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4.2.1 As entrevistas

De acordo com Szymanski; Almeida e Prandini (2002) a entrevista é um importante instrumento de coleta de dados em pesquisas qualitativas, pois permite entender melhor os dados obtidos que não seriam esclarecidos com eficiência a partir de instrumentos fechados de formatos padronizados.

A entrevista se resume em uma situação de interação humana, pois quem entrevista tem informações iniciais e procura outras a quem é entrevistado, tenta se localizar em relação ao assunto para organizar as respostas para aquela situação. Assim, o entrevistado ao aceitar participar da pesquisa entende que o entrevistador

tem interesse em seu conhecimento sobre o assunto e se vê importante para o outro (SZYMANSKI; ALMEIDA; PRANDINI, 2002).

Entendendo a eficiência da entrevista, em relação a outros métodos, iniciamos a coleta de dados com a realização de uma entrevista semiestruturada (anexo 3) com a professora, que durou cerca de 13 minutos e foi gravada por um aplicativo de smartphone e posteriormente transcrita, conforme anexo 4.

Na sequência, os alunos da turma escolhida foram entrevistados. Dos 19 alunos matriculados, apenas 16 participaram da entrevista, que foi realizada em 4 dias diferentes, durante os horários de aulas, conforme autorizado e orientado pela direção da escola. Os três alunos que não participaram, não estavam presentes em nenhum dos dias. A entrevista dos alunos também foi realizada de forma semiestruturada, conforme segue no anexo 5. As entrevistas foram gravadas por um aplicativo de smartphone e transcritas (anexo 6).

Um dos alunos entrevistados é surdo, por isso, é acompanhado por um intérprete. Assim, as perguntas eram feitas, o intérprete repassava ao aluno utilizando a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), o aluno respondia a ele utilizando o mesmo código e a voz gravada e transcrita era do intérprete a partir das respostas do aluno.

Após a identificação e conhecimento dos sujeitos, pela entrevista, foram realizadas duas reuniões com a professora. A primeira consistiu em apresentar o intuito da pesquisa, os objetivos, a forma como seria realizada e também apresentar o resultado das entrevistas dos alunos, com os anseios de cada um e as perspectivas a respeito da escola e do ensino de Química. E a partir da apresentação desses dados, analisar o currículo da EJA, disponibilizado pela Secretaria Estadual de Educação e escolher o conteúdo a ser trabalhado.

O segundo encontro com a professora, foi necessário para apresentar a sequência didática desenvolvida, elaborar e discutir os horários e dias que ela disponibilizaria para a realização do projeto. Os dois encontros, aconteceram em

horários que antecedem as aulas. Horários esses, disponibilizados pela equipe gestora da escola, conforme orientação da secretaria estadual de educação, que são contabilizados na carga horária dos professores, como momento de estudo e aperfeiçoamento.

4.2.2 Desenvolvimento da Sequência didática

Na sequência dessas elaborações e discussões de aulas, foi o momento de ir para sala de aula, aplicar a sequência didática (anexo 7). Nessa pesquisa, foram desenvolvidas quatro aulas da sequência didática, por serem os momentos disponibilizados pela escola e pela professora, a fim de cumprir as exigências do calendário escolar.

A sequência didática utilizada foi elaborada pela pesquisadora, corrigida pelo orientador da pesquisa, e posteriormente analisada e aprovada pela professora da turma. E foi desenvolvida conforme descrito no quadro 1.

Quadro 1- Descrição das aulas aplicadas

Aulas Atividades Desenvolvidas

Problematização: Qual o destino final do óleo utilizado em sua casa?

Organização do conhecimento: Realização da prática experimental Produção de

Sabão com Gordura Vegetal

Aplicação do conhecimento: Escrita do diário de Aula

Problematização: Qual a relação dos conceitos Químicos com os resultados

observados da prática experimental realizada?

Organização do conhecimento: Explicação sobre os compostos Bioquímicos e

estudo dos Lipídeos (Cerídeos, Glicerídeos e Esteroides).

Aplicação do conhecimento: Escrita do diário de Aula Problematização: Porque e como o sabão é formado?

Organização do conhecimento: Explicação sobre a reação Química de

saponificação.

Aplicação do conhecimento: Prática experimental demonstrativa “Reação de

Saponificação” e escrita do diário de Aula.

Problematização: Porque o sabão limpa?

Organização do conhecimento: Explicação de conceitos Químicos: Solubilidade;

Densidade; Polaridade e Estrutura Molecular inerentes a questão problematizadora.

Aplicação do conhecimento: Escrita do diário de Aula e aplicação de questionário

As aulas foram planejadas seguindo o modelo apresentado por Delizoicov (1991), dos três momentos pedagógicos, metodologia esta, oriunda das concepções freireanas como cita Araújo (2015) em sua pesquisa de mestrado:

[...] dos 3MP serem oriundos da concepção Freireana para um contexto de educação formal em que a construção do conhecimento ocorre por meio da educação dialógica e problematizadora a partir de problemas emergentes dos educandos. Nesta dinâmica, as atividades ocorrem de forma coletiva entre todos os sujeitos envolvidos no processo, tendo como eixo articulador o diálogo problematizador construído entre educador e educando, proporcionando, com isso, a participação de todos (ARAÚJO, 2015, p. 62).

De acordo com Delizoicov (1991) esse modelo, está dividido em momentos denominados problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. O primeiro momento, a problematização, é caracterizada por apresentar ao aluno situações reais, próximas do seu cotidiano, nesse momento, os estudantes são incentivados a mostrar o conhecimento que tem a partir de suas experiências a respeito do tema apresentado.

O segundo momento, denominada organização do conhecimento, abarca o conhecimento científico a respeito do tema discutido inicialmente e o terceiro e último momento dos três apresentados, é a aplicação do conhecimento, esse momento é caracterizado pela demonstração do conhecimento construído pelo aluno, a capacidade que o aluno tem em analisar e interpretar as situações abordadas no estudo do tema (DELIZOICOV, 1991).

4.2.3 Diário de Aula

O diário de aula é um recurso que agrega muito a prática do professor, para ele, existem muitas denominações que referenciam a essa técnica, no entanto, nem todos se referem a mesma coisa, eles podem ser variados de acordo com o conteúdo e com a função pelo qual são desenvolvidos, podem ser para cunho avaliativo, etnográfico, reflexivo, entre outros (ZABALZA, 2004).

Além de contribuir para a reflexão e aperfeiçoamento da pratica profissional do professor, o diário, tem a característica de aperfeiçoar a escrita e organizar as

aos alunos, pois além de estimular o desenvolvimento das ideias pela escrita, também permite ao professor avaliar a construção de conhecimento do aluno, além de avaliar sua própria prática, como destaca Zabalza (2004):

Os diários podem se tornar, também o registro mais ou menos sistemático do que acontece em nossas aulas. Poderia ser usado individualmente ou em grupo, escrito pelo professor ou pelos alunos, abordando temáticas gerais (contando o que acontece em aula e dando, portanto, uma visão geral desta) ou temáticas mais específicas (escrevendo sobre questões selecionadas em função de sua relevância, de sua oportunidade ou de seu interesse por algum motivo). De qualquer uma das modalidades o uso do diário que empreguemos poderemos extrair uma espécie de radiografia de nossa docência (ZABALZA, 2004, p. 24). Para Heemann e Townsend (2015) a construção de diários de aula, pelos alunos, é um instrumento muito eficiente por permitir a reorganização da aprendizagem, possibilitando assim, o desenvolvimento cognitivo do aluno.

Assim, cada aluno da turma, recebeu no primeiro encontro um caderno para ser utilizado como registro das atividades, ou diário de aula, termo que será usado nessa pesquisa. Nesse primeiro encontro antes da entrega dos cadernos foi explicado o que era um diário de aula, e que após cada registro os diários seriam recolhidos para análise e adequação das próximas aulas, pois eles seriam usados como dados para a pesquisa.

Para não gerar constrangimento, e evitar a falta de produção textual pelos alunos, cada um recebeu um número, de acordo com a numeração utilizada também na entrevista, esse número foi registrado em cada diário e usado como identidade dos alunos participantes da pesquisa.

Após o desenvolvimento de cada aula, os alunos eram incentivados a escrever o diário de aula, a respeito de suas concepções, sugestões e aprendizado durante as aulas aplicadas. O diário dessa forma foi um dos instrumentos de cunho avaliativo e reflexivo, no sentido de observar a construção de aprendizado do aluno e repensar a metodologia e planejamentos das aulas posteriores.