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Visando mensurar empiricamente as variáveis operacionalizadas no presente estudo foram utilizados ao todo seis instrumentos nesta pesquisa.

3.2.1 Estudo 1

Para avaliar as estratégias de gestão de sala de aula pelas professoras da educação infantil, as participantes responderam, para autoavaliação, o Questionário de estratégias de gestão de sala de aula da professora (Teacher Classroom Management Strategies Questionnaire - TSQ). Esse inventário foi construído pela Dra. Carolyn Webster-Stratton para o Projeto Incredible Years da Universidade de Washington e foi traduzido para o português lusitano pelas pesquisadoras Maria Filomena Gaspar, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, e Vera Vale, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra. Esse instrumento foi adaptado especificamente ao presente estudo atendendo linguística e semanticamente o português brasileiro. A versão reduzida do instrumento utilizada no presente estudo conta com ao todo 50 itens avaliados e divididos em três escalas:

A) Gestão do comportamento da criança: contém três questões avaliadas por meio do modelo Likert de sete pontos (muito insegura, insegura, um pouco insegura, neutra, um pouco segura, segura, muito segura) que avalia o sentimento de segurança da professora em relação à sua capacidade de lidar com os comportamentos dos alunos como, por exemplo, “como você se sente em relação à sua capacidade de gerir

problemas de comportamento das crianças na sala de aula?”;

B) Estratégias para gestão do comportamento do aluno: contém 37 questões que avaliam, respectivamente, a frequência (sistema likert de cinco pontos) e a eficácia das estratégias, ou seja, o quanto as estratégias funcionam ou trazem resultados (sistema likert de cinco pontos) em relação à gestão dos comportamentos dos alunos em sala de aula pela professora como, por exemplo, “chama a criança para uma

conversa depois de um dia difícil”. Os itens dessa escala são subdivididos em cinco

subescalas: orientação, elogio e incentivos (1, 3, 4, 18, 19, 20, 28 e 31); proativas (15,16,17,21,23,24,26 e 29); ensino de competências sociais e emocionais (32, 33, 34, 35, 36 e 37); estabelecimento de limites (5, 13, 14, 22 e 25); inapropriadas (2, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 27). O item dessa escala de número 30 foi considerado, no

momento da correção, como componente da escala a seguir, conforme indicação dos autores do instrumento;

C) Trabalho com os pais: contém 10 questões avaliadas por meio do modelo Likert de seis pontos (nunca, uma vez por ano, duas a três vezes por ano, uma vez por mês, uma vez por semana, diariamente) que avalia a frequência com que a professora utiliza algumas estratégias em relação aos pais das crianças como, por exemplo,

“sugere aos pais atividades específicas para fazerem com a criança em casa”

(Anexo A).

3.2.2 Estudo 2

Para avaliar o programa Incredible Years Teacher Management Training (IY TCM), foram utilizados cinco instrumentos descritos abaixo.

3.2.2a Inventário de boas práticas (Best Practices Inventory – BPI)

Esse inventário foi construído por Webster-Stratton para o Projeto Incredible Years

da Universidade de Washington e foi traduzido pela pesquisadora Vale (2011). Esse instrumento foi adaptado linguística e semanticamente ao contexto cultural nacional pela pesquisadora desse estudo. Por meio de observadores, o instrumento objetiva identificar quais são as estratégias que a professora utiliza na gestão da sua sala de aula e dos comportamentos dos alunos. O instrumento possui 80 questões cujos itens de respostas são avaliados originalmente por meio do modelo Likert de cinco pontos. Entretanto, foi inserido na presente pesquisa mais um ponto a fim de registrar quando uma estratégia não foi observada ou não se aplica ao contexto observado. O instrumento, em sua versão final, é avaliado por meio do modelo Likert de seis pontos (não se aplica, nunca, quase nunca, às vezes, quase sempre e sempre) e dividido em nove subescalas: A) Organização da sala, com sete questões como, por exemplo, “os materiais são alternados ao longo do ano

escolar a fim de manter a novidade e o interesse das crianças”; B) Planejamento e

transições, com 12 questões como, por exemplo, “o planejamento diário alterna atividades

mais agitadas e outras mais calmas (p. ex.: brincadeira no parque, contar história)”; C)

Atividades, com 13 questões como, por exemplo, “existe um espaço físico demarcado para a reunião da turma toda (p. ex.: tapete); D) Planos de comportamento, com seis questões como, por exemplo, “a professora está atenta e reforça positivamente o comportamento

apropriado das crianças”; E) Ensino individualizado, com nove questões como, por

exemplo, “quando necessário, a professora adapta sua metodologia de ensino à

necessidade de cada criança (p. ex.: visual, auditiva, motora)”; F) Práticas emocionais,

com 12 questões como, por exemplo, “a professora ajuda as crianças a reconhecerem e perceberem como um colega se sente, incentivando-a na observação das expressões faciais,

tom de voz, linguagem corporal ou palavras demonstradas pelo seu colega”; G)

Relacionamento/comunicação, com oito questões como, por exemplo, “quando a criança

chega, a professora lhe cumprimenta, chamando-a pelo nome”; H) Disciplina, com sete

questões como, por exemplo, “as consequências do cumprimento ou não das regras são

claras”; I) Envolvimento parental, com seis questões como, por exemplo, “a professora

convida os pais para encontros/reuniões”. As questões A5, B1, D5, E9 e I1 foram

acessadas perguntando-se diretamente às professoras e consultando os planos de aula das professoras e as agendas das crianças (Anexo B).

3.2.2b Escala de comportamentos sociais de pré-escolares (PKBS-BR)

Trata-se de uma escala produzida originalmente nos Estados Unidos, School Social

Behavior Scales – 2 (Merrel, 2002), e amplamente utilizada na avaliação de habilidades

sociais e problemas de comportamento em pré-escolares com qualidades psicométricas verificadas (Merrel, 1996). No Brasil, essa escala está em processo final de avaliação psicométrica pelas pesquisadoras Dias, Freitas, Del Prette e Del Prette (2011), que gentilmente a cederam para ser utilizada no presente estudo. A escala contém 32 e 42 itens que avaliam, respectivamente, a frequência (sistema likert de quatro pontos) das habilidades sociais bem como a frequência (sistema likert de três pontos) de problemas de comportamento. Os itens das habilidades sociais são subdivididos em três fatores: cooperação social (02, 06, 07, 08, 10, 12, 15, 21, 22, 26, 27, 28, 30), independência social (01, 03, 04, 09, 11, 17, 18, 20, 24, 29, 32) e interação social (05, 13, 14, 16, 19, 23, 25, 31). Os itens dos problemas de comportamento são subdivididos em dois fatores: comportamentos externalizados (01, 03, 06, 07, 08, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 18, 20, 21, 22, 25, 26, 29, 31, 34, 38, 39, 40, 41, 42) e internalizados (02, 04, 05, 08, 09, 12, 17, 19, 23, 24, 27, 28, 30, 33, 35, 36, 37). Esse instrumento foi respondido pelas professoras. No presente estudo não foram considerados os 32 itens que avaliam a importância (sistema likert de três pontos) das habilidades sociais (Anexo C).

3.2.2c Questionário de avaliação do workshop

Esse questionário foi originalmente desenvolvido por Webster-Stratton e Reid (2002) (do original IY Teacher Workshop Evaluations) e traduzido por Vale (2011). Esse instrumento foi adaptado ao contexto cultural nacional pela pesquisadora desse estudo por meio do português brasileiro e análise semântica. O questionário avalia a utilidade de cada workshop

realizado. Ele é composto por quatro questões avaliadas pelo sistema likert de quatro pontos (pouco útil, neutro, útil e muito útil) sobre o conteúdo do workshop, os exemplos contidos nos vídeos usados no workshop, o treino em grupo e as discussões em grupo (Anexo D).

3.2.2d Questionário de avaliação do programa

Esse questionário foi originalmente desenvolvido por Webster-Stratton (do original IY Teacher Workshop Satisfaction Questionnaire) e traduzido por Vale (2011). O instrumento foi adaptado especificamente ao presente estudo atendendo linguística e semanticamente o português brasileiro. O questionário tem como objetivo avaliar de maneira geral o programa de intervenção realizado. O sistema de avaliação é o Likert de sete pontos; conforme a pergunta realizada, ele avalia em uma ordem crescente a melhoria, utilidade ou sentimento. O instrumento contém ao todo 37 questões, sendo 32 questões fechadas e cinco questões abertas. As questões fechadas se dividem em três categorias: A) Programa, com 16 questões como, por exemplo, “como se sente nesse momento para lidar com os problemas de comportamento das crianças em sua sala de

aula”. Essa categoria se divide em duas subcategorias que avaliam, respectivamente, a

eficácia (oito questões) e a utilidade do programa em geral (oito questões); B) Técnicas, com 11 questões que avalia a utilidade das técnicas ensinadas às professoras, ao longo do programa, para lidarem com os comportamentos das crianças como, por exemplo,

“brincar com a criança, ignorar, ordens e limites claros etc.”; C) Avaliação da

formadora, com cinco questões como, por exemplo, “considero que a liderança da

formadora no programa foi”. Em relação às questões abertas, quarta categoria de

avaliação do instrumento, as duas primeiras questões se referem à satisfação do programa, a terceira e a quarta à insatisfação do programa, e a quinta questão às sugestões de melhoria do programa (Anexo E).

3.2.2e Programa Incredible Years Teacher Classroom Management (IY TCM) (Webster-Stratton, 2012)

Para aplicar o programa IY TCM nessa pesquisa, a pesquisadora realizou, no mês de julho de 2015, o treinamento Teacher Classroom Management Programme Group Leader, com duração de três dias, ministrado pela Profa. Dra. Judy Hutchings, na cidade de Coimbra, Portugal13.

O programa de intervenção com as professoras da presente pesquisa, conforme característica das participantes e do tempo que tinham disponível, foi composto por seis

workshops que aconteceram ao longo de três meses, sendo que o primeiro, o segundo e o

terceiro workshops aconteceram com intervalos semanais; o quarto workshop ocorreu após 15 dias do terceiro; o quinto workshop foi realizado após 20 dias do quarto; e o último com um intervalo semanal do penúltimo. O programa teve um total de 39 horas e ocorreu em um anfiteatro de uma das escolas participantes, conforme decisão das professoras. A pesquisa foi intitulada como “Escola Fantástica” e as professoras eram denominadas como “Professoras Fantásticas”. Ao final do programa cada participante recebeu um certificado e um bottom da pesquisa “Escola Fantástica”, a fim de servir como um lembrete não verbal sobre os conceitos trabalhados ao longo dos workshops.

O programa teve suporte de vídeos sobre casos concretos, discussão, troca de experiências e resolução de situações trazidas pelas professoras sobre problemas de comportamento das crianças que ocorrem em suas salas de aulas. A técnica mais utilizada para o desenvolvimento do programa fo i o role play com o objetivo de as participantes treinarem as estratégias a serem aplicadas em sala de aula. Ao final de cada

workshop, as professoras recebiam capítulo de um livro da autora do programa Dra.

Webster-Stratton e material de apoio que exemplificava os temas trabalhados naquele dia para que as professoras utilizassem em sala de aula. Importante destacar que todo o material utilizado para o desenvolvimento do programa de intervenção estava em versão portuguesa lusitana, pois até o presente momento não há tradução ao português brasileiro.

13 Destaca-se que além da certificação como treinadora do programa IY TCM (Trained programme group leader), a pesquisadora seguiu as exigências para fidelização do programa ao incluir dois instrumentos de coleta de dados solicitados pela Dra. Carolyn Webster-Straton (questionários de avaliação do workshop e do programa). Esses instrumentos ainda não possuem suporte psicométrico (Hutchings, Martin-Forbes, Daley & Williams, 2013). Também foi concedida a autorização, por meio de endereço eletrônico do IY, de uso de todos os recursos disponíveis (questionários, materiais de apoio, descrição de atividades dos workshops etc.) em página oficial do programa www.incredibleyears.com.

A seguir são detalhados os temas trabalhados em cada um dos workshops do programa IY TCM:

a) Workshop 1: “Construindo relações positivas com os alunos e o professor

proativo”. Nesse workshop, esses dois temas são fundamentais como base da

pirâmide de ensino do programa. Foi desenvolvido o tema sobre a importância de as professoras terem uma abordagem lúdica com as crianças, um relacionamento positivo com os pais de seus alunos, construírem um ambiente de sala de aula por meio de relações positivas entre elas e suas crianças e entre os pares, o cuidado que as professoras precisam ter com as necessidades específicas de cada criança, e o quanto podem gerir o espaço físico da sala de aula e as transições entre as atividades, como prevenção a problemas de comportamento de seus alunos;

b) Workshop 2: “Elogio, encorajamento, atenção e treino”. Esse workshop abordou o uso de estratégias de atenção positiva e de elogio pelas professoras aos comportamentos adequados das crianças, o encorajamento, por parte da professora, para ajudar as crianças a se expressarem e se autoavaliarem, e a importância de a professora se colocar no lugar da criança com problemas de comportamento;

c) Workshop 3: “Motivação por meio de incentivos”. O objetivo desse workshop foi ensinar às professoras como aumentarem e consequenciarem os comportamentos adequados das crianças por meio do uso de incentivos e consequências individual e coletiva. Também, pretendeu-se com esse tema contribuir para desmistificar a noção de que incentivos são prejudiciais ao desenvolvimento infantil e ressaltar o prejuízo causado quando a atenção da professora é focada exclusivamente em comportamentos negativos emitidos pelas crianças (agressão, xingamento) e o relacionamento interpessoal professor-aluno ser coercitivo;

d) Workshop 4: “Ignorando e Redirecionando”. Esse workshop abordou questões sobre como e quando a professora e os colegas precisam ignorar comportamentos inapropriados das crianças e ensinou as professoras a utilizarem dicas verbais e não verbais para reaproximar as crianças que não realizam as tarefas escolares, entenderem a importância de lembretes e advertências e aprenderem a manter a calma em situações de comportamentos agressivos das crianças;

e) Workshop 5: “Consequências – Lidando com problemas de comportamento”. Nesse

workshop foram apresentadas as utilizações do time-out, do sistema de cartões

coloridos, de consequências lógicas ao comportamento da criança e do termômetro da raiva para acalmar as crianças;

f) Workshop 6: “Controle emocional, habilidades sociais e resolução de problemas”.

Objetivou-se treinar as professoras para ensinarem às crianças a serem socialmente competentes por meio de conceitos-chave que se relacionam ao treino de comportamento pró-social como, por exemplo, encorajar as crianças a terem

comportamentos de cooperação, nomearem sentimentos, expressá-los

adequadamente e terem controle das suas emoções, por exemplo, da raiva (técnica da tartaruga).