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Capítulo V- Objetivos, Métodos e Materiais

5.5 Instrumentos de Recolha de dados

5.5.1 Questionário de caracterização sociodemográfica e de saúde dos jovens e suas famílias. Através dos pais/cuidadores foi obtida informação de caraterização sociodemográfica e de saúde que em muitos estudos é utilizada para avaliar a severidade da condição clinica, variáveis que podem condicionar os valores da funcionalidade e influenciar os resultados da intervenção.

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5.5.2 Escala de Autoconceito para Adolescentes SPPA (Self-perception Profile for Adolescents de Susan Harter), versão reduzida para adolescente validada e adaptada para a população Portuguesa por Peixoto, Alves-Martins, Mata, e Monteiro (1996) que autorizou formalmente a sua utilização.

Trata-se de uma escala de avaliação do autoconceito para adolescentes (Harter, 2012b) que inclui 8 domínios; aceitação social, atração romântica, amizades íntimas, aparência física, competência académica, competência atlética, comportamento e competência para o trabalho. Para além destes domínios específicos (Harter, 2012b) apresenta um domínio mais geral, a Autoestima, um constructo relativamente dife- rente que constitui um julgamento global do seu valor enquanto pessoa e não um domínio específico de competência. Na adaptação do instrumento para a população portuguesa foi retirado um dos 8 domínios, o comportamento no trabalho, por não se considerar adequado culturalmente aos jovens portugueses, a sua versão final foi considerada válida e fiável na avaliação dos 7 domínios do autoconceito e a autoes- tima cujos valores de Alfa de Cronbach variaram entre 0.61 e 0.76 (Peixoto et al., 1996) e para a população com deficiência motora (Sérgio, 2005).

Tal como se pode observar na figura 5, cada item está organizado de forma a permitir sempre uma dupla opção para cada afirmação, sendo que o sujeito pode se percecio- nar pela negativa ou pela positiva consoante as diferentes afirmações, e tem uma co- tação que pode variar entre os valores 4 e 1, sendo que o valor mais elevado indica uma maior competência percebida.

Figura 5 - Escala de autoconceito para Adolescentes (SPPA) - Item 1

No presente estudo foram utilizados apenas três dos sete domínios específicos do auto- conceito (Aceitação Social, Amizades Intimas e Atração Romântica), além do domínio específico da autoestima resultando num total de 20 itens (cf. Anexo I). As razões que levaram a esta decisão, tiveram a ver com:

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- A necessidade de reduzir o número de itens (crianças e jovens com uma reduzida ca- pacidade de concentração e que no teste piloto apenas responderam em média 20 itens deixando os restantes sem resposta) e de facilitar a execução do questionário na sua to- talidade;

- O facto das competências, desempenho escolar e comportamento estarem muito dire- cionados para um ambiente académico e não fazer muito sentido questionar num ambi- ente de Campo;

- A resposta aos domínios Aparência Física e Competência Atlética obrigaria os jovens a uma consciencialização das suas limitações físicas que poderiam influenciar a sua perceção da autoestima.

5.5.3 Escala de Medida da Independência Funcional (MIF)

Traduzida e adaptada para a População Portuguesa por Laíns (1991), que formalmente autorizou a sua utilização (cf. Anexo II).

Procurou-se encontrar um instrumento fiável e válido para avaliar a funcionalidade dos jovens com SB, e coerente com a Classificação Internacional de Funcionalidade (siste- ma de classificação Internacional que define e mede o estado funcional e a saúde dos indivíduos), considerada imprescindível na avaliação da intervenção na área da reabili- tação2. Trata-se de um instrumento que permite ser aplicado a crianças a partir dos 8 anos de idade.

A MIF é um instrumento de avaliação desenvolvido para o acompanhamento de pessoas em processo de reabilitação, focalizada na efetiva realização das AVD de forma inde- pendente e que tem como objetivos determinar a incapacidade do doente, avaliar os ga- nhos funcionais do mesmo, avaliar a qualidade de um programa de reabilitação e deter- minar a relação custo/benefício. Constitui um indicador da incapacidade e é medido com base na necessidade de assistência de outra pessoa (Granger, 2011; Stineman et al., 1996). A forma de se obter a informação depende da observação de desempenho do

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Contactou-se com o Professor Doutor Gerold Stucki, (coordenador de um grupo de peritos internacionais em CIF - ICF Research Branch, nomeado pela OMS para desenvolver listagens consensuais de core sets dirigidas a populações com diferentes doenças crónicas) com o objetivo de questionar o grupo de peritos relativamente ao instrumento mais adequado para avaliar a funcionalidade em jovens com SB. As respostas obtidas pelo grupo, revelaram ainda não ter sido desenvolvido nenhum

core set específico para a criança ou jovem (independentemente da condição associada). De uma forma

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paciente, e/ou das informações fornecidas pelo paciente/familiar/cuidador/equipa (Benvegnu et al., 2008).

Este instrumento avalia o desempenho do individuo na realização de um conjunto de 18 itens (atividades). Cada item pode ser classificado numa escala de graus de dependência de 7 níveis, sendo o valor 1 correspondente à dependência total e o valor 7 à realização de tarefas de forma independente (em segurança e em tempo normal). Do nível 1 ao nível 5 são representados os itens relativos à dependência, sendo necessária outra pessoa para supervisionar ou ajudar fisicamente na tarefa. Os níveis 6 e 7 correspondem ao patamar de independência, no qual o indivíduo realiza a tarefa sem ajuda de outra pessoa. O nível 6 representa a independência modificada, na qual para a realização da tarefa é necessária ajuda técnica de uma prótese/ortótese, tempo extra, ou é realizada sem condições de segurança. O nível 7 representa independência completa, na qual a tarefa é realizada em segurança, sem modificações, nem ajudas técnicas e em tempo razoável. Os scores mais altos representam melhores níveis de Independência Funcional num total máximo de 126 valores e mínimo de 18.

Como os autores tinham alguma preocupação relacionada com a dimensionalidade dos itens, realizaram uma análise Rasch que sugeriu que a dimensão motora e cognitiva podia ser transformada em duas medidas separadas. Os resultados dos estudos acerca da fiabilidade demonstram que a consistência interna suporta que a MIF possa ser expressa numa escala única ou em duas subescalas (Dodds, Martin, Stolov, & Deyo, 1993; Hamilton, Laughlin, Fiedler, & Granger, 1994). Deste modo, os dados da MIF podem ser reportados em termos do score motor (soma dos primeiros 13 itens) ou score cognitivo (soma dos últimos 5 itens) (Heinemann, Linacre, Wright, Hamilton, & Granger, 1994). Sendo a dimensão motora mais diretamente relacionada com o estado físico e a cognitiva com o estado mental e social (Stineman et al., 1996).

Em alternativa, os scores da MIF podem ser somados de modo a produzir os seguintes scores de seis subescalas: Autocuidado, Eliminação, transferências, locomoção, comunicação e cognição social (Heinemann, Linacre, Wright, Hamilton, & Granger, 1993). Estudos que avaliaram a consistência interna (Dodds et al., 1993; Ottenbacher, Hsu, Granger, & Fiedler, 1996; Ottenbacher et al., 1994) e a concordância intra e inter avaliadores (Hamilton et al., 1994; Segal, Ditunno, & Staas, 1993) da MIF concluíram que o instrumento apresenta valores de fiabilidade aceitáveis (os valores de Alfa de

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Cronbach variaram entre 0.88 e 0.97 escala total, 0.86 e 0.97 dimensão motora e 0.86 e 0.95 dimensão cognitiva) (Stineman et al., 1996).

Estudos relacionados com a validade (Stineman et al., 1996; Watson, Kanny, White, & Anson, 1995), validade concorrente (Kidd et al., 1995; Stineman et al., 1996) e validade de constructo (Linacre, Heinemann, Wright, Granger, & Hamilton, 1994) indicam que a MIF apresenta qualidades psicométricas de fiabilidade e validade adequadas.

5.5.4 Guião da entrevista de focus group.

Com o intuito de avaliar o PEAIJSB e o seu efeito na perspetiva dos Jovens (após o programa) e dos Pais/cuidadores (6 meses depois), foram realizadas oito entrevistas de focus Groups aos jovens (quatro com os participantes do sexo masculino e quatro com os participantes do sexo feminino) e quatro entrevistas aos pais/cuidadores. O focus Groups é uma técnica de recolha de dados que tem vindo cada vez mais a ser utilizada pelos investigadores na área das ciências sociais. É considerada uma técnica essencial- mente qualitativa, de exploração e descoberta (Morgan, 1998a), e tem como objetivo obter dados sobre as perceções dos entrevistados acerca de determinada área de interes- se. A utilização desta metodologia permite explorar e compreender um determinado fenómeno coletivo (Morgan, 1998b).

Distingue-se das outras técnicas por utilizar a discussão em grupo para obter os dados, favorece o envolvimento entre os participantes colocando-os numa ativa comparação de opiniões e de experiências (Malheiro, 2005).

Heary (2002) destaca o focus group como uma técnica atualmente muito utilizada com a população pediátrica na área da saúde. São inúmeras as vantagens na utilização desta técnica, destacam a motivação dos participantes inerente à promoção do empowerment dos jovens ao sentirem que são ouvidos como experts e envolvidos na colheita de dados (Bagnolia & Clarkb, 2010; Heary, 2002; Malheiro, 2005) e proporciona a oportunidade de obter perspetivas individuais dos diferentes participantes em pouco tempo produzin- do uma maior riqueza de dados (Harvey-Jordan & Long, 2002).

As questões foram elaboradas de acordo com os objetivos e as funções pretendidas, que (Morgan, 1998a) descreve em cinco categorias: 1) de abertura (não pretende ser útil para o estudo mas serve para “quebrar o gelo”) 2) introdutória (estimula os participantes a transmitirem como compreendem o fenómeno em estudo), 3) transição (dirigem a

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conversação para as questões chave), 4) chave (são aquelas que produzem os dados cru- ciais para o estudo, em que o investigador deve dar tempo suficiente para esgotar a in- formação relativa a estas questões) 5) final (constitui a pergunta de segurança ou seja tem como objetivo certificar-se que não há mais nada a acrescentar àquilo que já foi dito). Deste modo, foram construídos dois guiões de entrevista, um dirigido aos jovens e outro aos pais/cuidadores (cf. Anexo III).

5.5.5 Escala de Autoavaliação da Funcionalidade (EAF)

A inexistência de um instrumento para avaliar a funcionalidade percebida pelo jovem com SB (10 aos 18 anos) relativamente à funcionalidade na realização das AVD, deter- minou o desenvolvimento de um instrumento de medida.

A construção dos itens decorre do conteúdos da MIF (Laíns, 1990) que constituiu um importante modelo, nomeadamente na variável latente que se pretende avaliar, a Funci- onalidade (Dimensão motora e cognitiva).

Considerando que a EAF é dirigida a uma população pediátrica, foi tida como linha orientadora a construção de um instrumento que permitisse uma boa compreensão pelas crianças a partir dos 10 anos de idade e que fosse de fácil preenchimento.

A EAF é um instrumento que procura avaliar a funcionalidade percebida pelo jovem com SB na realização das AVD. Com base na MIF foram desenvolvidas proposições referentes às duas dimensões que incluem a dimensão motora (autocuidado, eliminação, transferências e locomoção) com 18 itens e a dimensão cognitiva (comunicação e cog- nição social) com 6 itens. O formato de resposta é numa escala tipo Likert com cinco pontos, 1 (não consigo), 2 (consigo com muita ajuda), 3 (consigo com alguma ajuda), 4 (consigo com muito pouca ajuda) e 5 (consigo sem ajuda).

Concluída a primeira versão do instrumento (cf. Anexo IV), o passo seguinte passou pela realização do teste piloto que serviu não só, para testar a clareza e compreensão dos itens, o grau de dificuldade e a distribuição das respostas e não respostas, mas também para avaliar as suas qualidades psicométricas (sensibilidade, fiabilidade e validade).

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5.5.5.1 Estudo prévio de Avaliação das Qualidades Psicométricas EAF

Atendendo ao facto da SB ser uma condição rara, e o número de jovens disponíveis para a realização do teste piloto ser limitado, o instrumento foi aplicado a um conjunto de jovens com características semelhantes ou seja, portadores de uma deficiência motora, com idade compreendida entre os 10 e os 18 anos.

Num total de cento e um participantes (n=101) 56.4% (57) eram do sexo feminino e 43.6% (44) do sexo masculino. A idade variou entre os 10 e os 18, com uma média de 14.16% (SD=2.73). Relativamente à utilização de meios auxiliares de marcha apenas 4% (4) não necessita e dos 96% (97) que necessitam, 70.3% (71) utilizam cadeira de rodas.

Definida a estrutura do instrumento (total de 24 itens) e apresentada a amostra, segue-se o estudo das qualidades psicométricas da EAF. Analisaram-se os dados recolhidos de forma a avaliar a sensibilidade, a fiabilidade (consistência interna) e por fim a validade de constructo (validade fatorial, validade convergente e validade discriminante).

A caraterização descritiva dos itens é dada na tabela 3, onde se apresentam os valores médios (M), medianos (Me), mínimo (Min), máximo (Max), assimetria (Skew) e acha- tamento (Ku). A sensibilidade dos itens foi avaliada por visualização gráfica (Q-Q Plots, Box Plots) e por recurso aos coeficientes de assimetria.

O estudo da variável funcionalidade autoavaliada parece revelar uma tendência para uma autoeficácia elevada dos jovens na realização das AVD. As médias são tendenci- almente elevadas, embora o intervalo de variação seja percorrido na sua totalidade num número substancial de itens. Verifica-se uma distribuição de frequência assimétrica po- sitiva e leptocúrtica (efeito de teto) para valores elevados nos itens relacionados com a alimentação, higiene (pentear, lavar a cara e os dentes) e realizar trajetos curtos.

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Tabela 3 - EAF (24 Itens) – Média (M), Mediana (Me), Mínimo (Min), Máximo (Max), Assimetria (Skew) e Achatamento (Ku) (N=101)

A caraterização descritiva das dimensões da variável latente funcionalidade da EAF (motora e cognitiva) é apresentada na tabela 4, onde se apresentam os valores medianos, média, mínimos, máximos, desvio padrão, assimetria e achatamento.

Os resultados demonstram que ambas as dimensões da EAF apresentam valores de as- simetria adequados e que complementados com a visualização gráfica (histograma, Q-Q Plots e Box Plots) permitem afirmar que relativamente à medida de forma a distribuição aproxima-se da normalidade em ambas dimensões motora e cognitiva.

Verifica-se que em termos de média e desvio padrão, que os valores se situam ligeira- mente acima do ponto médio para ambas as dimensões o que permite afirmar que os jovens com deficiência apresentam uma boa perceção da sua eficácia funcional tanto ao nível cognitivo como motor.

Itens M Me Min Max Skew Ku

It1 4.72 5.00 2 5 -2.51 5.56 it2 4.57 5.00 1 5 -2.47 5.21 it3 4.46 5.00 1 5 -2.03 3.02 it4 4.59 5.00 1 5 -2.47 4.96 it5 3.69 4.00 1 5 -.41 -.94 it6 4.61 5.00 1 5 -2.34 4.11 it7 3.99 5.00 1 5 -1.05 -.42 it8 3.95 5.00 1 5 -.97 -.54 it9 4.05 5.00 1 5 -1.21 -.20 it10 3.39 4.00 1 5 -.31 -1.54 it11 3.97 5.00 1 5 -1.11 -.20 it12 3.19 4.00 1 5 -.19 -1.76 it13 4.32 5.00 1 5 -1.62 1.06 it14 3.71 5.00 1 5 -.72 -1.21 it15 3.55 4.00 1 5 -.48 -1.38 it16 4.76 5.00 1 5 -3.55 12.79 it17 2.46 1.00 1 5 .56 -1.52 it18 3.71 4.00 1 5 -.42 -1.03 it19 4.05 5.00 1 5 -1.16 -.17 it20 4.16 4.00 1 5 -1.16 1.06 it21 4.07 4.00 1 5 -1.05 1.65 it22 3.73 4.00 1 5 -.68 -.45 it23 3.58 4.00 1 5 -.55 -.91 it24 3.37 3.00 1 5 -.28 -1.03

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Tabela 4 - EAF Dimensão Motora e Cognitiva: Média (M), Mínimo (Min), Máximo (Max), Desvio Padrão (SD), Assimetria (Skew) e Achatamento (Ku) (n=101)

Com o objetivo de avaliar a fiabilidade existente entre as respostas aos diversos itens que constituem esta escala, procedeu-se à análise da consistência interna, calculando o alfa de Cronbach.

Na totalidade, a EAF apresenta um alfa de Cronbach de 0.91, o que revela um elevado nível de consistência interna dos itens.

Para avaliar a estabilidade da consistência com que um determinado conjunto de itens de medida estima um determinado constructo ou variável latente, e na impossibilidade de realizar o teste reteste Marôco e Garcia-Marques (2006) fazem referência ao método Split Half proposto por Spearman e Brown em 1910.

Calculando os valores do alfa de Cronbach da EAF pelo método Split Half é de 0.91 na primeira parte e de 0.76 na segunda parte, com base nos critérios de recomendação da fiabilidade de Nunnally, (1978) os valores são apropriados quando estamos a fazer a investigação preliminar de um instrumento (>0.70) (Marôco & Garcia-Marques, 2006). No entanto, os valores apresentam uma diferença ainda considerável e que pode estar relacionada com a organização dos itens no instrumento, sendo que os primeiros 18 itens refletem a dimensão motora e os 6 itens finais a dimensão cognitiva da variável funcionalidade e que se referem a dois constructos teóricos distintos. Apesar das dife- renças entre estes dois resultados do Split Half, o instrumento apresenta estabilidade na consistência interna o que permite a sua análise.

Quanto à fiabilidade das duas dimensões da variável latente funcionalidade da EAF, apresentam um α para a dimensão motora de 0.937 e para a dimensão cognitiva de 0.638. Como se pode observar, relativamente à dimensão cognitiva, apresenta um valor de α<0.7 considerado fraco ou até inaceitável para alguns autores (Marôco & Garcia- Marques, 2006). Estes valores podem estar relacionados com as caraterísticas do desen- volvimento cognitivo nestas crianças, com idades entre os 10 e os 18 anos, e as fracas competências ao nível do pensamento abstrato, necessárias para se autoavaliarem acerca do seu desempenho cognitivo. Deste modo, fica a possibilidade de excluir a dimensão cognitiva do instrumento após a análise da sua estrutura fatorial.

Dimensões EAF M Me DP Min Max Skew Ku

D Cognitiva 3.78 3.80 .76 1.60 5.00 -.383 -.277

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Validade de Constructo

O facto de os dois conjuntos de itens terem um alfa de Cronbach elevado e aceitável pode definir a fiabilidade e a forte existência de um fator comum, mas não é condição necessária para a determinação da validade do instrumento (Hill, M. M. & Hill, 2000), assim como, não nos explica a sua dimensionalidade (Marôco & Garcia-Marques, 2006).

Deste modo, procedeu-se à realização da análise fatorial exploratória (AFE) com o obje- tivo de determinar o número de fatores necessários para explicar a estrutura correlacio- nal entre os 24 itens da EAF. A aplicação do teste de esfericidade de Bartlett aos 24 itens da EAF permite que se considere que a esfericidade é assumida para (X2=1772.94, p<.001). A AFE revelou um KMO=0.869 (Kaiser-Meyer-Olkin Measure) demonstrando uma correlação entre itens de magnitude elevada. A extração dos fatores pelo método de análise de componentes principais, seguida de rotação ortogonal (Varimax) revelou uma estrutura bidimensional (forçada a dois fatores com base no constructo teórico da MIF), que explicou 50,1% da variância total dos itens tal como se pode observar na tabela 5. A maioria dos itens revelou pesos fatoriais superiores a 0.5 excetuando os itens 12 (0.445), 16 (0.268) e 21 (0.463).

Deste modo, o fator 1 (it1, it2, it3, it4, it5, it6, it7, it8, it9, it10, it11, it12, it13, it14, it15, it16, it17, it18 e it19) é mais forte e refere-se à dimensão motora da funcionalidade (au- tocuidado, eliminação, transferências e locomoção) explicando 39.8% da variância. No fator 2, os itens (it20, it21, it22, it23 e it24) estão relacionados com a dimensão cogniti- va (função executiva) da funcionalidade (comunicação, interação social, resolução de problemas, memorização). Também se pode verificar que o item 16 referente à locomo- ção apresenta os pesos fatoriais com valores mais baixos.

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Tabela 5 – EAF: Pesos Fatoriais e Comunalidades dos itens que definem os 2 fatores (n=101)

Itens Fatores h2 1 2 it1 .670 .484 it2 .750 .584 it3 .782 .642 it4 .637 .409 it5 .794 630 it6 .746 .556 it7 .857 .749 it8 .854 .731 it9 .828 .697 It10 .760 .605 it11 .593 .486 it12 .445 .207 it13 .769 .617 it14 .735 .635 it15 .785 .638 it16 .268 .144 it17 .496 .246 it18 .703 .529 it19 .703 .510 it20 .564 .319 it21 .463 .217 it22 .717 .523 it23 .601 .368 it24 .682 .473 % Variância explicada 39.8 10.1 Validade Convergente

Todos os itens da dimensão motora apresentam uma correlação estatisticamente signifi- cativa (p<.001), excetuando os itens 16 e 17 referentes à locomoção (percorrer pequena distância e subir escadas) que já apresentavam alguns problemas de sensibilidade relati- vamente aos valores da assimetria e achatamento e o item 16 apresentar um peso fatorial baixo. O facto de serem itens que estão intimamente associados à condição decorrente da lesão medular da criança e do seu potencial funcional de marcha, muitas vezes alta- mente limitado, e os resultados revelarem uma fraca variabilidade (efeito de chão e de teto), levou à decisão da sua eliminação do instrumento, retendo apenas os 16 itens refe-

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rentes às outras variáveis componentes da dimensão motora que incluem o autocuidado (it1, it2, it3, it4, it5, it6, it7, it8, it9, it10, it19), eliminação (it11 e it12) e as transferên- cias (it13, it14, it15).

No que respeita à dimensão cognitiva verificou-se correlação estatisticamente significa- tiva entre o item 18 com 20 e 22 (p<.05), e entre os itens 20 com 21 e 22 e o 22 com 18, 20, 23 e 24 (p<.01).

Procurou-se ainda, avaliar se a medida da variável latente funcionalidade motora e fun- cionalidade cognitiva têm validade convergente quando correlacionadas com outros constructos teoricamente equivalentes.

Deste modo, analisou-se o coeficiente de correlação de Pearson entre os fatores funcio- nalidade motora e cognitiva da EAF com as da MIF (cujo constructo teórico sustentou a construção da EAF). Os resultados revelaram, que a dimensão motora da EAF apresen- tou uma correlação de elevada intensidade com a dimensão motora da MIF (r=0,875), relativamente à dimensão cognitiva da EAF os valores não permitem afirmar que existe correlação com a dimensão cognitiva da MIF (r=0,153). Considerando que esta dimen- são já apresentava um valor baixo do alfa de Cronbach (0,63) e os itens que a compõem estão fracamente correlacionados, após acordo entre juízes, decidiu-se retirar esta di- mensão do instrumento, ficando o instrumento EAF - Versão Modificada com 16 itens que correspondem à variável latente funcionalidade motora para nova análise.

Instrumento AFAP (Motora) – Versão Final de Dezasseis Itens

No que se refere à análise descritiva da variável latente Funcionalidade Motora, referen- te à EAF versão modificada, verifica-se pela consulta da tabela 6, que os jovens avaliam positivamente a sua capacidade funcional motora na realização das AVD. No entanto, apesar da tendência da resposta dos jovens se situar à direita da escala, e portanto acima do ponto médio, é possível constatar que as respostas estão distribuídas ao longo da escala de medida o que revela uma variabilidade das respostas dos participantes face aos itens apresentados.

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Tabela 6 - EAF Modificada (16 Itens): Média (M), Mediana (Me), Mínimo (Min), Máximo (Max), Assimetria (Skew) e achatamento (Ku) (n=101)

A fiabilidade da versão final da EAF de dezasseis itens (Dimensão Motora) apresenta um alfa de Cronbach de 0.938, o que revela o elevado nível de consistência interna des- te instrumento.

A estimação da magnitude de fiabilidade recorrendo ao método Split Half o valor do alfa de Cronbach na primeira parte é de 0.92 na segunda parte 0.88, e com recurso à correção de Spearman & Brown de α=0.869, valores que segundo os critérios de Nun- nally recomendados por Marôco e Garcia-Marques (2006), são excelentes numa inves- tigação preliminar de um instrumento. Os resultados permitem também afirmar que o instrumento apresenta estabilidade na consistência interna.

Validade de Constructo

No sentido de identificar e descrever as relações estruturais no conjunto de itens que constituem o instrumento que pretende medir a variável latente Funcionalidade Motora foi realizada uma análise fatorial exploratória AFE (Marôco, 2010). Na AFE segunda versão com 16 itens da EAF a esfericidade é assumida (X2=1378.76, p<.001) e revela um KMO=0.903 que demonstra a excelente correlação entre itens (Marôco, 2010). A extração dos fatores pelo método das componentes principais, seguida de rotação ortogonal (Varimax) revelou uma estrutura tridimensional que explicou 74.67% da vari-

Itens M Me Min Max Skew Ku

It1 4.72 5.00 2 5 -2.51 5.56 it2 4.57 5.00 1 5 -2.47 5.21 it3 4.46 5.00 1 5 -2.03 3.02 it4 4.59 5.00 1 5 -2.47 4.96 it5 3.69 4.00 1 5 -.41 -.94 it6 4.61 5.00 1 5 -2.34 4.11 it7 3.99 5.00 1 5 -1.05 -.42 it8 3.95 5.00 1 5 -.97 -.54 it9 4.05 5.00 1 5 -1.21 -.20 it10 3.39 4.00 1 5 -.31 -1.54