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8. Método

8.3 Instrumentos

Os instrumentos e tarefas de coleta de dados utilizados nesta pesquisa fazem parte do protocolo utilizado pelo programa Talento Metrópole, cujo intuito é traçar um perfil cognitivo dos avaliados. Por essa razão, além dos domínios de inteligência, criatividade e funções executiva, inclui a avaliação da memória e seus subsistemas. Todos os instrumentos utilizados, os respectivos domínios investigados e a síntese das atividades estão descritos a seguir (Tabela 3):

Tabela 3. Caracterização dos instrumentos utilizados na pesquisa

Domínios

investigados Instrumentos Atividade etária Faixa Tempo de aplicação

Inteligência não verbal

(Triagem)

Teste das Matrizes Progressivas (Escala

Geral)

Descobrir o sistema implícito de relações entre

figuras sem significado apresentadas em série A partir dos 11 anos Tempo livre* Criatividade Pensando Criativamente com Figuras (PCF) Completar desenhos a partir de estímulos pouco

definidos A partir de 16 anos 25 min* Teste de Criatividade

Figural Infantil (TCFI)

Completar desenhos a partir de estímulos pouco

definidos

6 a 16

anos 25 min*

Funções Executivas

Teste dos Cinco Dígitos (FDT)

Ler e/ou contar rapidamente signos em

uma matriz, seguindo regras de dificuldade

sucessiva

A partir

de 6 anos 5 – 10 min

Figura Complexa de Rey reprodução de figuras Teste de cópia e de complexas A partir de 5 anos (Figura A) 5 – 25 min FAM

Evocar palavras a partir de regras fonêmicas e semânticas A partir de 7 anos 6 min Dígitos (WISC-IV e WAIS-III) Repetir números apresentados oralmente, na ordem direta e inversa

6 a 16 anos 16 a 89 anos Tempo livre Blocos de Corsi Memorizar uma sequência progressiva de blocos de 7 anos A partir Tempo livre

dispostos em um tabuleiro

Memória

Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey

(RAVLT) Repetir lista de palavras

6 – 92

anos 40 min

Teste Pictórico de Memória (TEPIC-M)

Memorizar uma série de estímulos figurais apresentados em uma cena

(elementos pictóricos e verbais)

17 a 92

anos 5 min*

*aplicação coletiva

Os instrumentos possuem uma ampla variação quanto às instruções gerais, tempo de aplicação, critérios de pontuação e objetivos de avaliação que serão detalhados a seguir:

a. Matrizes Progressivas de Raven (Escala Geral)

A designação "Teste das Matrizes Progressivas de Raven" (1938-1963) refere-se a um conjunto de testes não verbais, que estão disponíveis em três versões: a Escala Geral (Standard Progressive Matrices - SPM), designada para avaliar faixa etária acima dos 13 anos; a Escala Especial (Colored Progressive Matrices - CPM), destinada à avaliação de crianças de 5 a 11 anos de idade; e a Escala Avançada (Advanced Progressive Matrices - APM) designada para avaliação da população com idade superior a 11 anos.

O teste foi elaborado tendo como base o referencial da teoria bifatorial de Charles Spearman e tem como objetivo avaliar o que o autor define como capacidade intelectual geral (fator “g”). Em síntese, as Matrizes Progressivas pretendem avaliar a capacidade edutiva, ou seja, extrair significado de uma situação confusa, de desenvolver novas compreensões, de ir além do que é dado para perceber o que não é imediatamente óbvio, de estabelecer constructos, principalmente não verbais.

A forma original, conhecida no Brasil como Escala Geral, é constituída por 60 problemas divididos em cinco séries (A, B, C, D e E), sendo 12 problemas cada série. A

atividade consiste em identificar, no desenho ou matriz, quais figuras completam o desenho corretamente. Os princípios (natureza do problema) envolvidos na solução dos problemas variam de natureza e dificuldade, podendo implicar na percepção de diferença, similaridade, identidade, mudança, simetria, orientação e complementação. No início de cada série são apresentados itens mais fáceis que introduzem um novo tipo de raciocínio, que será exigido nos itens posteriores.

A interpretação dos resultados é feita através de percentis, que variam em uma de 1 e 99, cujo valor médio é o percentil 50. O valor do percentil revela a posição do indivíduo em relação aos elementos do grupo onde está inserido, assim como auxilia na identificação de seu grau de desenvolvimento intelectual.

b. Teste de Criatividade Figural Infantil (TCFI) e Pensando Criativamente com Figuras (PCF) Ambos os instrumentos são compostos por três atividades, sendo a primeira tarefa a elaboração de um desenho a partir de um estímulo pouco definido. Na segunda atividade deve-se completar o desenho a partir de 10 estímulos incompletos variados. Na terceira atividade deve-se fazer o maior número de desenhos a partir do mesmo estímulo repetido 30 vezes (linhas paralelas), de forma que o instrumento permite ao sujeito a elaboração de até 41 respostas sob a forma de desenhos, considerando-se as três atividades.

O tempo estimado de aplicação do instrumento é de aproximadamente 30 minutos, sendo 5 minutos destinados à resposta da Atividade 1, 10 minutos para cada uma das demais atividades e o tempo restante para exposição. No caso de aplicação com adolescentes, pode- se permitir o uso de caneta, desde que salientado as vantagens do uso do lápis e borracha por permitir que a resposta seja apagada e refeita.

estímulos e em cada atividade, dando origem a pontuações brutas em cada processo. O escore total e os escores parciais de cada fator são convertidos em resultados padronizados e percentis (tabelas normativas por sexo, série e tipo de escola).

A padronização brasileira do Teste de Criatividade Figural Infantil (TCFI) objetiva a avaliação de estudantes com idades entre 6 e 16 anos (Nakano, Wechsler, & Primi, 2011). O instrumento possibilita a avaliação global da criatividade, por meio da pontuação de 12 características criativas, apontadas pelo modelo multidimensional Torrance & Ball (1990). São avaliadas características do pensamento criativo relacionadas ao funcionamento cognitivo (fluência, flexibilidade, originalidade e elaboração), bem como aos aspectos afetivos da personalidade criativa (expressão de emoção, títulos expressivos), conforme detalhado na Tabela 4 abaixo.

Tabela 4. Características avaliadas pelo Teste de Criatividade Figural Infantil (TCFI)

Característica Descrição Componente Dimensão

Fluência

Representa o número de respostas adequadas realizadas (que utilizam o estímulo incompleto para completar o desenho).

Fator 4 Cognitiva

Flexibilidade

Refere-se à diversidade de ideias, desenhos produzidos a partir de várias categorias pré-estabelecidas ou inovadoras (respostas incomuns são valorizadas).

Fator 4 Cognitiva

Elaboração Inserção de detalhes ao desenho básico (forma mais simples de se desenhar

aquela figura). Fatores 1 e 3 Cognitiva

Originalidade

Capacidade de desenhar ideias incomuns; imprevisíveis; respostas pouco frequentes (critério definido por levantamento amostral).

Fator 4 Cognitiva

Expressão de Emoção

Presença de expressão de sentimentos, tanto nos desenhos (expressões faciais) como nos títulos (na forma de adjetivos e/ou verbos).

Fantasia

Representação gráfica de seres imaginários, de ficção, contos de fada, lendas e/ou personagens de histórias infantis.

Fator 2 Emocional

Movimento Expressão intencional de movimento e ação nas figuras a partir de recursos

gráficos ou nos títulos. Fatores 1 e 3 Emocional Perspectiva

Incomum

Representação gráfica em posições não usuais; em duas ou três dimensões; rotacionada; vista de perfil e/ou em perspectiva aérea.

Fator 1 Emocional

Perspectiva Interna

Visão interna dos desenhos, na qual partes que deveriam estar ocultadas e/ou transparentes são apresentadas (visão raio-X).

Fatores 1 e 3 Emocional

Uso de Contexto

Refere-se à criação de ambiente para o desenho; elaboração de cenário em torno do desenho principal; adição de detalhes ao entorno.

Fatores 1 e 3 Emocional

Extensão de Limites

Refere-se à extensão dos estímulos antes de concluir os desenhos; linhas são estendidas ou mantidas abertas, sem que haja formação imediata de um quadrado.

Fator 4 Emocional

Títulos Expressivos

Criação de um título que extrapola a descrição básica do desenho (geralmente acompanhados de adjetivos ou totalmente abstratos).

Fatores 2 e 3 Emocional

Fonte: adaptado de Nakano et al. (2011).

Nota. Fator 1: Enriquecimento de Ideias; Fator 2: Emotividade; Fator 3: Preparação criativa e Fator 4: Aspectos Cognitivos.

O teste Pensando Criativamente com Figuras (PCF), por sua vez, é a versão brasileira do teste figural de Torrance, desenvolvida para avaliar uma faixa etária abrangente de jovens e adultos de nível educacional Médio e Superior (a partir dos 14 anos). De modo equivalente ao TCFI, avalia as mesmas características do pensamento criativo (Figura 4), com adição de apenas um indicador (Combinação), totalizando 13 indicadores. Esta característica refere-se à junção ou síntese de estímulos para formar uma única resposta (desenho coerente). Segundo Wechsler (2004), respostas com combinações são bastante raras e indicam alta criatividade.

Figura 4. Exemplo de estímulos incompletos do teste Pensando Criativamente com Figuras (PCF)

Legenda: Atividade 1 – Construindo Figura; Atividade 2 – Completando Figuras; e Atividade 3 – Linhas.

c. Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT)

O Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey (RAVLT) é um eficiente instrumento neuropsicológico para avaliar memória episódica declarativa. De maneira geral, o teste avalia memória de curto prazo, aprendizagem de novos conteúdos verbais, suscetibilidade à

Atv. 1 Atv. 2

Atv. 3

interferência, retenção de informação e reconhecimento. Além disso, escores de aprendizagem verbal e memória episódica declarativa no RAVLT também possuem alta correlação com funções executivas (Magalhães & Hamdan, 2010).

Para esta pesquisa, foi utilizada a versão em língua brasileira mais recente do instrumento (Paula & Malloy-Diniz, 2018). Essa versão consiste na apresentação de duas listas de 15 substantivos (Lista A e B). A primeira etapa da avaliação consiste na leitura das palavras da Lista A por cinco vezes consecutivas (Listas A1 a A5), cada tentativa é seguida por um teste de evocação espontânea. A segunda etapa consiste na apresentação de uma nova lista de 15 substantivos diferentes (Lista de interferência - B), seguida da evocação desta última (B1).

Ao término dessa etapa, é solicitada a recordação das palavras da Lista A, sem que ela seja reapresentada (A6). Após um intervalo de 20 minutos, que deve ser preenchido com atividades que não demandem raciocínio verbal, pede-se ao sujeito que se recorde as palavras da Lista A (A7 – recordação tardia) sem que a lista seja lida novamente. A última etapa do RAVLT consiste no reconhecimento das palavras da Lista A, entre outros distratores (15 palavras da lista B e 20 substantivos semanticamente similares).

Quando analisadas em conjunto, os resultados das etapas do RAVLT possibilitam a avaliação da curva de aprendizagem, memória de curto prazo e índice de interferência, proativo e retroativo. Este primeiro avalia a capacidade do sujeito em resistir ao efeito de distratores proativos (interferência de um conteúdo anteriormente aprendido sobre a aprendizagem de um novo conteúdo), enquanto o índice retroativo (A6/A5) avalia a interferência de um novo conteúdo na aprendizagem de um conteúdo anteriormente aprendido e a velocidade de esquecimento (A7/A6) que avalia a vulnerabilidade do conteúdo apreendido à passagem do tempo.

d. Figuras Complexas de Rey – Forma A

As Figuras Complexas de Rey são amplamente utilizadas para avaliar memória visual, habilidade visoespacial e algumas funções de planejamento e execução de ações, De modo geral, analisa o modo como o indivíduo apreende os dados perceptivos que lhe são apresentados e como os coordena em seu comportamento motor fino, em atividades gráficas de cópia e de reprodução de memória do estímulo (Lazzarotto, De Toni, & Oliveira, 2011).

O teste possui duas formas – A e B. A forma “A” é direcionada à avaliação de pessoas com idade entre 5 e 88 anos e a forma “B” pode ser utilizada na avaliação de pré-escolares. O teste é composto por uma figura geométrica complexa e abstrata (sem significação evidente), com o objetivo de solicitar uma atividade perceptiva analítica e organizadora.

A aplicação do instrumento divide-se em duas etapas. Inicialmente solicita-se que o paciente reproduza a cópia da figura, em uma folha branca na posição horizontal. Em seguida, o avaliando deverá reproduzir de memória a figura copiada. O intervalo entre essas duas partes do processo de aplicação não deve exceder 3 minutos. A figura da Forma A é composta por 18 itens, os quais juntos formam o todo da figura, sendo pontuada de 0 a 36 pontos, que variam de acordo com a precisão e o bom posicionamento de cada item.

e. Teste dos Cinco Dígitos (FDT)

O Teste dos Cinco Dígitos (Five Digits Test – FDT) é um instrumento utilizado para avaliar o efeito de interferência atencional (efeito Stroop), utilizando informações conflitantes sobre números e quantidades. É destinado para a faixa etária dos 6 aos 92 anos de idade e o tempo médio de aplicação é de 10 minutos. O instrumento possui quatro etapas (leitura, contagem, escolha e alternância), cada utilizado 50 cartões-estímulo (Figura 5). As duas primeiras são medidas de velocidade de processamento; a etapa de Escolha avalia controle

inibitório e atenção seletiva. A última fase, em especial, avalia flexibilidade cognitiva e atenção alternada.

Figura 5. Esquema ilustrado das fases do FDT

Fonte: Adaptado de Sedó, De Paula, & Malloy-Diniz (2015).

A fase de Leitura é a mais simples e apresenta dígitos em quantidades que correspondem exatamente a seus valores. Nesta fase, o indivíduo deve reconhecer e nomear um dos números. A fase de Contagem apresenta grupos de um a cinco asteriscos, e o indivíduo deve reconhecer o “conjunto” e contar o número de asteriscos existentes. Na Leitura e Contagem, portanto, as respostas representam ações automáticas e são determinadas pelos estímulos que se apresentam ao indivíduo. Na fase de Escolha, o indivíduo deve executar ações controladas e conscientes, como inibir a leitura dos números apresentados e dizer quantos números existe em cada estímulo, apresentados dessa vez de forma incongruente (quando o sujeito encontra 2-2-2, deve dizer “três”, ou quando encontra 1-1-1-1, deve dizer “quatro”).

Por fim, na fase de Alternância, um de cada cinco grupos de dígitos é delimitado por uma borda mais grossa (último retângulo da Figura 4). Nesta etapa, dentre os 50 quadrados

estímulos, dez se diferenciam por apresentar uma borda escura e adicionar uma nova condição ao teste: nestes estímulos o indivíduo deverá reverter a regra, ao invés de contar a quantidade de número, deverá nomear o algarismo. A adição desse processo reduz a automatização das rotinas atencionais controladas e aumenta a demanda executiva do teste, sobretudo para o mecanismo de flexibilidade cognitiva.

A pontuação no teste calcula o tempo total gasto, em segundos, para finalizar cada etapa e os erros não autocorrigidos pelo examinando. O instrumento ainda prevê duas pontuações complementares, inibição de respostas e flexibilidade mental, calculadas a partir das pontuações diretas. Escores abaixo do percentil 25 indicam dificuldades discretas no funcionamento executivo e na velocidade de processamento, sem necessariamente possuir significado clínico. Escores abaixo do percentil 5 são mais indicativos de déficits proeminentes, possivelmente de natureza clínica.

f. Teste Pictórico de Memória (TEPIC-M)

O Teste Pictórico de Memória é planejado para avaliar a capacidade do indivíduo em recuperar uma informação num curto espaço de tempo, ou seja, a memória visual da pessoa por meio de estímulos figurais, em um curto período de tempo. O teste é composto por um cartão contendo vários desenhos e detalhes os quais o sujeito deve observar e memorizar. As figuras são apresentadas em três categorias (céu, terra e água). Após o período de memorização (1 minuto), o sujeito deve registrar todos os itens e detalhes que conseguir recordar, no tempo limite. A aplicação pode ser individual ou coletiva, com tempo total de 3 minutos. Para a avaliação é atribuído um ponto para cada item lembrado, após a somatória, deve-se consultar a tabela de percentil mais adequada. A correção é realizada pelo total de acertos.

g. Teste de Fluência Verbal (FAM)

Fluência é a capacidade de emitir uma série de respostas dentro de uma estrutura de regras. Refere-se à capacidade de produzir respostas rápidas e variadas, ou seja, de emitir comportamentos em sequência. A fluência verbal é uma função básica de linguagem que designa a capacidade de produzir discurso fluente (Lezak et al., 2004). Apesar de consistir em uma função essencialmente linguística, suas medidas vêm sendo largamente desenvolvidas e utilizadas também para a avaliação de aspectos executivos do comportamento verbal.

Nesse sentido, o FAM é considerado uma medida de avaliação das FE, uma vez que exige flexibilidade cognitiva, modificando conjuntos de resposta segundo os critérios estabelecidos pela tarefa; a busca e recuperação sistemática da informação verbal em detrimento de outros estímulos (controle inibitório), enquanto a organiza em termos de categorias de palavras semântica ou fonologicamente relacionadas (memória operacional), estabelecendo categorias (clusters) e alternando entre novos agrupamentos (switching) (Leite et al., 2016).

Tipicamente, o componente verbal da fluência é avaliado através da produção de palavras a partir de categorias semânticas e fonológicas em um pequeno intervalo de tempo. Provas do componente semântico, em geral, exigem que os indivíduos produzam o maior número de palavras numa categoria semântica específica. Para esta pesquisa, foi determinado como categoria semântica nomes de animais e frutas, e na categoria fonológica, substantivos com as letras iniciais “F”, “A” e “M”. As crianças foram testadas individualmente da seguinte forma: para fluência fonológica, foi requerida a evocação do maior número de palavras iniciando-se com as letras fornecidas (F, A e M), dentro do período de 60 segundos, seguindo algumas restrições como: derivações de uma mesma palavra (mesmo radical, prefixo ou sufixo) e nomes próprios.

Na etapa semântica, as palavras deveriam ser livremente recordadas, sem o estabelecimento de restrições, dentro do intervalo de 60 segundos. As respostas dos participantes são pontuadas a partir do número de palavras corretas produzidas para cada uma das seis tarefas, seguindo os critérios de correção elaborados por Charchat-Fichman, Oliveira e Morais (2011).

h. Subteste Dígitos (Escalas Wechsler)

O subteste Dígitos das Escalas Wechsler consiste na apresentação oralmente de uma série de dígitos, para que o examinando os repita na mesma ordem em que são lidos pelo examinador (ordem direta) e em ordem contrária (ordem inversa). Tanto na ordem direta quanto na inversa, a aplicação é suspensa após o fracasso nas duas tentativas do mesmo item, sem tempo limite. (Wechsler, 2013). A tarefa é composta por oito séries para ordem direta e sete para ordem inversa, havendo um aumento gradual da quantidade de dígitos em cada série. A ordem direta é aplicada em primeiro lugar, seguida pela inversa, que é administrada independentemente se o examinando fracassa totalmente na ordem direta.

Atualmente, predomina na literatura a consideração de que o subteste Dígitos avalia predominantemente a memória operacional (auditiva) e a atenção, e que as duas tarefas que o compõe requerem processamentos cognitivos distintos (Figueiredo & Nascimento, 2007). Com base no modelo ampliado de Baddeley (2000), embora as duas tarefas do subteste envolvam a repetição de números apresentados oralmente pelo examinador, a tarefa solicitada na ordem inversa apresenta maior grau de complexidade, estando, portanto, mais relacionada com a atuação do executivo central.

i. Blocos de Corsi

Nesta tarefa, que avalia memória operacional (mais especificamente esboço visoespacial), apresenta-se ao sujeito blocos com iguais proporções dispostos de maneira aleatória em um tabuleiro de madeira. A atividade consiste em apontar para os estímulos na mesma ordem que o examinador apresentou, ou seja, considerando a sequência pré- determinada (ordem direta). O número de estímulos na sequência aumenta gradativamente no decorrer da aplicação. Após essa tarefa, é solicitado que o sujeito indique os estímulos na ordem contrária à da que o examinador apontou (ordem inversa). As duas sequências iniciais são compostas dois blocos e as duas últimas sequências são compostas por nove blocos. A aplicação é interrompida com dois erros consecutivos na mesma sequência (span) (Pagulayan et al., 2006).