• Nenhum resultado encontrado

Compreendemos por interacionismo simbólico a abordagem sociológica das relações humanas que considera importante a influência da interação social dos significados bem particulares, trazidos pelo indivíduo à interação, como também os significados particulares que ele obtém a partir dessa interação sob sua interpretação pessoal. Lapassade (2005) afirma que:

O interacionismo simbólico é uma corrente americana das ciências sociais, fundada em Chicago, no início do século XX por G. H. Mead e seu discípulo e sucessor Herbert Blumer que, em 1938, em seu artigo dedicado á psicologia social (esse é o seu título), propôs criar essa disciplina a partir de Mead e de seu conceito de interação simbólica (LAPASSADE, 2005, p. 19).

Para o autor, no centro do pensamento de Mead, encontra-se a ideia principal segundo a qual as pessoas são produtoras de suas próprias ações e significações. Elas vivem em um ambiente material, porém os objetos desse mundo têm uma explicação particular para cada uma, de acordo com os momentos. Nessa compreensão, os estímulos do mundo material produzem reações instintivas. Isso ocorre com signos naturais, que é preciso distinguir de outros signos, que Mead apud Lapassade (2005) define como símbolos significativos. Esses

símbolos são fundamentais às interações entre as pessoas e são, ao mesmo tempo, reflexivamente, produtos dessas interações.

No contexto do interacionalismo simbólico, um símbolo é um estímulo que tem um significado apreendido e um valor para as pessoas, que reagem em função desses significados e valores, e não em função de estimulações físicas que afetam seus órgãos sensoriais. Segundo Lapassade (2005), a linguagem faz parte desses sistemas simbólicos, assim como os gestos.

O conceito de definição da situação, cuja primeira formulação encontra-se em W. I. Thomas (1928), designa o fato de que os significados sociais não são inerentes às instituições ou aos objetos sociais tomados em si mesmos, independentemente dos atores, mas são, ao contrário, atribuídos aos acontecimentos sociais, pelos indivíduos, no decorrer de suas interações (LAPASSADE, 2005, p. 20. Destaque do autor).

Assim, pode-se considerar que essa ideia leva em consideração o fato de que as instituições são criadas pelos membros. Ou para empregar um conceito emprestado de outra escola, a definição da situação é sua instituição.

Ainda segundo o autor, o interacionismo simbólico da escola de Chicago, apoiando-se na fenomenologia, não aceita o modelo de pesquisas quantitativas e os conceitos de causalidade e rigor mensurável das pesquisas experimentais em ciências humanas para estudar o sentido que os atores sociais atribuem aos objetos, pessoas e símbolos com os quais constroem o seu mundo social. Nesse contexto, ele afirma:

A identidade emerge do meio das interações. Ela é o seu produto genético: a criança, no início do seu desenvolvimento, é pura subjetividade. Depois ela aprende progressivamente, a enxergar do ponto de vista do outro, sendo o jogo uma das técnicas essenciais desta socialização. Tal desenvolvimento passa pela mediação do outro generalizado, ideia igualmente central na obra de Mead, em que ela determina esse conjunto dos outros pelo qual minha identidade só é possível se cada um puder nela adotar o ponto de vista comum que esse termo expressa (LAPASSADE, 2005, p.21).

Nessa análise, “A identidade assim construída, permanece frágil, sempre inacabada, sempre a construir e a manter, como as situações” (ibid, p. 21).

Jack Douglas apud Lapassade (2005) ressaltou os pontos em comum e as diferenças entre o interacionismo que ele denomina comportamental e o interacionismo fenomenológico. Para o autor:

Ambos consideram a vida cotidiana como o fundamento da realidade sociológica humana [...]; mas o interacionismo comportamental impõe imediatamente ao mundo cotidiano conceitos organizadores e formas hipotéticas de raciocínio, em vez de tentar descrever e analisar as formas de raciocínio dos atores sociais (JACK DOUGLAS apud LAPASSADE, 2005, p. 21).

Segundo o autor, os microssociólogos interacionistas não esclarecem sua disciplina, como habitualmente é feito, pelo estudo de um nível da sociedade que somente adquiriria sentido se levasse em consideração uma totalidade social; eles insistem, ao contrário, sobre sua autonomia de pleno direito, uma autonomia que é preciso reivindicar, opondo-a à outra sociologia.

É dessa forma que, numa obra dedicada às sociologias da educação, David Blackledge e Barry Hunt apud Lapassade (2005), que pertencem à corrente inglesa do interacionismo simbólico, começam a chamar a atenção para o fato de que, para os defensores das principais abordagens macrossociológicas, os processos educativos só podem ser compreendidos se forem inseridos no contexto da sociedade global.

Conforme Lapassade, essa orientação macrossociológica foi objeto de várias críticas. A criatividade humana é ignorada e passa-se ao largo do que realmente ocorre na vida cotidiana das escolas, que, em compensação, interessa bastante à etnografia interacionista.

Ainda segundo o autor (2005), Hammersley formula, sob forma de perguntas, um determinado número de oposições entre a macro e a microssociologia:

1. Deve-se, na pesquisa sociológica, admitir o determinismo social (como faz a macrossociologia), ou deve-se, ao contrário, levar em consideração a liberdade humana (microssociologia)?

2. A sociologia deve ter como objetivo produzir explicações particulares (macro), ou então deve visar a explicar a vida social em sua complexidade e em todos os detalhes (micro)?

3. É preciso testar a validade das teorias sociológicas, a partir dos dados empíricos (macro), ou deve-se, primeiramente, levar em consideração sua coerência interna (macro)?

4. O sociólogo deve produzir teorias científicas que documentam o que está se passando realmente, as teorias dos membros sendo consideradas unicamente como mitos ou ideologia (micro), ou deve elaborar seu discurso com base nas interpretações propostas pelos membros (micro)?

5. Devem ser interpretados os acontecimentos como produtos de uma sociedade nacional ou internacional (macro), ou é preciso admitir que interpretações válidas podem ser

elaboradas a partir de observações pertinentes a grupos e a organizações sociais de pequenas dimensões (ou mesmo de traços concernentes a uma só pessoa (micro)? (HAMMERSLEY, 1984, apud LAPASSADE, 2005).

David Blackledge e Barry Hunt citados por Lapassade (2005) formulam princípios básicos da microssociologia interacionista. São eles:

6. O levar em conta as atividades cotidianas, que são vistas como aquilo sobre o qual a sociedade em seu conjunto está construída. Assim, o importante, no sistema educativo, é a atividade diária dos docentes, dos alunos, dos administradores e dos inspetores. Caso se queira compreender alguma coisa da educação, é por aí que se deve começar. 7. A liberdade. A atividade cotidiana não é totalmente imposta: há sempre autonomia e

liberdade naquilo que se faz. Não se negam as coerções, e tampouco se diz que o contexto não influencia as condutas, mas deseja-se salientar que as pessoas produzem sua própria atividade, que não é totalmente submetida a determinismos; a vida cotidiana é produzida pelas pessoas que atuam em comum, e estas definem assim seus próprios papéis e seus modelos de ação.

8. A significação (meaning). A noção de “sentido” é complexa e difícil de definir sem ambiguidade. Ela parece incluir, ao mesmo tempo, a ideia de orientação do ato e a ideia de significação.

9. As interações. A atividade cotidiana é raramente solitária: ela é feita, essencialmente, de interações de cada um com os outros, e quando eu dou sentido às minhas ações, atribuo, consequentemente, também um sentido às ações daqueles que me cercam. Em outras palavras: eu interpreto constantemente o comportamento daqueles com quem eu entro em interação.

10. A negociação. Os significados atribuídos pelos atores às próprias ações e aos atos dos outros não são definitivamente estabelecidos, ao contrário, variam incessantemente, são constantemente modificados, de sorte que as interações, que são fundadas sobre essas inquietações, variam também e devem ser renegociadas.

Dessa forma, a importância central concedida por essa orientação microssociológica à questão do sentido dado às ações pelos participantes conduz a levantar, em outros termos, a questão da observação e do trabalho da pesquisa. O interacionismo é um construtivismo. Por

esse motivo, é preciso admitir que toda observação, e não somente a observação etnográfica, é uma construção.

De acordo com Mead apud Macedo (2004), o comportamento humano não é uma questão de resposta direta às atividades dos outros, porém envolve uma resposta às intenções dos outros, não apenas às suas presenças. Estas intenções são transmitidas por meio de gestos que se tornam símbolos, ou seja, possíveis de serem interpretados. Assim, quando os gestos se assumem um sentido comum, quando eles adquirem um elemento linguístico, podem ser designados de símbolos significantes.

Nesse contexto, a relação dos seres humanos entre si surge do desenvolvimento de sua habilidade de responder a seus próprios gestos. Esta habilidade possibilita que diferentes seres humanos respondam da mesma maneira ao mesmo gesto, permitindo compartilhar de experiências a incorporação em si do comportamento. Então, o comportamento é social e não meramente uma resposta aos outros. O ser humano responde a si mesmo da mesma forma que outras pessoas lhe respondem e, ao fazê-lo, imaginativamente compartilha a conduta dos outros. Macedo (2004, p. 101) afirma que “A vida de um grupo humano representa, portanto, um vasto processo de formação, sustentação e transformação de objetos, na medida em que seus sentidos se modificam, modificando o mundo das pessoas”. Para o autor, este entendimento da ação humana se aplica tanto para a ação individual, como para a ação coletiva, e nesse caso, a ação conjunta pode se constituir em objeto de estudo, não perdendo a natureza de ser construída através de um processo interpretativo, quando a coletividade enfrenta situações nas quais age.

Nessa compreensão esses símbolos são necessários às interações entre as pessoas, sendo, simultaneamente, produtos dessas interações. Nesse contexto, um símbolo é um estímulo que tem significação e valor para os sujeitos, que reagem em função desses significados e valores, e não em função de estímulos físicos que afetam os órgãos sensoriais. A linguagem e os gestos fazem parte desses sistemas simbólicos (LAPASSADE, 2005).

Para Herbert Blumer (1969), os indivíduos agem em relação às coisas com fundamento nos significados que eles dão a essas coisas; o significado dessas coisas é derivado de, ou é anterior à interação social que uns têm com outros e com a sociedade; esses significados são controlados e modificados por um processo interpretativo utilizado pelos indivíduos interagindo entre si e com as coisas que elas encontram.

Na concepção de Blumer, as pessoas interagem umas com as outras por meio de interpretação mútua das ações e definição um do outro, em vez de apenas reagir às ações um do outro. Suas respostas não são dadas diretamente às ações um do outro, mas baseadas no significado que eles atribuem a essas ações.

Ademais, pesquisadores do interacionismo simbólico investigam como as pessoas criam significados durante interação social, como elas se apresentam e constroem o próprio ego (ou" identidade"), e como são definidas as situações de co-participação com outros. (BLUMER, 1969, p.1).https://pt.wikipedia.org/wiki/Interacionismo_simbolico. Acesso em 28 de outubro de 2015.

Na concepção de Lapassade (2005), os atores sociais são “condenados” a interpretar sucessivamente o que ocorre no espaço social local onde atuam, e a emitir um significado dos atos dos outros para responder a eles. Essa definição de situação pelos membros está consolidada em sua biografia, na situação em si mesma, na comunicação verbal e não-verbal.

Nessa compreensão, pode-se considerar que essa proposição leva em conta o fato de que as situações são criadas pelos membros.