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3.3 HISTÓRICO E AÇÕES DO CONSELHO DO PESM-NÚCLEO SANTA VIRGINIA

3.3.1 OS CONSELHOS CONSULTIVOS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Há duas décadas a implantação de Conselhos Consultivos em Unidades de Conservação (UCs) vem ocorrendo no Brasil.

As UCs criadas até as décadas de 1990 apresentavam um processo de desconexão relacionado aos lugares em que estavam inseridas, e eram impactadas sob diferentes formas e graus, fatos que exigiam na maioria das vezes, investimentos crescentes destinados aos projetos de recuperação de áreas degradadas, revitalização patrimonial, entre outros, e adequados às novas necessidades da gestão e do planejamento ambiental e paisagístico da área.

A gestão participativa nas Unidades de Conservação pressupõe o comprometimento da Instituição com a promoção de mudanças na situação existente, consideradas suas várias instâncias, por meio de mecanismos, como - Reuniões Técnicas, Oficinas de Planejamento e Conselhos Consultivos. Este modelo de planejamento participativo foi adotado primeiramente pelo IBAMA, a partir da década de 1990, sendo, hoje, exigência legal, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).(BRASIL, 2000).

Segundo Palmieri e Veríssimo (2009), 67% das Unidades de Conservação federais e estaduais, em 2008, não possuíam conselho instalado segundo o cadastro Nacional de Unidades de Conservação, demonstrando a morosidade de implementação de processos participativos em UCs, embora houvesse um movimento de políticas públicas no sentido de favorecer, propiciar e incentivar a participação cidadã nas áreas protegidas nacionais e internacionais.

A lei que dispõe sobre o funcionamento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) foi criada em 2000 (BRASIL, 2000) e regulamentada em 2002 (BRASIL, 2002), quase uma década depois das primeiras experiências de conselhos em Unidades de Conservação já prevendo a implantação de instrumentos democráticos de gestão com o conselho consultivo.

Conforme o SNUC (2000), no artigo 5º, Incisos III e IV e artigo 29º, as UCs de proteção integral podem ter Conselhos Consultivos, pois são de domínio público, sendo necessário explicitar com clareza qual a relação administrativa possível entre organizações não governamentais e outros segmentos da sociedade.

O Decreto Federal nº 4340 (BRASIL, 2002) regulamenta artigos do SNUC e detalha no seu capítulo 5, sobre os Conselhos em Unidades de Conservação. Especificamente no Artigo 20 inciso IX, expõe a competência do Conselho de Unidade de Conservação para propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e aperfeiçoar a relação com a população do entorno ou do interior da Unidade.

A movimentação para a participação cidadã na gestão de Unidades de Conservação, ocorreu na América Latina na mesma década, conforme preconizou o I Congresso Latino Americano de Parques Nacionais e outras Áreas Protegidas, realizado em 1997. Neste Congresso já se apontava o que hoje ainda ocorre em maior ou menor medida nas Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, todas as UCs deveriam considerar:

ƒTodos os fatores intrínsecos à Unidade de Conservação e seu entorno;

ƒA contextualização da UC com programas, projetos públicos e privados;

ƒA transferência dos governos centrais da criação e manutenção de UCs e descentralização da governança do estoque de recursos naturais e serviços ambientais, tais como manejo regional e municipal de bacias hidrográficas;

ƒO estímulo para o setor privado prestar serviço de recreação e acomodação, ONGs para interpretação e educação ambiental e universidades para investigação cientifica (OLIVA, 2000)

No II Congresso Latino Americano de Parques Nacionais e outras Áreas Protegidas, promovido pela UICN (2007), estabeleceu-se uma carta intitulada Declaração de Bariloche, em que se reafirmaram as intenções de valorização do processo participativo em UCs, preconizado no I Congresso:

(...) essencial fortalecer e ampliar os processos de planejamento participativo das áreas protegidas e aplicar os princípios de boa governança (transparência, equidade, prestação de contas e estratégias de manejo de conflitos) como um mecanismo que envolva ativamente os atores, gerando espaço de diálogo onde se analisem as preocupações e expectativas e se estabeleçam compromissos e responsabilidades para a ação conjunta e coordenada das instituições, comunidades locais e povos indígenas, cientistas e acadêmicos, bem como o setor privado em apoio ao manejo efetivo e participativo das áreas protegidas. (IUCN, 2007, p. 7)

Compondo estas intenções de valorização do processo participativo, deve-se refletir sobre essa participação na relação entre natureza e homem na paisagem. É uma relação intrincada e intimamente relacionada aos aspectos físicos, biológicos e culturais, determinada por olhares diferentes sobre a mesma paisagem, provocando o diálogo para a gestão destas UCs.

Já se vai também uma década de reflexões sobre o sucesso das vivências em Conselhos Consultivos. Neste sentido, Oliva (2000) no II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, em 2000, tece vários apontamentos, avaliando a necessidade da administração da UC e os demais segmentos terem motivação para participar afirmando que essa motivação é gerada quando ambas as partes percebem as vantagens do processo participativo.

Quando o gestor percebe e entende que seu trabalho será facilitado para a externalização e solução de problemas e os segmentos envolvidos percebem a abertura de canal de comunicação que poderá viabilizar as soluções de problemas surgidos em virtude da existência da UC a vivência no Conselho Consultivo começa a ser efetiva e eficaz.

Apoiados no Plano de Manejo, no “conhecimento detalhado sobre toda a UC por parte do gestor, para não gerar expectativas que sejam técnica e institucionalmente impossíveis” e na “regulamentação do Conselho Consultivo e acompanhamento e avaliação constantes por parte do Estado” a gestão da Unidade de Conservação terá mais respaldo em suas decisões pela sociedade dos municípios e afetos a ela. (OLIVA,2000, p.130).

Existem diversas informações, estudos, atividades e experiências nessas diferentes áreas prioritárias de ação, definidas pelo Conselho, a partir do trabalho e vivência das comunidades, do trabalho da instituição gestora, da Academia e das ONGs. Encontram-se, também, lacunas para uma apresentação de cenários atuais e futuros, fundamentais para a definição e implementação de diretrizes e indicadores de atuação, pelos diversos segmentos, a partir de suas visões das funções desta paisagem e de seus indicadores de efetividade.

É necessário levar em conta os pontos de vista divergentes, buscando compreender os diferentes níveis perceptivos e interpretativos sobre a paisagem da Unidade de Conservação, ou seja, como se entende a biodiversidade, um campo ambiental onde as interações de funções e indicadores desta paisagem se conflitam, interagem, complementam-se. Há que se aceitar as diferenças e trabalhar com as dinâmicas deste grupo de atores e a complexidade de aspectos socioeconômicos e culturais que se inter- relacionam, exigindo abordagens e intervenções multi e interdisciplinares nos processos pertinentes à gestão e planejamentos integrados e participativos.

A paisagem vivida pela comunidade no entorno da UC, na maioria das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, são distintas daquelas urbano-industriais; são paisagens marcadas por terras em pousio, criação de animais, áreas de coleta, de caça, a mesma que é transformada em ‘unidade de conservação’. Daí resultarem em conflitos entre diferentes segmentos de população tradicional ou não, e autoridades vigentes.

Durante a consolidação de UCs, normalmente, não são reconhecidos, pela maioria dos Conselhos e pela comunidade do entorno, “os benefícios diretos e indiretos das áreas protegidas, e isto deve ser o fio condutor de suas discussões”. (OLIVA, 2000, p. 125):

O principal fator que prejudica o andamento dos processos de gestão participativa é a falta de definições institucionais sobre as questões que envolvem a ocupação humana no interior das UCs de proteção integral, que é a principal causa da geração de conflitos, não equacionados no contexto dos Comitês e que desestimulam, tanto as equipes técnicas quantos os demais membros dos mesmos.

A procura da regulamentação das questões fundiárias, visando a diminuição dos principais conflitos inerentes à própria criação e existência da UC, assim como a clareza de seus papéis legal e técnico, devem ser enfatizados, evitando a geração de efeitos correlacionados a um “vácuo” de responsabilidade entre o Estado e a sociedade, no que diz respeito ao manejo destas UCs, tal como afirma Oliva (2000):

ƒDe competência do Estado - a regularização fundiária, a demarcação de

limites em campo, o controle sobre a pesquisa e uso dos recursos genéticos e a fiscalização;

ƒDe competência das organizações sociais privadas e não governamentais -

podem ser a visitação pública, a educação ambiental, os serviços administrativos e de vigilância patrimonialOliva (2000).