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Violações dos deveres de diligência relacionados ao investimento na POSEIDON

4. Gestão temerária no âmbito da PETROS

4.4 Violações dos deveres de diligência relacionados ao investimento na POSEIDON

O segundo investimento realizado pelo FIP BPI foi junto à empresa POSEIDON, no âmbito do qual, igualmente, constatou-se a deficiência na validação das premissas utilizadas pelos gestores da PETROS, que, por sua vez, teriam reiterado condutas de má e temerária gestão da entidade.

Segundo mencionado no tópico “IV – Descrição do Investimento”, a POSEIDON PARTICIPAÇÕES SA é uma companhia entrante no mercado de apoio marítimo offshore, que seria criada a partir da aquisição de cinco embarcações em operação com contrato junto à Petrobrás, visando a se tornar um competidor relevante neste mercado.

A proposta apresentava a subscrição de nove ações emitidas pela companhia, no montante de R$ 200 milhões, sendo efetuados em conjunto com o FIP BP1, que fora aprovada na 176a Reunião do COMAFI, em 16.8.2014, na forma da correspondente ata.

Embora a análise do investimento feita pela PETROS não demonstre, o valor investido foi, de fato, bem superior àquele que seria inicialmente aportado pelo FIP. Na verdade, a nova companhia assumiria, também, um empréstimo de US$ 75 milhões, nos termos da 6ª Proposta de Investimento apresentada pelos gestores do FIP.

O quadro abaixo mostra o resumo da proposta, indicando a origem e a destinação dos recursos, assim como a assunção de uma dívida de R$ 168.750.000,00.

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Como se verifica, a maior parte dos recursos aportados pelo FIP – num total de R$ 362.250.000,00 – destinou-se à aquisição de cinco embarcações, cujos afretamentos eram a principal fonte de receita da nova companhia.

Destaca-se que a Proposta de Investimento também afirmava que “todas as embarcações já estavam operando e gerando caixa através de contratos de longo prazo junto à Petrobras.” Acrescentava, ainda, que haveria um “Retorno real de IPCA + 22,9% calculados a partir dos dividendos pagos pela Companhia no caso Plano de Negócios.”

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Tais premissas utilizadas pelos gestores do FIP BPI, no entanto, deixaram de ser validadas pelos estudos internos da PETROS, de forma que não foi atestada a validade do investimento.

Ao ser a PETROS demandada pela fiscalização da PREVIC, para a identificação dos procedimentos adotados na avaliação do investimento e para a apresentação do laudo de avaliação das embarcações adquiridas pela empresa Poseidon Participações SA, a PETROS declarou ter sido esta fornecida pelos cogestores do Fundo.

Ou seja, a PETROS não dispunha do laudo de avaliação, e, portanto, não avaliou devidamente o valor das embarcações ao tempo da apresentação do voto favorável ao investimento no projeto Poseidon.

Ademais, o documento indicado pela PETROS como sendo a avaliação das embarcações “DOF FLEEP VALUATION FOR FIPS BRASIL PETROLEO 1 E 2 (Anexo 48- CD) constitui-se apenas em uma apresentação de representantes de empresa do grupo DOF para os FIPs Brasil Petroleo 1 e 2.

Afora as inconsistências acima descritas, a apresentação entregue pela PETROS encontra-se integralmente em língua inglesa, fora dos padrões necessários para a análise, fato este que, inclusive, infringe a própria lei civil brasileira1.

No tocante ao retorno esperado do investimento, os gestores do FIP afirmaram, na Proposta de Investimento, que haveria uma “rentabilidade real” de IPCA + 22,9% calculados a partir dos dividendos pagos pela Companhia no Caso Plano de Negócios.

A este respeito, o normativo interno da PETROS NE-002 estabelece as regras essenciais para definir e realizar as operações de investimentos e desinvestimentos da entidade, e para determinar qual será o retorno do investimento ao longo de um período determinado, em face dos riscos envolvidos na operação.

A Proposta de Investimento no projeto POSEIDON apresentada pelos gestores do FIP PB 1 fez uma série de análise e projeções tendentes a demonstrar a viabilidade do negócio,

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tendo sido desenhados três cenários que sintetizam as premissas adotadas nas projeções: (i) cenário plano de negócios; (ii) cenário conservador; (iii) cenário light “Asset Light”, como segue:

No entanto, o detalhamento, com apresentação do fluxo de caixa, foi elaborado apenas para o cenário “plano de negócios”, como segue:

Segue abaixo o Fluxo de Caixa projetado para a Companhia no Cenário Plano de Negócios:

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Como se pode extrair de tais cenários, as projeções dos gestores do FIP não demonstram claramente que o retorno esperado (retorno real de IPCA + 22,9%) fora atingido.

Da mesma forma, não há, na proposta apresentada pela PETROS, estudos que validassem as premissas utilizadas de forma a suportar os dados constantes do fluxo de caixa. A PETROS, por seus então gestores, não demonstrou serem válidas as premissas que justificaram o investimento, não comprovou que a projeção do fluxo de caixa era consistente e que era factível atingir o retorno esperado. Não demonstrou ter realizado tais estudos, contrariando o próprio normativo interno.

O único estudo interno apresentado foi a Proposta de Investimento para o 176º COMAFI, de 26.9.2014, que se limita, em grande medida, a reproduzir as informações constantes na proposta dos gestores do FIP, como demonstra o item 1.4, que fala das Premissas de Valuation do Projeto.1

Observa-se que, neste caso, as premissas são exatamente as mesmas utilizadas no projeto POSEIDON, apresentado pelos gestores do Fundo, não havendo elementos no referido documento que indiquem a validação de tais premissas.

Uma vez mais demandada pela fiscalização, acerca de elementos de análise adicionais que dessem suporte às premissas utilizadas, a PETROS se limitou a apresentar novamente a Ata da 176a Reunião do COMAFI e a proposta de Investimento anteriormente citada, evidenciando a inexistência de outros estudos que validassem as premissas utilizadas.

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Desta forma, observa-se, claramente, o descumprimento dos princípios da segurança e da rentabilidade, não tendo seus dirigentes atuado com a diligência necessária na gestão dos recursos dos participantes, tampouco adotado práticas que garantissem o cumprimento do dever fiduciário da entidade em relação aos participantes, conforme previsto no art. 4o da

Resolução CMN 3.792/2009.2

Tal fato, desde logo, aponta para graves falhas de gestão da entidade, por sua temeridade e tratamento superficial, ao não avaliar a viabilidade do investimento e o seu retorno factível, ao não produzir os estudos minimamente necessários que validassem as premissas apresentadas pelos gestores do FIP para comprovar ou mesmo indicar, com alguma consistência, o retorno projetado para ambas as companhias-alvo.