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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 22ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Força-Tarefa Greenfield

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 22ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

OPERAÇÃO GREENFIELD

Índice

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A OPERAÇÃO GREENFIELD ... 3

2. RESUMO DO CASO ... 4

3. O HISTÓRICO DO FIP BRASIL PETRÓLEO 1 ... 5

3.1. A Brasil Petróleo Participações S.A. (e a Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda.) ... 9

3.2. A Dock Brasil Engenharia e Serviços S.A. ... 10

3.3. A Poseidon Participações S.A. ... 11

4. Gestão temerária no âmbito da PETROS ... 12

4.1. Ausência de diligências quanto à escolha do gestor do FIP ... 18

4.2. Ausência de diligências quanto às escolhas posteriores das empresas-alvo ... 21

4.3 Violações aos deveres de diligência relacionados ao investimento na DEEPFLEX ... 27

4.4 Violações dos deveres de diligência relacionados ao investimento na POSEIDON ... 42

4.5 Intempestividade da decisão de investimento nas empresas DEEPFLEX e POSSEIDON ... 47

4.6 As deficiências na identificação, avaliação, controle e monitoramento dos riscos ... 51

5. DIREITO ... 55

5.1. Aplicação da Lei nº 8.429/92 aos envolvidos na prática dos atos de improbidade administrativa ... 55

5.2. Ausência de prescrição da pretensão punitiva estatal: incidência da regra insculpida no artigo 23, II, da Lei 8.429/92 e no artigo 142, § 5º, da Lei 8.112/9 ... 56

5.3. Atos de improbidade administrativa ... 58

6. OS PREJUÍZOS CAUSADOS ... 60

7. PEDIDOS ... 61

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Força-Tarefa Greenfield

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 129, inciso I, da Constituição Federal; no artigo 6º, inciso VII, da Lei Complementar nº 75/93, promover

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C

AÇÃO DE RESSARCIMENTO em face de

1. WAGNER PINHEIRO DE OLIVEIRA, Presidente da PETROS na época dos fatos,

2. LUIS CARLOS FERNANDES AFONSO, ex-Diretor Financeiro e de Investimentos da PETROS,

3. CARLOS FERNANDO COSTA, ex-Diretor e ex-Membro do Comitê de Investimentos da PETROS,

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4. NEWTON CARNEIRO DA CUNHA, ex-Diretor Administrativo da PETROS,

5. MANUELA CRISTINA LEMOS MARÇAL, ex-Gerente de Participações Mobiliárias da PETROS e ex-Membro do Comitê de Investimento da PETROS,

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A OPERAÇÃO GREENFIELD

A Operação Greenfield, deflagrada em 5 de setembro de 2016, tem por escopo apurar investimentos realizados de forma fraudulenta ou temerária pelas principais entidades fechadas de previdência complementar (EFPC – ou fundos de pensão) do país.

Dos 10 (dez) casos que justificaram a deflagração da Operação Greenfield, 8 (oito) são relativos a investimentos realizados (de forma temerária ou fraudulenta) pelas EFPC em empresas por meio de Fundos de Investimento em Participações (FIPs), que é instrumento utilizado pelo investidor institucional (o fundo de pensão) para adquirir, indiretamente, participação acionária em empresa (em alguns casos, também debêntures simples ou conversíveis, como no FIP Enseada).

Os crimes praticados dolosamente contra os fundos de pensão contaram com a participação dolosa de núcleos criminosos, ou seja, de grupos de pessoas que desempenhavam

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funções distintas necessárias para a consecução da finalidade criminosa de lesar os cofres dos fundos de pensão e favorecer econômico-financeiramente alguns grupos econômicos e holdings.

Dos integrantes de núcleos criminosos investigados, os autores do crime de gestão fraudulenta previsto no art. 4º da Lei n. 7.492/86 são sempre os diretores (ou pessoas com poder de gestão) do fundo de pensão ou de outras instituições financeiras. São esses que podem produzir – por ação própria – o ato de investimento fraudulento ou temerário. Os integrantes dos demais núcleos respondem, em cada caso, na condição de participantes do crime. Dessa forma, considerando que a participação criminosa somente é punível quando é dolosa (não é punível a participação culposa), somente figurarão como requeridos os agentes cujos elementos subjetivos forem claramente livres, conscientes e intencionais.

No âmbito da Operação Greenfield, foram ajuizadas diversas ações de ações de improbidade e ressarcimento: autos nºs 1019167-10.2017.4.01.3400 (FIP CEVIX), 1017983- 19.2017.4.01.3400 (RG Estaleiros), 1017685-27.2017.4.01.3400 (Salas Comerciais OAB), 1006513-54.2018.4.01.3400 (FIP Enseada), 1014207-40.2019.4.01.34000 (Global Equity), 1026190-36.2019.4.01.3400 (Trendbank), 1029355-91.2019.4.01.3400 (JHSF), 1042300-13.2019.4.01.3400 (Multiner), 1017772-75.2020.4.01.3400 (Florestal), todas distribuídas para 22ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.

2. RESUMO DO CASO

Com os detalhes que veremos nos capítulos posteriores desta ação de improbidade administrativa, os requeridos praticaram ato de improbidade administrativa consistente em gestão temerária de instituição financeira equiparada, previsto como crime no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86, ao aprovar e participar da aquisição de cotas do Fundo de Investimento em

Participações Brasil Petróleo 1 em desacordo com os princípios de

segurança e de rentabilidade, sem observância dos requisitos de diligência, sem adoção de práticas que assegurassem o cumprimento do dever fiduciário para com os participantes e sem os

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necessários processos de identificação, avaliação, controle e monitoramento de riscos expressamente exigidos pelo Conselho Monetário Nacional (e por regulamentações internas das próprias entidades investidoras), conforme demonstram diversos documentos técnicos e periciais produzidos por diversos órgãos federais de controle e pelas próprias entidades vitimadas. No caso específico do investimento na companhia Brasil Petróleo Participações SA, os gestores do fundo de pensão, que também integravam o Comitê de Investimentos do FIP, e os gestores do FIP inclusive utilizaram de estratagemas para que fossem aportados recursos em empresa estrangeira, conforme detalhado abaixo.

Em tese, segundo a apuração também realizada pela PREVIC, outros diretores dos fundos de pensão também violaram deveres de diligência ao serem coniventes com os investimentos realizados no FIP Brasil Petróleo 1 (FIP BP1).

3. O HISTÓRICO DO FIP BRASIL PETRÓLEO 1

Nos anos de 2010 a 2016, FUNCEF, PETROS e PREVI decidiram realizar operações de aquisição de participação acionária em “companhias brasileiras pertencentes à

cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás, no Brasil”

por meio do Fundo de Investimentos em Participações Brasil Petróleo 1 (FIP Brasil Petróleo 1, ou FIP BP 1).

O FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES BRASIL PETRÓLEO I

– FIP BP 1 foi constituído junto à CVM em 3 de janeiro de 2012,

sendo classificado no segmento de investimentos estruturados, conforme artigo 20, inciso I da Resolução CMN n. 3.792 de 2009. Tratava-se de um condomínio fechado, com o “objetivo de

obter retornos superiores ao seu indexador” (IPCA + juros de 11% a.a.) com a melhor valorização possível de suas quotas, mediante o direcionamento de seus investimentos em carteira diversificada de valores mobiliários de companhias brasileiras pertencentes à cadeia produtiva

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de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás, no Brasil, conforme regulamento e alterações posteriores”.

Seu administrador, à época dos fatos, era a BNY Mellon Serviços Financeiros Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A., , tendo sido

substituída pela Caixa Econômica Federal, , conforme alteração do

regulamento registrada em cartório em 11.09.2013.

A gestão do fundo era exercida, conjuntamente, com a Mare Investimentos Ltda,

, e a Mantiq Investimentos Ltda, , tendo

o Banco Bradesco S.A., , como custodiador1.

Após a temerária decisão de investimentos dos fundos de pensão (que será detalhada no capítulo seguinte), os efetivos aportes nas empresas foram deliberados por um Comitê de Investimentos do fundo de investimento, composto por 7 membros e respectivos suplentes, nomeados por ocasião da primeira Assembleia Geral de Quotistas, sendo 5 membros indicados pelos quotistas e 2 membros indicados pelos gestores (capítulo VII do Regulamento do FIP).

Abaixo, segue o panorama em relação aos custos dos investimentos realizados pelo FIP BP1, conforme informações constantes em suas carteiras semestrais constantes do sítio eletrônico da CVM:

1 Importante destacar que o FIP Brasil Petróleo 1 teve vários nomes anteriores. Com efeito, o fundo de investimento teve os nomes FIP CR2 Guitti Petróleo & Gás, FIP Gutti e Santander & Gás, FIP Maré & Santander Petróleo e Gás e, por fim, FIP Brasil Petróleo 1 (constituído em 3/01/2012).

Por sua vez, a gestora inicial foi a CR2 Guitti, que após passou a se chamar MARE INVESTIMENTOS. A gestão do FIP foi também compartilhada pelo Banco Santander, que depois passou para a MANTIQ INVESTIMENTOS, que

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Segundo o quadro acima, nota-se que, de fevereiro de 2012 a junho de 2013, os gestores do FIP, nos primeiros meses, alocaram seu montante exclusivamente no BNY Mellon ARX Fundo de Investimento Referenciado DI Longo Prazo.

Apenas no final do primeiro semestre de 2013 (junho), foi realizado o primeiro investimento do FIP em uma companhia, a Brasil Petróleo Participações SA, holding constituída para atuar como veículo na companhia Deepflex, Inc, no valor de R$ 31,9 milhões. No segundo semestre do mesmo ano, foi aumentado o investimento na companhia para cerca de R$ 100 milhões e se manteve constante até o fechamento de 2015.

No entanto, percebe-se que o valor investido na empresa cai para zero no fechamento do primeiro semestre de 2016, diante do reconhecimento de default de 100% do valor investido, perdendo-se o valor do principal investido pelo fundo na companhia, conforme a seguir demonstrado.

Ainda, no segundo semestre de 2013, foram iniciados aportes na companhia Dock Brasil Engenharia e Serviços S.A., que chegaram a cerca de R$ 56 milhões em 2015, retraindo-se para R$ 42,2 milhões no fechamento do primeiro semestre de 2016 (pela contabilização pelo administrador segundo o método de precificação de mercado – art. 48 do Regulamento).

A Poseidon Participações S.A. foi a terceira companhia investida pelo FIP BP1, com aportes iniciados no início de 2015, perfazendo um total de cerca de R$ 158,2 milhões ao

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final do ano. O investimento teve valoração aumentada para R$ 182,0 milhões em virtude da reavaliação pela empresa Apsis, contratada pelo administrador do FIP, que avaliou o aumento do valor das ações da companhia de R$ 1,00 para R$ 1,15.

Desta forma, os investimentos do FIP BP1 foram direcionados para as três companhias, sendo que, nos projetos Deepflex e Poseidon, as companhias que receberam inicialmente o aporte se constituem em holdings, que repassam o investindo do capital para as empresas que operacionalizam as funções investidas.

Além dos aportes no BNY Mellon ARX Fundo de Investimento DI Longo Prazo e nas três companhias acima referidas, o FIP Brasil Petróleo 1 realizou apenas aportes pontuais em pequeno vulto em títulos públicos.

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Ainda conforme a tabela, nota-se que os valores a pagar declarados pelo FIP à CVM apresentam relevante aumento. No segundo semestre de 2015, os valores a pagar alcançaram R$ 120 milhões (60% do Patrimônio Líquido do Fundo), retraindo-se no semestre seguinte para cerca de R$ 20 milhões, em virtude do reconhecimento da perda integral do investimento na companhia Brasil Petróleo Participações S.A, pela administradora do FIP.

A seguir, consta a relação dos valores investidos no FIP BP 1 pela FUNCEF e demais entidades ingressantes, conforme Instrumento Particular de Subscrição de Quotas e Compromisso de Integralização:

Abaixo, sintetizaremos as informações relevantes sobre as três holdings investidas.

3.1. A Brasil Petróleo Participações S.A. (e a Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda.)

A empresa Brasil Petróleo Participações S.A. vem a ser uma holding por meio do qual o FIP Brasil Petróleo 1 efetuou investimento na empresa Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda.

O investimento na Deepflex foi aprovado no Comitê de Investimentos do FIP Brasil Petróleo 1 em 17 de agosto de 2012, embora a deliberação do voto PREVI tenha sido contrária à realização do investimento.

Conforme a Proposta de Investimento elaborada pelos gestores, foi solicitada, na 1ª reunião do Comitê de Investimentos do FIP, a sua aprovação do investimento, pelo FIP, em

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ações da companhia americana DEEPFLEX INC., por meio de uma entidade a ser criada no Brasil para a qual a matriz da companhia seria transferida.

Assim sendo, de um lado, os sócios estrangeiros da DEEPFLEX INC., avaliada, segundo a proposta dos gestores, em US$ 71 milhões de dólares, entraram no projeto com a transformação de sua empresa em filial da Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis Ltda., aberta no Brasil. De outro lado, o FIP BP 1 e o FIP BP 2 aportaram juntos valor correspondente ao montante pelo qual a DEEPFLEX, INC. teria sido avaliada, efetuando o investimento por meio de uma holding, chamada Brasil Petróleo Participações SA, dividindo o investimento igualmente entre os FIPs nacionais e os sócios estrangeiros, conforme estrutura do investimento abaixo demonstrada:

3.2. A Dock Brasil Engenharia e Serviços S.A.

A empresa Dock Brasil Engenharia e Serviços S.A. é o resultado da transformação da DOCK BRASIL ENGENHARIA E SERVIÇOS LTDA em sociedade por ações. A companhia tem como objetivo empreender um projeto de construção de um terminal de reparos navais, focado em atender o mercado de embarcações de apoio à atividade de exploração e produção de petróleo

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em alto-mar, conforme Proposta de Investimentos apresentada pelos gestores para a 2º reunião do Comitê de Investimentos.

Em 12 de julho de 2013, o Comitê de Investimentos do FIP Brasil Petróleo 1, conforme ata de sua 2ª reunião, aprovou o investimento em R$ 39,7 milhões na Dock Brasil Engenharia e Serviços S.A.

Segundo consta da carteira de investimentos reproduzida no sítio eletrônico da CVM, o montante dos aportes do FIP na Dock Brasil foi de R$ 39,7 milhões em 17 de junho de 2014, tendo sofrido alterações para R$ 56,6 milhões no segundo semestre de 2015 e R$ 42,2 milhões no fechamento do primeiro semestre de 2016, devido às reavaliações solicitadas pelo administrador.

3.3. A Poseidon Participações S.A.

A empresa Poseidon Participações S.A., segundo proposta apresentada pelos gestores do FIP Brasil Petróleo 1, era uma empresa entrante (neófita) no mercado de apoio marítimo offshores a ser criada a partir da aquisição de embarcações em operação com contrato junto à Petrobras, visando a se tornar um competidor relevante nesse mercado.

Com a sua criação, seriam subscritas, pelo investidor FIP Brasil Petróleo 1, novas ações emitidas pela mesma, no montante de US$ 86 milhões, limitados a R$ 200 milhões, sendo efetuados em conjunto como IFP BP 2, dos quais R$ 158,2 milhões seria de responsabilidade do FIP BP 1.

O investimento na empresa greenfield POSEIDON foi aprovado pelo Comitê de Investimentos do FIP Brasil Petróleo 1 em sua 6ª reunião, realizada no dia 9 de setembro de 2014, tendo a PREVI votado a favor do investimento, conforme ata de reunião.

Conforme exibe a página 20 do Relatório “Atualização aos Investidores”, de junho de 2015, a estrutura societária final do investimento do projeto POSEIDON foi apresentada com o

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investimento tendo sido efetuado na companhia Marlin Navegação S.A por meio da holding POSEIDON PARTICIPAÇÕES S.A.

Conforme exporemos a seguir, a temeridade do investimento era perceptível desde o início (ao final, a perda foi superior a 80% dos valores investidos). Assim, os fundos de pensão aceitaram aportar recursos bilionários em companhia-alvo de forma absolutamente temerária. É o que examinaremos com maior detalhe em seguida.

4. GESTÃO TEMERÁRIA NO ÂMBITO DA PETROS

A partir da investigação realizada por diversas instituições, foram obtidas provas de que, por meio dos fatos que passaremos a narrar e com as circunstâncias que serão aqui detalhadas, especialmente entre dezembro de 2010 e 2016 (mas com consumação via aportes que foram realizados até agosto de 2016), LUÍS CARLOS FERNANDES AFONSO (na condição de Diretor Financeiro e de Investimentos), WAGNER PINHEIRO DE OLIVEIRA (na condição de Presidente da PETROS), NEWTON CARNEIRO DA CUNHA (na condição de Diretor Administrativo da PETROS), MANUELA CRISTINA LEMOS MARÇAS (na condição de Gerente de Participações Mobiliárias e membro do Comitê de Investimentos) e CARLOS FERNANDO COSTA (na condição de Diretor e membro do Comitê de Investimentos da PETROS) praticaram atos de improbidade administrativa ao gerirem temerariamente a PETROS.

Ainda que as decisões de investimento tenham sido produzidas a partir do ano de 2011, a concretização (consumação) dos efetivos aportes no FIP (que são sempre posteriores às subscrições das cotas do fundo) e a efetiva consumação dos atos ilícitos ocorrem nas datas mencionadas na tabela seguinte:

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O processo de investimento da PETROS no FIP Brasil Petróleo 1 iniciou-se no final do ano de 2010.

De fato, em 30 de novembro de 2010, foi emitido o Memorando ANP-196/2010, por meio do qual a entidade conduziu proposta de investimentos em três fundos de investimentos em participações, dentre os quais, FIP MARE e SANTANDER PETRÓLEO E GÁS, cujo nome foi posteriormente alterado para FIP Brasil Petróleo 1.

Após, a matéria seguiu para deliberação do Comitê de Investimentos da PETROS (COMIN). Na Ata de Reunião do COMIN nº 08/2010, o comitê, composto por HUMBERTO SANTAMARIA, LUIZ ANTONIO DOS SANTOS, CARLOS FERNANDO COSTA, MANUELA CRISTINA LEMOS MARÇAL, SONIA NUNES R.P. FAGUNDES, ALEXANDRE APARECIDO DE BARROS, FERNANDO PINTO DE MATOS, CARLOS SEZINIO DE SANTA ROSA e LUIS CARLOS FERNANDES AFONSO, este também Diretor Financeiro e de Investimentos e RICARDO BERRETA PAVIE, Gerente Executivo de Novos Investimentos concluiu pela recomendação do investimento, aprovando-o, da seguinte forma:

O COMIN, por unanimidade, recomendou os seguintes investimentos:

Aprovar a subscrição de até 20% (vinte por cento) das quotas do FIP Mare e Santander Petróleo & Gás – Fundo de Investimento em Participações, limitado ao valor máximo de R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), condicionado à aprovação dos instrumentos jurídicos da operação pela Gerência Jurídica da PETROS e ainda condicionado a garantia de assento no Comitê de Investimento do referido FIP;(...)

Em seguida, os requeridos WAGNER PINHEIRO DE OLIVEIRA, então Presidente da PETROS, LUÍS CARLOS FERNANDES AFONSO, então Diretor Financeiro e de Investimentos, NEWTON CARNEIRO DA CUNHA, então Diretor Administrativo, e Maurício França Rubem (Diretor de Benefícios)2, aprovaram, de forma temerária, o investimento

2 Não é requerido nesta ação Maurício França Rubem porque, apesar de ter participado da deliberação na reunião registrada na Ata nº 1808/2010, era responsável por área da PETROS que não estava diretamente vinculada à atividade de planejamento, análise, acompanhamento ou gestão de investimentos, havendo dúvida razoável sobre o dolo desse agente.

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no FIP Brasil Petróleo 1, no valor de até R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), por meio de deliberação registrada na Ata de Reunião nº 1.808, de 2 de dezembro de 2010.

A decisão final sobre a aprovação da entidade no FIP Brasil Petróleo 1 coube à Diretoria Executiva, conforme o item 8 da Ata de Reunião nº 1.808/2010 (Anexo 2), dispondo este da seguinte forma:

“ITEM 8 DE-589/2010 – RECOMENDAÇÃO DAS REUNIÕES COMIN 07/2010 E COMIN 08/2010.

Relator: DIRETOR FINANCEIRO E DE

INVESTIMENTOS

O Diretor Financeiro e de Investimentos encaminhou para a apreciação e deliberação da Diretoria Executiva o memorando ANP-196/2010, de 30-11-2010, contendo as propostas de investimentos analisadas pelo Comitê de Investimentos – COMIN, nas reuniões realizadas em 07-10-2010 e 30-11-2010, descritas respectivamente nos memorandos ANP-166/2010 e ANP-186/2010, e registradas nas Atas COMIN 07/2010 e 08/2010. De acordo com o memorando, o COMIN analisou as oportunidades de investimentos descritas nos memorandos 166/2010 e ANP-186/2010, anexos ao memorando ANP-196/2010, e recomendou a aprovação das subscrições de até 20% (vinte por cento) das quotas do FIP Mare Santander Petróleo & Gás - Fundo de Investimento em Participações, do FIP Plural Óleo 7 Gás – Fundo de Investimento em Participações e do FIP Valora Óleo & Gás – Fundo de Investimento em Participações, todos limitados ao valor máximo de R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), condicionados à aprovação dos instrumentos jurídicos da operação pela Gerência Jurídica da PETROS e ainda condicionados à garantia de assento nos Comitês de Investimento dos referidos FIPs.

Decisão: A Diretoria Executiva, com base nos termos descritos no

memorando ANP- 196/2010, de 30-11-2010: a) aprovou a subscrição de até 20% (vinte por cento) das quotas do FIP Mare e Santander Petróleo & Gás – Fundo de Investimento em Participações, limitado ao valor máximo de R$ 100.000.000,00 (cem milhões), condicionado à aprovação dos instrumentos jurídicos da operação pela Gerência Jurídica da PETROS e ainda condicionado à garantia assento no Comitê de Investimento do referido FIP.”

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Segundo a NE-002, toca à Diretoria Executiva a “oportunidade do investimento”, após análise e recomendação do COMIN, responsabilizando-a pela decisão.

É importante ainda registrar que a competência e os poderes da Diretoria Executiva da PETROS (da mesma forma que ocorre nos demais fundos de pensão) também decorriam de mandamentos legais. Nesse sentido, vejamos o que dispõem as leis complementares nº 108 e 109, ambas de 2001:

Lei Complementar nº 109/2001:

Art. 35. (…)

§ 5º Será informado ao órgão regulador e fiscalizador o responsável pelas aplicações dos recursos da entidade, escolhido entre os membros da diretoria-executiva.

§ 6º Os demais membros da diretoria-executiva responderão solidariamente com o dirigente indicado na forma do parágrafo anterior pelos danos e prejuízos causados à entidade para os quais tenham concorrido.

Lei Complementar nº 108/2001:

Art. 19. A diretoria-executiva é o órgão responsável pela administração da entidade, em conformidade com a política de administração traçada pelo conselho deliberativo.

(…)

Art. 22. A entidade de Previdência Complementar informará ao órgão regulador e fiscalizador o responsável pelas aplicações dos recursos da entidade, escolhido entre os membros da diretoria-executiva.

Parágrafo único. Os demais membros da diretoria-executiva responderão solidariamente com o dirigente indicado na forma do caput pelos danos e prejuízos causados à entidade para os quais tenham concorrido.

Ao proceder com temeridade, sem analisar os riscos evidentes dos investimentos, os requeridos violaram, patentemente, além das normas internas da própria entidade investidora, as normas contidas no artigo 9º da Resolução CMN n° 3.792/2009 e no artigo 12 da Resolução CGPC nº 13/2004, cujo textos vigentes eram os seguintes:

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Art. 9º Na aplicação dos recursos, a EFPC deve identificar, avaliar, controlar e monitorar os riscos, incluídos os riscos de crédito, de mercado, de liquidez, operacional, legal e sistêmico, e a segregação das funções de gestão, administração e custódia.

Resolução CGPC nº 13/2004:

Art. 12. Todos os riscos que possam comprometer a realização dos objetivos da EFPC devem ser continuamente identificados, avaliados, controlados e monitorados.

§ 1º Os riscos serão identificados por tipo de exposição e avaliados quanto à sua probabilidade de incidência e quanto ao seu impacto nos objetivos e metas traçados.

§ 2º - Os riscos identificados devem ser avaliados com observância dos princípios de conservadorismo e prudência, sendo recomendável que as prováveis perdas sejam provisionadas, antes de efetivamente configuradas.

Essa aprovação realizada pela Diretoria Executiva da PETROS deu-se com base em informações absolutamente superficiais, contidas no Memorando ANP-196/2010, sem o cuidado de realizar diligências devidas que pudessem verificar, com mais detalhes, os riscos que envolviam o investimento. Entendeu-se, naquele momento de aquisição das cotas do FIP, que as diligências e cuidados poderiam ser deixados para um momento posterior, em que de fato o fundo propusesse os investimentos nas empresas-alvo, quando então seriam realizados os efetivos aportes pela PETROS. Assim, decidiu-se pela aprovação de um investimento de R$ 100 milhões de reais sem que houvesse o devido aprofundamento ou detalhamento das ações e estudos que deveriam ter sido desenvolvidos com relação às companhias-alvo, acompanhados da demonstração do retorno projetado, em compatibilidade com os riscos a serem enfrentados dentro dos projetos apresentados pelos gestores do FIP.

4.1. Ausência de diligências quanto à escolha do gestor do FIP

As apurações realizadas por MPF e PREVIC apontam para o fato de que não foi devidamente avaliada a escolha do gestor no processo de alocação de recursos do FIP Brasil Petróleo 1, etapa esta de extrema importância para o sucesso da operação.

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Sobre esse ponto, havia norma específica na PETROS, prevista no item 6 da referida NE-002, que estabelecia regras e procedimentos essenciais para definir e realizar as operações de investimentos e desinvestimentos da PETROS. Em seu item 6.3.7 constavam procedimentos a serem seguidos quando da escolha de gestores para fundos de investimentos em participação, além daqueles relativos à realização de investimentos e desinvestimentos.

Dentre as etapas que deveriam ter sido cumpridas, destaca-se a realização de “due diligence”, análise do histórico de rentabilidade do gestor em fundos da mesma natureza e avaliação da equipe responsável pela seleção e gestão dos investimentos. Porém, os memorandos ANPs 166/2010 e 186/2010, que fundamentaram a aprovação o investimento, são silentes sobre o tema, não havendo qualquer abordagem relativamente à “avaliação da qualidade da equipe responsável pela seleção e gestão dos investimentos e do histórico de atuação conjunta dos mesmos”, ao “histórico de rentabilidade de outros fundos da mesma natureza administrados pelo gestor” e às “regras de aplicação do recurso na forma de caixa do fundo”.

Com relação ao “due diligence”, nota-se que, em nenhum momento o ANP 166/2010 fez uma avaliação do gestor CR2 Guitti (que após virou a MARÉ INVESTIMENTOS)

3, nem emitiu uma opinião conclusiva que indicasse sua aptidão para gerir os recursos que seriam

aportados pela entidade.

Na análise das respostas ao questionário preenchido pela CR2 Guitti, gestor do FIP BP1, e constante do anexo VII, tópico 3.2, da ANP-166/2010 (Anexo 27-CD), nota-se que ele não manteve qualquer recurso ou fundo sob gestão.

Como se verifica, nas respostas ao questionário, o próprio gestor afirma não dispor de recursos ou fundos sob gestão, sendo, portanto, impossível demonstrar que atendia aos requisitos das normas internas da PETROS. Este fato é registrado pela próprio memorando ANP 166/2010, no item 6. Ainda assim, sem haver uma avaliação conclusiva sobre o gestor, e sem que este dispusesse de qualquer recurso de terceiros sob administração, os dirigentes da PETROS, por 3 Conforme exposto acima, a gestora inicial do FIP BP1 foi a CR2 Guitti, que após passou a se chamar MARE INVESTIMENTOS. A gestão do FIP foi também compartilhada pelo Banco Santander, que depois passou para a MANTIQ INVESTIMENTOS, que era um braço de private equity do próprio Banco Santander.

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meio do ANP-166/2010 e ANP 186/2010, limitaram-se a transcrever os dados fornecidos pelos gestores do FIP e concluíram, na reunião de diretoria já mencionada, pela aprovação do investimento temerário no FIP BP 1.

Em memorando mais recente, de 17 de novembro de 2010, o gestor CR2 Guitti passou a exercer a gestão do FIP conjuntamente com o Banco Santander (que após passou a ser MANTIQ INVESTIMENTOS, pertencente à época ao Banco Santander) – inobstante a ausência de previsão de uma gestão conjunta ou bipartida no Regulamento do FIP ou nos normativos dos órgãos reguladores.

Segundo se pode extrair do quadro abaixo (quadro 1 do item 6 do ANP – 186/2010), que trata das “Características Gerais dos Gestores”, relativamente aos fundos administrados e recursos sob gestão, as inconsistências permaneceram, pois que o gestor CR2 Guitti se manteve sem nenhum fundo ou recurso sob gestão.

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A ANP-186/2010 expôs, ainda, o erro cometido no ANP-166/2010, ao aprovar a aplicação de recursos da entidade no Fundo gerido pelo gestor CR2 Guitti, sem que este atendesse aos requisitos impostos pela própria norma interna da PETROS, a NE-002.

Entretanto, mesmo com relação ao novo gestor, o Banco Santander (que após a ser MANTIQ, pertencente à época ao Banco Santander)– que indicava ter recursos de terceiros sob gestão –, a PETROS não apresentou uma análise de todos os tópicos constantes da NE-002, vale dizer, dos requisitos a serem observados para justificar o investimento no referido FIP, tampouco emitiu uma posição conclusiva sobre o gestor no que se refere à aptidão para gerir os recursos que seriam alocados.

Vale destacar que a Mare Investimentos e a Mantiq Investimentos eram os gestores na época em que o FIP investiu nas companhias BRASIL PETRÓLEO PARTICIPAÇÕES S.A. (PROJETO DEEPFLEX), a DOCK BRASIL ENGENHARIA E SERVIÇOS S.A. e a POSEIDON PARTICIPAÇÕES S.A.. O investimento nas referidas empresas, sob a gestão da Mare Investimentos e a Mantiq Investimentos, foi cercado de irregularidades, que serão detalhadas nos tópicos abaixo.

A PETROS, destarte, aprovou o investimento no FIP BP1, colocando recursos da entidade para serem geridos por gestores que não atendiam às especificações ou qualificações técnicas mínimas exigidas pela sua própria norma interna. Tal fato, além de ferir, diretamente, os princípios de segurança rentabilidade impostos pelo artigo 4o da Resolução CMN n. 3.792/09,

indica a prática delitiva, que, em tese, caracterizam a gestão temerária.

4.2. Ausência de diligências quanto às escolhas posteriores das empresas-alvo

Apesar de constituído o FIP BP 1 em fevereiro de 2012, apenas no final do primeiro semestre de 2013 foi realizado o primeiro investimento do FIP, o qual se deu na companhia BRASIL PETRÓLEO E PARTICIPAÇÕES S.A., no valor de R$ 31,9 milhões. No segundo semestre do mesmo ano, foi aumentado o investimento na BRASIL PETRÓLEO

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PARTICIPAÇÕES SA, para cerca de R$ 100 milhões, valor este que se manteve constante até o fechamento de 2015.

No segundo semestre de 2013, iniciaram-se os aportes do FIP na companhia DOCK BRASIL ENGENHARIA E SERVIÇOS S.A., que chegaram, aproximadamente, a R$ 56 milhões em 2015, mas a PETROS foi contrária a este investimento, que, não obstante, foi aprovado pela gestão do FIP Brasil Petróleo I.

Em 2015, no segundo semestre, foram investidos R$ 160 milhões pelo FIP BP1 na empresa POSEIDON PARTICIPAÇÕES S.A.

Desta forma, os investimentos FIP BP1 foram direcionados, inicialmente, para três companhias até a realização da ação fiscal, a saber: BRASIL PETRÓLEO E PARTICIPAÇÕES S.A., DOCK BRASIL ENGENHARIA E SERVIÇOS S.A. e POSEIDON PARTICIPAÇÕES SA, conforme já explicado anteriormente.

A PETROS, por meio de voto proferido no Comitê de Investimentos do FIP BP 1, aprovou o investimento em duas das três companhias investidas, a Brasil Petróleo Participações S.A e a Poseidon Participações S.A., conforme decisão contida nas Atas das 110ª e 176ª Reuniões do Comitê de Análise dos Fundos de Investimentos – COMAFI.

Após a entrada no FIP, a PETROS – que dispunha de voto no comitê de investimentos do FIP Brasil Petróleo 1 – efetuou seus investimentos na empresa DEEPFLEX DO BRASIL INDÚSTRIA DE DUTOS E FLEXÍVEIS E PARTICIPAÇÕES LTDA, por meio da Brasil Petróleo Participações S.A., que é uma holding, aprovando a proposta apresentada pelos gestores do Fundo, Mare e Mantiq.

Ocorre que os gestores do FIP, em verdade, haviam solicitado a aprovação do investimento em ações na DEEPFLEX, INC., empresa estrangeira sediada em Houston, nos Estados Unidos, não autorizada a receber recursos do FIP. Desta forma, para “contornar” tal proibição, os gestores decidiram que o investimento seria viabilizado por meio de uma entidade legal a ser criada no Brasil, para a qual a matriz da companhia deveria ser transferida (a Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis Ltda).

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A aprovação deste investimento pela PETROS deu-se, por unanimidade, na 110ª Reunião do Comitê de Análise dos Fundos de Investimentos (COMAFI), ratificada e oficializada pela Carta-Voto, por meio da qual a PETROS deliberou pelo aporte no FIP no montante de US$ 56,5 milhões limitados a R$ 115,40 milhões através do FIP BP1.

Ocorre que o artigo 2º do Regulamento do Fundo estabelece, como empresa alvo, apenas companhias brasileiras e sediadas no Brasil, havendo, ainda, a vedação expressa do artigo 35 da Instrução CVM nº 391/20031.

Desta forma, tanto os gestores da PETROS, quanto do FIP, decidiram e lograram driblar a vedação legal constante do regulamento do FIP de investimento em empresa estrangeira.

Àquela época, como já dito, a DEEPFLEX, INC. era, segundo a Proposta de Investimento do 1º Comitê de Investimentos do FIP BP1, de 06.7.2012, uma nova entrante no mercado de fornecimento de linhas flexíveis, que são dutos empregados em todo o sistema submarino de coleta e escoamento do petróleo e do gás natural, que conduzem os fluidos produzidos pelo poço para as unidades de produção.

A decisão do COMAFI considerou, ademais, a execução de aporte do FIP Brasil Petróleo 2, da mesma gestão do FIP BP1, no montante de US$ 14,85 milhões (limitados a R$ 30,3 milhões), conforme informação dos gestores. Os aportes dos FIPs Brasil Petróleo 1 e 2, em conjunto, resultaram em um total de US$ 71 milhões, valor correspondente ao montante pelo qual a Deepflex, Inc teria sido avaliada, e que, segundo a Proposta de Investimento dos gestores acima mencionada, determinariam uma participação da PETROS de 50% na DEEPFLEX.

Este investimento foi feito, portanto, por meio da holding Brasil Petróleo Participações S.A., sendo que a companhia norte-americana Deepflex, Inc. foi transformada por meio de seus sócios estrangeiros, em filial da Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis Ltda., dividindo-se o investimento igualmente entre os FIPs e os sócios estrangeiros.

Outrossim, os gestores do FIP Brasil Petróleo 1 apresentaram, no 6º Comitê de Investimentos, o “PROJETO POSEIDON” em 05.08.2014. A “POSEIDON PARTICIPAÇÕES

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S.A.” é uma companhia entrante no mercado de apoio marítimo offshore e seria criada a partir da aquisição de cinco embarcações em operação com contrato junto à Petrobras, visando a se tornar um competidor relevante neste mercado.

A proposta apresentou a subscrição de novas ações emitidas pela companhia, no montante de R$ 200 milhões, em conjunto com o FIP BP 2, e que foi aprovada na 176ª Reunião do COMAFI, em 16.08.2014, na forma da ata da reunião do comitê que dispõe em seu item V.

Segundo o “Relatório Atualização Dock Brasil e Poseidon”, de maio de 2015, a estrutura societária final do investimento foi a apresentada abaixo, com o investimento tendo sido efetuado na companhia estrangeira Marlin Navegação S.A. por meio da holding Poseidon Participações S.A.

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Com relação ao Processo Decisório da PETROS, relativamente aos investimentos efetuados, a PREVIC solicitou à entidade justificar as escolhas realizadas, mas esta somente encaminhou documentos que normatizam o processo decisório, sem, contudo, descrevê-lo.

Durante a Ação Fiscal Direta da PREVIC no período das infrações (entre 2010 e 2015), foram ainda encontradas as seguintes as irregularidades junto à PETROS e na gestão do FIP BP1, quanto à aquisição e investimentos nele realizados.

Dentro da análise interna da PETROS acerca da aquisição do FIP CR2 Guitti Petróleo & Gás (Brasil Petróleo 1) (Docs ANP 166/2010 e ANP – 186/2010), em seu item “4. Rentabilidade Esperada”, o memorando ANP 166/2010 fixa a previsão de rentabilidade dos fundos analisados, relatando que foi considerado o cenário base e as premissas utilizadas por cada gestor, prevendo o seguinte retorno em relação aos cinco fundos de que tratam os documentos:

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Assim, observa-se que a PETROS previu, para o FIP Brasil Petróleo 1, a rentabilidade de 23,64%, e uma taxa de retorno conforme a quantidade de empresas investidas.

Entretanto, ainda que a rentabilidade informada quanto ao FIP BRASIL PETRÓLEO 1 tenha ficado dentro da margem de 8% a 45% estabelecida pelo estudo Bain & Company para os diversos segmentos de exploração & produção, e embora a PETROS tenha feito uma análise da cadeia de fornecedores do setor de óleo e gás no item 3 do documento, em nenhum momento desta avaliação, os gestores da PETROS: (i) justificaram, de forma fundamentada, os cenários base e as premissas utilizadas por cada gestor dos FIPs analisados; (ii) demonstraram, por meio de estudos, os cálculos efetuados a partir da utilização de cenários e premissas empregadas pelos gestores do FIP e que originaram o retorno líquido esperado de 23,64% para o FIP em questão.

Em novo estudo atualizado, contido no memorando ANP 186/2010, de 17.11.2010, que trata de alteração da proposta de aporte de capital no FIP CR2 Guitti Petróleo & Gás (Brasil Petróleo 1), no item “4 Rentabilidade Esperada”, foi confeccionada a tabela abaixo, atualizando-se o valor do retorno real líquido esperado:

Apesar do retorno líquido esperado ter diminuído expressivamente de 23,664% para 17%, o estudo produzido pelos gestores da PETROS, uma vez mais, não abordou os motivos que embasaram tal alteração, sendo que a PETROS, com base na nova análise interna, aprovou o investimento, sem ao menos apreciar a alteração de percentual de retorno e simplesmente aceitando a previsão de nova rentabilidade reportada pelos gestores do FIP.

Assim, o Gerente Executivo de Novos Projetos, Ricardo Barretta Pavie, apresentou o possível investimento ao Diretor Financeiro e de Investimentos, LUIS CARLOS FERNANDES

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AFONSO, conforme conclusão do ANP 166/2010, que deu sequência ao processo de investimento.

4.3 Violações aos deveres de diligência relacionados ao investimento na DEEPFLEX

O primeiro investimento em empresas realizado pelo FIP Brasil Petróleo 1 foi o projeto DEEPFLEX, que consistia em investimento em ações da companhia americana DEEPFLEX, Inc., por meio de uma entidade legal a ser criada no Brasil, a Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda., para a qual a matriz da empresa americana seria, em tese, transferida, conforme a Proposta de Investimento apresentada pelos gestores em 6.7.2012.

O FIP BP 1 aprovou o investimento, tendo a PETROS, por meio do seu Comitê de Análise de Fundos de Investimentos (COMAFI), votado por unanimidade pela sua aprovação no montante de US$ 56,5 milhões na empresa DEEPFLEX, obtendo uma participação de 50%, conforme sua Ata de Reunião nº 110, de 13.8.2012.

Ao ser demandada para apresentação dos estudos de análise interna da PETROS referente ao referido investimento (cf. 110ª Reunião do COMAFI), a PETROS entregou apenas a Proposta de Investimento elaborada pelo analista de investimento Marcelo Luz, resumindo-se esta a uma cópia ipsis litteris, quase em sua integralidade, da Proposta de Investimento dos gestores do FIP BP1 para o 1º Comitê de Investimentos, de 6.7.2012, vale dizer, o estudo da PETROS considerou as mesmas premissas e conclusões indicadas pela Proposta do Investimento dos gestores do Fundo.

Além deste, não houve mais nenhum documento de análise interna elaborado pela PETROS, com a finalidade de avaliação do investimento na empresa alvo DEEPFLEX, INC., tendo sido feita opção por um cenário considerado intermediário, chamado de “base”, conforme tabela abaixo:

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Essas premissas foram responsáveis pelas projeções de receita da DEEPFLEX, INC. que constavam da Proposta de Investimentos dos gestores do FIP e que foram copiadas no estudo do analista, constando do quadro abaixo:

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Em seu memorando GPM 130/2016, a PETROS, ao ser novamente questionada pela fiscalização da PREVIC quanto à apresentação do laudo de avaliação da Deepflex, Inc, elaborado à época do investimento, relatou haver os gestores do FIP BP1 comunicado que “o laudo de avaliação para o investimento não fora elaborado para o investimento. Este tomou por base a diligência legal, contábil e operacional feita pelos gestores e por terceiros contratados para tanto, bem como elaboração de modelo financeiro detalhado”.

Restou caracterizada, desta forma, a inexistência de qualquer análise própria da entidade que demonstrasse senso crítico mínimo em relação ao real valor do investimento informado. Não há, em nenhum momento, demonstração, pela entidade, de que as diligências informadas pelo gestor e o modelo financeiro confeccionado resultaram no valor de avaliação informado na Proposta de Investimento apresentada pelo analista da PETROS.

O normativo interno da PETROS – NE 002 estabelece, em seu tópico “6.3.3 Análise de Ativos para a Carteira de Participações”, que o fundo de pensão deve considerar na análise para a seleção das ações ou quotas dos fundos de participação ou de empresa emergente, “o cálculo do valor da empresa e a necessidade de contratação de instituição especializada na avaliação de empresas para subsidiar as avaliações e decisões internas.”

Conforme se pode verificar na estrutura do projeto, o valor de investimento inicialmente previsto era de US$ 71 milhões, dos quais US$ 56,5 milhões eram de responsabilidade do FIP BP. Este valor estava diretamente ligado ao valor anunciado da avaliação da Deepflex, Inc. de US$ 71 milhões, fato que deixaria os sócios dos FIPs brasileiros com 50% de participação e os representantes estrangeiros com detenção dos 50% restando montante investido. Assim, os FIPs BP1 e 2 assegurariam razoável controle do projeto, fator imprescindível para se cumprirem as exigências do Regulamento do FIP BP1, no que se refere à influência sobre as empresas investidas.

Os gestores PETROS, porém, não comprovaram minimamente que as diligências e avaliações por eles informadas (“valuation”), dentro do modelo financeiro confeccionado,

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resultaram, de fato, no valor de avaliação da empresa americana DEEPFLEX INC., segundo informado na Proposta de Investimento apresentada pelos gestores do FIP.

Desta forma, a PETROS, por meio de seus dirigentes, demonstrou ter sido gerida temerariamente, sendo os recursos investidos sem a necessária diligência e critérios de avaliação dos investimentos junto à empresa investida, contrariando, além de suas normas internas, ainda, os princípios da segurança e rentabilidade previstos no artigo 4º da Resolução CMN n. 3.792/09.

Finalmente, há ainda grave ilicitude quanto à caracterização do investimento nessa empresa-alvo como investimento em empresa estrangeira, que é vedado pela legislação.

No voto proferido pela PETROS, por meio do Comitê de Investimento no FIP BP1, favoravelmente ao investimento na DEEPFLEX INC., foi detectada a violação à Instrução CVM nº 291/2003, que impedia que fossem feitos, pelo FIP, investimentos no exterior.

Segundo o Regulamento do FIP Brasil Petróleo I, vigente à época da aprovação pela PETROS no projeto Deepflex, verifica-se que o FIP tinha como objetivo o investimento apenas em empresas nacionais4, sendo que, ao definir as companhias alvo como investimento,

caracteriza-as, como sendo companhias brasileiras e sediadas no Brasil5.

Os chamados “setores-alvo”, dentro dos quais atuariam as “companhias-alvo”, também são definidos pelo artigo 2o do Regulamento do FIP, como pertencendo a uma cadeia

cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás, no Brasil.

4 Artigo 2o - COMPANHIAS ALVO – são as companhias abertas ou fechadas, brasileiras e sediadas no Brasil, que atuam nos SETORES ALVO,

nas quais se identifique nível excelente de gestão e perspectiva de rentabilidade significativa, e que estejam comprometidas ou que venham a se comprometer a adotar politicas de maior exposição ao mercado de capitais, ampla divulgação de informações e de melhores práticas de governança corporativa, em que o FUNDO poderá realizar seus investimentos

SETORES ALVO – é a cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás no Brasil, dos quais fazem parte as COMPANHIAS ALVO, dentre os quais destacam-se mas não limitam-se a (i) montagem industrial; (ii) motores auxiliares e principais; (iii) construção naval; (iv) sistemas elétricos e automação; (v), indústria metal-mecânica; (vi) guindaste off-shore; (vii) serviços de gerenciamento e engenharia de projetos; (viii) prestação de erviços especializados (ix) logística e (x) locação de ativos. Exclui-se da definição as atividades de Exploração e Produção de petróleo e gás

5 Art. 2 - COMPANHIA-ALVO – são as companhias abertas ou fechadas, brasileiras e sediadas no Brasil que atuam nos SETORES ALVO, nas

quais se identifique nível excelente de gestão e perspectiva de rentabilidade significativa, e que estejam comprometidas, ou que venham a comprometer a adotar políticas de maior exposição ao mercado de capitais, ampla divulgação de informações e de melhores práticas de governança corporativa , em que o FUNDO poderá realizar seus investimentos.

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Porém, diferentemente do que estabelece o Regulamento do FIP, o investimento proposto pelos gestores do FIP BP 1 e acatado pela PETROS previa em sua proposta o direcionamento do valor investido quase que integralmente para o exterior do país, mostrando-se distante do objetivo de direcionamento de seus investimentos em companhias brasileiras e sediadas no Brasil, inseridas na cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás.

A Instrução Normativa 391/2003 da Comissão de Valores Mobiliários é expressa ao vedar a aplicação de recursos de FIPs no exterior, ainda que de forma indireta, dispondo nos seguintes termos:

Art. 35. É vedado ao administrador, direta ou indiretamente, em nome do fundo:

VI – aplicar recursos a) no exterior;(g.n.)

Interessante notar que, no tópico “4. O INVESTIMENTO PROPOSTO”, quando descreve a estrutura da operação, a Proposta de Investimentos dos gestores esclarece que a necessidade de um “veículo brasileiro” para o projeto se daria por conta da Instrução Normativa CVM 391/2003, que, justa e expressamente, proíbe a execução de investimentos de FIPs em empresas estrangeiras6.

Não obstante expressa vedação normativa, a Proposta de Investimentos na Cia Deepflex, elaborada pelos gestores do FIP para o 1º comitê de Investimento do FIP, em sua introdução, é clara ao definir que o investimento tem como finalidade a compra de ações da companhia americana Deepflex, Inc., por meio da utilização de uma entidade legal a ser criada no Brasil, dispondo da seguinte forma:

6 Estrutura da Operação: Pela Instrução Normativa 391 da CVM, os FIPs devem somente investir em companhias brasileiras. Para isso, o investimento na Companhia deverá ser realizado através de um veículo brasileiro. A estrutura final será elaborada durante as negociações da documentação final.”

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Mantiq Investimentos Ltda e Mare Investimentos Ltda, na condição de cogestores do Fundo de Investimento em Participações Brasil Petróleo I, solicita a aprovação,

pelo Comitê de Investimentos do Fundo, do investimento em ações na Deepflex Inc., através de uma entidade legal a ser criada no Brasil, para a qual a matriz da Companhia será transferida (g.n.)

Desta forma, a Proposta atribui à nova sede da Deepflex no Brasil o status de “veículo de investimento”, em seu item “1.2 Resumo da Proposta”, onde dispõe da seguinte forma:

Veículo de Investimento

Entidade brasileira com a nova sede da Companhia (DB). A estrutura final e detalhada do investimento será discutida com os advogados durante a elaboração dos documentos finais.

Com efeito, não obstante tal proibição, bem como determinação do próprio Regulamento do Fundo para que os investimentos em setores-alvo fossem feitos em companhias sediadas no Brasil, a proposta de investimento apresentada pelos gestores não deixa dúvidas de que, desde o início, o objetivo do FUNDO era investir na empresa estrangeira DEEPFLEX, INC., e de driblar a regulamentação então vigente, determinando, abertamente, que o investimento na companhia DEEPFLEX, INC. fosse feito (indiretamente) através de um “veículo brasileiro”.

Note-se que, com relação as demais companhias envolvidas no projeto que resultou no investimento na Deepflex, Inc, a Brasil Petróleo Participações SA é uma holding, conforme seu código de descrição de atividade econômica principal, no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica constante no sítio eletrônico da Receita Federal do Brasil, aberta com a finalidade de compor o aporte conjunto do FIP BP 1 com o FIP BP2 e possuir participação na empresa Deeplex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda.

Assim, resta evidente que a finalidade das companhias Brasil Petróleo Participações SA e Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda foi apenas propiciar um

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veículo para o investimento na companhia americana Deepflex, Inc, esta sim, o real objeto e alvo do projeto.

No que se refere à companhia Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda., esta foi aberta em 07.01.2013, conforme o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica constante do sítio eletrônico da RFB, portanto, após analisar a aprovação do investimento, apenas se constituindo no veículo pelo qual é realizado o transporte financeiro para a Deepflex, Inc. Tanto assim que os estudos e as análises do Investimento não se dirigem à Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda., sendo direcionados à Deepflex Inc, e nem poderiam pelo fato de que a Depflex brasileira sequer existia naquele momento.

A Proposta de Investimentos dos gestores mencionada acima foi utilizada pela entidade como embasamento de sua aprovação ao investimento na 11ª Reunião do COMAFI, de 13.08.2012, oficializada por meio do voto favorável ao aporte ao Comitê de Investimentos do FIP BP 1 no GPM/FP – 027/2012. Nesta reunião, tratou-se, justamente do aporte a ser realizado na companhia Deepflex, Inc., ou seja, de “compra de ações da companhia americana Deepflex, Inc.”, através da utilização de uma entidade legal a ser criada no Brasil.7

A Proposta de Investimentos elaborada pelo analista de investimentos da PETROS Marcelo Luz para a 110a Reunião do COMAFI , em seu tópico, “1.1. Resumo do Projeto”, bem

como a apresentação dos gestores para a reunião prévia do Comitê de Investimentos, de julho de 2012, foram bem claras ao definirem a Deepflex, Inc, como companhia-alvo do investimento, onde

aprofundam estudos sobre sua estrutura societária, histórico, panorama atual, clientes e outras qualidades da empresa americana.8

7 A deliberação da 110a Reunião do Comafi é a seguinte: Na convocação da Reunião do Comitê de Investimentos do

Fundo realizada , o Gestor do FIP Brasil Petroleo 1 solicita aos membros do Comitê deliberar pela: “Delierar sobre a Proposta de Investimetno na Deepflex ex apresentada pelo F}IP Brsail Petroleo 1, no montante de US$ 56,16 milhões (limitados a R$ 114,7 milhões ), que somados ao montante de US$ 14,85 milhões (limitados a R$ 30,3 milhões) respectivo ao Fundo Brasil Petroleo 2 resultara em um total de US$ 71,0 milhões (limitados a R$ 145 milhões) a ser investido na Deepflex, conforme material enviado em 06 de julho de 2012 e demais esclarecimentos enviados aos membros do Comitê.

8 A companhia é uma nova entrante no mercado de fornecimento de linhas flexíveis com um diferencial na composição de seus tubos (pipes)

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Em seu item “3. A DEEPFLEX', a Proposta de Investimento dos gestores relata informações sobre a DEEPFLEX, INC., única companhia analisada no documento, informando a localização de sua matriz, em Houston, Texas, sua fábrica-piloto, na cidade de Manitowoc, estado de Wisconsin, nos Estados Unidos da América.

Um outro documento que caracteriza o investimento na empresa estrangeira é a Ata da 216a Reunião do COMAFI da PETROS, que esclarece que quase todo o montante aportado

aprovado pelo FIP foi enviado para a construção da fábrica nos EUA9

Não bastassem tais evidências, conforme o 1o Relatório de Atualização Semestral

de 01.11.2012, apenas após 3 meses da aprovação do investimento no projeto Deepflex, pelo Comitê de Investimentos do FIP, segundo a Ata da 1a Reunião do Comitê de Investimentos do FIP

BP 1, os gestores deixaram ainda mais clara a intenção de investimento na planta dos EUA, apenas mencionando o início do projeto nacional, da seguinte forma:

Estratégia atual:

Acreditamos que melhor estratégia é realizar investimento na planta dos EUA, aumentando sua capacidade e competitividade e adiantando a geração de caixa”

O fato é que o plano de investimentos base constante do tópico “3.6 Plano de negócios da Companhia”, não direciona os investimentos do projeto de forma a serem executados

Apresenta tecnologia (protegida por partentes) de fabricação das linhas flexíveis através de compostos de fibra de vidro, fibra de carono e polímeros

Conta com uma fábrica piloto com capacidade de produção de 20 km de linhas por ano, localizada na cidade de Manitowoc EUA A fábrica é focada em atender projetos de desenvolvimento de produção menores e com profunidade de ate 1800 m além de servir para fabricação de linhas para os diversos programas de qualificação promovidos por institutos de petróleo e por diversas companhias de E&P

A Companhia conta ainda com 2 laboratórios de P&D e 1 escritório de vendas e marketing localizados em Houston, Texas. 9 É importante ressaltar que apesar da sociedade investida pelo Fundo estar sediada no Brasil – Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda (Deepflex Brasil) – a empresa operacional – a partir da plnata/fábrica em construção – está localizada nos Estados Unidos da América (EUA). Desta maneira, a quase totalidade dos recursos, aprovado pelo CI do Fundo, foram direcionados para a fábrica no exterior.

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exclusivamente no Brasil, conforme obriga o Regulamento, mas os direciona para a construção da fábrica no exterior, e antes mesmo de ser concebido e constituído o “veículo de investimento” no Brasil.

Com efeito, embora tenha sido mencionada a pretensão de instalação de uma nova planta da Deepflex a ser construída no Brasil, tanto na Proposta de Investimento, quanto nos relatórios semestrais, a fábrica brasileira não chegou sequer a iniciar sua construção de fato. Vale dizer, foi idealizada e colocada em prática, por parte dos gestores do FIP BP 1, com o largo endosso dos analistas, gerentes e diretores da PETROS, uma verdadeira engenharia societária e financeira com contornos de aparente fraude, uma vez que, tanto a BRASIL PETRÓLEO PARTICIPAÇÕES SA quanto a DEEPFLEX DO BRASIL INDÚSTRIA DE DUTOS FLEXÍVEIS E PARTICIPAÇÕES LTDA sequer existiam quando da aprovação do investimento do FIP na empresa americana DEEPFLEX, INC. Estas, na verdade, foram constituídas apenas como veículos financeiros, para conferirem à transação de investimento vedado

em empresa estrangeira uma roupagem de licitude. Assim, por meio desses canais empresariais,

fluíram os investimentos da PETROS e do FIP para a companhia alienígena.

Nessas condições, após ter sido inicialmente aportado o fluxo do capital na holding Brasil Petróleo Participações S.A., por meio dos FIPs BP1 e FIP BP2, este foi repassado à DEEPFLEX DO BRASIL INDÚSTRIA DE DUTOS FLEXÍVEIS E PARTICIPAÇÕES LTDA, a qual, em seguida, levou a quase totalidade dos recursos investidos (US$ 71.000.000,00 [setenta e um milhões de dólares]), para a construção da nova fábrica DEEPFLEX, INC., transferida da cidade de Manitowoc para Pensacola, no Estado de Flórida, EUA.

Dessa dinâmica, resta evidente que a função das companhias Brasil Petróleo Participaçõe SA e Deepflex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda. foi simplesmente de intermediária, de um veículo e de fachada para o encobrimento do verdadeiro objetivo do investimento, qual seja, o de aplicação na companhia americana Deepflex, Inc, principal objetivo do projeto.

Observa-se, ainda, que, muito embora o Regulamento do FIP estabeleça, como objetivo, o direcionamento de seus investimentos em companhias brasileiras e sediadas no Brasil,

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inseridas na cadeia produtiva de suprimento de bens e serviços para a indústria de petróleo e gás no Brasil, a Proposta de Investimento não estabeleceu a obrigatoriedade de destinação exclusiva

do investimento para o Brasil, embora devesse tê-lo feito. Neste sentido, o seu desenrolar propiciou

o direcionamento do valor investido quase que integralmente para o exterior, ocasionando, também, falha no acompanhamento do investimento e monitoramento de seus riscos, conforme a seguir explorado.

Registre-se, ademais, que a PETROS, por meio de seus representantes com assento no Comitê de Investimentos do FIP – sem proferir qualquer manifestação acerca do tema, votou a favor do investimento em empresa estrangeira – inobstante legislação expressa em contrário. Em outros termos, os gestores da PETROS tinham conhecimento do tipo de investimento que estava realizando, bem como do fato de que o correspondente valor, num segundo momento, estaria sendo transferido à BRASIL PETRÓLEO PARTICIPAÇÕES LTDA, e, na sequência, à empresa brasileira DEEPFLEX DO BRASIL INDÚSTRIA DE DUTOS FLEXÍVEIS E PARTICIPÇAÕES LTDA., da qual a BRASIL PETRÓLEO PARTICIPAÇÕES LTDA era quotista, para, posteriormente ser remetido aos EUA, como, de fato, o foi.

Em resposta aos questionamentos da fiscalização da PREVIC, relativamente ao plano de negócios referente ao investimento da empresa Deepflex, Inc, no momento da decisão da entrada no projeto, a PETROS, por meio dos cogestores do FIP, em seu memorando GPM – 102/2016, em momento algum relatou que o objetivo era construir uma fábrica no Brasil.

A própria PETROS foi taxativa, quando fixou o objetivo do projeto à empresa americana Deeplex, Inc10. Na sequência, a entidade relata que o envio dos recursos para a

construção da fábrica nos EUA não obedeceu o plano de negócios, quando do investimento, da seguinte forma:

Desta maneira, a quase totalidade dos recursos aprovados pelo Fundo foram

direcionados para a fábrica no exterior, o que está em desacordo com o plano de

10 “É necessário destacar que, apesar da sociedade estar sediada no Brasil, através do capital social da Deeplex do Brasil Indústria de Dutos Flexíveis e Participações Ltda (Deepflex do Brasuil), a planta /fábrica está localizada nos Estados Unidos, ou

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Força-Tarefa Greenfield

negócios à época do investimento inicial (agosto de 2012) e o entendimento unânime dos cotistas. À época da aprovação, foi informado pelos cogestores que a primeira fábrica seria construída no Brasil. Todavia, alegando razões econômicas, os cogestores apoiaram, sem a realização de deliberação do Comitê de Investimento do Fundo acerca desta mudança estratégica (incorporando outros riscos “overseas”), vis a vis a deliberação original da RCI de 2012, a decisão de construir a primeira fábrica na cidade de Pensacola nos Estados Unidos

Havia, portanto, a intenção prévia de se remeter dinheiro irregularmente ao exterior, quer a título de investimento – não comprovado – ou por outro motivo escuso, uma vez que referidos valores desapareceram. Até prova em contrário, não houve efetivo investimento na empresa DEEPFLEX INC, que acabou incidindo em falência, praticamente, em situação de abandono, em razão de os sócios americanos terem cessado de nela investir, deixando enormes dívidas em aberto.

Com efeito, a fiscalização da PREVIC tomou conhecimento de que, quando a fábrica constituída no âmbito da DEEPFLEX INC. já se encontrava 70% construída, os sócios americanos não mais quiseram aportar dinheiro na mesma. Desta forma, os gestores do FIP e PETROS remeteram os recursos ao exterior, com suposta destinação à DEEPFLEX INC., mas sem efetivo e comprovado investimento.

De todo este panorama – selado pelo default da companhia, com a perda integral de todo o investimento feito pelo FIP e PETROS – restaram diversas dívidas sobre a empresa e seus “quotistas” , sem prejuízo de demandas judiciais no âmbito da jurisdição norte-americana.

Em sua resposta à PREVIC, a PETROS relatou, ainda, que, enquanto quotista do Fundo, manifestou-se formalmente, após a realização deste investimento, de maneira contrária, devido ao fato de o mesmo estar em desacordo com o plano inicialmente aprovado em RCI do Fundo.

Ao responder à fiscalização da PREVIC, a PETROS entregou documentos referentes à recomendação do setor de Fundos de Participação de reprovação de proposta de investimento adicional na Deepflex e carta voto da entidade ao Administrador do Fundo com a

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Força-Tarefa Greenfield

reprovação de investimento adicional.

No entanto, frisa-se que, desde a aprovação do investimento até os documentos apresentados pela entidade – cerca de três anos – segundo os relatórios de análise semestral, os gestores informaram consistentemente que a instalação da fábrica brasileira não estava sendo iniciada, ao passo que descreveram claramente a conclusão pela transferência e ampliação da fábrica nos EUA, assim como a efetiva execução das obras.

Ademais, dentre os documentos entregues pela PETROS contendo suposta discordância do investimento aprovado ou da execução do projeto Deepflex com o plano de negócios inicialmente aprovado, um deles é apenas uma análise encaminhada pelo Gerente do Setor de Fundos de Participações à Gerência Executiva de Participações Mobiliárias – GPM , mas que não trazia qualquer reclamação ou denúncia frente ao FIP BP 1 ou a qualquer órgão competente. Tal fato demonstra a inteira complacência dos gestores da PETROS com relação ao real direcionamento e intento do investimento realizado pelo FIP BP1 junto à empresa estrangeira DEEPFLEX, INC.

Porém, com ou sem efetivo investimento na empresa Deepflex, Inc, fato é que o vício sempre esteve na origem, vale dizer, na proibição de o FIP investir em empresa no exterior, extrapolando tal decisão expressa previsão legal e regulamentar.

Assim, independentemente do destino final desses recursos – fato a ser apurado em esfera diversa da presente – é inegável o fato de que os gestores da PETROS e do FIP

empreenderam uma manobra societária com o fim de viabilizar o suposto investimento em empresa estrangeira. Esta, em verdade, foi a maneira encontrada pelos gestores do FIP para driblarem a

proibição legal, bem assim a própria fiscalização, recebendo o pleno endosso do corpo diretivo e técnico da entidade investidora.

Tal conduta aponta para a prática do ato ilícito de gestão temerária por parte dos gestores do FIP (investigados em seara diversa) e do corpo diretivo da PETROS que aprovou e destinou à empresa norte-americana os recursos que lhe foram confiados pelos seus titulares.

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