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O PESM −NÚCLEO SANTA VIRGÍNIA E SEUS ATRIBUTOS FÍSICOS

O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) é uma Unidade de Conservação de proteção integral de uso indireto e de domínio público cujo objetivo principal é a preservação de ambientes naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica da Mata Atlântica. Tem nove sedes administrativas, uma das quais, o Núcleo Santa Virgínia, situada nas coordenadas geográficas 23°24' a 23°17' de latitude Sul e 45°03' de longitude Oeste. (Figura 2.25).

FIGURA 2.25 − Localização do Núcleo Santa Virgínia Parque Estadual da Serra do Mar

Fonte: IBGE, bases e referências 2011 − Bases de dados SMA/CPLA/PPMA, 2001. Org. por Douglas Meneses, (2011).

O processo de implantação do Núcleo Santa Virgínia iniciou-se em 02 de maio de 1989. O Instituto Florestal recebeu da Fazenda do Estado as Fazendas Ponte Alta e Santa Virgínia que deram origem a este Núcleo, tendo atualmente uma área de aproximadamente 19.731,47 hectares. Abrange os municípios de Natividade da Serra com 40% da área do Núcleo; São Luís do Paraitinga totalizando 45%; Cunha 12%; e Ubatuba 3%.

Situado no reverso da Serra do Mar no Planalto Atlântico Paulista, com relevo escarpado e altas declividades em vertentes retilíneas e vales em “V” bem marcados. A altitude varia de 960 a 1.160 metros com pico culminante a 1.585 metros, em um gradiente topográfico entre 60 e 500 metros. Tem coluviação intensa, com alúvios mais expressivos nas partes mais baixas, próximos aos rios. Os desníveis tectônicos com mudança acentuada na relação talvegue e recuo das vertentes é frequente em toda a paisagem do Núcleo. Soleiras Rochosas que funcionam como diques represam sedimentos à montante e controlam a presença de rápidos e cachoeiras a jusante. O clima tropical úmido e subúmido tem temperatura média de 21°Celsius e precipitação média anual de 2.200 milímetros ao ano. (SÃOPAULO, 1998) (Figura 2.26).

FIGURA 2.26 − Aspecto do curso do Rio Paraibuna, altura cachoeira do Saltinho, PESM - Núcleo Santa Virgínia.

A figura 2.27 descreve a vegetação do Núcleo Santa Virgínia caracterizada pela Floresta Ombrófila Densa Montana com 62,5% da área do Núcleo e Floresta Ombrófila Densa Alto: Montana com 34,1% em campos de altitude (Estepe) e de Floresta de Neblina. Apresenta um grande mosaico composto por áreas de campo antrópico com pastagens em 14,1%, plantios de Eucalyptus em 4% e floresta secundária em diferentes estágios sucessionais em 52,5% da área do Núcleo. (SÃOPAULO, 2005).

FIGURA 2.27 − Núcleo Santa Virgínia: Cobertura Vegetal.

A floresta em estágios sucessionais do Núcleo Santa Virgínia apresenta-se dominada por Manacás (Tibouchina mutabilis) em 59,2% de sua área (Figuras 2.28 e 2.29). Em ambos componentes da floresta dossel e sub-bosque, observa-se o predomínio de espécies dispersadas por animais. (TABARELLI;VILLANI;MANTOVANI, 1993). O palmito Juçara (Euterpe edulis) é a espécie-chave da Mata Atlântica encontrado dentro do Núcleo Santa Virgínia, com abundância na área de Floresta Ombrófila Densa Montana. (SARAIVA, 2010). (Figura 2.30).

FIGURA 2.28 − Vista panorâmica da floração dos Manacás da Serra (Tibouchina mutabilis), no PESM- Núcleo Santa Virgínia.

Essa paisagem foi construída pelo processo de ocupação humana na região do Núcleo Santa Virgínia de forma contínua até os dias de hoje com 70% de seu território composto de floresta secundária em diferentes estágios sucessionais, pastagens e plantio de eucalipto. São paisagens sobre paisagens, retratando a vivência da sociedade construída nessa relação. A intensidade e manifestação do Manacá da Serra atesta o manejo dessa floresta de Mata Atlântica ainda em processo de recuperação de sua característica mais marcante que é a diversidade de flora e fauna.

FIGURA 2.29 − Palmeira juçara, Núcleo Santa Virgínia, PESM.

O Núcleo Santa Virgínia, também, interage com uma porção da bacia do Rio Itamambuca que corre em direção ao litoral no município de Ubatuba. (CÂMARA et al., 2009). A rede de drenagem dos rios encaixados dentro dos relevos escarpados da Serra do Mar com altas declividades. “constituem o processo dominante neste sistema de relevo”. (SÃO PAULO, 1998, p. 58). “A torrencialidade dos rios é marcante pela declividade dos canais fluviais e pelos elevados totais pluviométricos anuais” (p. 55). (Figura 2.30).

FIGURA 2.30 − Cachoeira do Salto Grande, rio Paraibuna, no período das chuvas, no PESM-Núcleo Santa Virgínia.

Pesquisas executadas na área da Serra do Mar comprovam, também, a importância das bacias hidrográficas desta região – 95% de espécies de peixes listados por Bizerril (1994 apud RIBEIRO, 2006) foram considerados endêmicos para as bacias: Paraguaçu, Contas, Jequitinhonha, Doce, Paraíba do Sul, Ribeira de Iguape, Itajaí e Jacuí. “The ichthyofauna of the coastal drainages of eastern Brazil is of great biogeographic significance. The main hydrographic systems” (Paraguaçú, Contas, Jequitinhonha, Doce, Paraíba do Sul, Ribeira de Iguape, Itajaí and Jacuí) (Fig. 4), “as well as several other smaller adjacent drainages, demonstrate a high degree of endemism. Of a total of 285 fish species listed by Bizerril (1994) for these basins, 95% were considered endemic and with 23.4% of the genera endemic”. Isto se dá pelas características dos sistemas hidrográficos da região, como, por exemplo, o rio Paraíba do Sul e suas drenagens adjacentes (RIBEIRO, 2006, p. 234). 13

Um peixe endêmico em vias de extinção da bacia do rio Paraibuna, chamado Pirapitinga, (Brycon sp), é uma espécie-chave presente no Núcleo Santa Virgínia.

A vertente Oeste da Serra do Mar do Núcleo Santa Virgínia − PESM está inserida na bacia do rio Paraibuna, com área de 2.185,50 km², 22% (480,81 km²) nos núcleos Cunha e Santa Virgínia drenando a bacia do Rio Paraíba do Sul (Figura 2.31).

13 Tradução nossa: A ictiofauna das pequenas e médias drenagens costeiras do Leste do Brasil demonstra um alto

FIGURA 2.31 − Mapa da Hidrografia do PESM-Núcleo Santa Virgínia.

Os principais dados sobre a fauna da região encontram-se na unidade administrativa que compõe o Núcleo Santa Virgínia (SÃO PAULO, 2006), e indicam, por exemplo, 373 espécies de aves identificadas no PESM, sendo 185 delas encontradas na porção Norte do Parque - Núcleos Santa Virgínia e Cunha, na área do Planalto Paulista. (Figuras 2.32 e 2.33).

FIGURA 2.32 − Tesoura da Mata − Núcleo Santa Virgínia, PESM.

Foto: Josiel Briet. Acervo Núcleo Santa Virgínia, PESM ( maio, 2011).

FIGURA 2.33 − Saíra sete cores: Núcleo Santa Virgínia, PESM.

Os locais mais representativos para observação destas aves são aqueles em que a floresta se encontra mais preservada, a exemplo da Trilha do Corcovado que une dois Núcleos, o Santa Virgínia, na crista da Serra do Mar e o Picinguaba, em Ubatuba. (SÃO PAULO, 2006).

Os levantamentos efetuados para a execução do Plano de Manejo do PESM registraram 39 espécies de mamíferos, 41 espécies de anfíbios e 07 de répteis na região do Núcleo Santa Virgínia (2006).

Em relação às espécies ameaçadas, há registros: do sagui e do gato-do-mato (mamíferos), Bothrops fonsecai e Liophis atraventer (anfíbios). A tartaruga Hydromedusa

maximiliani, segundo a lista do Estado de São Paulo e da União Internacional para

Conservação da Natureza-IUCN, também, está vulnerável. Outras espécies, como: o mono- carvoeiro (Brachyteles arachnoides); a onça-pintada (Panthera onca); a jacutinga (Pipile

jacutinga) (Figura 2.34); o macuco (Tinamus solitarius); a sabiá cica (Triclaria malachitacea); e a lontra (Lutra spp), também, estão em vias de extinção (2006).

FIGURA 2.34 − Jacutinga, Núcleo Santa Virgínia, PESM.

O Parque Estadual da Serra do Mar torna-se consequentemente muito importante para as estratégias de conservação dos serviços ambientais da região, pois é “reserva da biosfera, grande reserva ecológica, área obrigatória para proteção dos recursos hídricos, das encostas e reconhecido filtro para proteção das condições urbanas das baixadas e dos planaltos”. (AB’SÁBER, 1986, p. 17).