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INTERNAMENTO COMPULSIVO 5 O internamento compulsivo A atuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07.

1. O Internamento Compulsivo

1.4. O Internamento Compulsivo na Comarca de Santarém, em Portugal e na Europa

A título de curiosidade, e por considerarmos que se torna uma mais-valia para quem posteriormente proceder à leitura do presente escrito, bem como aproveitando o facto de nos encontrarmos a realizar a 2.ª Fase de Formação do 33.º Curso de Formação de Magistrados do Ministério Público na Comarca de Santarém, tomamos a liberdade de perceber qual a realidade com que o Tribunal Judicial da Comarca de Santarém se depara ao nível da presente temática, tendo feito um levantamento das situações de internamento compulsivo, ocorridas na comarca, desde Janeiro de 2016 até Abril do presente ano.

INTERNAMENTO COMPULSIVO 5.O internamento compulsivo. A atuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

E nesse sentido, fomos confrontados com o seguinte: Unidade Orgânica N.º Total de

Processos Ano da Autuação Decisão Final

Abrantes 17 2016 = 2

2017 = 7 2018 = 6 2019 = 2

Findo por outros motivos = 1 Recebido com decisão final = 2 Procedência/Decretamento total = 8 Improcedência/Não decretamento = 2 Em curso = 4 Almeirim 10 2016 = 4 2017 = 3 2018 = 3 2019 = 0

Findo por outros motivos = 4 Recebido com decisão final = 0

Procedência/Decretamento total = 4 Improcedência/Não decretamento = 2 Em curso = 0 Benavente 30 2016 = 6 2017 = 9 2018 = 11 2019 = 4

Findo por outros motivos = 11 Recebido com decisão final = 2

Procedência/Decretamento total = 9 Improcedência/Não decretamento = 6 Em curso = 2 Cartaxo 11 2016 = 4 2017 = 4 2018 = 3 2019 = 0

Findo por outros motivos = 2 Recebido com decisão final = 1

Procedência/Decretamento total = 4 Improcedência/Não decretamento = 1 Em curso = 3 Coruche 12 2016 = 4 2017 = 4 2018 = 2 2019 = 2

Findo por outros motivos = 6 Recebido com decisão final = 0

Procedência/Decretamento total = 6 Improcedência/Não decretamento = 0 Em curso = 0 Entroncamento 36 2016 = 10 2017 = 14 2018 = 10 2019 = 2

Findo por outros motivos = 26 Recebido com decisão final = 0

Procedência/Decretamento total = 8 Improcedência/Não decretamento = 1 Em curso = 1 Ourém 33 2016 = 7 2017 = 16 2018 = 10 2019 = 0

Findo por outros motivos = 11 Recebido com decisão final = 14

Procedência/Decretamento total = 7 Improcedência/Não decretamento = 1 Em curso = 0 Rio Maior 13 2016 = 2 2017 = 5 2018 = 4 2019 = 2

Findo por outros motivos = 6 Recebido com decisão final = 2

Procedência/Decretamento total = 4 Improcedência/Não decretamento = 0 Em curso = 1 Santarém 72 2016 = 15 2017 = 25 2018 = 25 2019 = 7

Findo por outros motivos = 16 Recebido com decisão final = 0

Procedência/Decretamento total = 26 Improcedência/Não decretamento = 4 Em curso = 26 Torres Novas 53 2016 = 18 2017 = 10 2018 = 20 2019 = 5

Findo por outros motivos = 38 Recebido com decisão final = 0

Procedência/Decretamento total = 5 Improcedência/Não decretamento = 7 Em curso = 3

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Tomar 142 2016 = 37

2017 = 42 2018 = 50 2019 = 13

Findo por outros motivos = 4 Recebido com decisão final = 9 Procedência/Decretamento total = 127 Improcedência/Não decretamento = 2 Em curso = 0 TOTAL 429 2016 = 109 2017 = 139 2018 = 144 2019 = 37

Findo por outros motivos = 125 Recebido com decisão final = 30 Procedência/Decretamento total = 208 Improcedência/Não decretamento = 26 Em curso = 40

Origem: Unidade Central do núcleo de Santarém do Tribunal Judicial da Comarca de Santarém

Após análise atenta e detalhada da tabela supra, facilmente se conclui que os anos de 2017 e 2018 foram os anos em que se registou um aumento do número de processos de internamento compulsivo na comarca, sendo Tomar a unidade orgânica onde este tipo de processos ocorreu com maior incidência (142 processos, num universo de 429), o que representa cerca de 33,1% do total de internamentos na comarca, seguido de Santarém (72 processos ou 16,7%), Torres Novas (53 processos ou 12,4%) e Entroncamento (36 processos ou 8,4%), o que não surpreende, uma vez que são as cidades que possuem uma maior densidade populacional.

Porém, e tendo por base os dados fornecidos pelos censos de 2011, verifica-se que, pese embora, seja a cidade de Santarém a que tem o maior número de habitantes (cerca de 62.200), na prática, é em Tomar que se regista uma maior incidência de processos desta natureza, verificando-se uma procedência/decretamento total de 127 internamentos, o que significa que 0,3% dos seus habitantes (num universo de 40.667 residentes) estão sob alçada do internamento compulsivo.

Todavia, apesar de ser um número baixo, está perfeitamente dentro da média nacional de internamentos compulsivos, que conforme já foi referido, se encontra nos 10%.

Gostaríamos também de salientar que, contrariamente ao expectável, porquanto a capital de distrito é Santarém, e nesta cidade situa-se o “Hospital Distrital de Santarém, EPE”, com a correspondente unidade de psiquiatria, o maior número de processos não corre naquele tribunal, comparativamente com os números registados em Torres Novas e Tomar. Todavia, facilmente se poderá encontrar uma explicação para essa situação, designadamente, porque a unidade de psiquiatria que abarca os tribunais da zona norte da Comarca se encontra sediada na cidade de Tomar, facto esse que contribuiu para um número elevado do número de processos desta espécie.

Tendo em conta os dados exíguos acerca desta temática em Portugal, fomos forçados a recorrer aos artigos resultantes de investigações científicas em Hospitais Psiquiátricos. E nesse sentido, apurou-se que é consensual o aumento progressivo que se tem verificado nos internamentos compulsivos ao longo dos anos a nível nacional, sendo de mencionar que é o Hospital Júlio de Matos, aquele que reúne a percentagem de internamentos compulsivos mais

INTERNAMENTO COMPULSIVO 5.O internamento compulsivo. A atuação (possível) do Ministério Público face ao regime da Lei n.º 36/98, de 24-07. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual significativa: em 1999 verificaram- se 94 internamentos compulsivos (5,53%), número que aumentou até 268 (15,31%) em 2007 (CORREIA & ALMEIDA, 2012).

Ainda assim, é de referir que, em relação à média europeia, Portugal mantém a média mais baixa de internamentos compulsivos. Isto poderá dever-se ao facto de Portugal ser o país europeu com a aplicação mais recente de uma legislação relativa ao internamento compulsivo (LOUREIRO et al., 2004, cit in CORREIA & ALMEIDA, 2012).

Das investigações realizadas entre 1999 e 2007 e entre 2008 e 2010, resulta que os doentes internados compulsivamente são maioritariamente homens solteiros, encontrando-se distribuídos por todas as faixas etárias, ainda que com predomínio da terceira, quarta e quinta décadas de vida.

Apresentam ainda, como nível de escolaridade mais comum, o 3.º ciclo e o ensino secundário. Por último, segundo um estudo realizado por STEINERT e LEPPING (2009), foi possível constatar

que, a nível dos países europeus, as restrições legais para a aplicação do internamento compulsivo são significativamente superiores nos países da Europa Central e Europa Ocidental, quando comparadas com as de países da Europa de Leste e Turquia, em que a regulação legal a este nível se revela bastante parca.