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5 ANÁLISE DOS DADOS: A ENCENAÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO

5.1 Sobre a SCG científica da Linguística

5.1.1 Sobre a finalidade discursiva

O discurso científico de pesquisadores da Linguística é aqui tomado em seu aspecto externo com o objetivo de descrevermos a finalidade da situação de comunicação da

Linguística que deve orientar o sujeito pesquisador ao produzir um artigo científico e submetê-lo à publicação.

Para isso, procedemos à análise da SGC concentrando a análise nos documentos relacionados à SGC científica da Linguística. Trata-se de uma análise que visar da conta de questões como: o que imaginamos ou consideramos quanto ao fim a ser alcançado quando decidimos produzir e submeter um artigo científico para publicação; imaginamos ou consideramos que estaremos assim contribuindo com o desenvolvimento dos estudos linguísticos, estaremos alcançando legitimação nesse campo de pesquisa, estaremos cumprindo normas estabelecidas para a prática científica desse campo, estaremos alcançando um conjunto de resultados inter-relacionados possibilitados pela prática científica da Linguística, compreendendo nisso a comunicação científica realizada por intermédio dos periódicos?

Do ponto de vista da análise dos documentos, a análise nos revela alguns aspectos que, em conjunto, podem constituir a finalidade da produção e da publicação da pesquisa científica realizada por meio de artigos científicos.

O poder Executivo brasileiro tem um papel determinante sobre a prática científica do País, em especial, por intermédio de órgãos como a Capes e o CNPq, por isso os reconhecemos como instâncias de controle que fazem parte da SGC. Ambos são caracterizados como símbolos do compromisso do Governo Federal com a promoção da ciência, da tecnologia e da inovação como “elementos centrais do pleno desenvolvimento da nação brasileira”.

O verbo mais recorrente na descrição das competências do CNPq, agência do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (atual MCTIC), é “promover”, usado em relação a finalidades como “formação de pesquisadores brasileiros”, “reconhecimento das instituições de pesquisa e pesquisadores brasileiros pela comunidade científica internacional”, “desenvolvimento de pesquisas científicas voltadas às questões de relevância econômica e social relacionadas às necessidades do País”.

A Capes, fundação do Ministério da Educação (MEC), tem a sua razão de ser no desenvolvimento dos Programas de Pós-Graduação do Brasil, como se lhes atribuísse o compromisso de atingir as suas finalidades, tais como “mudanças exigidas pelo avanço do conhecimento e pelas demandas da sociedade” e “busca de excelência acadêmica para os mestrados e doutorados nacionais”.

O Qualis-Periódicos é um instrumento da Capes usado como um dos meios para alcançar as finalidades pretendidas por essa Coordenação, para avaliar e classificar a produção

científica dos programas de pós-graduação no que se refere aos artigos publicados em periódicos científicos. Os critérios de avaliação são definidos de acordo com cada área de avaliação e aprovados pelos consultores especializados do Comitê Técnico-Científico (CTC), que procuram refletir a importância relativa dos periódicos para uma determinada área. Dessa forma, a classificação é feita pelos CTC de cada área de avaliação de acordo com os critérios gerais e específicos disponibilizados nos Documentos de Avaliação de cada área.

Segundo o Relatório de avaliação de área da Linguística de 2013, os critérios de avaliação Qualis-Periódicos são definidos visando fortalecer e consolidar os periódicos da Área de Letras/Linguística e propiciar a progressiva qualificação dos meios de divulgação científica e acadêmica da Área. Nesse sentido, são definidos parâmetros gerais e critérios específicos para classificação dos periódicos em estratos: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, C.

A análise ora descrita sobre as finalidades definidas pela Capes, pelo CNPq e pelo uso do instrumento Qualis-Periódicos nos permite interpretar os “efeitos de sentido” da finalidade concebida para a prática científica da Linguística: a busca pela qualidade da pesquisa. A palavra “qualidade37” só tem o seu sentido apreendido no contexto de sua realização e, ainda assim, carece às vezes de esclarecimentos específicos. Como não temos uma definição específica para o que se designa como qualidade, consideramos o estrato A1 dos periódicos como referência do que seja o ideal de qualidade no âmbito da produção e da publicação de artigos científicos da Linguística no Brasil.

Disso entendemos que, do ponto de vista da SGC (externo), a finalidade que orienta a produção e a publicação de artigos científicos é a de promoção, de avaliação e reconhecimento ou não da qualidade da pesquisa científica. Logo, interpretamos que os pesquisadores da Linguística produzem e publicam artigos científicos orientados pela finalidade de promover a almejada qualidade da pesquisa científica e de ao atuarem em um processo de avaliação e de reconhecimento desta qualidade.

Charaudeau (2004) ressalta que cada situação de comunicação, em razão de sua finalidade, seleciona uma ou mais visadas, dentre as quais uma é dominante. Pressupõe (2008b) que a finalidade do discurso científico se caracteriza por uma visada demonstrativa, um querer estabelecer uma verdade, o que requer uma atividade de argumentação. O discurso científico do sujeito pesquisador deve, portanto, funcionar de maneira a demonstrar uma

37Temos clareza de que a noção de “qualidade” em relação à ciência está implicada em um jogo de poderes, de saberes e, claro, de vontades de verdade. Logo, nesse âmbito, as definições de qualidade passam por questões de autoria, de temas, de lugares de produção, de circulação e de produtos da ciência. Na análise descrita no item 4.1, o termo qualidade pode ser entendido considerando-se o discurso científico quanto aos seus produtores e quanto aos lugares de sua produção e circulação.

verdade cuja pertinência só pode ser considerada em relação ao que é considerado “qualidade da pesquisa” para a SGC e a SEC da Linguística.

Para produzir e publicar seus artigos científicos, os pesquisadores da Linguística devem também considerar as finalidades dos periódicos a que submetem suas pesquisas, por isso consideramos ainda para análise da finalidade da situação de comunicação a Nota do Editor e a Apresentação da revista da Abralin vol. XIV, tal como exemplificamos no recorte apresentado a seguir no qual destacamos em negrito os trechos cujos sentidos são mais pertinentes para a análise ora realizada.

Em Nota do Editor, lemos:

“É com muita alegria que socializamos ao público leitor interessado em questões científicas de linguagem a Segunda Edição de 2015 da Revista da Associação Brasileira de Linguística...”.

Ao que acrescenta:

“Trata-se de uma edição organizada pelos Professores Roberto Leiser Baronas e Monica Baltazar Diniz Signori, ambos da UFSCar e se debruça sobre os estudos discursivos: um dos campos mais profícuos das humanidades latino- americanas. A edição em questão segue fielmente a política editorial da revista que é dar visibilidade e circulação irrestrita a pesquisa linguística competentemente engendrada no Brasil, pelos linguistas brasileiros, nas mais diversas escolas e domínios dos estudos linguísticos”.

Os recortes agora nos confirmam com precisão o que pode ser interpretado como qualidade na prática científica da Linguística. Observamos como, de fato, a SGC de pesquisa da Linguística define a finalidade de comunicação que, ao mesmo tempo, restringe os pesquisadores a produzirem e a publicarem os seus artigos com vistas a fazê-lo em favor de uma qualidade prevista pelas instituições e instrumentos de controle (Capes, CNPq, Qualis- periódico e política editorial da revista da Abralin).

A qualidade almejada nessa SGC pressupõe o tema – “questões científicas de linguagem” -, o campo disciplinar – “estudos discursivos” -, a identidade de quem está reconhecidamente legitimado para produzir e publicar artigos científicos – “pesquisa científica competentemente engendrada no Brasil”.

Como “efeitos de sentido”, interpretamos nessa parte da análise que a finalidade da situação de comunicação pode ser alcançada se os pesquisadores reconhecerem, ao produzirem seu discurso, o que devem abordar (tema), de que lugar, no âmbito dos estudos linguísticos (campo disciplinar), devem falar e o papel de suas pesquisas no âmbito dos estudos linguísticos brasileiros (papel epistemológico da pesquisa).