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Antes de nos aprofundarmos na evolução das fases da web, é preciso entender a própria diferença entre internet e web e apresentar algumas importantes definições que preconceberam a web 1.0.

A Internet foi usada pela primeira vez em 1969 e se difundiu rapidamente vinte anos mais tarde (Castells, 2011, p. IX). Para Castells (Ibid., p. 82), sua criação e seu desenvolvimento foram consequência de uma fusão singular de estratégica militar, grande cooperação científica, iniciativa tecnológica e inovação contracultural. Teve origem em uma inovadora instituição de pesquisa: a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e seu conceito foi criado por Paul Baran em 1960-4, sendo uma das estratégias criar um sitema de comunicação invulnerável a ataques nucleares.

Ainda segundo Castells, a primeira rede de computadores se chamou ARPANET e entrou em funcionamento em 1969. Mais tarde, em 1980, com o avanço das pesquisas e das diferentes redes que estavam se formando (redes para estudos militares, redes científicas e redes para acadêmicos, por exemplo), a rede das redes passou a se chamar ARPA-INTERNET para, depois, ficar apenas internet. No entanto, foi em 1995 que iniciou a movimentação para a privatização da internet. Nesse sentido, o autor (Ibid., p. 83) explica:

uma vez privatizada, a Internet não contava com nenhuma autoridade supervisora. Diversas instituições e mecanismos improvisados, criados durante todo o desenvolvimento da Internet, assumiram alguma responsabilidade informal pela coordenação das configurações técnicas e pela corretagem de contratos de atribuição de endereços da Internet.

Por fim, em 1999, já não existia nenhuma autoridade clara sobre a Internet no mundo, o que era um sinal das características anarquistas do novo meio de comunicação, tanto tecnológica quanto culturalmente (Ibid., p. 84).

A World Wide Web - WWW ou, simplesmente, Web, surgiu como um avanço da Internet possibilitando a muito mais pessoas o acesso a essa tecnologia. Como explica Castells (Ibid., p. 87), a capacidade de transmissão de gráficos da Internet era muito limitada e era difícil de localizar e receber informações. A Web foi considerada, na época, um novo aplicativo. Nas palavras do autor, era a “a teia mundial” que organizava o teor dos sítios da Internet por informação, e não por localização, oferecendo aos usuários um sistema fácil de

pesquisa para procurar as informações desejadas. A Web foi inventada na Europa, em 1990, por um grupo de pesquisadores chefiados por Tim Berners Lee (Ibid., p. 88).

Resumindo a revolução da comunicação, a Internet, após sua privatização na década de 1990, tornou-se popular e utilizada em diversas atividades. Na década seguinte, ocorreu a explosão da comunicação sem fio, que, segundo Castells (Ibid., p. x), “foi a tecnologia de difusão mais rápida da história da comunicação”. Em 2000, assistimos à convergência tecnológica entre internet, comunicação sem fio e várias aplicações que distribuem capacidade comunicativa pelas redes sem fio, multiplicando, assim, os pontos de acesso à internet. Nas palavras do autor (Ibid., p. XI),

a internet, a World Wide Web e a comunicação sem fio não são mídias no sentido tradicional. São, antes, os meios para a comunicação interativa. No entanto, as fronteiras entre meios de comunicação de massa e todas as outras formas de comunicação estão perdendo a nitidez. O email é predominantemente uma forma de comunicação entre duas pessoas, mesmo quando levamos em consideração o uso dos recursos de envio de cópia e mala-direta. Mas a internet é muito mais ampla do que isso. A World Wide Web é uma rede de comunicação usada para postar e trocar documentos. Esses documentos podem ser texto, áudio, vídeo, software, literalmente qualquer coisa que possa ser digitalizada.

Na mesma linha da convergência tecnológica e dos meios para a comunicação interativa, Jenkins (2009, p. 32) afirma que os meios midiáticos estão passando por mais uma mudança de paradigma. Segundo o autor: “(...). Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas. (...)”.

Essa interação entre as novas e antigas mídias é o que o autor chama de cultura da convergência, nome dado a uma de suas importantes obras na qual ele trabalha os conceitos de convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva.

Quando Jenkins (Ibid., p. 29) fala em convergência, ele se refere ao “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação (...)”. Para o autor (Ibid., p. 51), a convergência representa uma mudança no modo como encaramos nossas relações com as mídias. Ainda segundo ele (Ibid., p. 30), representa também uma transformação cultural, à medida em que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos.

A cultura participativa representa o que a mídia tem proporcionado aos indivíduos, ou seja, de passivos se tornaram atuantes e, de acordo com seus interesses, participativos. Nas

palavras de Jenkins (Ibid., p. 30), “em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo”.

Já a inteligência coletiva, para Jenkins, representa aquilo que pode ser feito em conjunto somando o que cada um sabe e tem de melhor. Segundo o autor (Ibid., p. 30), “nenhum de nós pode saber tudo. Cada um de nós sabe alguma coisa e podemos juntar as peças se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades”. Ainda segundo ele, “a inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência”.

Portanto, dando sequência na revolução da comunicação, podemos dizer que, nos últimos anos, falou-se em Cultura da Convergência (Jenkins, 2009) e, atualmente, o mesmo autor (2013, p. 1), em sua mais recente obra, Spreadable Media, aprofunda suas ideias originais na busca de valores e significados nas múltiplas economias que constituem a nova mídia. Entre muitos outros aspectos, Jenkins examina um novo modelo híbrido de circulação onde uma combinação de forças determina como o material é compartilhado nas culturas de uma forma muito mais participativa e desordenada. Em meio às suas diversas e inovadoras afirmações, o autor27 (apud CORRÊA, 2013, p. 287):

(...) revê suas propostas originais de Cultura da Convergência, saindo de uma visão mais utópica da participação total e independente das audiências (ou dos fãs) e propondo um entendimento mais complexo da participação do público que hoje enfrenta obstáculos corporativos e tecnológicos, entre outros, para fazer emergir suas diferentes vozes.

O capítulo IV irá retomar o modelo híbrido de circulação proposto por Jenkins bem como as estratégias de comunicação que envolvem a web e as mídias na atualidade. Sendo assim, com base na breve abordagem sobre a internet, a web e os principais momentos que fizeram e ainda fazem parte das transformações da comunicação relatados até aqui, cumprimos com o propósito desta segunda seção, que era basicamente entender a diferença entre internet e web. Com isso, ficará mais claro compreender como se deu a evolução da Web de 1.0 para 2.0 e, atualmente, de acordo com alguns especialistas, para 3.0 e até 4.0, como veremos na próxima seção.

27 JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Spreadable media: Creating Value and Meaning in a Networked

Seção III – A evolução da Web em quatro cenários