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O INTERNAMENTO COMPULSIVO A ACTUAÇÃO (POSSÍVEL) DO MINISTÉRIO PÚBLICO FACE AO REGIME DA LEI Nº 36/98, DE 24-07 ENQUADRAMENTO JURÍDICO, PRÁTICA E GESTÃO

INTERNAMENTO COMPULSIVO 4 O internamento compulsivo A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07.

4. O INTERNAMENTO COMPULSIVO A ACTUAÇÃO (POSSÍVEL) DO MINISTÉRIO PÚBLICO FACE AO REGIME DA LEI Nº 36/98, DE 24-07 ENQUADRAMENTO JURÍDICO, PRÁTICA E GESTÃO

PROCESSUAL Sara Garrido I. Introdução II. Objectivos III. Resumo 1. O internamento compulsivo 1.1. O conceito de Saúde Mental

1.2. Privação da liberdade versus internamento compulsivo, à luz da convenção europeia dos direitos do homem e da constituição

1.3. A Lei n.º 36/98, de 24 de Julho: enquadramento jurídico, doutrinal e jurisprudencial

1.3.1. Da Lei n.º 2118, de 3 de Abril de 1963 à Lei n.º 36/98, de 24 de Julho (Lei de Saúde Mental) 1.3.2. Âmbito de aplicação da Lei de Saúde Mental

1.3.3. Pressupostos 1.3.4. Legitimidade

1.3.5. O Internamento Compulsivo Ordinário 1.3.6. O Internamento Compulsivo de Urgência

1.3.7. O Internamento Compulsivo, a medida de segurança de internamento de inimputáveis e o internamento preventivo, previsto no Código de Processo Penal

1.3.8. A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24 de Julho (LSM) IV. Hiperligações e referências bibliográficas

“Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais. Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas. Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta. Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar”.

Almada Negreiros I. Introdução

Numa intervenção proferida no colóquio “A Lei de saúde mental e o internamento compulsivo”, na cidade de Coimbra, em 1999, Cunha Rodrigues expôs o seguinte caso:

“R.M. funcionário administrativo do quadro do Ultramar, começou a ser tratado de sintomas do foro neuropsiquiátrico em 1957. Em 12 de Maio de 1966, a Junta de Saúde do Ultramar diagnostica-lhe “psiconeurose” e decide interná-lo numa casa de saúde para doentes mentais. Passados cinco anos, é mandado aposentar, (…), continuando internado, por conta do Estado. Mantém-se, até hoje, na mesma casa de saúde, com diagnósticos que, em 1966, são de “esquizofrenia”, em 1967, de “psiconeurose”, (…) em 1973, de “esquizofrenia crónica”. Está, assim, internado há mais de trinta e dois anos. (…) Neste momento, encontra-se deprimido e duvida da sua capacidade de regressar à sociedade. Os médicos também admitem que será difícil adaptar-se a viver fora do ambiente hospitalar”.

INTERNAMENTO COMPULSIVO 4.O internamento compulsivo. A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual Ao longo da história, o doente mental foi sempre encarado com desconfiança e como um ser humano inferior, sem qualquer perspectiva de recuperação e sem expectativa de reintegração na sociedade. Era, por isso, colocado à margem da mesma.

O “louco” era visto como um elemento perturbador, pelo que o seu internamento era imperativo para a sã convivência e segurança comunitárias.

Com a evolução da psiquiatria e dos cuidados com a saúde mental, e, consequentemente, dos próprios direitos humanos, iniciou-se uma mudança de paradigma quanto à forma como o doente mental é encarado. Hoje é possível diagnosticar e compreender o que o levou a um estado de desequilíbrio, e sobretudo, é possível delinear o caminho para a sua recuperação, porque afinal, nenhum ser humano pode viver eternamente confinado às paredes brancas de uma ala psiquiátrica, sob pena do direito não cumprir um dos seus escopos mais importantes: o da humanização.

Apesar da erosão do tempo e com ele, da própria sociedade, ainda continua a ser lugar- comum a dificuldade em lidar com a patologia mental e com a diferença que a mesma comporta. Tudo o que é diverso desta normalidade relativa indefinível causa estranheza e insegurança.

Foi neste quadro que se desenhou a Lei nº 36/98 de 24 de Julho, a qual se apresentou como instrumento normativo que visava a alteração de procedimentos na forma como as instâncias, quer médica, quer judiciária, lidavam com os doentes afectados por problemas do foro psiquiátrico. Sendo de difícil mediação a relação entre a situação patológica dos doentes mentais e a sua liberdade, tal diploma pretendeu estabelecer garantias substantivas e procedimentais para o seu internamento.

Nunca é despiciendo relembrar, ainda mais no momento histórico que atravessamos, no qual os problemas do foro mental continuam a avultar, que os destinatários desta lei são cidadãos doentes, carecidos de tratamento, pelo que qualquer tipo de reacção social contra os mesmos deve ser enquadrada, necessária, adequada e proporcional.

É desta lei que aqui trataremos. Numa breve abordagem, destacaremos as questões que tivemos por essenciais, quer teóricas, quer práticas, com especial enfoque no concreto papel que o Ministério Público desempenha ao abrigo da mesma.

Estando geneticamente ligado à defesa dos interesses dos mais vulneráveis, a intervenção do Ministério Público nesta matéria tem suma relevância, porquanto não se esgota, conforme se verá, na legitimidade activa para requerer e intervir no processo de internamento compulsivo, sendo também garante da legalidade do mesmo.

INTERNAMENTO COMPULSIVO 4.O internamento compulsivo. A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

II. Objectivos

Com a presente exposição pretende-se fazer uma breve análise teórica e prática sobre o internamento compulsivo, destacando-se as questões mais comummente suscitadas nos tribunais, de forma a tornar-se um verdadeiro instrumento de trabalho.

Além disso, visa abordar a prática e gestão processual da perspectiva do Ministério Público. Nessa medida, o explanado ao longo deste trabalho destina-se, essencialmente, aos magistrados do Ministério Público. Porém, entendemos que pode revestir interesse para os demais profissionais envolvidos neste tipo de procedimento judicial.

Esperamos que, a final, os objectivos que nos propusemos tratar sejam alcançados e que o trabalho em causa cumpra a sua função.

III. Resumo

A Lei n.º 36/98, de 24 de Julho (Lei de Saúde Mental) resultou da longa caminhada legislativa para a criação de um quadro jurídico que estabelecesse o regime do internamento compulsivo. Porém foi mais longe, estipulando ainda, os princípios gerais da política de saúde mental. Nesta senda, na primeira parte do presente trabalho, analisaremos, então, o conceito de saúde mental e o internamento compulsivo à luz da CEDH e da Constituição.

Numa segunda parte, atentaremos o concreto regime jurídico da Lei n.º 36/98, de 24 de Julho, realçando quais os seus destinatários, os pressupostos para a sua aplicação e quem tem legitimidade para requerer o internamento compulsivo. Além disso, faremos uma breve distinção entre o internamento compulsivo, a medida de segurança de internamento e o internamento preventivo.

Por último, abordaremos, com especial enfoque, o papel do Ministério Público ao longo de todo o processo de internamento compulsivo.

1. O Internamento Compulsivo