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“...simplesmente os alunos para navegar na Internet não significam que de fato esteja acontecendo aprendizagem. No hiperespaço da Web, na Internet, os estudantes estão expostos a um imenso volume de informação, em que grande parte do material disponível não tem foco na instrução (educação).” (Bittencourt,1999, p.23 ).

Segundo Bittencourt (1999), a Internet proporciona novos rumos e novas maneiras de integrar educandos e educadores num ambiente de mútua aprendizagem e desenvolvimento intelectual. A rede hipertextual proposta por Lévy (1993) descreve a rede de interconexões na qual o conhecimento se encontra distribuído, como uma analogia da Internet. As tecnologias baseadas na Internet podem disseminar os recursos de ensino-aprendizagem, ao levar a informação de uma forma contínua, em tempo real (transmissão síncrona) ou de forma flexível, de acordo com a disponibilidade de tempo (transmissão assíncrona). Diferentemente de outras inovações tecnológicas para a educação surgidas nos últimos anos, a Internet: rompe as barreiras geográficas de espaço e tempo; permite o compartilhamento de informações em tempo real e apóia cooperação e comunicação, inclusive em tempo real.

“Além de ser um veículo fácil e barato para fornecer lições, a Internet torna possível criar comunidades dinâmicas de aprendizagem nas quais os participantes podem fazer perguntas e trocar idéias. Os ambientes de aprendizagem disponíveis por meio de tecnologias de telecomunicações podem, em breve, equiparar-se a um grau de interatividade anteriormente disponível apenas em situações de aprendizagem face a face”.(Heide e Stilborne, 2000, p.277). Heide e Stilborne (2000), sintetizam as mudanças nos modelos de aprendizagem advindas da incorporação de tecnologias como a Internet e suas implicações para os alunos. Esta síntese é apresentada no quadro 1.

Quadro 1: Novos modelos de aprendizagem

Modelo Antigo

Modelo Novo

Implicações para os Alunos

Centrado no

Professor Centrado no Aluno Os alunos são investidos do poder de aprendizes ativos.

Absorção Passiva

Participação do Aluno

A motivação do aluno é aprimorada.

Trabalho Individual

Equipe de aprendizagem

A equipe constrói habilidades que são desenvolvidas: o aprendizado é aprimorado e compartilhado.

Modelo Antigo

Modelo Novo

Implicações para os Alunos

Professor como

Especialista

Professor como Guia

As estruturas de aprendizagem são mais adaptadas as rápidas

mudanças do mundo.

Estático Dinâmico

Os recursos de aprendizagem (livros, base de conhecimento existente) são substituídos por um link on-line a um mundo real. Os recursos podem ser adaptados as necessidades imediatas de aprendizagem.

Aprendizado pré- determinado

Aprender a aprender Desenvolvimento de habilidades para a área de informação. Fonte Heide e Stilborne (2000)

Adaptando a caracterização de Ellsworth (1994) para o uso da Internet na educação, as principais características da educação a distância via Internet são:

• Requisitos quanto à velocidade – a rede necessita transferir volumes de informação em um tempo compatível com as necessidades de professores e alunos;

• Independência de tempo – informações são compostas, enviadas e utilizadas a qualquer momento;

• Independência de espaço – informações podem ser obtidas independentemente da localização geográfica de professores e alunos;

• Comunicação síncrona – interação entre educador-educando e educando-educando ocorre em tempo real, de forma similar a um diálogo em que os interlocutores estão presentes fisicamente;

• Comunicação assíncrona – interação entre educador-educando e educando-educando ocorre sem que os participantes estejam envolvidos na comunicação no mesmo instante, de forma similar à comunicação através de cartas;

• Aprendizado linear – informações apresentadas de forma seqüencial e seriadas;

• Aprendizado não-linear – informações apresentadas sem a existência de hierarquia e controle no fluxo de apresentação. Enquanto infra-estrutura de comunicação, a Internet, ainda apresenta problemas em muitas regiões do Brasil sendo que sua plena utilização no País não é uma realidade. As principais dificuldades estão relacionadas: à velocidade de transmissão e recepção de dados; à disponibilidade de acesso dedicado – conexão permanente; ao número de linhas telefônicas disponíveis e ao número de lares, estabelecimentos comerciais e instituições de ensino – principalmente as públicas de ensino fundamental – que possuem computador e conexão telefônica. (Bauer, 1997)

Quanto ao ferramental disponível na Internet para a comunicação, encontramos conjuntos Cliente/Servidor capazes de prover comunicação do tipo um para um (comunicação privada), um para muitos (dispersão), e muitos para muitos (discussão em grupo). Este ferramental geralmente está dividido em duas grandes categorias: síncronas (funcionam em tempo real) e assíncronas (que funcionam em tempo flexível, conforme disponibilidade do usuário), apresentadas no quadro 2. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Quadro 2: Principais ferramentas disponíveis na internet

Modo Texto

Multimídia

Assíncrona

•Correio eletrônico (e-mail);

•Listas de discussão (“Listserv”); •Grupos de Interesse (“Newsgroups”); •FAQ (inserido sobre a WWW);

•WWW

(World Wide Web);

Síncrona

•IRC (“Internet Relay Chat”);

•Áudio-conferência e Videoconferência; •”Whiteboard”;

Em linhas gerais, pode-se descrever estas ferramentas como:

• Correio Eletrônico (e-mail) – troca de correspondência entre usuários através de servidores que armazenam as mensagens recebidas em um sistema análogo às caixas postais dos correios. Cada usuário é identificado por um nome único no seu servidor de correio eletrônico e para completar seu endereço é incluída a identificação do servidor que armazena suas mensagens. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Com o correio eletrônico é possível estabelecer comunicação assíncrona com qualquer outra pessoa que possua um endereço eletrônico (e-mail). Para Bittencourt (1999), a utilização de correio eletrônico em sistemas de educação a distância pode contribuir bastante para o processo de gerenciamento, assegurando a comunicação de dupla via, entre instrutores, administradores e alunos, bem como instrumento de interação entre os alunos envolvidos no processo.

• FAQ (Frequently Asked Questions) - organiza uma coleção de informações dentro de uma mesma base de dados. Trata-se de um conceito que é implementado através da ferramenta WWW e permite a criação e manutenção de uma base de dados relativa a um conteúdo específico que vai se expandindo à medida que ocorre a interação dos usuários com a base de dados. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Funciona como um banco de perguntas e respostas que, utilizado na educação, pode gerar um espaço de interação de acesso assíncrono onde se realizam estudos de casos. Os alunos podem fazer perguntas e comentários e o professor pode responder, orientar ou tecer comentários aos alunos, e estas perguntas/respostas são compartilhadas por todos.

• Listas de Discussão (Listserv) – uma adaptação no uso do e-mail, que permite a um grupo de pessoas comunicar-se e debater sobre assuntos de interesse comum. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000) A comunicação se dá de um para muitos, pois quanto um membro da lista envia uma mensagem para ela, o servidor que oferece a ferramenta encarrega-se de entregá-la para todos os endereços cadastrados. Esta entrega funciona como uma “mala direta” com a informação atingindo a todos os participantes da lista de discussão de forma assíncrona. As listas são normalmente moderadas por um ou

mais participantes que podem ou não filtrar as mensagens antes que elas sejam entregues aos inscritos. Existem listas que permitem a recepção de mensagens enviadas por qualquer usuário de Internet e outras que aceitam apenas comunicação entre os inscritos.

• Grupos de Interesse (Newsgroups) – diferentemente das listas, estes são engenhos que armazenam as informações enviadas pelos participantes, relativas a um assunto de interesse comum, dispondo-as numa arquitetura de inter-relação e encadeamento por afinidade de conteúdos. A informação não é acessada através do correio eletrônico. Ela estará acessível através da WWW ou por “leitores de notícias”. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

• IRC (Internet Relay Chat) – é um mecanismo que permite aos usuários comunicar-se em tempo real. A comunicação pode ser coletiva - quando os usuários enviam e recebem mensagens de todos os usuários conectados a um servidor – ou individual – quando um usuário comunica-se diretamente e exclusivamente com outro usuário conectado ao mesmo servidor. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Esta ferramenta permite a comunicação síncrona entre vários participantes através de um espaço comum de encontro produzido por um servidor em que tudo o que é escrito por cada usuário pode ser lido imediatamente por todos os outros.

A vantagem é que permite uma discussão interativa e dinâmica, aproximando-se mais das discussões realizadas em sala de aula. A desvantagem é que todos os participantes devem estar conectados ao mesmo tempo, sendo necessário agendar os encontros previamente, normalmente utilizando o correio eletrônico.

• Áudio-conferência e videoconferência – são interações realizadas através de clientes especiais agregados à WWW e que permitem aos usuários realizarem comunicação síncrona – em tempo real – sem a necessidade da escrita. Na videoconferência é necessário que o computador possua uma câmera acoplada, além de um dispositivo que capture sons através de um microfone. No áudio-conferência a interação acontece pela voz, dispensando a transmissão de imagens. Os equipamentos para videoconferência e

áudio-conferência via Internet são de baixo custo. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

O grande problema destas formas de interação é a velocidade de transmissão dos dados na Internet, que prejudica principalmente a geração de imagens no usuário receptor. Mesmo assim, utilizada na educação a distância pode produzir momentos de interação em que professores e alunos se conheçam e se identifiquem pela voz e pela aparência física contribuindo para a geração de um ambiente mais afetivo.

• “Whiteboard” - Metáfora do quadro de anotações existente na sala de aula presencial. Nessa ferramenta um grupo de usuários pode desenhar e escrever simultaneamente e o resultado produzido é acessado por todos. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Para operá-la, é necessário um programa cliente específico ou um complemento ao navegador WWW. Entre as aplicações mais comuns da ferramenta estão: apresentação de telas de programas, construção de interfaces para sistemas e projetos gráficos. (Horton, 2000)

• WWW (World Wide Web) – concebida como um integrador de informações, para simplificar o acesso a diferentes plataformas e a diferentes formas de transmissão da informação – sons, imagens e texto. A ferramenta WWW baseia-se nos conceitos de hipertexto – associação de informações em forma de texto através de ligações (links) - e hipermídia – associação de nós de informação multimídia conectados uns aos outros por meio de ligações (links). (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

“Um dos grandes atrativos da WWW é a sua interface gráfica junto com a possibilidade de deslocamento quase instantâneo entre as páginas que contém as informações.”” (Bittencurt, 1999).

A visualização das informações armazenadas em servidores WWW é realizada através de programas clientes denominados navegadores (browser). Por possuir características multimídia, a WWW está se tornando uma plataforma com capacidade de comunicação síncrona e assíncrona oferecendo ambientes de interação muito ricos quando utilizados na educação. Muitas

aplicações para educação a distância estão sendo desenvolvidas sob WWW, motivo pelo qual a ferramenta tem estado em foco. (Bittencourt, 1999; Horton, 2000)

Para utilizar as ferramentas descritas em processos de ensino- aprendizagem é necessário ter em mente os requisitos técnicos quanto à velocidade de conexão exigida para o perfeito funcionamento de cada uma delas. O quadro 3 apresenta tais requisitos.

Quadro 3: Requisitos mínimos para a conexão Internet

Ferramenta

Velocidade de

Conexão

Correio eletrônico (e-mail);

Listas de discussão (“Listserv”); Grupos de Interesse (“Newsgroup”); FAQ (inserido sobre a WWW);

14 kbps IRC (com poucos recursos multimídia) 28.8 Kbps “Whiteboard” - WWW (usando recursos multimídia) 56 Kbps

Áudio-conferência 128 Kbps

Videoconferência 256 Kbps

Fonte: Adaptado de Horton (2000)

O processo de navegação através de documentos hipermídia expostos na Internet, segundo Trüring (apud Bittencourt,1999), envolve questões relacionadas à compreensão de que isto implica em dois outros fatores:

• coerência e sobrecarga cognitiva; • a orientação e desorientação:

que implicam em um design de conteúdo, estrutura e interface adequadas. Estes fatores devem permitir interatividade e cooperação num ambiente hipermídia. A questão da interatividade para o cenário do ensino-aprendizagem, tê-la significa permitir que o educando tenha controle sobre a navegação, ou seja, determine sua própria seqüência de acesso ao universo de conhecimentos disponíveis realizando pesquisas exploratórias ou uma busca objetiva. Se o educando não possui um objetivo definido e navega seguindo seus interesses no momento, realiza

“explorações”. No entanto, se tem como meta algo previamente estabelecido e direciona ações buscando alcançá-lo, realiza uma “navegação objetiva”.

Como os ambientes de aprendizagem – considerados aqui como o espaço virtual na Internet onde serão implantados projetos de ensino-aprendizagem - gerados na Internet não estão limitados ao espaço físico, o mundo inteiro - com universidades, centros de pesquisa, museus, bibliotecas, revistas, jornais e inúmeras outras oportunidades de exploração – podem estar disponíveis aos educandos. Também o acesso a estes ambientes pode estar aberto a diversos grupos de potenciais educandos - variando de milhares para muitos ou alguns.

Para determinar como vai se constituir um determinado ambiente de aprendizagem devem ser observadas as características do modelo de educação adequadas a um determinado projeto. Instituições educacionais – ou mesmo empresas - diferentes têm estratégias diferentes e correntes pedagógicas distintas. Adaptando a caracterização de Peraya (1994) para educação à distância temos:

• Ensino x Aprendizagem - quando centralizado no ensino, o professor é o transmissor dos conteúdos. O aluno um ser “passivo”, que deve assimilar os conteúdos. Os objetivos obedecem à seqüência lógica dos conteúdos baseados em documentos legais. Os conteúdos ministrados destacam a quantidade de conhecimentos selecionados a partir da cultura universal acumulada. A Metodologia se baseia em exercícios de fixação. A avaliação valoriza os aspectos cognitivos dando ênfase na memorização. Quando centralizado na aprendizagem, o professor é o facilitador. O aluno é um ser ‘ativo‘, centro do processo. Os objetivos educacionais obedecem ao desenvolvimento do aluno segundo seus próprios interesses. A Metodologia enfatiza a dimensão lúdica: jogos, criatividade, pesquisas, experiências. Valorizam-se os aspectos afetivos com ênfase na auto-avaliação. • Fechado x aberto – quando fechado, o acesso dos alunos é

limitado, existindo critérios e pré-requisitos. Quando aberto, não existem critérios ou controle para o ingresso de alunos. Peraya (1994) cita como exemplos a Fern Universität (FU da Alemanha) e a Open Universiteit of Heerlen (OU da Holanda). Na FU, um modelo fechado que replica o Sistema Europeu Clássico, o acesso dos

estudantes é limitado e somente podem ingressar em seus cursos de posse do diploma da escola secundária. Na OU, um modelo aberto, os cursos estão abertos a qualquer interessado maior de 18 anos, independentemente da qualificação.

• Certificação x qualificação – projetos podem ser concebidos para qualificação sem, necessariamente, oferecer um diploma que confira grau no sistema educacional do país. Por outro lado, se o objetivo do projeto é também conferir grau aos estudantes, a própria legislação deverá impor um modelo diferenciado.

Assim, dependendo das características apresentadas, um ambiente virtual de aprendizagem pode ser um site aberto a qualquer usuário da Internet, um site onde existam partes abertas – públicas – e outras fechadas – restritas a usuários cadastrados, ou ainda, um sistema de acesso restrito – somente para usuários autorizados - cuja entrada, a permanência e a saída são controladas.

Em linhas gerais, num ambiente virtual de aprendizagem, educandos e educadores devem ter acesso preferencial aos recursos disponíveis. Principalmente nas interações síncronas, pois, um visitante que não está participando ativamente do processo ensino-aprendizagem pode prejudicá-lo.

Para administrar esta “comunidade de usuários” que compartilha o ambiente de aprendizagem é necessária a existência de uma plataforma mais complexa que um servidor de WWW que é capaz de hospedar sites de acesso irrestrito.

O AulaNet - uma iniciativa da Fundação Padre Leonel Franca, em parceria com o Laboratório de Engenharia de Software do Departamento de Informática da PUC-Rio - é exemplo de plataforma sob a qual podem se desenvolver cursos via WWW. Outros produtos para este fim são: LearningSpace produzido pela Lotus Co. e WebCT criado na “University of British Columbia” e hoje comercializado por uma empresa com o mesmo nome do produto. Utilizando esses ambientes, os alunos podem acessar lições e recursos complementares que podem ser apresentados em uma grande variedade de mídias. (Heide e Stilborne, 2000)

A informação e o conhecimento são o elemento básico do sistema educativo. Quando se verifica que a Internet oferece esta matéria prima primordial aos processos educativos, a primeira impressão é a de que o acesso à Internet pode gerar aprendizagem.

“Porém, aos alunos é necessário tempo. Podemos obter informações e fatos rapidamente, mas dominar idéias e adquirir o conhecimento indispensável para usá-las requer bastante tempo. A tecnologia nos apresenta informações instantaneamente como se fosse conhecimento. As pessoas caem muitas vezes nesta armadilha, no caso das escolas. Pensam que, se tem acesso a todos os bancos de dados do mundo, tem-se tudo e simplesmente só se precisa empregar as informações... O acesso é apenas um passo.” (Hawkins 1995.p. 63).

Com a Internet, a sala de aula, entendida como local de aprendizagem, pode tornar-se um ambiente de aprendizagem cooperativa ainda maior, no qual o professor oferece a direção, a orientação e a inspiração. Para os professores a tecnologia deve ser vista como meio para novos fins. (Heide e Stilborne, 2000)

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