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Internacional Nursing Minimum Data Set e a Classificação Internacional para a Prática

1.3 DOCUMENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

1.3.2 Internacional Nursing Minimum Data Set e a Classificação Internacional para a Prática

[...] eu tenho buscado, em todos os locais, as informações; mas, em raras ocasiões eu consigo obter os registros hospitalares possíveis de serem usados para comparações [...].

(Florence Nightingale, 1859)

Florence Nightingale também se preocupava com a problemática da documentação profissional. Em seus escritos discorreu sobre a impossibilidade de comparar os registros hospitalares. Possivelmente, esta impossibilidade estava intimamente relacionada à descontinuidade e à falta de padronização do registro da prática profissional.

Atualmente, vivencia-se um cenário em que os cuidados de saúde transformam-se rapidamente, exigindo a existência de dados confiáveis para tomada de decisão. Embora existam muitas coletas sistemáticas de dados de saúde, os dados de enfermagem, na maioria das vezes, estão ausentes nos sistemas de informação (TURTIAINEN et al., 2000), contribuindo, desse modo, para a invisibilidade da Enfermagem nos sistemas de informação.

Várias iniciativas vêm sendo adotadas para descrever sistematicamente os cuidados de enfermagem e seus resultados alcançados, utilizando esta informação para evidenciar a contribuição da Enfermagem nos diversos cenários de atenção às necessidades de saúde de indivíduos, famílias e coletividades.

Para apoiar esse esforço, tem sido aceitos como ferramenta para documentação os conjuntos de dados mínimos de enfermagem, que são definidos como "[...] um conjunto mínimo de dados de itens de informação com definições uniformes e categorias relativas à dimensão específica da Enfermagem, que responda às necessidades de informação de múltiplos usuários de dados no sistema de saúde." (WERLEY et al., 1991. p. 422).

A discussão acerca da padronização dos dados mínimos para caracterização do trabalho da Enfermagem iniciou-se em 1985, quando um grupo de pesquisadores e professores dos Estados Unidos da América desenvolveu um conjunto de dados específicos da Enfermagem para aplicação em cinco locais de atuação: hospitais, ambulatórios, domicílios, comunidades e instituições de longa permanência (HOBBS, 2011). Este conjunto de dados, denominado Nursing Minimim Data Set (NMDS), representa uma coleção de dados a serem

coletados em todos os clientes que recebem cuidados de enfermagem, gerando informações sobre a prática de enfermagem.

O NMDS proposto por Werley et al. (1991) é organizado em três categorias específicas, assim denominadas: elementos de cuidado de Enfermagem, elementos demográficos dos clientes e elementos do serviço. A figura 1 mostra os itens que compõem cada uma dessas categorias.

Figura 1 - Itens das categorias do Nursing Miminum Data Set (NMDS)

Fonte: Werley; Lang (1988); Werley et al. (1991).

A determinação de um NMDS para Enfermagem pode gerar benefícios, dentre os quais se destacam: descrever os problemas da clientela atendida em diversos contextos clínicos, áreas geográficas e temporais; identificar diagnósticos de enfermagem; determinar as intervenções ou ações de enfermagem tomadas; observar os resultados dos clientes sensíveis às mesmas; e avaliar os recursos usados pelos profissionais de enfermagem na prestação de cuidados (WERLEY et al., 1991).

Vários países, como Estados Unidos da América, Bélgica, Canadá, Austrália e países da Europa têm utilizado amplamente a proposta dos dados mínimos de enfermagem (WERLEY et al. 1991; SERMEUS; DELESIE, 1994; SERMEUS et al., 2005; ANDERSON; HANNAH, 1993; GLIDDON; WEAVER, 1994; MORTENSEN, 1996). Especificamente no contexto europeu, o Internacional Council Nursing (ICN) juntamente com a International

Medical Informatics Association Nursing Informatics Special Interest Group (IMIA NI-SIG)

e outros organismos internacionais de normalização tem desenvolvido o projeto i-NMDS (International Nursing Minimum Data Set).

O i-NMDS é um projeto global focado na coordenação da coleta e análise de dados (ou de informação) em enfermagem relevantes para apoiar a descrição, o estudo e o aperfeiçoamento da prática de enfermagem. Com base no trabalho de Werley e Lang, o projeto i-NMDS identificou um conjunto de itens agrupados em três categorias de elementos de dados: ambiente onde é prestado o cuidado de enfermagem, dados demográficos do

cliente e dados acerca dos cuidados de enfermagem (CENTER FOR NURSING

INFORMATICS, 2012).

A categoria de dados do local/ambiente de cuidados compreende um total de seis itens: localização da agência; tipo de posse (pública ou privada); sistema de pagamento; tipo de serviço da clínica; pessoal de cuidado (número, gênero, treinamento e educação, horas de trabalho por tipo de profissional); e proporção de pacientes por profissional. A categoria relacionada aos dados demográficos do cliente compreende um total de sete itens: início e final do episódio de cuidado; país de residência; tipo de serviço clínico; situação de alta no atendimento; ano de nascimento; gênero; e razão para admissão. A categoria dos itens de elementos do cuidado de enfermagem deriva do processo de enfermagem. Estão incluídos aqui os dados de diagnóstico, resultado e intervenção de enfermagem e os dados de referentes à intensidade do cuidado de enfermagem, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Itens que compõem as categorias do i-NMDS.

Fonte: Center for Nursing Informatics, 2012.

Como estratégia para documentação da prática profissional, o uso do i-NMDS permite a inclusão de dados essenciais a serem coletados ao longo da prestação de cuidados.

Além disso, permite estruturar e padronizar a coleta de informações para examinar os problemas de saúde e recursos específicos de enfermagem. Esses dados, uma vez coletados, processados e analisados, geram informações que permitem descrever, comparar e analisar a prática de enfermagem (CENTER FOR NURSING INFORMATICS, 2012).

O estabelecimento dos dados de um NMDS precisa atender os seguintes critérios: os elementos devem ser identificados como variáveis do que se deseja sobre a informação; cada variável necessita ser definida precisamente (o que é e o que não é); e para a descrição dos valores possíveis para cada variável devem ser utilizadas terminologias padronizadas (GOOSSEN et al., 1998).

No cenário brasileiro, estudos publicados abordando os NMDS ainda são incipientes. No entanto, é possível vislumbrar propostas, ainda tímidas, envolvendo o i-NMDS na área de saúde ocupacional (SILVEIRA; MARIN, 2006a; SILVEIRA; MARIN, 2006b), saúde da mulher (MARIN; BARBIERI; BARROS, 2010) e saúde do idoso (RIBEIRO; MARIN, 2009), como ferramenta auxiliar na documentação manual ou informatizada da prática profissional.

No contexto da atenção obstétrica, a tomada de decisão sobre os cuidados de enfermagem é possível a partir de um conjunto de dados e variáveis registrados no prontuário do cliente, gerando informações necessárias para o planejamento individualizado da assistência de enfermagem. Porém, a coleta de numerosos dados e sua realização de modo incompleto não permitem a obtenção de informações úteis para avaliação da cliente, dificultando o planejamento da assistência. Neste sentido, é fundamental determinar e padronizar o conjunto de dados mínimos que forneçam a informação suficiente e necessária na avaliação do cliente (RIBEIRO; MARIN, 2009).

Neste âmbito de atuação, não há uma padronização do registro de informação nas diversas especialidades de atenção à saúde, interferindo, desse modo, na coleta de informações essenciais a cada área. Neste sentido, surgem questionamentos como: Quais dados devem ser coletados? Quais elementos de dados caracterizam a prática de Enfermagem Obstétrica? Quais dados são indispensáveis para o planejamento da assistência mulher no puerpério imediato? Quais dados devem ser registrados para gerar informação útil e significativa? Para responder a estes questionamentos é fundamental que os enfermeiros definam quais informações devem ser registradas e favorecem o planejamento da assistência e a comunicação de sua prática.

Para comunicação da prática profissional, além da coleta e registro de dados essenciais, é fundamental a utilização de uma linguagem padronizada, permitindo que a mesma seja identificada e compreendida por profissionais de enfermagem e outros

profissionais de saúde, em diferentes realidades. No cenário brasileiro, ainda é comum o registro sem a adoção de um sistema uniformizado, que tenha por base uma Classificação. Ou seja, fazem-se o diagnóstico, a intervenção e a avaliação de enfermagem, etapas estas do processo de enfermagem, mas sem sua descrição e registro de forma padronizada (LUCENA; BARROS, 2005).

Os dados de enfermagem só podem ser comparados se os enfermeiros utilizarem uma linguagem padronizada para descrever sua prática profissional. Os diversos NMDS existentes no mundo utilizam diferentes vocabulários para comunicar os cuidados de enfermagem e seus resultados. Dentre eles destacam-se a NANDA-I (diagnósticos de enfermagem), Nursing Intervention Classification – NIC (intervenções de enfermagem);

Nursing Outcomes Classificacion – NOC (resultados de enfermagem), Clinical Care Classification – CCC (diagnóstico, resultados e intervenções de enfermagem), Omaha

(problemas, resultados e intervenções de enfermagem) e a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem - CIPE® (diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem), as quais atendem a uma taxonomia padrão e possibilitam sua implementação na prática clínica (LUCENA; BARROS, 2005; MÜLLER-STAUB, 2009).

Particularmente o Projeto i-NMDS, com base nos trabalhos já em curso em diversos países, destina-se a construir e apoiar mais uma iniciativa do CIE – a CIPE®, como um sistema de linguagem padronizada que possibilita a descrição e documentação da prática profissional, compatível com o processamento computacional, visando à melhoria do corpo de conhecimentos da enfermagem (CENTER FOR NURSING INFORMATICS, 2012; MARIN, 2009). Além de uniformizar a linguagem, facilitar a comunicação entre profissionais, propiciar e assegurar a continuidade do cuidado (PAANS et al., 2010; SARANTO; KINNUNEN, 2009).

A CIPE® foi concebida em 1989 em resposta à necessidade de avanço da Enfermagem mundial, tendo em vista a insuficiência dos sistemas de classificação existentes para descrever todos os contextos de sua atuação. Assim, essa ferramenta desenvolveu-se a partir de um conjunto inicial de conceitos de enfermagem (versões alfa, beta e beta 2), para uma terminologia que reflete e representa a prática de enfermagem e que pode ser utilizada para documentar seus elementos essenciais: os diagnósticos, as intervenções de enfermagem e os resultados dos clientes (CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIROS, 2011).

Desde sua primeira versão (alfa), publicada em 1996, a CIPE® vem sofrendo modificações visando seu aperfeiçoamento, a partir das contribuições dos enfermeiros de todo o mundo, empenhados com a construção de um sistema de classificação que descreva e

caracterize a prática profissional de enfermagem. Desde a versão 1.0, publicada no Brasil em 2007, o CIE tem usado recursos da ciência de informação para garantir uma terminologia tecnologicamente mais forte. A sua última versão (CIPE® versão 2011) agrega 3.190 conceitos, incluindo 485 conceitos novos, cuja maioria é composta de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem, previamente coordenados, oriundos dos catálogos desenvolvidos na área, e disponível para download na plataforma da web do ICN (NÓBREGA, 2011).

Gradativamente, a CIPE® vem sendo aceita como ferramenta essencial para documentação da prática de Enfermagem. Em 2008, essa terminologia passou a integrar a família de Classificações Internacionais da Organização Mundial de Saúde (CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIROS, 2011). No entanto, para sua implementação na prática é necessário que novos estudos sejam realizados com a finalidade de promover o desenvolvimento e o aprimoramento deste sistema de classificação (TRUPPEL et al., 2009).

2 MÉTODO

Nesta seção, são abordados os passos metodológicos para construção do instrumento para documentação da assistência de enfermagem no puerpério imediato.

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