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Capítulo II – Metodologia de Investigação

2.4. Instrumentos e técnicas de recolha de dados

“O investigador deve na medida do possível socorrer-se de diversos dados para que se chegue o mais perto da realidade estudada e esta seja mais facilmente compreendida.” Foddy (1996:52)

2.4.1. Entrevista semi-estruturada

As entrevistas elaboradas consistiram numa conversa entre o investigador e os professores e tiveram a preocupação de manter o anonimato sobre quem se escreveu. Foram gravadas com a autorização dos professores envolvidos no estudo e seguiram um guião não rígido, de forma livre e exploratória de modo a obter dados comparáveis de acordo com o assunto pretendido. Tendo em conta os princípios éticos mencionados por Bodgan e Biklen (1994), as normas exploradas asseguraram:

 adesão voluntária dos professores neste projeto de investigação, cientes do tipo de estudo, perigos e obrigações a ele associados;

 o anonimato da identidade dos professores evitando causar-lhes qualquer tipo de transtorno ou prejuízo;

 respeito no modo como foram tratados;  a autenticidade ao descrever os resultados.

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Foi escolhido este tipo de instrumento pois, de acordo com Vale (2004), o caminho adotado leva uma compreensão do significado e das ações em que os investigadores devem assumir as suas próprias compreensões, convicções e orientações concetuais pois também eles são afetados por todo o contexto envolvente. Esta técnica permite clarificar e ajudar a interpretar o sentido das opiniões dos entrevistados, bem como as suas atitudes e conceções e depende muito da perspicácia do investigador.

As entrevistas “são utilizadas para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan e Biklen, 1994: 134); e “a técnica da entrevista é não só útil e complementar à observação participante mas também necessária quando se trata de recolher dados válidos sobre as crenças, as opiniões e as ideias dos sujeitos observados” (Lessard-Hébert et al., 1994: 160).

Segundo Fortin (2003: 245), “a entrevista preenche três funções: “(1) servir de método exploratório para examinar conceitos, relações entre as variáveis e conceber hipóteses; (2) servir de principal instrumento de medida de uma investigação; (3) servir de complemento a outros métodos, tanto para explorar resultados não esperados, como para validar os resultados obtidos com outros métodos”.

Este instrumento consiste “num método de recolha de informações que orientado por conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas selecionadas cuidadosamente, cujo grau de pertinência, viabilidade e fiabilidade é analisado na perspetiva dos objetivos de recolha de informações” (Ketele, 1999: 18). Logo, apresentam vantagens no que concerne “o grau de profundidade dos elementos de análises escolhidos” (Quivy e Campenhoud, 1992: 195).

Optou-se, neste estudo, pela realização de entrevistas semi-estruturadas, uma vez que possibilitam a comparação de dados entre os vários sujeitos (Bogdan e Biklen, 1994: 135). Além disso, estas “desenrolam-se partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (Ludke e André, 1986: 34).

Os autores Ketele e Roegiers (1999: 21) referem que a entrevista semi- estruturada é utilizada “quando o entrevistador tem previstas algumas perguntas para

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lançar a título de ponto referência”. Foi esta perspetiva que incentivou à criação de um guião de entrevista, servindo como orientação. A entrevista semi-estruturada “não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas, o investigador dispõe de uma série de perguntas-guia, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte dos entrevistados, não colocará necessariamente todas as perguntas pela ordem em que as anotou e sob a formulação prevista” (Quivy e Campenhoudt, 2005: 192).

Durante a realização das entrevistas houve necessidade de alguns cuidados e procedimentos rigorosos a ter em linha de conta:

 “um clima favorável” à interação entre o entrevistador e o entrevistado (Bell, 2004);

 o tempo disponível, espaço e ruído porque poderiam afetar o desenvolvimento normal da entrevista;

 informação prévia dos objetivos da entrevista ao entrevistado;

 esclarecimento ao entrevistado acerca do anonimato e confidencialidade da entrevista; e

 utilização de um estilo de linguagem acessível (Bell, 2004).

Este tipo de entrevista deixa espaço para divagações do entrevistado. Segundo Bogdan e Biklen (1994: 92), “o investigador leva a efeito entrevistas exaustivas com uma pessoa, tendo como objetivo coligir uma narrativa na primeira pessoa”. O primeiro contacto entre ambos é extraordinariamente importante porque funcionará como fator de aproximação ou afastamento; por isso, é necessário criar desde início uma certa familiaridade.

O guião da entrevista semi-estruturada usada neste trabalho, embora fosse constituído por questões relativamente abertas, centrou-se em determinados tópicos (Bodgan e Biklen, 1994) e dividiu-se em quatro partes. A primeira, consistiu na justificação da entrevista, solicitação da colaboração e de recolha de dados pessoais dos docentes. A segunda parte permitiu aos entrevistados manifestar as conceções que possuem relativamente aos aspetos que envolvem o conceito de portefólio. Quanto à terceira parte, possibilitou aos professores revelarem quais os contributos da construção do portefólio para as práticas reflexivas. A quarta parte permitiu evidenciar

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as opiniões dos entrevistados acerca do contributo da construção do portefólio para o desenvolvimento profissional.

As entrevistas foram transcritas na totalidade, respeitando o discurso do entrevistado, bem como as suas expressões (Bodgan e Biklen, 1994; Estrela, 2008). Relativamente ao tratamento dos dados recolhidos, recorreu-se à análise de conteúdo de acordo com a matriz de análise qualitativa, tomando como referência Miles e Huberman (1994); Bardin (2009); Estrela (2008) e Bodgan e Biklen (1994).

A análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2009), implicou o recurso a um conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicaram ao conteúdo do discurso e se basearam nas inferências do investigador.

Neste processo de análise, fez-se, inicialmente, uma leitura analítica das entrevistas e, de acordo com os indicadores recolhidos, procedeu-se, em função dos objetivos propostos, a uma categorização emergente dos dados (Miles e Huberman, 1994; Bardin, 2009). À medida que estes foram lidos, procuraram-se regularidades e padrões de acordo com os mesmos tópicos que, na opinião de Bodgan e Biklen (1994), constituem categorias de codificação importantes para classificar os dados recolhidos.

Uma vez que se utilizou a entrevista semi-estruturada, a análise do processo foi feita, inicialmente, de modo individual e, posteriormente, de modo transversal (Bardin, 2009), esclarecendo as questões, os discursos, fazendo inferências e estabelecendo categorias e subcategorias.

Referidos alguns aspetos conceptuais relativos a esta técnica de recolha de dados, serão, de seguida, apresentados alguns procedimentos fundamentais deste estudo. Os entrevistados foram contactados pessoalmente no seu local de trabalho, tendo sido informados do objetivo do estudo e garantida a confidencialidade da entrevista. Os entrevistados mostraram-se muito interessados e disponibilizaram-se de imediato para contribuir no estudo. A marcação do dia, hora e local das entrevistas foram feitas de acordo com a disponibilidade dos entrevistados, que optaram por realizar as entrevistas durante o período da tarde. As entrevistas decorreram na sede do Agrupamento de Escolas à qual os docentes pertencem. As entrevistas fluíram de forma natural e tiveram sempre início numa conversa informal. Nenhuma das entrevistas foi submetida a interrupções externas, tendo elas decorrido num ambiente calmo, o que proporcionou uma eficaz recolha de dados.

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Durante a realização das entrevistas, houve o cuidado de manter a neutralidade, o distanciamento entre ambos, no sentido de não manifestar pensamentos, olhares ou gestos de concordância ou discordância, com os pensamentos do entrevistado. No final das entrevistas, os professores mostraram-se muito interessados em conhecer os resultados da investigação (Sousa, 2005).

As entrevistas foram realizadas durante o mês de dezembro. O tempo médio de duração de cada entrevista foi entre catorze e quarenta e cinco minutos e o seu registo foi feito num gravador. O processo de transcrição realizou-se imediatamente após a realização das entrevistas.

2.4.1.1. Guião da entrevista

O guião da entrevista foi “construído a partir das questões de pesquisa e eixos de análise do projeto de investigação em que a substância da entrevista é organizada por, objetivos, questões e itens ou tópicos. A cada objetivo corresponde uma ou mais questões” (Afonso, 2005: 99).

A sua construção ajudou na definição das categorias de análise, dado que a sua elaboração se constituiu em torno dos objetivos previamente definidos para o estudo, bem como da análise documental realizada. A definição das categorias obedeceu aos seguintes princípios:

 exclusão mútua: cada unidade de registo só pode ser integrada numa categoria;

 homogeneidade: o enunciação da categoria é orientado por um único princípio de classificação;

 exaustividade: a categorização dá acesso ao envolvimento e à codificação de todas as unidades pertinentes para o objeto de estudo;

 pertinência: todas as categorias consideradas foram tidas como pertinentes uma vez que tiveram origem no referencial teórico e;

 objetividade: a definição do conjunto de categorias preenche este requisito, uma vez que partindo da grelha de categorização construída, qualquer outro investigador chegaria a resultados análogos de categorização (Esteves, 2006).

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Chegou-se, assim, à definição dos quatro blocos que de seguida se apresentam:

Bloco I - Caracterização geral do entrevistado. Neste bloco, pretendeu-se caracterizar o entrevistado, tendo em conta os dados sobre a formação académica e dados relativos à situação biográfica.

Bloco II – Opinião do entrevistado sobre o portefólio. Este bloco abrangeu um leque de questões que tiveram como objetivo de compreender as opiniões dos professores sobre as caraterísticas do portefólio e, também, quais os motivos que os motivaram nessa mesma construção.

Bloco III – Opinião do entrevistado sobre o contributo do portefólio na prática reflexiva. Aqui, o objetivo foi entender até que ponto os professores percecionam o portefólio como um instrumento de caráter reflexivo.

Bloco IV- Opinião dos entrevistados sobre o contributo do portefólio no seu desenvolvimento profissional. A construção deste bloco teve como objetivo descrever a importância que os professores entrevistados atribuem à relação que se estabelece entre a construção do portefólio e seu o desenvolvimento profissional.

O guião de entrevista obedeceu a um modelo próprio concebido sob a forma de várias perguntas. As perguntas encontram-se interligadas aos respetivos blocos.

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