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10. Estudo 2: Desempenho em medidas de memória operacional verbal e visoespacial em

10.1 Modelos de memória operacional

O conceito multimodal de memória operacional (MO) evoluiu a partir de um conceito anterior de memória de curto prazo e os dois ainda são usados de forma intercambiável (Baddeley, 2012). Desde a década de 60 – época em que a expressão aparece pela primeira vez em comunicações científicas, diversos achados científicos apontam para a possível relação entre esse construto e inúmeras habilidades cognitivas (Ackerman, Beier, & Boyle, 2005; Colom, Roberto e Flores-Mendonza, 2006b; Colom et al., 2008; Colom, Flores- Mendoza, & Rebollo, 2003; Colom et al., 2004; Unsworth, Fukuda, Awh, & Vogel, 2014).

Este sistema múltiplo de memória difere-se da memória de curto prazo (MCP) por privilegiar a utilidade da informação e não simplesmente o armazenamento da informação por um breve período de tempo. Assim, o trabalho ativo de processamento é fator determinante na manutenção ou descarte dos conteúdos pela MO (Colom et al., 2003).

A capacidade de processar, armazenar e manipular informações de forma dinâmica na nossa consciência está intimamente relacionada à capacidade de resolução de problemas. Considerando o reconhecido papel da memória no raciocínio e compreensão da linguagem, estudos que avaliem o seu desenvolvimento são extremamente importantes para compreender funções e disfunções relacionadas aos processos de aprendizagem (Colom et al., 2004).

Nesse sentido, tem papel essencial na realização de tarefas complexas e, consequentemente, está relacionado a aptidões cognitivas como o raciocínio e a aprendizagem. Sobre os estudos em neurociência cognitiva da MO, Osaka & Osaka (2007) atentam para a revisão das tendências recentes e destacam a relevância de estudos comparativos de diferenças individuais em adultos saudáveis, bem como diferenças desenvolvimentais na infância, na presença de comorbidades ou déficits associados, como o foco deste estudo.

Baddeley e Hitch (1974) propuseram o modelo de memória operacional, também traduzido como operativa ou de trabalho, como alternativa aos modelos bimodais e trimodais de memória propostos na época (Atkinson & Shiffrin, 1968; Warrington & Shallice, 1969). O modelo de Baddeley e Hitch (1974) sugere a atuação conjunta de subsistemas distintos, coordenados por um sistema de controle atencional, atuando em conjunto para execução de diversas habilidades cognitivas em nosso dia-a-dia.

Atualmente, o modelo teórico funcional mais amplamente aceito pelos estudiosos da área é o introduzido pelos psicólogos Alan Baddeley e Graham Hitch (1974). Em uma perspectiva multicomponente, os autores definem a MO como o domínio geral responsável pelo armazenamento das informações, enquanto as processa simultaneamente. Esse sistema cognitivo complexo de capacidade limitada é responsável pelo controle da atenção e do

processamento envolvido em uma série de funções regulatórias, incluindo a recuperação de informações da memória de longo prazo.

Os autores propõem um sistema de controle atencional, chamado executivo central; auxiliado por dois subsistemas “escravos”, o esboço visoespacial e a alça fonológica. Segundo o autor, o executivo central – considerado um sistema de controle atencional - seria responsável por estratégias de seleção, controle e coordenação dos vários processos envolvidos na armazenagem de curto prazo, exigindo, simultaneamente, a armazenagem e o processamento da informação. De modo geral, esse supervisor atua na seleção e manipulação do material nos demais subsistemas, desempenhando as seguintes funções: focar a atenção em uma informação relevante enquanto inibe outras informações distratoras (atenção seletiva); coordenar múltiplas atividades cognitivas simultaneamente (flexibilidade mental); selecionar e executar planos e estratégias; alocar recursos em outras partes da MO; e evocar informações armazenadas na memória de longo prazo.

Por sua vez, a alça fonológica seria um subsistema especializado em reter sequências de itens acústicos ou baseados na fala (Baddeley, 2010). A alça fonológica transforma o estímulo perceptual em códigos fonológicos, que incluem propriedades acústica, temporal e sequencial do estímulo verbal. Em suma, armazena e processa informações codificadas verbalmente, sejam elas apresentadas por via auditiva ou visual. Esse subsistema conta com dois subcomponentes: o armazenador fonológico ou memória fonológica de curto prazo, que armazena informações verbais, escritas ou faladas; e um mecanismo de reverberação ou ensaio articulatório subvocal, que permite resgatar informações verbais em declínio, mantendo-as na MO, para posteriormente, combinar esses códigos fonológicos com outros previamente armazenados na memória de longo-prazo, formando fonemas e palavras (Baddeley, 2003).

Há relativo consenso de que a alça fonológica (ou loop fonológico) corresponde, basicamente, ao modelo verbal de MCP, esta última assume um armazenamento temporário e um processo de treino verbal. É o componente do modelo melhor estudado e aquele que mais se assemelha ao conceito original de memória de curto prazo. Desempenha um papel importante como preditor da aquisição de linguagem nas crianças, e na velocidade de aquisição de uma língua estrangeira em adultos (Baddeley, 2000).

Este componente compreende um sistema de capacidade limitada que proporciona o armazenamento temporário da informação mantida em um sistema multimodal, que é capaz de associar informações dos demais sistemas auxiliares do modelo. Acessível à consciência, esse subsistema se relaciona com a memória de longo-prazo episódica na construção de representações localizadas no tempo e espaço, integradas com base em uma nova informação.

O esboço visuo-espacial seria responsável pelo processamento e a manutenção de informações visuais e espaciais referente aos objetos e às relações espaciais entre eles. Além disso, atuaria na formação e manipulação de imagens mentais (Baddeley, 2003). Assim como a alça fonológica, o esboço visuo-espacial é composto por um armazenador temporário, em que as características físicas dos objetos são representadas na consciência. Esse componente é constituído de um mecanismo espacial que permite que o indivíduo possa se localizar, inclusive planejando movimentos através da atualização de novas informações visuoespaciais (Uehara & Landeira-Fernandez, 2010).

O segundo subsistema teria um desempenho similar a alça fonológica para itens visuais e/ou espaciais. De fato, o esboço visuo-espacial pode ser compreendido como um armazém que, juntamente com os processos de controle, é responsável por registrar a informação visuo-espacial e por mantê-la através do ensaio. Desta forma, o retentor

episódico permite gerenciar uma grande quantidade de informação, que ultrapasse a capacidade de armazenamento fonológico e visuo-espacial, sem depender do executivo central (Baddeley, 2000).

O modelo revisado difere do antigo, principalmente no foco nos processos de integração de informação, e não no isolamento dos subsistemas, como apresentado na Figura 15. Ao fazê-lo, o autor fornece uma base mais dinâmica para explicar aspectos mais complexos do controle executivo na MO.

Figura 15. Modelo revisado dos múltiplos componentes da memória operacional proposto por Baddeley (2000)

Nota: As áreas em destaque representam sistemas cognitivos cristalizados, capazes de acumular conhecimento de longo prazo (ex.: linguagem e conhecimento semântico). O autor sugere que as demais áreas são capacidades fluidas, como atenção e armazenamento temporário. Estas últimas seriam inalteradas pela aprendizagem, exceto indiretamente através dos sistemas cristalizados (Baddeley, 2000).