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Capítulo 4 – Métodos e Procedimentos de Análise de Dados

4.3. Instrumentos de recolha de dados

Para a concretização deste estudo são imprescindíveis elementos pertinentes para análise, que vão ao encontro do objetivo de investigação, o que se coaduna com uma também criteriosa seleção dos instrumentos de recolha de dados. Para realizar este trabalho recorri aos seguintes instrumentos de recolha de dados: observação das aulas, gravação áudio e/ou vídeo e através do programa AutoScreenRecorder, recolha documental e realização de uma entrevista.

4.3.1. Observação das aulas

A observação participante é o método central de recolha de dados de um estudo com este cunho, pois é o contacto direto com os intervenientes no estudo, em contexto de sala de aula, que deixa transparecer os dados mais realistas e fidedignos.

Enquanto professora e investigadora nem sempre foi fácil efetuar registos escritos no decorrer das aulas. Para colmatar esta dificuldade, recorri quer ao registo posterior de episódios ou aspetos que considerei serem pertinentes (tanto para a minha interpretação dos dados, como para refletir sobre a minha prática) para complementar os

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dados anotados no contexto sala de aula. Além disso apoiei-me nos registos efetuados pela minha colega da prática de ensino supervisionada, a Inês. Assim, recorri ao diário de bordo para anotação das observações das aulas, contemplando para além da parte descritiva, uma componente reflexiva sobre todo este processo (Bogdan & Biklen, 1994).

A gravação áudio/vídeo foi também usada para complementar o registo de observação já que possibilitou ficar com o registo das interações momentâneas dos pares de alunos, bem como dos segmentos de discussão em grande grupo. Este facto será fundamental como complemento às produções escritas dos alunos, já que estes, por vezes, verbalizam ideias que não são explícitas na escrita. Este registo permite revisitar diálogos que ocorrem em simultâneo e escapam ao investigador no cumprimento do seu papel de professor.

Destaco também que, ao longo da lecionação deste conjunto de aulas, os dois pares de alunos que têm um papel mais marcante neste estudo tinham na sua secretária um gravador com o objetivo de, com maior rigor, captar as suas interações. Além disso, sempre que os pares recorreram ao GeoGebra, usei o programa AutoScreenRecorder, que me permitiu ter acesso a uma gravação de tipo filme de todos os passos que os alunos realizaram na janela do software Geogebra, durante a resolução do problema.

4.3.2. Recolha documental

Ao longo da lecionação da unidade Gráficos de Funções Afins recolhi todos os documentos que os alunos produziram em aula, e alguns dos que realizaram em casa, para que pudesse digitalizar e devolver os documentos aos alunos, ficando com o registo.

O primeiro documento a ser recolhido foi a ficha diagnóstico, que os alunos realizaram no final do 2.º período letivo, e que foi um importante componente de apoio à planificação e elaboração dos materiais da unidade de ensino.

Em moldes ligeiramente distintos funcionou a restante recolha documental, para que pudesse ter acesso às resoluções dos alunos. Sendo complicado fazer um acompanhamento continuado, aluno a aluno, durante a aula, a recolha das produções escritas dos alunos, realizadas em aula, permitiu-me ter acesso à maior parte das estratégias e representações por estes utilizados – na resolução de problemas com a função afim – e realizar parte substancial do estudo. Com o intuito de recolher estes

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documentos pedi aos alunos que resolvessem as tarefas propostas a lápis na própria ficha ou numa folha quadriculada que facultei, rasurando, caso se enganassem. Pedi- lhes ainda que, durante ou após a discussão dos resultados, fizessem a correção destas tarefas no caderno diário.

Reconheço que esta estratégia que adotei teve alguns constrangimentos, sobretudo nas primeiras aulas. Os alunos revelaram alguma resistência em não apagar as suas resoluções, quando se enganavam, apesar dos meus permanentes alertas. Uma alternativa seria pedir para que fizessem os registos a caneta, no entanto, como não era o procedimento habitual, poderiam ficar inibidos de escrever – e optei por não o fazer. Sendo um risco calculado, os alunos não se coibiram de escrever, no entanto, alguns dados foram “contaminados” pois, por vezes, os alunos apagaram registos ou escreveram a correção na própria folha. Ainda assim, esta recolha documental, complementada com os outros elementos recolhidos traduziram-se em elementos chave para este trabalho, e constituíram-se fulcrais para a identificação de estratégias e conhecimentos mobilizados.

Dos documentos que recolhi fazem ainda parte os ficheiros GeoGebra produzidos pelos alunos. Deste modo, e de forma a garantir a recolha destas representações, para além de pedir aos alunos que gravassem os ficheiros, solicitei, sempre que se justificou, que transcrevessem para a folha de respostas as representações obtidas através do software e as suas resoluções. Também nesta fase foi fundamental o apoio da minha colega Inês que, incansavelmente, me ajudou neste processo, na tentativa de garantir a gravação e recolha dos ficheiros do GeoGebra dos alunos.

Embora a problemática do meu trabalho diga respeito à resolução de problemas, optei por recolher todas as produções efetuadas pelos alunos em sala de aula, com o intuito de não influenciar os registos nas tarefas de resolução de problemas. Adicionalmente, o facto de ficar na posse de todos estes registos, permitiu-me ter também um “fio condutor” da progressão de cada aluno, ao longo da unidade de ensino, que me possibilita realizar uma análise mais fundamentada.

4.3.3. Entrevista

As entrevistas realizadas no âmbito deste estudo foram utilizadas, como referem Bogdan e Biklen (1994), “para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a

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maneira como os sujeitos interpretam” (p. 134). Neste caso em particular, a realização de entrevistas do tipo clínico (Hunting, 1997) ficou reservada para os dois pares de alunos selecionados, que mencionei anteriormente.

Essencialmente, com a realização desta entrevista clínica a dois pares de alunos, pretendi, primeiramente, garantir que teria resoluções suficientemente viáveis para serem objeto de estudo e, em segundo lugar, para compreender estratégias, e processos de resolução de forma mais clara e aprofundada.

As entrevistas aos pares de alunos ocorreram após a minha intervenção letiva, no dia 11 de maio, durante o horário da aula de Matemática, dadas as condicionantes referentes a encontrar um horário compatível com os alunos. Nessa aula de 45 minutos, a restante turma realizou a correção da ficha de avaliação sumativa que, nesse mesmo dia, foi facultada aos alunos que realizaram a entrevista – e que foram alertados para possibilidade de esclarecerem eventuais dúvidas.

Antes mesmo da realização destas entrevistas, que acabaram por durar cerca de 30 minutos, foi essencial questionar os alunos, novamente, se teriam disponibilidade e interesse em participar, bem como explicar-lhes que a resolução da tarefa, e a conversa sobre essa mesma resolução não seriam objeto de qualquer tipo de avaliação – tal como sugerem os aspetos característicos da abordagem aos alunos neste tipo de entrevista (Lahikainen, Kirmanen & Taimalu, 2003).

Do meu ponto de vista, os alunos não se mostraram inibidos e colaboraram ao longo da entrevista, mostrando-se entusiasmados. É ainda de salientar que foi necessário ir com os alunos para uma outra sala e, devido aos constrangimentos temporais inerentes a este tipo de atividade extracurricular, apoiei-me na minha colega de estágio que realizou a entrevista, em simultâneo, ao outro par de alunos.

Para esta entrevista elaborei uma tarefa com dois problemas (Anexo 6.1), atendendo às questões do meu estudo. Tanto eu como a minha colega de estágio acompanhámos de perto o processo de resolução dos problemas e as interações entre os pares de alunos. Desta feita, fomos pedindo que os alunos explicitassem oralmente, ou por escrito, os seus raciocínios e estratégias.

Dado que o objetivo central era aceder às estratégias e raciocínios dos alunos, tal como aos conhecimentos matemáticos que mobilizariam, esta entrevista assumiu características semiestruturadas, uma vez que a amplitude de conteúdos a abranger e tópicos a esmiuçar seria muito vasto e teria de ser concordante com as resoluções que os alunos apresentassem. Esta flexibilidade necessária não invalidou a elaboração de um

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guião da entrevista (Anexo 6.2) que resultou de uma reflexão sobre os dados necessários obter para ir ao encontro da problemática do estudo, bem como, no antecipar de algumas estratégias e dificuldades, constando ainda algumas orientações para tentar que os alunos fossem o mais específicos possível. Assim, este “guião” continha uma série de questões que me poderiam apoiar na entrevista mas que poderiam evoluir para outro tipo de questões de acordo com as respostas e o desempenho dos alunos (Hunting, 1997).

Destaco que, para os contornos das questões do estudo, disponibilizei aos pares de alunos computadores com o software de Geometria Dinâmica GeoGebra, para que o utilizassem como recurso, se assim o desejassem.

Assim, este trabalho de cariz investigativo, que assenta no contexto empírico da descoberta e da interpretação, vale-se dos instrumentos de recolha de dados que mencionei para poder apurar considerações para as questões que inicialmente formulei. Durante a lecionação das aulas, tentei focar-me no meu objetivo de estudo, nas minhas aprendizagens mas, e sobretudo, nas aprendizagens dos alunos.

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