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INTERPRETAÇÃO DOS CONSELHEIROS EM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DO CONSELHO

4.3 CARACTERIZAÇÃO DA GESTÃO DO CONSELHO CONSULTIVO DO NÚCLEO SANTA VIRGÍNIA –

4.3.5 INTERPRETAÇÃO DOS CONSELHEIROS EM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DO CONSELHO

DESENVOLVIMENTODOCONSELHO

Conforme relato do Gestor (2010), o primeiro momento do Conselho tinha como objetivo a implantação da gestão da Unidade de Conservação, trazendo as discussões sobre fiscalização e a questão fundiária, tornando-se complicada a relação com a comunidade do ponto de vista do alinhamento de interesses. Somou-se a isto a falta de respaldo institucional levando ao término da 1ª versão do Conselho em 1998:

[...] dessa falta de experiência do órgão gestor, naquela época também não

se tinha muita clareza do papel do conselho [...]

[...] ele nos ensinou a dinâmica da participação, nos aproximou da

comunidade, mas a gente não conseguiu resolver nada [...]

Esta mesma avaliação aparece nos estudos apontados, anteriormente, de Oliva (2000) e de Mattoso et al.(2009), a seguir:

Já nas primeiras reuniões de formação dos conselhos consolidou-se a presença e ação do poder publico que, por intermédio da gestão participativa, atuou prioritariamente na mediação de conflitos entre os atores sociais envolvidos. Foi possível a identificação e análise de focos de conflitos - diferentes visões sobre a utilização das unidades de conservação por parte de cada um dos atores sociais, seus interesses imediatos e prioridades, e a luta pela destinação dos recursos ambientais pertencentes à sociedade em geral, mas pleiteados diretamente pelas comunidades locais. (MATTOSO et al., p. 7).

A identificação de diferentes visões sobre as funções da Unidade de Conservação foi diagnosticada, também, por técnicos da Fundação Florestal, afirmando a necessidade que esta pesquisa traz de discutir o Planejamento e atuação do Conselho Consultivo, por meio do olhar diverso dos diferentes atores sobre esta paisagem.

Na segunda fase do Conselho Consultivo do PESM e, consequentemente, a do Núcleo Santa Virgínia, os gestores estavam mais capacitados:

[...] o SNUC deu um grande respaldo em relação aos conselhos e à gestão dentro das Unidades de Conservação, a Fundação Florestal veio com uma missão de realmente colocar em prática o exercício dos conselhos, ou seja, ela veio com a missão de botá-los para funcionar, pelo menos aquelas Unidades que tinham o Plano de Manejo principalmente e depois para aquelas que não tinham Plano de Manejo...

E eu posso dizer a você que nesse exercício que findou agora, nos últimos dois anos, a gente teve um salto bem legal nessa participação, nesse envolvimento da gestão da UC com os conselheiros. E a gente teve um salto, no processo de gestão, tanto no envolvimento deles, para com o parque, como do conselho, ou seja, algumas respostas que o Conselho necessitava, a Fundação deu (GESTOR,2010).

O conselheiro nº 4 faz uma critica à centralização e atuação mais punitiva da administração do gestor nos primeiros anos do Conselho, mas aponta uma mudança de postura e aproximação com a comunidade local no final desta gestão

O que eu acho é o seguinte, no começo (...) eu percebia as atividades do Gestor, (...) tudo para ele, tudo era ele, assim centralizado, então, e a gente já estava tentando em ver se ele conseguia distribuir essa tarefa dele árdua, então a gente gradativamente se inteira vendo aí quais eram os principais problemas, e que com certeza era problema assim de usucapião, o uso da terra, mau uso na verdade que o caráter dele no começo era extremamente punitivo, que não tinha outro jeito, que não tinha saída, e gradativamente ele foi substituindo, para tentar interagir com essas comunidades locais etc., e com certeza me empolga isso, a gente conversava, (...) (CONSELHEIRO Nº 4,2011).

O Gestor registra no seu relato a atuação mais punitiva da administração nos primeiros anos da Unidade, justificando a postura frente ao Conselho e a comunidade de dentro e do entorno da Unidade de Conservação.

De 2006 pra cá, nós tivemos que novamente estabelecer o Conselho. Então o que eu posso te dizer, a primeira etapa do Conselho, que foi logo após 1998, foi uma participação bem, pra nós, do ponto de vista do gestor, bem trágica, assim, porque a gente teve que, a gente estava no momento de implantação da Unidade, ou seja, de tomar posse da Unidade, de se mostrar presente, de dizer, “olha aqui é um órgão que fiscaliza”, que enfim, e foi um motivo muito complicado a questão fundiária... (GESTOR,2010).

Os conselheiros do 2º mandato (2011−2013), na sua maioria, consideram que o Núcleo Santa Virgínia atende parcialmente aos problemas e dificuldades identificadas pelos conselheiros, registram que há interesse por parte da gestão, mas morosidade por parte do Estado. Também relatam a dificuldade dos conselheiros em divulgarem as discussões do Conselho, de estabelecerem o elo entre o Conselho e a sociedade civil. A fala do Conselheiro nº 21 elucida as opiniões relatadas pelos outros conselheiros.

Acho que em parte, é um conselho muito formal, de colocar as questões técnicas, mas ainda do ponto de vista das indicações, existem problemas sim, mas ainda não conseguimos chegar ao cerne, para resolver os problemas de anos. É um Conselho muito coeso, tem vontade, o próprio Parque também tem vontade de compartilhar, mas ainda há mecanismos que são disponibilizados dentro do Conselho, e o grupo precisa crescer, este caminho precisa ser traçado pelo grupo. Ainda fica na superficialidade em colocar os problemas, talvez, o entendimento não chegasse de fato que os conselheiros tem um grande poder, de ajudar, auxiliar o Parque. Eles entendem os conflitos sendo da coisa distante sendo da gestão (CONSELHEIRO Nº 21,2011).

Para o Gestor (2010), hoje, o Conselho “é o elo entre o Parque e a Sociedade”. Argumenta que os conselheiros, ainda, “[...] têm dificuldade de entender a importância deles para compor o Conselho. Mas eu acho que isso é um processo de criação, um processo dinâmico.”

Discute a dinâmica de interação do Conselho, hoje em dia, confirmando a análise já exposta sobre a evolução dos conselhos nas Unidades de Conservação de São Paulo:

Ele vai mudando a partir que as pessoas conseguem ver que há uma possibilidade de resolução de problemas de conflitos, e que a gente pode junto crescer, ou seja, o Parque se inserir na sociedade e vice e versa (GESTOR, 2010).

O exercício da Mundividência − que é a conexão consciente e necessária de problemas e de soluções (DILTHEY, 1992) − fica pontuado na fala do Gestor (2010) e do conselheiro nº 22, já na segunda gestão do Conselho Consultivo 2011-2013:

Eu acho que é uma coisa essencial participar do Conselho, o Conselho tem essa função de ajudar a gestão da Unidade, então a participação tem que ser ampla, tem que estar todos os setores envolvidos e é onde afloram os problemas, os conflitos e é onde a gestão pode ter uma visão mais abrangente do que está acontecendo (de fato) (CONSELHEIRO Nº 22,2011).

No primeiro mandato do Conselho Consultivo (2007 a 2010) havia muito interesse por parte dos representantes com a situação fundiária. Atualmente a Secretaria de Meio Ambiente tem focado a questão de modo diferente, tem buscado saídas por meio da participação da Promotoria do Estado. Segundo o Gestor (2010): “Não só o fundiário deu um salto, mas em

todos os programas de gestão da Unidade nós crescemos, o conselho ajudou, o conselho provocou.”

Hoje existe um representante da Fundação no Conselho, como reforça o Gestor (2010), na fala a seguir: “Há necessidade de ter uma pessoa que leve os problemas e as

soluções para a diretoria direto.”

Segundo o Conselheiro nº 7 (2011) - “O Conselho começou no início meio patinando,

sem ter uma identidade própria e ta...”, e referindo-se à fase 1 do Plano de Gestão Ambiental:

[...] após e aos poucos foi se organizando, então o Conselho foi crescendo durante o período de trabalho de pessoas sérias, comprometidas, eu acho muito interessante, toda a comissão, e o mais importante eu acho que o conselho é um instrumento muito ouvido pelos chefes lá em cima do Parque, é um instrumento que parte da sociedade, parte do poder público municipal, estadual... OSIP, ONG, moradores do entorno, então assim, é, são muito ricas as informações, e apesar de ser um Conselho Consultivo, a gente observou que muitas vezes deliberou sobre determinados assuntos, então é forte, devido ao nível das pessoas que estão envolvidas ali também (2011).

O Conselheiro nº15 (2011) faz uma análise deste Conselho Consultivo de forma positiva, corroborando as premissas, estipuladas anteriormente, das funções deste:

Eu acho que o Santa Virgínia tem um diferencial que a gente vê, como em grandes reuniões de âmbito estadual e nacional, sempre muito problema. Eu sinto que há uma interação, a comunidade sabe o seu papel, o Parque também sabe qual o seu papel dentro do Conselho e procura apontar dificuldades, eu sinto a comunidade bem à vontade com o gestor para palpitar, o que eu acho que na maioria dos Conselhos não acontece, tem um impasse entre gestor comunidade, proteção e exploração ou utilização do recurso, então, eu acho que o Santa Virgínia, eu acabei de chegar, mas eu acho que o pessoal tem uma visão, tanto que participa, a gente tem comunidade que vai lá, e as comunidades têm liberdade de colocar o seu ponto de vista (2011).

Para comunicar os objetivos do Parque e seus Programas de Manejo, a gestão utiliza reuniões ordinárias e extraordinárias do Conselho Consultivo; articulação e parcerias institucionais; participação em projetos junto às escolas municipais; cursos para professores da rede municipal de ensino; e distribuição ampla da folhetaria do PESM. Porém, acredita ter pouca divulgação dos objetivos de conservação do PESM para o público externo, por faltar mais apoio da gestão central para a divulgação da Unidade, assim como a situação fundiária do Núcleo é tema não solucionado, prejudicando as relações com o seu entorno.

Pelo olhar dos conselheiros da 2ª gestão (2011 a 2013), as pessoas da comunidade mais envolvidas com o Conselho são as que estão próximas ao Núcleo, como “o pessoal de

RPPN” (CONSELHEIRONº3, 2011), da comunidade de dentro do Núcleo e as instituições

parceiras. A fala é constante entre os entrevistados da distância do Núcleo Santa Virgínia da comunidade, como fica registrado no depoimento do conselheiro nº 24: “[...] apesar de o Núcleo Santa Virgínia estar tão perto, ainda está distante, há muitas pessoas que não conhecem os propósitos do Núcleo Santa Virgínia (CONSELHEIRO Nº 24,2011).”

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INDICADORES DE VALORAÇÃO −

GESTÃO 2011

2013 DO CONSELHO CONSULTIVO

DO NÚCLEO SANTA VIRGÍNIA DO PARQUE ESTADUAL

DA SERRA DO MAR (PESM)

17 Palmito Juçara – planta nativa da Mata Atlântica. Foto:: Akarui, acervo adm. Núcleo Santa Virgínia, PESM