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Este capítulo apresenta as escolhas metodológicas da pesquisa. Inicialmente apresentamos os principais testes utilizados para o que nos propomos a fazer, em seguida, os testes aplicados por nós, bem como o tratamento estatístico dado ao corpus.

3.1 MEDIÇÃO DE ATITUDES

Se pretendermos medir atitudes, é necessário que tenhamos formas eficientemente estruturadas para a realização de tal fim. Exporemos, aqui, alguns testes apontados pela literatura para a medição dos três componentes das atitudes – cognitivo, comportamental e afetivo.

Escalas de atitude são as formas mais comumente usadas para medir atitudes. Como já foi dito, não sendo as atitudes diretamente observáveis, pressupomos medi-las através de crenças, opiniões e avaliações auto-descritivas dos sujeitos à determinada entidade concreta ou abstrata.

Segundo Lima ([1993] 2004), Thurstone (1928) propôs uma escala que caracteriza a atitude do sujeito por meio do seu posicionamento diante de proposições elaboradas previamente. É necessário selecionar frases objetivas para que os sujeitos assinalem as com que concordam. Os passos seguidos na construção dessa escala estão sintetizados no quadro 1.

Quadro 1: Passos na construção de uma escala de Thurstone.

1. Obter (através dos meios de comunicação social, da literatura, etc.) um conjunto de cerca de 100 frases que manifestem opiniões acerca do objecto de atitude e que tenham as seguintes características: sejam curtas e claras e que, no seu conjunto, manifestem todos os posicionamentos possíveis face ao objecto de atitude, desde o muito favorável até ao muito desfavorável.

2. Proceder à avaliação de cada uma destas frases por um conjunto de sujeitos (100 ou uma amostra representativa da população à qual vai ser aplicada a escala), numa escala de 11 pontos. Os sujeitos, designados por juízes, deverão esquecer a sua posição pessoal e indicar, para cada frase, se ela representa uma atitude favorável ou desfavorável face ao objecto de atitude, lembrando-se sempre que a distância entre cada ponto da escala é igual (1 = posição completamente desfavorável; 11 = posição completamente favorável).

3. Calcular o valor de escala de cada item através do cálculo de uma medida de tendência central (média ou mediana) a partir das pontuações dadas pelos juízes.

4. Seleccionar as frases que constituirão a futura escala de atitudes (normalmente entre 20 e 30 frases) de acordo com os seguintes critérios:

aqueles em que há menor consenso entre os juízes quanto á sua classificação;

 critério de irrelevância: devem ser excluídos os itens que não apresentem variação entre sujeitos com atitudes diferenciadas, o que quererá dizer que não é um item opinativo ou que é um item irrelevante para o objecto de atitude que estamos a medir;  critério de sensibilidade: os itens finais da escala deverão situar-se entre o 1 e o 11,

cobrindo igualmente toda a gama de atitudes possíveis face ao objecto.

5. Apresentar aos sujeitos as frases constantes da versão final da escala, pedindo que assinalem aquelas com que estão completamente de acordo.

6. Calcular o valor individual da atitude através da média dos valores de escala dos itens assinalados pelo sujeito.

Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 191).

Esse tipo de escala, porém, está sendo pouco usada atualmente, devido a certas dificuldades, como a morosidade na sua construção e a subjetividade na organização dos valores dos itens.

Pouco depois da escala de Thurstone ser apresentada, Likert propõe, em 1932, outra escala. Nesta, são elaboradas frases que manifestem apenas dois tipos de atitude: um favorável e um desfavorável em relação a uma entidade. A partir das frases dadas, o próprio sujeito aponta seu posicionamento. Suas etapas da construção são expressas no quadro 2.

Quadro 2: Passos na construção de uma escala de Likert.

1. Obter (através dos meios de comunicação social, da literatura, etc.) um conjunto de frases que manifestem opiniões acerca do objeto da atitude, e seleccionar aquelas que manifestem claramente uma posição favorável ou desfavorável face ao objecto de atitude.

2. 2. Pedir a uma amostra representativa da população à qual vai ser aplicada a escala para se posicionar face a cada uma das frases escolhidas, numa escala com cinco posições:

«Concordo em absoluto» «Concordo parcialmente» «Não concordo nem discordo» «Discordo em parte»

«Discordo em absoluto».

3. Eliminar as frases sem variação, ou em que o posicionamento da amostra não se assemelhe a uma distribuição normal.

4. Cotar as respostas às frases favoráveis atribuindo o valor 5 à resposta «concordo em absoluto» e o valor 1 à resposta «discordo em absoluto». Cotar as frases desfavoráveis relativamente ao objecto de atitude da forma invertida: atribuir o valor 1 à resposta «concordo em absoluto» e o valor 5 à resposta «discordo em absoluto». A cotação final é encontrada através da soma dos valores atribuídos às respostas a todos as frases seleccionadas.

5. Proceder a uma análise de consistência interna da escala através da correlação entre cada item e o score final. Eliminar os itens que apresentem fracas correlações, uma vez que mediriam aspectos marginais da atitude que procuramos avaliar. Sujeitar a versão final da escala a um teste de fiabilidade psicométrico. O mais comum é o coeficiente Alfa de Cronbach (Nunnally, 1978) que, variando entre 0 e +1, procura avaliar a correlação entre a presente escala e uma escala hipotética com o mesmo número de itens:

kr

1 + (k – 1) r

em que k é o número de itens da escala, r é a correlação média entre os itens.

6. Calcular o valor individual da atitude através da soma dos valores dos itens que a constituem.

Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 194).

Essa escala é mais rápida de produzir e aplicar, tornando-se, assim, mais popular na medição de atitudes.

Há, também, para esse fim, as escalas de diferenciadores semânticos, surgidos nos fins dos anos 50 na Universidade de Illinois segundo Lima ([1993] 2004). Essas escalas possuem dimensões bipolares representadas por adjetivos antagônicos e é formada de 7 pontos, que variam de -3 a + 3. Essa técnica acabou por privilegiar o caráter avaliativo da atitude, podendo inclusive ser usada para avaliar qualquer objeto de atitude com uma mesma escala; porém, não permite, por exemplo, o esclarecimento das crenças que sustentam a atitude. Um exemplo dessa escala se encontra no quadro 03.

Quadro 3: Exemplo de escala tipo diferenciador semântico.

Pretendemos saber sobre a polícia. Encontra a seguir uma série de adjectivos opostos, e pedimos-lhe para assinalar a sua posição nos espaços que estão entre os dois. Use a casa do meio quando achar que nenhum dos adjectivos se aplica, ou se a sua posição for média:

POLÍCIA Boa ___:___:___:___:___:___:___ Má Simpática ___:___:___:___:___:___:___ Antipática Honesta ___:___:___:___:___:___:___ Desonesta Justa ___:___:___:___:___:___:___ Injusta Agradável ___:___:___:___:___:___:___ Desagradável Prestável ___:___:___:___:___:___:___ Cruel +3 : +2 : +1 : 0 : -1 : -2 : -3

Nota: A cotação da escala é pela soma das respostas dadas, de acordo com a pontuação indicada na linha de baixo. Valores positivos indicam atitudes favoráveis face à polícia, enquanto que valores negativos indicam o contrário.

Extraído de Lima ([1993] 2004, p. 197).

Guttman (1994 apud Lima [1993] 2004), partindo do princípio de que as atitudes podem se situar num continuum, elaborou uma escala que permite testar esse pressuposto. As escalas de Guttman ou Escalas Cumulativas são construídas como as

bonecas russas1, de tal modo que seus itens se encaixam uns dentro dos outros. Isso implica que, ao aceitar um item, o sujeito aceitará também os de nível inferior. Um exemplo dessa técnica é a escala de distancia social de Bogardus (1993, apud Lima [1993] 2004), exemplificada no quadro 04.

Quadro 4: Exemplo de escala tipo Guttman.

Extraído de: Lima ([1993] 2004, p. 198).

Outra técnica utilizada para medir atitudes utiliza apenas uma pergunta em vez de uma escala. Essa técnica foi usada por Lima, Vala e Monteiro (1989) na busca por avaliar atitudes de uma empresa em relação a seu próprio trabalho. Para isso, utilizaram uma única pergunta cuja resposta seria analisada por meio de uma medida resumo (1= extremamente insatisfeito a 7= extremamente satisfeito).

Os testes de atitude linguística são fundamentais para que possamos compreender melhor as influências do falante à própria língua e às mudanças nela

1

Boneca russa ou matrioska é um brinquedo artesanal, tradicional da Rússia, que reúne uma série de bonecas de tamanhos variados , umas menores que as outras, de tal forma que uma encaixe dentro da outra.

ocorridas. Essas influências podem se dar tanto no curso da realização de uma mudança, quanto na retroação da mesma. Além disso, como os estudantes de Letras são professores em formação, suas atitudes podem influenciar no comportamento linguístico e social de seus alunos.

Diante das possibilidades de testes apresentadas acima, elaboramos o nosso. Segue abaixo. Ressaltamos que, nesta pesquisa, não analisamos as questões discursivas apresentadas no questionário por limitações de tempo, o que pode ser feito em pesquisa posterior.

Questionário de pesquisa2

Ressaltamos que não buscamos respostas certas ou erradas, mas, sim, as suas impressões, opiniões e/ou sentimentos em relação às questões abordadas; sendo assim, pedimos que seja o mais sincero e que não troque opiniões com outros participantes da pesquisa.

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