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Um núcleo de estudos integradores que propicia o enriquecimento curricular por meio da participação em seminários, projetos de iniciação científica, atividades práticas e

4 TRAJETÓRIA INCONCLUSA: OS CURSOS QUE FORMAM PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

3. Um núcleo de estudos integradores que propicia o enriquecimento curricular por meio da participação em seminários, projetos de iniciação científica, atividades práticas e

utilização de recursos pedagógicos.

Scheibe e Durli (2011) apontam o teor, ao mesmo tempo evasivo e flexível dessas DCN:

Também, na explicitação dos objetivos, das habilidades a serem desenvolvidas, na delimitação do campo de atuação e na forma de organização curricular preconizada, encontramos indicativos de qual conhecimentos/conteúdos devam compor a matriz curricular, mesmo que estes não estejam claramente enunciados ao longo do documento das Diretrizes Curriculares. Essa condição, que permite certa autonomia e flexibilização na definição dos componentes curriculares na formação, pode também dificultar a constituição de uma identidade nacional dos cursos (SCHEIBE; DURLI, 2011, p. 44).

Nota-se, ainda, que esse extenso campo formativo pode ficar restrito às 3.200 horas mínimas exigidas para a integralização dos estudos, assim distribuídas:

I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização de seminários, participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de estudos;

II - 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da instituição;

III - 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos alunos, por meio, da iniciação científica, da extensão e da monitoria (BRASIL, 2006, p. 4).

Em um estudo Gatti et al. (2009) analisaram 1.498 ementas de cursos de Pedagogia, Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Biológicas. Na amostra, constavam 71 cursos presenciais de Pedagogia distribuídos por diversas regiões do Brasil e para a análise, as autoras criaram sete categorias analíticas, entre elas uma denominada de Conhecimentos

caracterizavam por oferecer suporte à discussão de temas como (i) currículos e conteúdos da EI e EF (Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Artes, Ciências e Educação Física), (ii) didáticas específicas, metodologias e práticas de ensino e (iii) tecnologias. A partir dos resultados os autores concluíram que “há uma quase equivalência entre a proporção de disciplinas que cumprem a função de embasar teoricamente o aluno de Pedagogia a partir de outras áreas de conhecimento e aquelas que tratam de questões ligadas à profissionalização mais específica do professor” (GATTI et al., 2009, p. 226). Entretanto, destacam os seguintes pontos:

As ementas das disciplinas desse grupo registram preocupação com as justificativas sobre “o porquê” ensinar, o que, de certa forma, contribuiria para evitar que essas matérias se transformassem em meros receituários. Entretanto, só de forma muito incipiente apontam “o quê” e “como” ensinar. Grande número de ementas apresenta frases genéricas não permitindo identificar conteúdos específicos (GATTI et al., 2009, p. 226).

O grupo “Didáticas específicas, metodologias e práticas de ensino” (o “como” ensinar) representa 20,7% do conjunto, e apenas 7,5% das

disciplinas são destinadas aos conteúdos a serem ensinados nas séries iniciais do ensino fundamental, ou seja, “o quê” ensinar. Esse dado torna

evidente como os conteúdos específicos das disciplinas a serem ministradas em sala de aula não são objeto dos cursos de formação inicial do professor (GATTI et al., 2009, p. 228).

As ementas das disciplinas associadas a Ciências, Geografia, História, Educação Física e até Matemática indicam que os cursos oferecem um panorama sobre os conteúdos específicos sem o aprofundamento necessário e sem associá-los a perspectivas didáticas. Uma última observação: dentre as ementas examinadas, a referência à palavra “escola” é encontrada em apenas 8% delas (GATTI et al., 2009, p.132).

[...] os conteúdos das disciplinas a serem ensinados na educação básica (Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Artes, Ciências, Educação Física) são tratados esporadicamente nos cursos de

formação e na maioria dos cursos analisados, são abordados de forma genérica ou superficial, sugerindo frágil associação com as práticas docentes (GATTI et al., 2009, p. 233, grifos meus).

Em 2005, Ducatti-Silva realizou Estudos de Caso cujo objetivo foi conhecer a percepção de cinco professores formadores e cem alunos de cursos de Pedagogia de cinco universidades do Estado de São Paulo (três públicas e duas privadas). Os instrumentos utilizados foram o questionário semi-estruturado e a entrevista semi-estruturada e os resultados dos questionários dirigidos aos alunos mostraram que em relação à contribuição do

para ensinar Ciências Naturais; 12% disseram que não e 45% declararam em parte. Com relação à formação geral para o ensino de Ciências Naturais, 3% afirmaram que nos cursos há articulação entre a teoria e a prática; 9% disseram que a teoria é desarticulada da prática; 13% declararam que os cursos preparam para o ensino de Ciências Naturais; 15% disseram que não há disciplinas específicas para o ensino de Ciências Naturais; 16% declararam que os cursos oferecem instrumentos, mas não preparam; 23% dos alunos declararam que os cursos não preparam os alunos para atuar no ensino de Ciências Naturais e 21% afirmaram que faltam aulas práticas. Entre os depoimentos, um dos alunos declarou:

[...] infelizmente, acredito eu, muitos cursos de Pedagogia não têm essa disciplina. É a mesma coisa que colocar um aluno e dizer assim: dá aula, sem ter feito um estágio, sem ter entrado numa sala de aula, sem ter experiência. Infelizmente será um professor que terá muita defasagem ou ele terá que procurar um curso de aprimoramento depois.” (A4).

[...] Ah... O curso preparou, mas é muita coisa pra pouco tempo. Por exemplo, como eu vou trabalhar com Ciências nas escolas, eu vou sentir necessidade de me aprimorar cada vez mais, buscar mais, porque o que me forneceram foi o básico do básico e não porque o professor não quis, não dá tempo, é muito conteúdo pra trabalhar em pouco tempo. Eu sinto assim que eu tenho que buscar mais coisa, porque, se achar que vou dar aula só com o que eu tenho, não dá certo, apesar do esforço do professor.” (A4) (DUCATI- SILVA, 2005, p. 89).

Essas e outras questões referentes à estrutura, carga horária, currículos e finalidades do curso têm sido motivo de discussão entre vários autores (LIBÂNEO; PIMENTA; 1999; LIBÂNEO, 2010, 2012; SAVIANI, 2005a, 2005b, 2007; SCHEIBE; DURLI, 2011; VIEIRA, 2008) que questionam: qual é o profissional formado pelo curso de Pedagogia? Um professor- pedagogo? Um gestor-pedagógico? Um pedagogo-gestor? Um pedagogo-professor ou, ainda, um cientista da educação?

De acordo com a legislação analisada, o pedagogo é um professor formado num curso

de Licenciatura em Pedagogia. Num primeiro momento tal discussão pode parecer situar-se

no campo semântico e epistemológico, mas vai além ao tentar entender qual é o perfil do profissional formado. A esse respeito, assim se pronuncia Libâneo (2010):

[...] a insistência na redução do trabalho pedagógico ao trabalho docente – presente nos pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação, do movimento de reformulação dos cursos de Pedagogia e, por conseqüência, do currículo de Faculdades de Educação – foi e tem sido um obstáculo ao desenvolvimento dos estudos propriamente pedagógicos [...] (LIBÂNEO, 2010, p. 65, grifos meus).

De fato, a legislação consultada (BRASIL, 2006) e a literatura concordam que não há normatização precisa sobre vários aspectos estruturais do curso e particularmente em relação aos conteúdos de Ciências Naturais, não está claro o que ensinar e como os cursos devem proceder. Esses conteúdos estão inseridos no chamado núcleo de estudos básicos que comporta a oferta de, ao mesmo tempo, processos educativos, conteúdos de várias áreas do conhecimento, além da didática e legislação de ensino.

Sinteticamente e a guisa de conclusão, o percurso estrutural do curso desde a sua criação em 1939 foi:

1. Com três anos de duração, o curso de Pedagogia formava bacharéis para atuarem