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INTERNAMENTO COMPULSIVO 4 O internamento compulsivo A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07.

1. O Internamento Compulsivo O Conceito de Saúde Mental

1.2. Privação da liberdade versus Internamento Compulsivo, à luz da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e da Constituição

1.3.5. O Internamento Compulsivo Ordinário a) Âmbito de aplicação

O internamento compulsivo ordinário é regulado pelos artigos 12.º e ss, da LSM, podendo ser decretado no caso de anomalia psíquica grave que leve o portador a pôr em perigo bens jurídicos, de relevante valor, próprios ou alheio, de natureza pessoal ou patrimonial (artigo 12.º, n.º 1, da LSM), ou quando, não possuindo o portador discernimento necessário para avaliar o sentido e o alcance do consentimento, a ausência de tratamento deteriore de forma acentuada o seu estado (artigo 12.º, n.º 2, da LSM).

De acordo com o artigo 8.º, da LSM, consubstanciando o internamento compulsivo uma restrição de direitos fundamentais, para que seja decretado, deve atender-se aos princípios da necessidade, adequação e proibição do excesso já enunciados.

35 Os legais representantes do menor serão os seus progenitores, no âmbito do exercício das responsabilidades

parentais ou o seu tutor, em alguma das situações previstas no artigo 1921.º do Código Civil. Acresce que, o pedido de internamento compulsivo afigura-se uma questão de particular importância, pelo que não se encontrando um dos progenitores inibido do exercício das responsabilidades parentais, nos termos do artigo 1915.º do Código Civil, exige-se o comum acordo de ambos, conforme previsto no artigo 1906.º, n.º 1, do mesmo diploma.

Acresce que, no caso de menor de 14 anos, entende-se que caso os progenitores estejam de acordo sobre a necessidade de internamento, não terão legitimidade para o requerer o internamento compulsivo por falta de interesse em agir, uma vez que podem solicitar o internamento voluntário, face à presunção legal do menor para consentir estabelecida no artigo 7.º, alínea b), da LSM, a sua eventual oposição ao mesmo não releva juridicamente – cfr. neste sentido António João Latas e Fernando Vieira, in “Notas e comentários à Lei de Saúde Mental”, página 98.

36 Têm legitimidade para requerer o acompanhamento as pessoas a que alude o artigo 141.º, n.º 1, do Código Civil. 37 Nos termos do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 82/2009, de 02 de Abril, que regulamenta a Lei de Bases da Saúde, as

autoridades de saúde pública são o Director-Geral da Saúde, delegados regionais de saúde, delegados de saúde regionais adjuntos, delegados de saúde coordenadores e delegados de saúde.

INTERNAMENTO COMPULSIVO 4.O internamento compulsivo. A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual Assim, o internamento compulsivo só pode ser decretado quando for a única forma de garantir a submissão a tratamento do interessado e finda logo que cessem os pressupostos que lhe deram causa (artigo 8.º, n.º 1, da LSM).

Ademais, tem que ser proporcional ao grau de perigo do bem jurídico em causa (artigo 8.º, n.º 2, da LSM), sendo as restrições aos direitos fundamentais as estritamente necessárias e adequadas à efectividade do tratamento e à segurança e normalidade do estabelecimento (artigo 8.º, n.º 4, da LSM).

Para garantia da observância de tais princípios, prevê o artigo 7.º, alínea a) e 13.º e ss, da LSM, o internamento compulsivo só pode ser decretado em processo judicial, de forma a serem asseguradas ao internando, de acordo com o artigo 10.º, da LSM, todas as garantias de defesa.

b) Formalismo do requerimento e competência territorial

O processo inicia-se por um requerimento, nos termos do artigo 14.º, n.º 1, da LSM, apresentado por escrito, sem formalidades especiais, devendo conter a descrição dos factos que fundamentam a pretensão do requerente e, sempre que possível, nos termos do n.º 2 daquele dispositivo, ser instruído com elementos que possam contribuir para a decisão do juiz, nomeadamente relatórios clínico-psiquiátricos e psicossociais.

O requerimento é dirigido à secção local de competência especializada em matéria criminal do tribunal judicial da comarca da residência do internado, ou caso não exista, à de competência genérica, nos termos do artigo 30.º, n.º 1 e 2, da LSM.

c)

d) Tramitação subsequente

Recebido o requerimento, o juiz notifica o internando, informando-o dos direitos e deveres processuais que lhe assistem, previstos no artigo 10.º da LSM, nomeando-lhe ainda, um defensor oficioso, cuja intervenção cessa, caso venha a constituir mandatário judicial, nos termos dos artigos 10.º e 15.º, n.º 1, da LSM.

Seguidamente, são ainda notificados para requererem o que tiverem por conveniente, no prazo de 5 dias, o defensor ou o mandatário judicial, se entretanto for constituído, e o familiar mais próximo do internando, que com ele conviva, ou a pessoa que consigo viva, em condições análogas à dos cônjuges, nos termos do artigo 15.º, n.º 2, da LSM. Além disso, é aberta vista ao Ministério Público para os mesmos fins, de acordo com o n.º 3 de tal dispositivo.

e) Instrução

Os actos de instrução do procedimento de internamento compulsivo não urgente consistem, obrigatoriamente, na avaliação clínico-psiquiátrica do internando que, para o efeito, será notificado para estar presente. A sua presença poderá ainda, ser acautelada com a eventual emissão de mandado judicial de condução, e ainda nas diligências que, oficiosamente ou a

INTERNAMENTO COMPULSIVO 4.O internamento compulsivo. A actuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual requerimento, o juiz entenda necessárias, tudo conforme previsto nos artigos 16.º, n.ºs 1 e 2, 13.º, n.ºs 2 e 3, 12.º, n.ºs 1 e 2, e 17.º, n.º 3, todos da LSM.

A avaliação clínico-psiquiátrica, é deferida, em regra, aos serviços oficiais de assistência psiquiátrica da área de residência do internando, ou, excepcionalmente, ao serviço de psiquiatria forense do Instituto de Medicina Legal da respectiva circunscrição, devendo ser realizada por dois psiquiatras, no prazo máximo de 15 dias, findo o qual o respectivo relatório terá de ser enviado ao tribunal, num prazo máximo de 7 dias, nos termos do artigo 17.º, n.ºs 1, 2, 3, 4 e 5, da LSM.

Refira-se ainda, se houver discordância entre os psiquiatras que efectuaram a primeira avaliação clínico-psiquiátrica, apresentando cada um o respectivo relatório, é admissível a realização de uma segunda avaliação, a cargo de outros psiquiatras, conforme disposto no artigo 18.º, n.º 3, da LSM.

f) Sessão de produção conjunta de prova

Após receber o relatório de avaliação clínico-psiquiátrica, o juiz designa data para a sessão de prova conjunta, sendo convocados para a mesma o defensor do internando, o Ministério Público, o internando, o requerente e quaisquer outras pessoas cuja audição se repute oportuna, nos termos do artigo 18.º, n.º s 1 e 2, da LSM.

É contudo, obrigatória a presença na mesma do defensor do internando e do Ministério Público, de acordo com o artigo 19.º, n.º 1, da LSM.

g) Decisão

Finda a sessão conjunta de prova e feitas as alegações sumárias por parte do defensor e do Ministério Público, o juiz profere de imediato, ou se o procedimento revestir complexidade, no prazo máximo de 5 dias, decisão fundamentada, a qual será sempre notificada ao internando e ao requerente, se ausentes. Em tal decisão é identificada a pessoa a internar, as razões clinicas e o diagnóstico que fundamentam o internamento, mais sendo determinada a apresentação do internando no serviço de saúde mental mais próximo, e emitido o competente mandado de condução, nos termos do artigo 19.º, n.ºs 2 e 3, do artigo 20.º, n.ºs 1, 2 e 3 e 21.º, n.ºs 1 e 2, todos da LSM.

1.3.6. O Internamento Compulsivo de Urgência