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Tomando o caráter existencial das investigações qualitativas e inspirado nas elaborações primeiras de Dilthey, J. Ardoino prefere falar em método clínico quando se refere às investigações que lidam com o vivido e as implicações. Para este autor, a especificidade do clínico reside numa dupla abordagem ao mesmo tempo histórico e implicacional da situação investigada. Isto é, os sujeitos estão e são irremediavelmente implicados e situados tanto no tempo quanto no espaço da problemática a ser compreendida (MACEDO, 2004, p. 71-72).

A pesquisa qualitativa, no entanto, trata-se de uma atividade da ciência, que visa a construção da realidade, mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o universo de crenças, valores, significados e outros construtos profundos das relações que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Segundo André (1998), a pesquisa qualitativa tem suas origens em final do século XIX, período em que os pesquisadores sociais começaram a investigar se o método de investigação das ciências físicas e naturais, baseados na perspectiva positivista do conhecimento, permaneceria atuando como modelo para o estudo das questões humanas e sociais. Conforme a autora, Diltthey foi um dos primeiros a fazer esse tipo de investigação e a buscar uma metodologia diferente para as ciências sociais, questionando que os fenômenos humanos e sociais são muito complexos e dinâmicos, o que torna quase impossível o estabelecimento de leis gerais como na física ou na biologia. Nesse contexto, segundo Dilthey apud André (1998), quando se estuda história, o interesse principal é a compreensão de um fato particular e não a sua explicação causal. Ademais, o contexto particular em que acontece o fato é um elemento essencial para a sua compreensão. Assim, com base nessas considerações, Dilthey sugere que a investigação dos problemas sociais utilize como abordagem metodológica a hermenêutica, que se preocupa com a interpretação dos

significados contidos num texto, considerando cada mensagem desse texto e suas inter- relações. Segundo André (2010), Weber também contribuiu de forma importante para a configuração da perspectiva qualitativa de pesquisa ao destacar a compreensão como o objetivo que diferencia a ciência social da ciência física. Para Weber, o cerne das investigações deve se centrar na compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações.

Outros estudiosos das questões humanas e sociais, segundo André (2010), unem-se às ideias de Weber e Dilthey e defendem a perspectiva de conhecimento que se tornou conhecida como idealista-subjetivista. Ao mesmo tempo em que há a defesa de uma nova visão de conhecimento, existe a crítica à concepção positivista de ciência de onde surge um debate que vai se prolongar até o fim dos anos 80, entre o quantitativo e o qualitativo. Não concordando que a realidade seja algo externo ao sujeito, a corrente idealista-subjetivista valoriza a indução e evidencia que fatos e valores estão intimamente relacionados, tornando-se inaceitável uma postura neutra do pesquisador.

É com fundamento nessas concepções que se caracteriza a nova abordagem de pesquisa, denominada de naturalística por alguns ou de qualitativa por outros. Segundo André (2010), naturalística ou naturalista porque não envolve manipulação de variáveis nem tratamento experimental; é o estudo do fenômeno em seu acontecer natural. Qualitativa porque se opõe ao esquema quantitativista de pesquisa, isto é, divide a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente, defendendo um ponto de vista holístico dos fenômenos, ou seja, que leve em consideração todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas. É uma abordagem de pesquisa que tem suas bases teóricas na fenomenologia e compreende uma série de matizes.

É, contudo, a concepção idealista subjetivista ou fenomenológica de conhecimento que dá origem à abordagem qualitativa de pesquisa, na qual estão presentes também as ideias do interacionismo simbólico, da etnometodologia e da etnografia, todas derivadas da fenomenologia. André (2010), faz uma rápida caracterização dessas correntes:

1. A fenomenologia evidencia os aspectos subjetivos de comportamento humano e sugere que é preciso adentrar no universo conceitual dos sujeitos para poder entender como e que tipo de sentido elas dão aos acontecimentos e às interações sociais que ocorrem em sua vida diária. Nessa compreensão, o mundo do sujeito, as suas experiências cotidianas e os significados atribuídos às mesmas são, por isso, os

núcleos de atenção na fenomenologia. Para André (2010), na concepção dos fenomenólogos é o sentido dado a essas experiências que estabelece a realidade. 2. O interacionismo simbólico assume como pressuposto que a experiência humana é

mediada pela interpretação, a qual não ocorre de forma autônoma, porém à proporção que o sujeito interage com o outro. É através das interações sociais do sujeito no seu ambiente de trabalho, lazer, na família, que vão sendo construídas as interpretações, os significados. Como se desenvolve essa visão é que se constitui o objeto de investigação do interacionismo simbólico. Outro ponto importante nessa linha de pensamento é a concepção do self. O self na concepção da autora, é a visão de si mesma que cada pessoa vai criando a partir da interação com os outros. É, nesse sentido, uma construção social, pois o conceito que cada um vai criando sobre si mesmo depende de como ele interpreta as ações e os gestos que lhe são dirigidos pelos outros. Nesse contexto, a forma como cada um percebe a si mesmo é, em parte, função de como os outros o percebem. O interacionalismo simbólico ganha nova força nas décadas de 1970 a 1980 tanto na Inglaterra como na França e nos Estados Unidos, momento em que vários pesquisadores focaram seus interesses para as interações sociais que os indivíduos desenvolvem na sua vida cotidiana.

3. A etnometodologia é outra corrente da sociologia que influenciou a abordagem qualitativa de pesquisa. Opostamente ao que o termo sugere, a etnometoodologia não se refere ao método que o pesquisador utiliza, porém ao campo de investigação. É o estudo de como os indivíduos compreendem e estruturam o seu dia a dia, ou seja, procura descobrir os métodos que as pessoas usam no seu dia a dia para compreender e construir a realidade que as cerca. Seus principais pontos de interesses são os conhecimentos implícitos, as formas de entendimento do senso comum, as práticas cotidianas e as atividades rotineiras que forjam as condutas dos atores sociais. Muito correlato ao interacionismo simbólico, desenvolveu-se na antropologia uma tendência que se tornou conhecida como etnografia. Segundo Spradley apud André (2010), a principal preocupação na etnografia é com o significado que têm as ações e os eventos para as pessoas ou grupos estudados. Alguns desses significados são diretamente expressos pela linguagem, outros são transmitidos indiretamente por meio das ações. Para Spradley, em toda sociedade, as pessoas utilizam sistemas complexos de significado para sistematizar seu comportamento, para entender a sua própria pessoa e os outros e para dar sentido ao mundo em que vivem. Esses sistemas de significado

constituem a sua cultura. Ainda conforme Spradley apud André (2010), a cultura é o conhecimento já adquirido que as pessoas usam para interpretar experiências e gerar comportamento. Nessa compreensão, a cultura abrange o que as pessoas fazem, o que elas sabem e as coisas que elas constroem e usam.

Contudo, é na década de 80 que a abordagem qualitativa tornou-se popular entre os pesquisadores da área de educação, inclusive no Brasil. Segundo André (2010):

Para alguns, a pesquisa qualitativa é a pesquisa fenomenológica (Martins e Bicudo 1989). Para outros, o qualitativo é sinônimo de etnográfico (Trivinos 1987). Para outros ainda, é um termo do tipo guarda-chuva que pode muito bem incluir os estudos clínicos (Bogdan e Biklen 1982). E, no outro extremo, há um sentido bem popularizado de pesquisa qualitativa, identificando-a como aquela que não envolve números, isto é, na qual qualitativo é sinônimo de não quantitativo (ANDRÉ, 2010, p. 23).

Segundo a autora, é comum encontrar trabalhos que explicam como qualitativos simplesmente por não usarem dados numéricos ou por usarem técnicas de coleta consideradas qualitativas, como por exemplo a observação. Por outro lado, é comum também encontrar sob essa denominação uma diversidade de tipos de pesquisa que vão desde os trabalhos descritivos até os estudos históricos, os estudos clínicos ou pesquisação.

Ademais, a pesquisa em Ciências Sociais é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir regularidades em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos contaminem a investigação. Nesse contexto, compreendemos que a pesquisa qualitativa é o conjunto de técnicas que motivam o pesquisador a pensar sobre um tema, objeto ou conceito. Chizzotti (2008, p. 78) a define como sendo “[...] uma designação que abriga correntes de pesquisa muito diferentes. Em resumo, essas correntes se fundamentam em alguns pressupostos contrários ao modelo experimental, adotando métodos e técnicas de pesquisa diferente dos estudos experimentais”. Estas correntes recusam-se a legitimar os conhecimentos por processos quantificáveis que venham a se transformar em leis e explicações gerais.

Assim, a pesquisa qualitativa teve sua origem na ciência antropológica e que os primeiros registros antropológicos de que se tem história foram as anotações de viagens de Heródoto no século V.a.C., que, na perspectiva de conhecer povos e culturas diferentes da sua, procurava descrevê-los minuciosamente. Então, até o século XVIII, a antropologia pouco se desenvolveu. Naquela época, ainda sem o caráter de ciência, figuram as contribuições de cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que procuravam em regiões recém- conhecidas e habitadas por povos exóticos e estranhos.

É importante salientar que os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao princípio que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências. Segundo Goldenberg (1997, p.17), “O fundador do positivismo Augusto Comte, defendia a unidade de todas as ciências e a aplicação da abordagem científica na realidade social humana”. Baseado em critérios de abstração, complexidade e relevância prática, Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em que a matemática ocupava o primeiro lugar, e a sociologia ou física social, o último, precedida, em ordem decrescente, de astronomia, física, química e biologia. Dessa forma, cada ciência dependia do desenvolvimento da qual a precedeu.

Segundo Haguette (1987), a ciência moderna com seus quatro séculos de desenvolvimento, responsável pela evolução material atingida pelas sociedades avançadas do momento, não se revelou capaz de acabar com as desigualdades sociais e os sofrimentos humanos delas consequentes. Na maioria das vezes, ela tem funcionado como mecanismo do poder, como aliada da opressão e coatora das liberdades humanas. Na concepção de Haguette, isso acontece porque, sendo social, “[...] ela representa um processo social como tantos outros, sujeito às vicissitudes das formas de organização societária e aos percalços da influência dos produtores sobre o uso dos seus produtos; apesar de seus ideais de neutralidade e objetividade” (1987, p. 11). Estes ideais refletem a racionalidade humana.

Também é óbvio que a boa-fé e a boa vontade existiram em muitos que lutaram pela geração de um conhecimento mais exato, mais fiel, mais livre de erros. Para a autora, Bacon representa um marco histórico na fundamentação e instrumentalização do modo de fazer ciência. É dele a convicção de que o conhecimento só é possível através da mediação dos sentidos, sendo a consciência ou a mente uma tábula rasa na qual são impressos os dados do real. A esta concepção convencionou-se a chamar empirismo, porque pretende condicionar o conhecimento à aproximação direta com o real através de regras rígidas que limitariam as tentativas metafísicas de explicação da realidade. Portanto, o método indutivo, que conduziria o investigador à montagem gradual da coleção de casos passados pelo efeito da triagem que os identificaria como iguais e desiguais, permitir-lhe-ia generalizar sobre o real ao perceber a ocorrência constante dos fenômenos.

Todavia, com Descartes, o método empirista foi contestado com o objetivo de restaurar o papel da razão e da reflexão de certa forma relegadas a segundo plano na concepção baconiana: a razão precede a convivência dos sentidos com o dado empírico, uma vez que o homem foi “[...] agraciado por Deus com o aparato que lhe confere o poder de ter

ideias a priori, ou seja, prescindindo de contatos diretos com o real através dos sentidos” (HAGUETTE, 1987, p. 12). Nessa análise, certas ideias são inatas. Acreditando nesse princípio, Descartes desenvolveu com perfeição as técnicas da reflexão e, em consequência, a descuidar daquela aproximação do investigador com o real, pré-requisito do conhecimento definido por Bacon e Locke. Dessa forma, a maneira apropriada de fazer generalizações sobre a realidade seria pelo método dedutivo: por meio da razão descobrem-se princípios gerais sobre a realidade que serão confirmados mediante, também, o conhecimento de dados particulares. A crença na razão e no poder de conhecer proporcionou, na história das ideias, a rubricação da visão cartesiana de racionalismo.

Percebe-se, pois, que a questão principal do confronto entre empirismo e racionalismo residia na disputa sobre quem melhor garante o domínio do real: a razão ou os sentidos, o que, consequentemente, conduz a uma ponderação maior ou menor alocada pelos pensadores à necessidade de uma aproximação maior ou menor com o real em consequência, também, de crenças divergentes sobre a própria constituição do homem enquanto pensante. O problema era, pois, de ordem ontológica (HAGUETTE, 1987, p. 12).

Até o século XVIII, as questões epistemológicas parecem se situar em campo neutro, em que as preocupações com a objetividade do conhecimento ocupam o maior espaço.

Porém, no século XIX segundo Haguette (1987), ao se inaugurar a individualização das ciências sociais, instaura-se um problema político dentro da metodologia em evidência: o positivismo de Comte, seguidor do empirismo, e a dialética marxista, desdobramento da dialética hegeliana, bem próxima do racionalismo cartesiano enquanto defensora da prioridade da razão sobre os sentidos, apesar de introduzir relevantes modificações nas concepções sobre o processo de pensamento: o conceito de totalidade, de história e contradição. No entanto, a diferença entre os dois consistia no fato de que Hegel dava ênfase à teoria, ou contemplação do mundo, ao passo que Marx preocupava-se com a práxis. Nesse período, a dialética não estava politizada: esta se politiza com Marx, que, não satisfeito com as aplicações etéreas da dialética hegeliana, realiza uma inclinação brutal, pondo-a de cabeça para baixo, isto é, afasta-a do campo das ideias e aplica-a ao processo de desenvolvimento social, o materialismo histórico e o materialismo dialético.

Esta inflexão descomedida iniciada por Marx facilitou um encontro da dialética hegeliana com o real e, consequentemente, com o postulado empirista de que o conhecimento não pode prescindir dos sentidos, afastando-a do princípio cartesiano das ideias inatas. Assim, o materialismo histórico, pedra angular do marxismo, defende que não é a consciência do homem que determina sua existência, porém, ao contrário, é sua existência social que

determina sua consciência. Nesse contexto, o materialismo histórico, ao enfatizar a determinação das condições materiais de existência sobre a consciência do homem, traz implícita a concepção de que o contato com o real, trabalho produtivo ou intelectual, é fator “[...] sine qua non do conhecimento, seja este conhecimento consubstanciado sob a forma de uma “falsa consciência” ou de uma produção científica que pretende reconstruir e explicar este real.” Isso ocorre para a dialética marxista e para o materialismo histórico, porque o concreto real é a base do conhecimento. (HAGUETTE, 1987, p. 13).

Nessa análise, enquanto o materialismo histórico representa o veio teórico que explica o andamento do real, ou da sociedade, a dialética representa o método de abordagem deste real, esforçando-se por compreender o problema da historicidade humana, por analisar a prática efetiva do ser humano empírico e por fazer a crítica das ideologias. Em resumo, a dialética diz respeito à compreensão dos processos que comandam a análise científica da sociedade a partir da luta de classes e da prática coletiva pela emancipação do homem, contra a exploração, em favor da igualdade social Haguette (1987).

A pesquisa investiga o mundo em que o homem vive e o próprio homem. Para esta atividade, o investigador recorre à observação e à reflexão que faz sobre os problemas que enfrenta, e à experiência passada e atual dos homens na solução destes problemas, a fim de munir-se dos instrumentos mais adequados à sua ação e intervir no mundo para construí-lo adequado à sua vida (CHIZZOTTI, 2008, p. 11). Nessa compreensão, os estudiosos que partilham da abordagem qualitativa em pesquisa se opõem, geralmente, ao pressuposto experimental que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no padrão de estudo das ciências da natureza. Para o autor, esses estudiosos não aceitam que as ciências humanas e sociais devam conduzir pelo padrão das ciências da natureza e possam legitimar seus conhecimentos por processos quantificáveis que venham a se transformar, por técnicas de mensuração, em leis e explicações gerais. Declaram, em oposição aos experimentalistas, que as ciências humanas possuem a sua especificidade, o estudo do comportamento humano e social, que as tornam ciências específicas, com sua metodologia própria. Observam também que adotar modelos estritamente experimentais leva a generalizações errôneas em ciências humanas, fundamentam-se em um simplismo conceitual que não apreende um campo científico e ocultam, sob pretexto de um modelo único, o controle ideológico das pesquisas. Contra o método experimental, estes estudiosos optam pelo método clínico e pelo método- antropológico, que captam os aspectos específicos dos dados e acontecimentos no contexto em que ocorrem.

Outro princípio que separa a pesquisa qualitativa dos estudos experimentais está no modo como apreende e legitima os conhecimentos. A abordagem qualitativa parte do princípio de que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, ou seja, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, tornando-se um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.

A pesquisa qualitativa não pode ser o produto de um observador posto fora das significações que os indivíduos atribuem aos seus atos. Para Macedo (2010, p. 15), fundamentando os pressupostos das pesquisas qualitativas, “A fenomenologia invoca o caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade da verdade; por conseguinte, não há absolutismo de qualquer perspectiva”. A fenomenologia reforça os aspectos subjetivos do comportamento humano e proclama que é necessário adentrar no universo dos sujeitos para compreender como e que tipo de sentido eles dão aos acontecimentos e às interações sociais que ocorrem em sua vida diária. Segundo Lapassade (2005, p. 38): “Schutz descreve o mundo social tal como é considerado por aqueles que nele vivem. Fundamenta essa descrição na relação do mundo - vida em geral. Esse mundo apresenta-se ao membro como”:

1. um dado objetivo, preexistente a seu nascimento e sobrevivendo à sua morte; 2. dispondo de uma história independente da do membro;

3. tendo uma estrutura recalcitrante com a qual o membro deve contar, se quiser que seus projetos cheguem ao seu término;

4. provido de uma estrutura de ordem;

5. apresentando-se, em suma, da mesma maneira para mim e para o outro, caso sejam deixados de lado os efeitos de perspectiva ligados às diferenças temporais, espaciais e biográficas.

Segundo Lapassade, essas teses que a fenomenologia descreve, como a relação do sujeito que conhece e atua sobre os objetos que o cercam, valem também para a relação do mundo social. Na concepção do autor, o mundo social tem uma constituição objetiva que não é evidente para todo mundo. Nesse contexto, o fato-mundo é mundo da mesma forma que o mundo natural e, como este, apresenta-se como estrutura resistente aos projetos do membro. Mais nomeadamente, as dimensões concernentes ao mundo social para a situação presente são real ou parcialmente descritas de forma minuciosa por meio de processos ou receitas. Sobre essas diferentes correntes, André afirma:

Essas diferentes correntes, no entanto, estão ainda no processo de integrar seus fundamentos teóricos com os avanços metodológicos. Por isso o que se tem a dizer sobre elas, no momento, é que podem ser consideradas dentro da abordagem qualitativa, no sentido de que não se enquadrariam numa perspectiva quantitativista/positivista, mas é preciso discutir mais suas peculiaridades, suas filiações teóricas e seus fundamentos epistemológicos e de que forma se articulam às questões metodológicas (ANDRÉ, 1998, p. 22).

A abordagem qualitativa é uma ferramenta que possibilita ao investigador um grau de interação com a situação em estudo, permitindo-lhe responder ativamente às circunstâncias que o cercam, modificando suas técnicas de coleta, caso necessário, fazendo-lhe rever novas questões que orientam a pesquisa, revendo toda metodologia no desenvolver do trabalho. Para André (1998, p. 29), “[...] o pesquisador aproxima-se de pessoas, situações, locais, eventos