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3.2 Os Sujeitos da EJA na atualidade

3.2.1 Os alunos da EJA

A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB/96) institui no Brasil o direito de escolarização básica e permanente aos Jovens e Adultos que não tiveram ou que tiveram e foram interrompidos no acesso à escola. É destacado no artigo 37 da LDB 9.394/96 que a Educação de Jovens e Adultos deve ser destinada as pessoas que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria:

A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996. p.13).

Grande parte dos adultos que frequentam as salas de aula da EJA, são trabalhadores, pais e mães, que retornam às carteiras escolares por motivos

diversos como a qualificação profissional, expectativas em ingressar em um curso técnico ou mesmo superior, ou simplesmente para se realizarem pessoalmente resgatando a oportunidade de estudo perdida quando crianças, adolescentes ou jovens devido as dificuldades enfrentadas na época (LOMBARDI, 2003).

Nessas salas, além dos alunos adultos, também encontramos um outro grupo de alunos, constituindo assim, a heterogeneidade dos estudantes da EJA, esse outro grupo é constituído por jovens que por diversos problemas, econômicos, sociais e culturais, tiveram reprovações, ficaram retidos por muito tempo em um nível ou saíram da escola por algum período e foram inseridos nessa modalidade.

Reforçando as informações anteriores, Haddad e Di Pierro (2000), relatam em seu artigo que a partir dos anos 80, o público da EJA que antes eram pessoas adultas ou idosas oriundas da zona rural, passou a abranger também jovens da cidade, com a trajetória escolar malsucedida, esses jovens são reconhecidos como “alunos - problemas” que não tiveram sucesso no ensino regular e agora, buscam aceleração nos estudos.

Esse fato pode ser verificado no trecho que segue, retirado de Brasil (2007):

[...] os programas de EJA têm sido crescentemente procurados por um público heterogêneo, cujo perfil vem mudando em relação à idade, expectativas e comportamento. Trata-se de um jovem ou adulto que historicamente vem sendo excluído, quer pela impossibilidade de acesso à escolarização, quer pela sua expulsão da educação regular ou mesmo da supletiva pela necessidade de retornar aos estudos. Não é só o aluno adulto, mas também o adolescente; não apenas aquele já inserido no mercado de trabalho, mas o que ainda espera nele ingressar; não mais o que vê a necessidade de um diploma para manter sua situação profissional, mas o que espera chegar ao ensino médio ou à universidade para ascender social e profissionalmente (BRASIL, 2007, p.19).

A Secretaria Nacional da Juventude, em 2013, traçou o perfil desses jovens, e concluiu que a juventude brasileira é grande, diversa e vítima de muitas desigualdades. Esses jovens, compõe um quarto da população nacional, sendo que 80% deles têm entre 18 e 29 anos de idade, quanto ao gênero o percentual é equiparado a maioria se declara parda e preta e se enquadra nas classes sociais média e baixa (BRASIL, 2013).

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, a educação desses jovens tem melhorado se comparada com a geração passada. No entanto, os números de defasagem educacional ainda são altos, cerca de 16% não concluíram o ensino fundamental e 20 % não concluíram o Ensino Médio. Contudo, quando questionados sobre temas de interesse, problemas analisados na sociedade e as soluções para esses problemas, a continuidade nos estudos e a melhoria na qualidade da educação é sempre mencionada (BRASIL, 2013).

Os alunos que retornam as salas de aula e ingressam na Educação de Jovens e Adultos, se deparam com muitas dificuldades, físicas ou psicológicas que atrapalha o aprendizado. Seja pela insegurança devido ao longo período que ficaram sem estudar, pela vergonha por não estar no nível escolar correspondente a idade, ou por outros fatores como o cansaço pela excessiva jornada de trabalho a que são submetidos, que atrapalha a concentração e consequentemente a construção do saber.

Algumas das dificuldades vivenciadas pelos alunos da EJA, segundo, Lombardi (2003), são ocasionadas principalmente por causas psicológicas, pois esses alunos se culpam pela evasão, repetência e fracasso escolar por não conhecerem a máquina ideológica do estado, que os exclui na oportunidade de estudar.

Peluso (2003) também corrobora com as ideias acima, como podemos perceber através de seus relatos:

Se considerarmos as características psicológicas do educando adulto, que traz uma história de vida geralmente marcada pela exclusão, veremos a necessidade de se conhecerem as razões que, de certa forma, dificultam o seu aprendizado. Esta dificuldade não está relacionada à incapacidade cognitiva do adulto. Pelo contrário, a sensação de incapacidade trazida pelo aluno está relacionada a um componente cultural que rotula os mais velhos como inaptos a frequentarem a escola e que culpa o próprio aluno por ter evadido dela. (PELUSO, 2003, p.43).

Em meio a essas dificuldades o professor tem que ser um facilitador no processo de inclusão desses alunos na escola, de acordo com Nascimento (2012) as atividades propostas no trabalho com alunos da EJA, deve partir do seu mundo real, com objetivos desafiadores para auxiliar o seu progresso de aprendizagem.

Freire (2013, p.15) deixa claro o sentido de educar, quando diz: [...] “É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimento, conteúdo, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado” [...].

O professor, nesse sentido, deve estar a par de sua verdadeira função, que não é a transmissão de conhecimento, muito pelo contrário, para promover o aprendizado crítico e reflexivo dos alunos, a mediação da construção do conhecimento é fundamental, e para isso, é essencial conhecer o aluno, saber o contexto em que vivem e buscar seus interesses.

Carrano (2007), também demonstra essa necessidade, para ele é fundamental, conhecer o sujeito da EJA, o professor deve buscar informações sobre quem é seu aluno, somente a partir dessa troca de contatos, o aluno estará aberto ao conhecimento, pois assim ele se interessará pelo que está sendo ensinado. Além de buscar informações sobre o que o aluno sabe, ou deixa de saber, é imprescindível buscar informações do que ele sente isso é indissociável para a constituição cultural do sujeito.

Enfim, na Educação de Jovens e Adultos, especialmente, deve se ter a preocupação de construir nesses alunos novos conhecimentos, preparando-os para lidar com diferentes linguagens e tecnologias e para responder aos desafios de novas dinâmicas e processos. O aluno da EJA tem pressa em adquirir conhecimentos, ele realmente tem o anseio pela aprendizagem, e principalmente em disciplinas exatas ele precisa ver sentido e aplicação do conteúdo abordado.