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1.3 DOCUMENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

1.3.1 Processo de Enfermagem

A necessidade de documentar a prática de enfermagem estimulou a busca de meios para sistematizar os cuidados. Primeiramente, surgiram os planos de cuidados, que evoluíram até surgir o que se conhece atualmente como processo de enfermagem (NÓBREGA et al., 2010). A concepção de processo foi empregada por Florence sobre a necessidade de se fazer julgamento acerca das situações observadas (ALBURQUERQUE; NÓBREGA; GARCIA, 2006). No entanto, o termo foi empregado pela primeira vez em uma conferência realizada em 1955, quando Lidia Hall afirmou que a Enfermagem é um processo de quatro proposições - enfermagem ao paciente, para o paciente, pelo paciente e com o paciente (NÓBREGA; SILVA, 2008).

Ao longo das décadas seguintes, o processo de enfermagem foi idealizado de diversas formas. Em 1961, esse termo era utilizado para explicar o comportamento do paciente, as respostas do paciente e do enfermeiro. Em 1970, passou a ser descrito em três etapas: levantamento, intervenção e avaliação, em que a fase do diagnóstico de enfermagem está relacionada aos dados coletados (NÓBREGA; SILVA, 2008).

No Brasil, em 1979, Horta introduz o conceito de processo de enfermagem, como um método de trabalho de cunho científico para organização dos cuidados de enfermagem em seis etapas (HORTA, 2011). Atualmente, de acordo com a Resolução 358/2009, o processo de enfermagem é descrito em cinco etapas, a saber: coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009).

Apesar da variedade de abordagens ao longo das décadas, o processo de enfermagem surgiu da necessidade de dar visibilidade a Enfermagem, evidenciando os benefícios e

resultados dos cuidados de enfermagem prestados ao ser humano. De acordo com Possari (2005), seu surgimento marcou o início da caminhada da Enfermagem para adoção de uma prática baseada em conhecimentos científicos em detrimento de ações de cunho caritativo, intuitivo e empírico.

É um instrumento metodológico que orienta tanto o cuidado profissional de Enfermagem quanto à documentação dessa prática, consistindo numa abordagem de resolução de problemas deliberada para atender às necessidades de cuidado, com respaldo técnico- científico (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009; SMELTZER; BARE, 2010). É uma ferramenta para tomada de decisão acerca do cuidado e para a organização das condições necessárias a sua implementação (ALBURQUERQUE; NÓBREGA; GARCIA, 2006). Baseia-se na evidência racional para concessão de cuidados de enfermagem (OPAS, 2001), por isso, representa a essência da prática profissional (PAUL; REEVES, 2000; REZENDE; GAIZINSKI, 2008).

Na concepção de Horta (2011), o processo concebe uma metodologia de trabalho fundamentada no método científico que deve ser desenvolvida pelo enfermeiro para atuar eficientemente na assistência às necessidades humanas do ser humano. É caracterizada pelo inter-relacionamento e dinamismo de seis passos. São eles: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, prescrição de enfermagem, evolução e prognóstico.

O primeiro passo corresponde ao histórico de enfermagem, também denominado coleta de dados. Consiste em um roteiro sistematizado para o levantamento de dados significativos para o enfermeiro identificar os problemas do paciente (HORTA, 2011). Apesar de corresponder ao primeiro passo na assistência de enfermagem, deve ser compreendido como um processo deliberado, sistemático e contínuo e não apenas quando o cliente é admitido nos serviços de enfermagem (CONSELHO FEDERAL DA ENFERMAGEM, 2009).

Apenas a coleta de dados é insuficiente para o planejamento da assistência de enfermagem. Pois os dados coletados na etapa anterior, após analisados e avaliados levam ao segundo passo do processo de cuidar, o diagnóstico de enfermagem. Nesta etapa, o enfermeiro identifica as necessidades do ser humano que precisa de atendimento e determina o grau de dependência do atendimento de enfermagem, em natureza e extensão (HORTA, 2011). Em outras palavras, essa identificação é fruto de um processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados, que culmina com a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem. Esses correspondem a um título atribuído pelo enfermeiro,

quando toma uma decisão acerca de um fenômeno que demanda intervenções de enfermagem (CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIROS, 2007).

A identificação dos diagnósticos de enfermagem direciona a assistência de enfermagem para as necessidades de cada cliente e facilita a escolha das ações e intervenções mais adequadas (LOPES, 2000; CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009). Por isso, exige habilidade e competência do enfermeiro para descrever os problemas desaúde atuais ou potenciais e para o julgamento clínico, a fim de solucioná-los com as intervenções de enfermagem (SALOMÃO; AZEVEDO, 2009). É nessa etapa do processo que os enfermeiros utilizam, de forma crítica e criteriosa, os conhecimentos específicos de sua formação (MANGUEIRA; FONTES, 2008). Nesta perspectiva, o diagnóstico de enfermagem não pode ser vislumbrado apenas como estruturador da assistência de enfermagem, mas também como organizador da ciência Enfermagem (CARPENITO-MOYET, 2011).

O terceiro passo do processo de cuidar, denominado plano assistencial, corresponde à determinação global da assistência de enfermagem que o ser humano deve receber diante do diagnóstico estabelecido (HORTA, 2011). Para a teórica, o planejamento da assistência sistematiza os termos do conceito de assistir em enfermagem: execução de cuidados (F), ajuda (A), orientação (O), supervisão (S) e encaminhamento (E). A assistência é planejada pelo enfermeiro a partir da determinação dos resultados que se espera alcançar e das ações ou intervenções de enfermagem para modificar os diagnósticos de enfermagem identificados na etapa anterior (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009).

O quarto passo relaciona-se a prescrição de enfermagem, isto é, a implementação do plano assistencial pelo roteiro diário ou aprazado que coordena a ação da equipe de enfermagem na execução dos cuidados de enfermagem adequados ao atendimento das necessidades básicas e específicas do ser humano (HORTA, 2011). De acordo com o COFEN (2009), o quarto passo do processo de enfermagem corresponde à realização de ações ou intervenções determinadas na etapa de planejamento.

A evolução de enfermagem, o quinto passo do processo de cuidar, é o relato diário (ou aprazado) das mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano, enquanto estiver sob assistência profissional. É por meio da evolução que é possível avaliar a resposta do ser humano à assistência de enfermagem implementada (HORTA, 2011). É um processo deliberado, sistemático e contínuo de verificação de mudanças nas respostas do ser humano aos cuidados prestados para a determinação dos resultados alcançados. Também possibilita a verificação da necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do processo de enfermagem (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009).

A sexta e última etapa denomina-se prognóstico de enfermagem, onde sucede a estimativa da capacidade do ser humano em atender suas necessidades básicas alteradas após a implementação do plano assistencial. Para isto, o enfermeiro baseia-se nos dados fornecidos pela evolução de enfermagem (HORTA, 2011).

O processo de enfermagem representa a essência e o instrumento da prática profissional, fruto de uma atividade intelectual deliberada e sistemática para organizar os cuidados de enfermagem, ajudando o enfermeiro na tomada de decisão, na previsão e avaliação das consequências desses cuidados. Para sua aplicação efetiva na prática, o enfermeiro deve ter habilidades, conhecimentos e atividades tais como: a observação, a comunicação, a aplicação do método científico e dos princípios científicos, a destreza manual, o planejamento, a avaliação, a criatividade, o trabalho em equipe e a utilização dos recursos da comunidade (HORTA, 2011).

Além disso, precisa entender e aplicar os conceitos e teorias apropriadas da ciência Enfermagem e das ciências biológicas, físicas, humanas e comportamentais, pois estes justificam a tomada de decisão, o julgamento, os relacionamentos interpessoais e as ações, estruturando, desse modo, o cuidado de enfermagem (PAUL; REEVES, 2000). Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (2009), o processo de enfermagem deve basear-se em um suporte teórico que oriente a coleta de dados, o estabelecimento de diagnósticos e planejamento das ações ou intervenções de enfermagem e forneça a base para a avaliação dos resultados alcançados.

Tecendo considerações acerca do processo de enfermagem, Hermida (2004) o cita como método pelo qual as teorias de enfermagem são aplicadas na prática assistencial. E, como tal, deve ser seguido com intuito de alcançar os objetivos desejados em relação à assistência de enfermagem, tendo em vista o modelo assistencial adotado e a especialidade a qual está sendo dirigida.

Na perspectiva do modelo teórico de Horta (2011), a coleta de dados está direcionada à investigação das necessidades básicas do ser humano. A partir da análise desses dados, identificam-se as NHB afetadas que demandam atuação profissional. Ao planejar a assistência de enfermagem, o enfermeiro prescreve as intervenções de enfermagem para atender essas necessidades. Os resultados obtidos a partir dessa assistência permitem avaliar se as necessidades foram ou não satisfeitas.

A literatura internacional e nacional consagrou o desenvolvimento do processo de enfermagem em cinco etapas inter-relacionadas e dinâmicas, que são subdividas apenas em caráter didático (ALFARO-LEFRÈVE, 2010; CARPENITO-MOYET, 2011; PAUL;

REEVES, 2000). Das seis etapas estabelecidas por Horta, a fase denominada prognóstico de enfermagem não é aplicável à realidade brasileira, até porque existem mecanismos legais que preconizam a sua execução em cinco etapas, independente do modelo teórico adotado (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2002; 2009).

Vários autores têm abordado o processo de enfermagem como orientador da documentação da prática profissional, pois reflete a assistência prestada (ANGERAMI; MENDES; PEDRAZZANI, 2003; ALBURQUERQUE; NÓBREGA; GARCIA, 2006). Por meio do registro do processo de enfermagem, a assistência pode ser avaliada, continuada e qualificada. Além disso, o registro do processo favorece a auditoria dos serviços de enfermagem, fomenta a pesquisa, e dá visibilidade à contribuição da Enfermagem na atenção à saúde de indivíduos, famílias e coletividades.

Na concepção de Alburquerque, Nóbrega e Garcia (2009), a documentação do processo de enfermagem permite a avaliação do cuidado prestado e da própria prática profissional, além de substanciar a responsabilidade legal sobre processos e resultados do cuidado. Os dados provenientes da documentação podem fomentar pesquisas a fim de identificar as melhores práticas, desenvolver e testar modelos de cuidado, contribuindo para organização do conhecimento da profissão (CRUZ, 1997; McCORMICK; JONES, 1998).

Como já discutido anteriormente, muitos profissionais de enfermagem tem subestimado o registro da assistência, deixando de comunicar o planejamento de sua assistência e os resultados obtidos. Suas intervenções são descritas de forma acrítica, e muitas das vezes, deixam de ser determinadas, contribuindo para invisibilidade de seu trabalho (ALBURQUERQUE; NÓBREGA; GARCIA, 2006).

Nascimento et al. (2008) salientam que o registro do processo de enfermagem é um respaldo seguro que garante a continuidade/complementaridade multiprofissional, além de promover uma aproximação enfermeiro – usuário, enfermeiro – equipe multiprofissional, proporcionado maior autonomia profissional.

Deste modo, é importante a produção de conhecimento no tocante a experiências profissionais nas quais o processo de enfermagem tenha sido aplicado de acordo com a resolução vigente (CAVALCANTE et al., 2011) e que ampliem a visão da SAE como forma legal, sistemática e científica de prestar assistência de enfermagem a indivíduos, famílias e coletividades.

1.3.2 Internacional Nursing Minimum Data Set e a Classificação Internacional para a Prática

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