Interpretação dos dados

Nas seções anteriores que compõem este capítulo, apresentamos as nossas interpretações em relação aos dados que constituem a situação global de comunicação (SGC) da Linguística e a situação específica de comunicação (SEC).

Nosso objetivo é retomar brevemente nesta seção os resultados dessas interpretações para respondermos sobre como funciona a argumentação no discurso científico de pesquisadores da Linguística.

5.2.6.1 Interpretação dos dados da SGC científica da Linguística

Nesta subseção apresentamos a síntese da análise da SGC científica da Linguística, abrangendo a finalidade da situação de comunicação, da identidade e do propósito.

Para alcançarem a finalidade prevista nesta situação, os pesquisadores precisam delimitar os seus temas de estudos com base nas questões científicas da linguagem, com ênfase nos estudos discursivos sem orientação prévia sobre uma disciplina desse campo de estudos ou de uma corrente de estudo específica.

Os pesquisadores também podem construir suas identidades tendo como referência uma identidade social que compreende um ideal de competência e distinção observado pela expectativa em relação à produtividade e à legitimação. Considerados os instrumentos das instituições de controle, os pesquisadores podem orientar a sua prática científica com base nessas expectativas que, certamente, são determinantes para a construção de suas identidades.

No que diz respeito ao propósito, os pesquisadores precisam ter em mente que não podem apenas situar os seus estudos no âmbito dos estudos linguísticos, nos estudos discursivos, compete-lhes também ter clareza sobre as determinações históricas sociais e epistemológicas que constituem o estado de pesquisa de sua área de estudo e de seu campo disciplinar, o que impõe tratar os temas de pesquisa de acordo com o paradigma que domina na comunidade científica de que fazem parte.

Assim, sintetizamos as nossas interpretações acerca de parte do contrato de comunicação – a SGC científica da Linguística.

5.2.6.2 A SEC científica da Linguística

Na continuidade, apresentamos a síntese da análise da SEC científica da Linguística: os dados internos do contrato de comunicação e as condições de realização da argumentação.

A problematização científica compreende o posicionamento e os espaços de locução e de relação. É com a problematização que os pesquisadores delimitam os temas de seus estudos que são desenvolvidos com vistas a inovar/renovar o/no campo disciplinar de estudos discursivos.

Os pesquisadores produzem os seus discursos com pertinência em relação à finalidade da situação de comunicação e ao seu projeto de dizer, porque se posicionam em favor da inovação do campo disciplinar. Esse posicionamento funciona também em favor da identidade, da imagem deles, uma vez que, ao mesmo tempo em que propõem inovações, os pesquisadores as realizam em seus estudos conforme requeria o Colóquio do qual participaram.

Quanto às provas, identificamos que é mais recorrente o tipo de prova de descrição narrativa com o uso de raciocínios dedutivos e explicativos, que cumprem a função de dar validade à demonstração proposta nas pesquisas, sobretudo, na demonstração do alcance do conhecimento proposicional. As provas desempenham funções específicas no discurso e não podem ser considerados apenas como tipos universais que podem ser indistintamente empregados.

O espaço de locução é realizado no discurso dos pesquisadores com base na situação de comunicação, o uso recorrente da primeira pessoa do plural marca a enunciação com a função de situar quem são as pessoas do discurso, mas não é interpretado como marca de autoridade, porque esta já é pressuposta. Esse espaço é realizado, então, a partir de uma perspectiva subjetiva e situada e não guarda relação direta com a concepção de que a impessoalidade é uma forma de garantir o caráter científico das pesquisas.

O espaço de relação, por sua vez, é realizado em uma situação de comunicação em que os pesquisadores e seus interlocutores podem interagir em uma relação simétrica, estabelecida entre pares. Os pesquisadores assim se reconhecem pela identidade de autoridades, mas estabelecem uma relação de ajustamento com seus interlocutores, porque usam recursos textuais e discursivos para orientarem a leitura/interpretação de seus interlocutores.

As duas sínteses representam a descrição do contrato de comunicação de pesquisadores da Linguística, portanto, correspondem ao alcance do nosso primeiro objetivo específico.

A Figura 8, apresentada na continuidade, representa tanto o contrato de comunicação de pesquisadores da Linguística quanto a posição que a argumentação ocupa nesse contrato.

Figura 8 – Contrato de comunicação científico da Linguística

Fonte: Elaborada pela Autora

Nossa questão de pesquisa se concentra no funcionamento da argumentação no discurso científico da Linguística quanto aos efeitos de sentido que esse discurso pode produzir. Com isso em mente, importa destacar que a argumentação funciona no discurso científico contribuindo para a interpretação dos sentidos relativos à delimitação do tema, ao posicionamento dos pesquisadores em relação à sua proposta de pesquisa, às provas selecionadas em função do projeto de dizer, em função da relação delimitação do tema- posicionamento, à forma como eles tomam a palavra e à maneira como estabelecem relação com os seus interlocutores em função da identidade que constroem para si e sobre o outro, tudo isso tendo em mente os aspectos que devem ser considerados na finalidade da situação de comunicação científica: área de pesquisa, campos disciplinares, correntes de estudo, determinações históricas sociais e epistemológicas.

A seguir, sintetizamos a nossa interpretação sobre o funcionamento da argumentação quanto aos efeitos que o discurso científico produz.