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Intempestividade da decisão de investimento nas empresas DEEPFLEX e POSSEIDON

4. Gestão temerária no âmbito da PETROS

4.5 Intempestividade da decisão de investimento nas empresas DEEPFLEX e POSSEIDON

Muito embora a decisão da Diretoria Executiva que aprovou o investimento no FIP Brasil Petróleo 1 tenha sido proferida de acordo com a Ata n. 1808/2010, em 2 de dezembro de 2010, o FIP foi constituído apenas em 3 de janeiro de 2012, conforme informação constante do sítio eletrônico da CVM, tendo o investimento ocorrido, de fato, apenas em 6.1.2012, com assinatura pelos procuradores da entidade do Instrumento Particular de Subscrição de Quotas e Compromisso de Integralização e do Boletim de Subscrição do FIP Brasil Petróleo 1. É o que demonstra a linha do tempo abaixo, explicitando o interstício temporal entre a aprovação do investimento e o seu efetivo acontecimento.

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Nota-se, que, neste caso, decorreu mais de um ano entre a reunião da Diretoria Executiva que decidiu sobre o aporte no FIP BP1 e a sua constituição, o que, obviamente tornou a decisão desatualizada quanto às reais circunstâncias que envolviam a gestão do FIP, as condições financeiras das empresas investidas e a forma como estavam sendo administradas.

Segue, abaixo, a comparação dos estudos anexados às análises internas da PETROS e a efetiva execução do investimento, caracterizada na subscrição das cotas do FIP:

Do Estudo Setorial Bain & Company, que trata de “alternativas regulatórias, institucionais e financeiras para a exploração e produção de petróleo e gás natural e para o desenvolvimento industrial da cadeia produtiva de petróleo e gás natural no Brasil”, utilizado pela PETROS em sua análise interna (ANP 166/2010), verifica-se que este estudo foi elaborado em

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26.6.2009, ou seja, cerca de dois anos e seis meses antes do aporte inicial feito pela entidade no FIP Brasil Petróleo.

Desta forma, restou constatado ter havido um intervalo de mais de 4 anos e seis meses da sua data de referência até a efetiva realização da assinatura da subscrição das quotas do FIP Brasil Petróleo 1.

Quanto ao Estudo Setorial Prominp, utilizado como base na análise interna ANP- 166/2010, constante de seu Anexo I, documento fundamentador do investimento, verifica-se que a análise não apresenta data em seu corpo. Mas mesmo a PETROS referenciando a data de sua confecção, por meio do sitio eletrônico do órgão responsável, no período de março de 2006 a junho de 2007, verifica-se que o Estado Setorial Prominp possui um intervalo de mais de 4 anos e seis meses da sua data de referencia, até a efetiva realização da assinatura da subscrição das quotas do FIP Brasil Petróleo 1.

Igualmente, no caso do artigo Visão do Desenvolvimento n. 87, publicado pelo BNDES – utilizado pela entidade como embasamento de suas análises internas – deu-se o interstício de mais de um ano de realização da análise interna desse artigo do BNDES e consideração de seu embasamento para o investimento sem que tenham sido feitas novas avaliações de conjunturas quando da efetiva entrada no FIP.

O grande lapso de tempo transcorrido entre a decisão da Diretoria Executiva e a execução do investimento ocasionou a desatualização do Plano de Negócios da Petrobras, citado como embasamento na análise interna constante da ANP-166/2010 e que foi utilizado como suporte técnico para a aprovação do investimento pela PETROS no FIP BP1.

Outro importante ponto a ser ressaltado refere-se ao fato de que, quando da decisão da Diretoria Executiva da PETROS pelo investimento no FIP BP 1, o plano de negócios vigente era o referente ao período de 2010-2014, publicado em 18.6.2010, conforme o informe “Fato Relevante” constante do sítio eletrônico da Petrobras. Só que, no momento da execução do investimento, o plano de negócios vigente era o de 2011-2015, publicado pela empresa em 22 de julho de 2011. É importante frisar que a PETROS não reavaliou a aderência dos estudos analisados

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ao plano de negócios da Petrobras vigente no momento da subscrição das quotas, donde, por óbvio, emergiram resultados desconexos.

Portanto, verificou-se a ocorrência de intervalo de mais de um ano entre a decisão da Diretoria pela subscrição das quotas e sua efetiva concretização, com utilização de estudos anexados à análise que chegam a se distanciar mais de 4 anos e meio da mesma.

A entidade, ainda, admitiu não ter havido outra análise no período decorrente entre a aprovação do fundo pela Diretoria Executiva da PETROS e a assinatura do Instrumento Particular de Subscrição de quotas e Compromisso de Integralização. Consequentemente, conclui- se que, mesmo diante da demora relevante na efetivação da subscrição das quotas do FIP BP1, após a decisão de aprovação do investimento ter sido tomada com mais de um ano de antecedência, não foi realizada uma avaliação da entidade sobre a adequação do investimento ao momento em que ele, de fato, se concretizou. Não houve, sequer, uma análise para a PETROS se assegurar de que os estudos utilizados, datados de 2009 a 2010, continuavam pertinentes ao cenário econômico vivido em 2012, quando foram efetuados.

No momento da subscrição das quotas do FIP BP1, era fundamental que o setor alvo das companhias investidas – e que o FIP tinha como objetivo (a cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás no Brasil) – fosse avaliado de forma a propiciar uma decisão com elementos adequados ao momento do investimento, com observância dos princípios legais.

Por esta razão, mostrou-se manifestamente intempestiva a decisão da subscrição das quotas do FIP BP 1, valendo-se a PETROS da decisão da Diretoria Executiva com um intervalo de mais de um ano, sem que, ao menos, fosse efetuada uma reavaliação dos estudos que balizaram a decisão. Assim, resta claro que não foram observados os princípios da segurança e da rentabilidade, da obrigatoriedade de diligência na execução das atividades da entidade e da adoção de práticas que garantam o cumprimento do dever fiduciário em relação aos participantes.

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