e no terceiro formato, sobre violência.

A única diferença entre os instrumentos aplicados nas duas primeiras séries, com relação aos das últimas, era a questão de número 10, que tratava sobre as pessoas com quem os jovens residem. Nos questionários de 7ª e 8ª séries, havia três opções adicionais, sobre a residência com filhos, marido ou esposa e companheiro ou companheira. Segundo

informações da Professora Doutora Vera Maria Nigro de Souza Placco, estas opções estariam adequadas aos jovens de mais idade (figura 9).

10. COM QUEM VOCÊ MORA? 1. PAI 7. PARENTES

2. MÃE 8. SEU FILHO/SUA FILHA

3. PADRASTO 9. MARIDO (ESPOSA)

4. MADRASTA 10. COMPANHEIRO/COMPANHEIRA 5. IRMÃO

6. IRMÃ 11. O_________________________________ UTROS: ______________________ Figura 9 Questão extraída do questionário para as 7ª e 8ª séries

O GPEP, por sua vez, promoveu novas adequações para aplicação em Cuiabá. Nesta cidade, a questão dez foi mantida, sem modificações, para a aplicação em todas as séries. Assim, o número de modelos foi reduzido de seis para três.

Respeitando-se a estrutura e ordenação das questões do instrumento paulista, ao final de cada um dos três exemplares, foram acrescidas 11 questões acerca do tema sexualidade.

Além disso, a cada um dos questionários, algumas instruções de capa foram acrescidas, com dados sobre a pesquisa e o modo de preenchimento. O formato de cada uma das opções apresentadas, também foi modificado, onde havia parênteses para marcação, estes foram substituídos por tabelas ou por colchetes. Observe a figura 10, que segue.

Questionário Paulistano Formatado em Cuiabá

Do total de 936 questionários aplicados nos meses de junho e julho de 2002, em 30 escolas da região urbana de Cuiabá, por ocasião do projeto coletivo, 813 foram aproveitados, sendo que, 281 referiam-se ao tema AIDS, modelo 1.

Os procedimentos de coleta foram desenvolvidos em conjunto, por dois pesquisadores em cada conglomerado. Após a distribuição do formulário, partia-se para a leitura coletiva das instruções de capa que nele constavam, o que permitiria aos jovens saber quais os principais objetivos da pesquisa, os procedimentos de preenchimento, bem como, o caráter de anonimato a que eles, enquanto colaboradores, estariam submetidos.

Uma aplicação durava em média 85 minutos e era efetuada a todos os alunos de cada classe sorteada, inclusive àqueles com idades superiores ou inferiores aos padrões delimitados. Contudo, em laboratório, os instrumentos preenchidos por alunos de idade adversa à faixa de 11 a 15 anos foram descartados. Este cuidado foi tomado para que se evitasse uma possível conotação quanto ao ato de seleção dos respondentes, gerando nos alunos maiores ou menores, sentimentos de exclusão.

Por conseqüência, 121 questionários foram descartados, seja por terem sido respondidos por adolescentes com idade fora da faixa delimitada ou em virtude da ocorrência de problemas no preenchimento ou na impressão.

Após a coleta, os formulários foram recolhidos em envelopes pardos, um para cada tipo, etiquetados com nome, endereço e telefone da escola, turma, turno, número de respondentes, nome dos aplicadores, data da visita e funcionário contatado.

O questionário foi importante para um estudo exploratório do universo nocional destes estudantes, para que referenciais quantificáveis de uma grande parcela da população fossem levantados e para auxiliar na elaboração do roteiro das entrevistas semi- estruturadas, configuradas como o segundo instrumento utilizado neste trabalho para busca das representações sociais.

Quando se utiliza o referencial da Teoria das Representações Sociais, para que o objeto pesquisado seja definido com maior exatidão, torna-se necessário o desenvolvimento de estudos exploratórios (SÁ, 1998).

2.3.1.2 As Entrevistas

Dois roteiros de entrevista foram elaborados e testados em estudos-piloto, envolvendo discentes de duas escolas, definidas dentre as selecionadas na fase anterior. O primeiro foi aplicado a três sujeitos, dois do sexo masculino ambos com 13 anos e um do sexo feminino com 15 anos. Este script foi reformulado e aplicado a outros 06 alunos de uma segunda escola, três meninos com 12, 13 e 14 anos e três meninas de 13, 14 e 15 anos.

A versão final, criada a partir das correções do estudo piloto, da consulta a diversas fontes bibliográficas, dos resultados do questionário e da discussão em grupo junto aos membros do GPEP, foi aplicada a 10 sujeitos de cada uma das quatro regiões administrativas de Cuiabá.

No decurso do agendamento de entrevistas, os contatos iniciais eram efetuados via telefone, com um dos membros da coordenação pedagógica das escolas, ou diretamente com os diretores, dos quais, anotavam-se os nomes, cargos e a data sugerida para a realização dos trabalhos.

No dia e horário previamente estipulados, ao chegar ao estabelecimento de ensino, o primeiro passo consistia na entrega das cartas de apresentação, que se encontravam timbradas pelo Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, bem como, assinadas pela professora orientadora da pesquisa. Estas cartas continham informações explicativas acerca dos objetivos da pesquisa e o tipo de atividade que seria desenvolvida junto aos alunos.

Em seguida, o funcionário encaminhava o pesquisador até às turmas de ensino fundamental das quintas às oitavas séries, onde verbalmente eram apresentados os temas e

objetivos da pesquisa e selecionavam-se os alunos e alunas que se manifestavam interessados em responder.

Em uma sala reservada ou em um espaço discreto no pátio, longe de toda movimentação e olhares curiosos, novamente e com mais detalhes, explicava-se aos jovens a que a pesquisa se referia e, sempre em um tom bem humorado, buscava-se aquecer o diálogo fazendo perguntas sobre suas vidas, preferências, colegas, diversão, até que se chegasse naturalmente ao assunto AIDS, para a aplicação do roteiro.