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Interação entre governo municipal e sociedade civil e a atuação dos conselheiros

4. A CAPACIDADE DELIBERATIVA DO CMASS

4.3 Interação entre governo municipal e sociedade civil e a atuação dos conselheiros

É interessante analisar que, quando os entrevistados foram questionados sobre a interação entre o governo municipal e a sociedade civil, esses pontos sobre a falta de infraestrutura, de recursos humanos, de prestação de contas e de reprogramação de recursos não foram pontuados, eles apareceram ao falarem das dificuldades existentes na atuação de conselheiro e no acompanhamento dos recursos e dos serviços da Assistência Social. A fala de alguns entrevistados ressaltou a importância da municipalização da política, da existência de um elo de diálogo e de proximidade com a Secretaria, da parceria entre o governo e a sociedade civil na prestação dos serviços socioassistenciais, alguns por terem vínculos com entidades que prestam serviços de Assistência Social descreveram a interação a partir do ponto de vista da instituição.

A gente conhece as pessoas, a gente sabe o nome dela. A gente encontra as pessoas nas reuniões. Então assim, isso tem um acesso, uma circulação, um conhecimento que é razoável. E a gente tem que reconhecer que a SEMPS realmente, ela favorece esse contato. Não só com a nossa entidade, não só porque a gente está no Conselho, mas isso é realmente aberto, a gente consegue acessar (ENTREVISTA A).

Porque governo não faria hoje nada sozinho que não tem condições, não tem estrutura pra isso. Da mesma forma que a Sociedade Civil não desenvolveria, porque muitas vezes tem até estrutura física, mas não tem, por outro lado, as condições financeiras, humanas para desenvolver o trabalho. Então eu vejo realmente duas instâncias que tem que caminhar juntas (ENTREVISTA D).

Então, a gente, nós somos incansáveis, porque às vezes o governo ele faz muito de conta que tá atuando e na verdade, tratam a gente como parceiros, mas as vezes nós somos mais parceiros do que eles. E a gente faz o papel na sociedade, os colaboradores, as instituições, a gente faz o papel de que o governo deveria fazer, e quando a gente vai se associar, nós vamos ser parceiros, não somos correspondidos (ENTREVISTA I).

Na entrevista H, tivemos uma fala mais crítica sobre a falta de comprometimento dos conselheiros governamentais nas atividades do CMASS, tendo sido questionado a relação de parceria que tanto é falado nos discursos dos gestores e conselheiros da Assistência Social.

Discurso. Eu vejo muito discurso, mas na realidade, o compromisso, eu tenho a sensação que eles, a secretaria, o governo, não quisessem que existisse o conselho. O que eu vejo é que não existe parceria. Fala-se muito, mas na realidade não existe parceria. Existem interesses. A gente observa isso pelos conselheiros que representam as secretarias. Existem alguns comprometidos, competentes e assíduos, mas outros, nem lá vão. Tanto que, a gente tá batendo, aí na tecla, o conselho, para se analisar, porque tá dito isso no regimento, se você tem 3 faltas injustificadas, você tem que ser substituído, e vai se postergando isso, negligenciando. Pra mim falta comprometimento. Na época das conferências aí você vê a interação entre os entes federados, um movimento grande, todo mundo com interesse, porque tem que fazer cumprir. E a gente sabe que somos personas não gratas. Isso eu tenho certeza. A gente faz a política da boa vizinhança, da simpatia, da parceira, mas no íntimo, a gente sabe que eles não gostariam. Eu tenho impressão que eles acham que os conselheiros são polícia, estão lá fiscalizando, tem essa função em termos, do controle, mas poderia ser muito diferente. O problema, é que infelizmente, os nossos governantes vivem em função de si, do se objetivo pessoal (ENTREVISTA H).

Esta dificuldade da participação dos conselheiros governamentais foi explicada em uma das entrevistas, por ser uma representação que permite uma variação muito maior do que a da Sociedade Civil, em que ao mesmo tempo que se tem uma rotatividade, se tem uma ausência significativa, além de muitos serem servidores indicados para participar, sem ter afinidade com a área da Assistência Social. Outro ponto citado em uma das entrevistas foi a falta de conhecimento sobre o que é o CMASS:

Porque, de modo geral, não é consultado ao servidor, ao funcionário se ele deseja ir ao conselho, e algumas pessoas não conseguem organizar as suas demandas de trabalho com a demanda do conselho. Então às vezes tem uma participação quantitativa ruim e também qualitativa, porque tem conselheiro que vai, se ele não fosse daria no mesmo, é apenas uma presença física. Tem gente que não entende mesmo o que está fazendo no Conselho, pra que é o Conselho. É uma visão de que é apenas, uma pessoa me perguntou “venha cá, esse Conselho tá aqui só pá ficar olhando as contas do Fundo?”, aí eu falei: “você precisa estudar o que é o Conselho, é um órgão de controle da Política de Assistência, pra além das contas do Fundo, ele pode julgar qualquer coisa da Secretaria de Assistência, tudo que diz respeito a Secretaria, então ele tá lá para controlar, para que as coisas sejam feitas da forma da lei, não do jeito que cada um quer”. E, aí, acho que, assim, como essa pessoa, tem milhões de pessoas, acham que lá é só um espaço. Tem que ter conselho, cria conselho. Você não pode receber dinheiro do Fundo Federal se não tiver conselho. Você tem que ter conselho, fundo e plano. Aí é meio que, pra algumas pessoas é como se fosse protocolar ter essas coisas, eu faço e jogo e seja o que Deus quiser (ENTREVISTA E).

A falta de participação dos conselheiros governamentais acaba prejudicando o funcionamento do Conselho, como por exemplo, no adiamento de votação de parecer em Câmara Técnica de Orçamento e Finanças por falta de quórum:

Por falta de participação e a gente sabe que todos os acontecimentos do Conselho, sejam nas assembleias, sejam nas câmaras técnicas tem que acontecer de forma paritária, Governo e Sociedade Civil. Os dois formam o conselho e, assim, nesse ponto, a gente encontra dificuldades muitas vezes, pra a gente desenvolver as pautas por conta de quórum. Por exemplo, uma câmara técnica, que tivemos que suspendê- la por falta de quórum, era uma que tinha um peso para os dois lados, que era uma que nós iríamos aprovar os recursos aplicáveis para o ano de 2018. Então tinha importância porque se a gente não aprova naquela câmara, que deveria depois ser submetido à assembleia, o município deixaria de receber recursos do fundo federal (ENTREVISTA D).

Os entrevistados ao falarem sobre a atuação dos conselheiros desta gestão pontuaram que existem alguns conselheiros da sociedade civil que se destacam por terem maior conhecimento técnico da Política de Assistência Social, principalmente os do segmento dos trabalhadores, o que contribuiu para mobilizar os demais conselheiros da sociedade civil, melhorar a qualidade técnica dos debates. A participação dos conselheiros governamentais das demais secretarias é muito baixa, um dos motivos pelo qual eles não foram citados na maioria das entrevistas.

Agente tem neste mandato pessoas tecnicamente que são envolvidas com a própria assistência, né? E pessoas comprometidas mesmo com a política. Então, você tem, é um grupo de conselheiros bem interessados, participantes apesar de todos os desafios que é essa relação mesmo da sociedade civil, governo e da política de fazer a execução da política, que não é fácil (ENTREVISTA A).

E a equipe que hoje compõe o conselho, tem algumas referências hoje de conselheiro, que tem puxado muito para fazer os devidos ajustes [...] a gente sempre tivemos uma participação meio que tímida da sociedade civil. E esse mandato agora eu acho que tem mais uma ousadia, mais vontade de fazer com que o poder público olhe de fato para o conselho, como órgão que delibera e que pode fiscalizar ele. Não é fácil, mas está tentando [...] tem uma frase que ela diz, de vez enquanto assim: “para estar na assistência, eu preciso conhecer a assistência”. Então eu acho que essa turma na sociedade civil agora, os mais novos, inclusive conhecem e aí tá fazendo com que a assistência tenha o seu devido reconhecimento (ENTREVISTA B). É. Eu acho que, ao passar do tempo com a gestão houve uma busca de um envolvimento maior de uma preocupação, com o funcionamento do conselho e o monitoramento. A gente ainda tem, muitas carências de funcionamento do processo, mais ainda tem uma série de dificuldades no funcionamento. A gente não tem representação dos usuários no conselho. A gente teve algumas dificuldades com a gestão anterior do CMASS, que não permitiu a inscrição do fórum de usuários e não houve uma busca por incentivar a participação de outras organizações de usuários. Nós só temos duas entidades de trabalhadores, quando deveriam ser quatro, então, as quatro vagas dos titulares suplentes dos usuários e as duas vagas suplentes dos trabalhadores foram remanejadas pelas entidades sócio assistenciais. Então a gente tem um número muito grande de entidades sócio assistenciais, só dois dos trabalhadores e o poder público (ENTREVISTA C).

Eu vejo hoje, um colegiado bastante consciente do seu papel e do papel, sobretudo, do Conselho. Qual é o papel do Conselho dentro do município? Então eu percebo que a gente desmistificou um pouco daquela forma de que era realmente muito vinculada à questão política. E hoje a gente está, eu considero hoje uma gestão assim bem democrática mesmo (ENTREVISTA D).

Eu acho que tem o ganho da participação do trabalhador, chegamos aqui tinha representação, sempre teve, assim, pelo CRESS, Conselho Regional de Serviço Social, mas, hoje, a gente tem o Fórum do Trabalhador, é muito mais direto isso, acho que ainda falta a presença do usuário, esse a gente não conseguiu ainda, vamos ver lá no próximo biênio (ENTREVISTA E).