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6 METODOLOGIA

6.5 Instrumentos e procedimentos

Os instrumentos e procedimentos utilizados foram: observação, observação participante, diário de campo, filmagem, roteiro de entrevista e estratégia educativa.

A observação permite descrições objetivas de eventos e conversas; informações como o tempo, o lugar, a atividade e o diálogo são registradas (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

A observação participante é uma das técnicas bastante utilizada nas pesquisas qualitativas e consiste na inserção do pesquisador no interior do grupo observado, como um elemento participante, interagindo com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação, favorecendo a oportunidade de unir o objeto ao seu contexto (QUEIROZ et al., 2007; BRANDÃO, 1981).

Segundo Grey et al. (2001), o método observacional deve ser utilizado para proporcionar a cientificidade da técnica e ser coerente com os objetivos do estudo. Todas as observações devem ser verificadas e relacionadas com os conceitos. Para este estudo, foi consideradas a integração e a participação dos jovens no grupo. A fim de que essa observação fosse avaliada com maior riqueza em detalhes, foi empregada a filmagem.

O vídeo é abordado como instrumento de coleta e de geração de dados, sendo um dos métodos que vêm sendo empregados principalmente nas pesquisas qualitativas, pois constitui uma escolha metodológica, que oferece boa coleta no sentido de apreender o fenômeno complexo em que os discursos e as imagens são suas partes inerentes ao objeto investigado (PINHEIRO; KAKEHASHI; ÂNGELO, 2005).

Para essa filmagem, houve a participação de um aluno da graduação, previamente treinado para utilizar a filmadora. Vale ressaltar que se utilizou a captação de voz, pois evita perdas de informações, minimiza distorções, permitindo fazer anotações diversas (DUARTE, 2005).

Foi também empregado o diário de campo o qual favoreceu anotações detalhadas do conteúdo das observações no campo de pesquisa, envolvendo a descrição do ambiente e as reflexões da pesquisadora, incluindo observações pessoais, especulações, sentimentos, impressões e descobertas durante a fase de coleta de dados (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

Para estruturação da atividade educativa, segundo Brasil (2005), foi estruturado um diagnóstico e planejamento das atividades de promoção e atenção à saúde de adolescentes e jovens, por meio de um roteiro de entrevista (APÊNDICE A) elaborado com questionamentos já recomendados pelo Ministério da Saúde, contudo obedecendo à divisão das 12 atividades de vida.

Cada oficina foi elaborada após as entrevistas. Possui definidos um título, os problemas a serem focalizados para saúde do adolescente, a justificativa de sua aplicação, objetivo geral, específico, atores sociais envolvidos, recursos, cronograma, responsabilidades e, por fim, a avaliação de cada oficina (APÊNDICE B).

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) afirma que a elaboração é passo fundamental e estratégico para sistematizar um bom projeto para Promoção da Saúde escolar. Embora o modelo focalize 12 atividades, verificou-se após as entrevistas, que seria melhor agrupar os itens do modelo congruente, diminuindo o número de encontros para oito. A atividade educativa está descrita no quadro 5.

Cada encontro possui um título como tema central, mediado pela Pedagogia Dialógica. As oficinas aconteceram uma vez por semana com duração de uma hora e meia.

Para investigar os adolescentes, há a necessidade de buscar técnicas que os estimulem. As ideias de Freitas e Dias (2010) são aqui corroboradas, no sentido de que a prática pedagógica de oficinas se caracteriza como forma eficiente de educação, formulação do conhecimento e pensamento crítico para mudanças de comportamento, proporcionando exposição de ideias, conceitos e experiências.

Com suporte nas experiências grupais, Paulo Freire delineou sua proposta de trabalho como ativa, criativa, dialógica e crítica, com o uso de técnicas participativas e mobilizadoras, permitindo explorar o potencial subjetivo e transformador dos sujeitos envolvidos no processo, oportunizando a reflexão sobre o cotidiano (FREIRE, 2001).

As oficinas aplicadas favoreceram a execução de uma estratégia educativa agregada a referenciais teóricos que subsidiam a prática de Enfermagem no ambiente escolar.

Segundo Tomey (1999), o Modelo de Atividade de Vida pode ser utilizado por enfermeiras de especialidades diferentes e caracteriza-se como referência sobre a realidade dos indivíduos assistidos.

Quadro 5: Descrição da estratégia educativa baseada no Modelo de Enfermagem.

Oficina Temática 1. Manter o ambiente seguro Saúde ambiental Prevenção de acidentes Vacinação

2. Respirar Prevenção ao uso do tabaco e outras Drogas

3.Comer e beber/ eliminação

Promoção da Alimentação Saudável Prevenção ao uso de Álcool

Saneamento básico

4.Higiene pessoal e vestir- se/ Controle da temperatura corporal

Saúde Bucal Higiene pessoal Vestuário

5. Exprimir sexualidade Sexualidade Saúde Sexual Saúde reprodutiva

6. Comunicar /mobilidade Meios de comunicação Promoção de Atividade Física

7. Trabalho e lazer Trabalho Ações de lazer

.8 Dormir/Morrer Sono

Perda, luto, separação. Fonte: Elaboração própria.

Freire (1999) ensina que a realidade não é estática, necessitando-se conhecer a relação dinâmica dos grupos populares por meio de suas experiências, afirmando a pertinência da entrevista previamente.

As oficinas foram nomeadas pelas 12 atividades de vida de RLT, contudo as temáticas emergiram da congruência do modelo com as propostas do PSE. Na oficina Manter o ambiente seguro, houve a discussão sobre saúde ambiental, entre outros temas.

Segundo Brasil (2009), na saúde escolar, é necessário discutir sobre riscos ambientais que constituem as principais ameaças à saúde, como poluição atmosférica, saneamento inadequado, ruído, substâncias químicas, radiações, entre outros, e as formas de reduzi-los.

Foi discutido também sobre prevenção de acidentes, seja no cenário doméstico, escolar e no trânsito. Pordeus, Fraga e Facó (2003) garantem que o setor público de saúde de Fortaleza necessita incorporar estratégias de prevenção de acidentes e violências na adolescência, utilizando a intersetorialidade e somando esforços para que o conhecimento se transforme em realidade.

A vacinação foi discutida nessa oficina. Coll, Retroné e Alves (1984), numa pesquisa ambulatorial com adolescentes, observaram dados que identificam lacunas significativas na vacinação, sendo descrita história duvidosa em relação ao estado vacinal. Essa afirmação ainda é atual, pois alguns adolescentes ainda não sabem claramente sobre sua imunização.

Na oficina, respirar, conforme uma das macroprioridadades da promoção da saúde para saúde do adolescente, dialogou-se sobre o tabagismo (BRASIL, 2006). Também foi discutido sobre o uso de drogas ilícitas. O consumo abusivo de drogas, na sociedade, é mais um sintoma do que a causa de problemas e deve ser tratado tendo em vista a complexidade e magnitude do assunto. Necessita de estratégias que promovam ações preventivas específicas para os adolescentes com vistas à valorização da saúde (GUIMARAES et al., 2004).

Outra macroprioridade da Promoção da Saúde é o controle do uso abusivo de bebida alcoólica, promoção de hábitos saudáveis de alimentação (BRASIL, 2006). Essas temáticas foram discutidas na terceira oficina - Comer e beber/ eliminação.

O uso de bebidas alcoólicas entre os adolescentes apresenta elevada prevalência em ambos os sexos em início precoce, caracterizando-se um problema de saúde pública. Medidas preventivas de controle do consumo de álcool devem incluir a faixa etária dos 11 aos 15 anos de forma antecipada (STRAUCH et al., 2009). Em relação aos hábitos alimentares, é observado o expressivo percentual de adolescentes que apresentava reduzido consumo de frutas e hortaliças e, em contrapartida, o consumo lipídico e de doces acima do recomendado. Os adolescentes devem, então, ser alvo de programas que proporcionem a adoção de alimentação saudável (TORAL; SLATER; SILVA, 2007). Como também, na entrevista, foi direcionada a atividade de vida eliminação para a reflexão sobre o saneamento básico, pois, contrário a um estudo com adolescentes em São Paulo, com uma

elevada prevalência de constipação em adolescentes, (OLIVEIRA et al., 2006), não houve queixa de forma significativa.

Embora esse item seja mais cabível na manutenção do ambiente seguro, é um assunto comum às duas atividades de vida, ensejando outro momento dialógico sobre ambiente.

O quadro participativo-dialógico da atividade educativa volta-se para gerar adolescentes “empoderados” no sentido de envolver-se em processos de desenvolvimento capazes de articular-se, tanto entre si como com a sociedade (GOHN, 2004).

Na quarta oficina, Higiene pessoal e vestuário/ manutenção da temperatura, foi discutido sobre saúde bucal. Esta é também uma área que o PSE busca atender. Em um estudo realizado com adolescentes, observou-se que a prática da higiene bucal na adolescência é influenciada pelo sexo, pelo nível socioeconômico e pela família, como também outros aspectos mais complexos inerentes à adolescência e fatores sociais mais amplos (FREIRE; SHEIHAM; BINO, 2007). Houve também o diálogo sobre práticas de higiene corporal para evitar doenças e modos de vestuários, discutindo-se entre os jovens sobre essa ação.

Na quinta oficina, Exprimir sexualidade houve discussões e reflexões acerca da sexualidade, numa perspectiva física, psicológica, emocional, cultural e social, porém, com o intuito de o adolescente buscar a Promoção de sua Saúde sexual e reprodutiva de forma segura (BORGES; NICHIATA; SCHOR, 2006).

Na sexta oficina, Comunicar/ Mobilizar-se, foi discutido sobre a inclusão digital e comunicação interpessoal. O jovem necessita estar familiarizado com a rede digital, uma vez que a globalização implica a ampliação do conhecimento. Os meios de comunicação também foram expostos, pois eles influenciam os jovens (CONTI; BERTOLIN; PERES, 2010). Em um estudo com alunos de uma escola publica no Rio de Janeiro, observou-se que eles gostam de novela, afirmando ser divertido, e que muitas das tramas são parecidas com aspectos de suas vidas (NJAINE, 2006). Acerca de Mobilizar-se, houve a discussão sobre atividade física. Em um estudo sobre prática de atividade física habitual em adolescentes em Londrina (GUEDES et al., 2001), constatou-se que a maioria dos adolescentes não atende às recomendações quanto à prática de atividade física que possa alcançar impacto satisfatório à saúde. Entre os jovens há uma elevada incidência de sedentarismo, aspecto que foi destacado no PSE como ação necessária de intervenção.

Na sétima oficina, Trabalho e lazer/Dormir, foi discutido sobre esses três temas. A inserção do jovem no mercado de trabalho, muitas vezes, acontece de forma precoce e em

ambientes de trabalho precários (NAGAI et al., 2007). A inserção desse jovem no trabalho deve ser subsidiada por capacitação prévia. Em relação ao lazer, observa-se entre adolescentes que varia em ouvir música, assistir à televisão, sair com amigos ou com a família, praticar esporte, ir a igreja, frequentar bares (PRATTA; SANTOS, 2007); contudo, deve-se atentar para ações que possam diminuir sua vulnerabilidade em situações que situem a risco a sua saúde. Já sobre Dormir, foram debatidos os hábitos noturnos dos adolescentes. Os adolescentes após o período da puberdade podem ter dificuldades para dormir e para manter o sono. Outro fato são práticas como acordar muito cedo (GAU; SOONG, 1995).

Na última oficina, Morrer, houve a discussão sobre perda, luto e separação. Em um estudo com o grupo de jovens estudantes brasileiros sobre luto e morte, observou-se que o assunto produz efeitos em várias dimensões de suas vidas, necessitando de estratégias de suporte para lidar com as situações (DOMINGOS; MALUF, 2003).

As atividades de vida permitiam a correlação entre si, caracterizando a flexibilidade de articular uma oficina com outra, reforçando a discussão sobre o mesmo tema, ensejando um espaço crítico-reflexivo em diferentes oficinas.

Para problematizar as discussões foram utilizados vídeos como propagandas publicitárias do Ministério sobre as temáticas discutidas; também reportagens já divulgadas na mídia caracterizaram como importante meio inicial de propor uma reflexão sobre os diferentes temas.

O acesso a esses vídeos ocorreu por meio do site youtube, os quais eram

previamente selecionados e armazenados para serem expostos duas vezes em cada encontro. Ao final de cada oficina, foi estabelecido o período avaliativo para identificar a necessidade de adaptar as oficinas subsequentes acerca de alguma temática. Segundo Fernandes, Rozenowicz e Ferreira (2004), torna-se importante a reflexão sobre a qualidade da educação, aspecto que fundamenta a ideia de trabalhar com avaliação.

Após cada encontro, com vistas a identificar no meio coletivo a expressão individualizada de cada jovem na apreensão das discussões, era realizado o questionamento O que você aprendeu na oficina de hoje?

Na ultima oficina, com vistas a consolidar o todo apreendido e refletido dessas atividades foi questionado aos adolescentes: Como foi para você participar das oficinas?