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Capítulo 2. Pressupostos Teóricos

5. Características gerais dos sambaquis da área de pesquisa

5.2 Integridade e ocupação atual dos sítios

A fim de melhor avaliar o atual estado de conservação dos sambaquis foi formulada

uma tabela indicando seu grau de integridade a partir de visitas recentes. Foram

classificados como bem preservados os sítios que aparentam mais de 75% do seu pacote

arqueológico ainda intacto. Sítios que passaram por processos de mineração ou transporte

de parte do seu pacote, mas que ainda apresentam porções não impactadas, foram

registrados como parcialmente preservados. Aqueles já muito deteriorados contando com

menos de 25% do seu pacote original foram classificados como destruídos. Locais onde

existem apenas vestígios esparsos da existência de um sambaqui, como montículos de

refugo de mineração próximos a fornos para fabricação de cal, ou áreas residenciais

implantadas sobre porções de terreno pavimentado pela retificação de alguns sítios, foram

classificados como totalmente destruídos.

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Tabela 2. Grau de integridade e presença de ocupação atual sobre os sítios.

sítio ocupação atual integridade

Abelha ausente parcialmente preservado

Arroio da Cruz 01 presente parcialmente preservado Cabeçuda 01 presente parcialmente preservado Cabeçuda 02 ausente parcialmente preservado

Caieira presente parcialmente preservado

Caipora ausente parcialmente preservado

Camacho presente destruído

Canto da Lagoa 01 ausente parcialmente preservado Canto da Lagoa 02 ausente bem preservado Canto da Lagoa 03 ausente bem preservado

Capivari 01 presente parcialmente preservado Capivari 02 presente não verificado Capivari 03 (Ilhotinha) ausente parcialmente preservado

Carniça 01 presente destruído

Carniça 02 presente parcialmente preservado Carniça 03 presente parcialmente preservado Carniça 04 presente parcialmente preservado

Carniça 05 presente destruído

Carniça 06 ausente parcialmente preservado

Carniça 07 ausente destruído

Carniça 09 ausente destruído

Carniça 10 ausente destruído

Congonhas 01 (Palmeiras) presente destruído Congonhas 02 presente parcialmente preservado Congonhas 03 (Ilhote das Congonhas) ausente bem preservado

Costa da Lagoa 01 presente destruído Costa da Lagoa 02 presente destruído Costão do Ilhote de S. Marta ausente parcialmente preservado

Cubículo 01 presente parcialmente preservado Cubículo 02 presente parcialmente preservado Encantada 01 (Emídeo) ausente bem preservado Encantada 02 (Vulcãozinho) ausente bem preservado

Encantada 03 (Juventus) ausente parcialmente preservado Figueirinha 01 ausente bem preservado Figueirinha 02 ausente bem preservado Figueirinha 03 ausente destruído

Galheta 01 ausente bem preservado Galheta 02 ausente bem preservado Galheta 03 (Padre) ausente parcialmente preservado

Galheta 04 ausente parcialmente preservado Garopaba do Sul 01 presente parcialmente preservado Garopaba do Sul 02 presente destruído Garopaba do Sul 03 presente destruído Garopaba do Sul 05 ausente destruído Garopaba do Sul 06 presente destruído

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Tabela 2. Grau de integridade e presença de ocupação atual sobre os sítios (continuação).

sítio ocupação atual integridade

Garopaba do Sul 07 presente parcialmente preservado Ipoã (Roseta) ausente parcialmente preservado Jabuticabeira 01 presente parcialmente preservado Jabuticabeira 02 (Samb. do Riacho) ausente parcialmente preservado Jabuticabeira 02-B (Rohr 1969) ausente totalmente destruído

Jabuticabeira 03 não verificado destruído Jaguaruna 01 presente destruído Jaguaruna 02 ausente parcialmente preservado

Lageado presente parcialmente preservado

Lagoa dos Bixos 01 ausente bem preservado Lagoa dos Bixos 02 ausente bem preservado Lagoa dos Bixos 03 ausente parcialmente preservado Lagoa dos Bixos 04 ausente não verificado Lagoa dos Bixos 05 ausente parcialmente preservado Laguna 01 (Peralta) presente parcialmente preservado Laranjal 01(Dunas do Sul) ausente bem preservado

Laranjal 02 ausente bem preservado Laranjal 03 ausente não verificado Mato Alto 01 (Passo do Gado) presente parcialmente preservado

Mato Alto 02 ausente parcialmente preservado Monte Castelo presente parcialmente preservado Morrinhos presente parcialmente preservado

Morrote presente destruído

Passagem da Barra ausente parcialmente preservado Ponta das Laranjeiras 01 presente totalmente destruído Ponta das Laranjeiras 02 presente parcialmente preservado Ponta das Laranjeiras 03 não verificado não verificado

Ponta do Morro 01 presente parcialmente preservado Ponta do Morro 02 ausente destruído Ponta do Morro Azul ausente parcialmente preservado

Porto Vieira 01 presente parcialmente preservado Porto Vieira 02 (Ilhota da Ponta do Morro) ausente parcialmente preservado Riacho dos Franciscos ausente parcialmente preservado

Ribeirão Pequeno presente bem preservado Santa Marta 01 ausente parcialmente preservado Santa Marta 02 presente destruído Santa Marta 03 ausente bem preservado Santa Marta 04 ausente parcialmente preservado Santa Marta 05 ausente parcialmente preservado Santa Marta 06 ausente destruído Santa Marta 07 ausente destruído Santa Marta 08 ausente parcialmente preservado Santa Marta 09 ausente bem preservado Santa Marta 10 ausente parcialmente preservado Santa Marta Pequeno não verificado não verificado

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O grau de integridade observado hoje é fruto de diferentes processos de deterioração

desse patrimônio, desde o inicio da colonização, grandes porções ou mesmo sambaquis

inteiros eram utilizados como matéria prima nas construções de fortes, igrejas e prédios

públicos (Andrade Lima, 2000). Como já explanado, em nossa área de pesquisa, foi durante

século XX que a mineração desses sítios se intensificou. A quantificação dos dados

apresentados mostra que depois de séculos de deterioração apenas 18% dos sítios ainda

apresentam um bom estado de conservação.

A pequena porcentagem de sítios totalmente destruídos (2%), não parece refletir a

realidade, relatos de moradores mais idosos coletados em diferentes porções da região

denotam um número maior de sambaquis totalmente destruídos, no entanto foram

relacionados apenas aqueles em que temos sua localização exata e parâmetros consistentes

para afirmar sua existência, caso do Jabuticabeira II-B e Ponta das Laranjeiras I.

18% 51% 23% 2% 6% Bem Preservados Parcialmente Preservados Destruídos Totalmente Destruídos Não Verificados

Fig. 21. Gráfico mostrando o grau de preservação dos sítios.

40% 57% 3% Presente Ausente Não Verificada

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Hoje em dia os sítios não passam mais por trabalhos de mineração em grande

escala, no entanto, parcela deste patrimônio ainda vem sofrendo impacto. Sambaquis de

menor porte localizados em meio a fazendas e áreas rurais pouco povoadas, por vezes não

são reconhecidos por parte da população local como fruto do trabalho humano, os

assumindo como concheiros naturais e utilizando parcela de suas conchas na correção de

solos agrícolas ou para calçamento de vias. Alem disso o avanço das malhas urbanas,

muitas vezes realizado de maneira desordenada, e o perceptível aumento ocupacional da

região costeira devido à construção da casas e loteamentos de veraneio vem acarretando

impacto ou mesmo total destruição destes sítios arqueológicos. Mesmo os grandes

sambaquis da costa não estão fora de risco, a prática comum de motocross nos campos de

dunas, pode ser verificada também em muitos dos concheiros. A quantidade de sítios (cerca

de 40%) que apresentam atualmente algum tipo de construção sobre seu pacote mostra que

no tocante à conservação e preservação ainda há muito trabalho e ser realizado.

O poder público nas esferas federal, estadual e municipal tem o dever de zelar pelo

patrimônio cultural - inclua-se aí o patrimônio arqueológico - através de uma série de

instrumentos legais. Porém as dimensões continentais do território brasileiro, aliado às

insuficientes condições de fiscalização, acarretam na degradação recorrente desse

patrimônio. Sendo assim cabe também aos arqueólogos uma parcela dessa

responsabilidade. Em Santa Catarina o projeto Sambaquis e Paisagem vem atuando junto a

comunidades locais e escolas na intenção de melhor esclarecer a população sobre a

importância cultural dos sambaquis (Farias & DeBlasis 2006), procurando uma maior

conscientização sobre a preservação destes sítios, e dialogando com os moradores as

melhores formas para sua proteção no intuito de que a própria comunidade entenda nossos

esforços, e se sinta também responsável pela preservação deste patrimônio.