• Nenhum resultado encontrado

2.3 OS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO NO

2.3.2 Interpretação econômica do Direito Tributário

A chamada interpretação econômica do direito tributário encontra suas raízes no ordenamento alemão a partir de 1919, consagrando-se durante o Governo Nazista, com a promulgação da Lei de Adaptação Tributária Alemã, que previu: § 1º – Normas Tributárias. 1) As leis fis- cais devem ser interpretadas segundo as concepções gerais do nacional- socialismo. 2) Para isto, deve-se ter em conta a opinião geral, a finalida- de e significado econômico das leis tributárias e a evolução das circuns- tâncias. 3) O mesmo vale para julgar os fatos. Ainda: § 6º – Abuso de Direito. 1) A obrigação tributária não pode ser evitada nem reduzida por abuso das formas, nem pela interpretação abusiva das possibilidades formais do direito privado. 2) Em caso de abuso, os impostos devem ser cobrados conforme um interpretação legal adequada aos efeitos, situa-

ção e fatos econômicos.218

Em sua concepção, a interpretação econômica219 preconizava a

existência de um “princípio dominante” na tributação, segundo o qual o

por sua generalidade, aplicável a todos os casos de direito interno, quer as leis ordinárias mencionem a adoção da eqüidade, quer não a adotem. A norma se dirige ao intérprete, ao aplicador da lei. Enquanto isso, a segunda consideração da eqüidade, na lei nacional tributária, funciona como autorização ao legislador ordinário, desde que dita (...). Afinal, só a lei pode autorizar a remissão do tributo”. FANUCCHI, Fábio. Curso de Direito Tributário Brasileiro. v. 1. 3. ed. São Paulo: Resenha Tributária; Brasília: INL, 1975. pp. 208-9.

218 BECKER, Alfredo Augusto. Carnaval Tributário. p. 135.

219 Cumpre diferençar a interpretação econômica do direito tributário de sua análise econômica,

proposta por PAULO CALIENDO: “É praticamente certo em termos econômicos que nenhuma economia pode operar sem a existência de uma base mínima de organização institucional e que, por sua vez, esta base requer ser financiada (... Law cannot be policed free os costs). Portanto, desse fato duas ordens de preocupação têm sido desenvolvidas na teoria econômica:

direito tributário, ao fazer referência a institutos e conceitos de outros ramos jurídicos, preconizaria ao intérprete da lei que deveria levar em consideração não o fato jurídico em sua específica natureza jurídico- tributária, mas sim o fato econômico subjacente ou os efeitos econômi- cos decorrentes desse fato. Assim, ainda que o fato jurídico acontecido apresentasse natureza jurídica diversa daquela especificada na lei, seria devido o tributo em caso de equivalência dos fatos econômicos subja- centes ou dos efeitos econômicos resultantes.

No Brasil, AMÍLCAR FALCÃO foi um dos juristas que melhor tra-

tou a questão, sustentando que este método de interpretação autoriza o intérprete a desenvolver considerações econômicas para o enquadramen- to do caso concreto em face do comando resultante não apenas da litera- lidade do texto legislativo, mas também do seu espírito, da mens ou ratio legis, desde que haja uma atipicidade da forma jurídica adotada em

relação ao fim, ao intento prático visado.220

Segundo ALFREDO AUGUSTO BECKER, a interpretação econômica

deu origem à teoria do abuso das formas, atualmente superada, mas responsável pelo maior equívoco na história da doutrina do direito tribu-

tário.221 Conforme explica, essa corrente consagrava que o dever tributá-

rio não poderia ser evitado ou reduzido pelo “abuso de formas jurídi- cas”, ou seja, quando no momento de juridicização do fato econômico fosse criada uma estrutura jurídica perfeitamente legal visando evitar a

incidência do fato gerador do tributo.222

Entretanto, diante do cenário das reformas que impulsionaram o advento do Código Tributário Nacional, ficou evidente uma preocupa- ção de aproximar a Economia do direito tributário, resultando, parado-

xalmente, em não acolhimento da tese da interpretação econômica.223

eqüidade e eficiência”. SILVEIRA, Paulo Antônio Caliendo Velloso da. Direito Tributário e

Análise Econômica do Direito: uma visão crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 17.

220 FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato Gerador da obrigação tributária. p. 71.

221 Analisando a repulsa à tese da interpretação econômica, o espanhol JOSÉ JUAN FERREIRO

LAPATZA pondera: “Não poderia ter sido outro o fim de uma tese interpretativa que em suas formas mais grosseiras, definidas atualmente, embora nunca mais explicitadas com rigor, em certos círculos da Espanha, permitem ao exegeta interpretar a normativa tributária e aplicá-la não de acordo com o fato imponível desejado e efetivamente realizado pelo contribuinte – embora tal fato esteja claramente tipificado em tal norma –, mas de acordo com o resultado econômico alcançado, quando seja igual ou equivalente, em termos econômicos, ao resultado que poderia ser alcançado com a realização de outro fato imponível. Permite ao intérprete, pura e simplesmente, prescindir da Lei, para estabelecer uma igualdade de tratamento que só a Lei pode estabelecer. LAPATZA, José Juan Ferreiro. Direito Tributário: teoria geral do tributo. Barueri: Manole; Espanha: Marcial Pons, 2007. pp. 89-90.

222 BECKER, Alfredo Augusto. Carnaval Tributário. p. 129.

223 Em sentido contrário, afirmaMONTEIRO DE BARROS: “(...) é possível ao direito tributário

Assim sendo, em seu art. 110, o Código Tributário Nacional em 1966 encerrou um limite ao legislador ordinário quanto à interpretação da norma tributária, trazendo positivada, expressamente, a sujeição da lei à definição, ao conteúdo e ao alcance de institutos, conceitos e for- mas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

Portanto, como bem elucida RUBENS GOMES DE SOUSA, os atos

fatos, contratos ou negócios previstos em lei tributária como base da atividade tributária “devem ser interpretados de acordo com os seus efeitos econômicos e não de acordo com a sua forma jurídica; este é o princípio básico e dele decorrem os restantes”. Já os efeitos tributários desses mesmos atos fatos, contratos ou negócios “são os que decorrem da lei tributária e não podem ser modificados ou alterados pela vontade

das partes, ao contrário do que acontece no direito privado”.224

Por isso, é correto afirmar que o fato gerador do tributo, em sua essência, é um fato econômico, ao qual o direito tributário confere rele- vo jurídico e não um simples fato econômico. A doutrina moderna, aliás, abriga excepcionalmente a adoção desse processo de interpretação eco- nômica quando presentes dois pressupostos cumulativos: a forma jurídi- ca atípica revestindo o ato; intuito deliberado de não pagar ou pagar tributo a menor. Não é possível a utilização dessa metodologia, no en- tanto, quando o contribuinte, licitamente, atue visando uma economia fiscal (elisão tributária).225

interessante, traça um paralelo com a tributação de atividades ilícitas: “Deve ou não o direito tributário exigir imposto de atividades consideradas menos elegantes? A profissão é velha, mas a atividade não é muito elegante: casa de tolerância, por exemplo, que produzem uma riqueza; sendo, por conseguinte, capazes de produzir um índice econômico. Deve ou não o Imposto de Renda tributar os sócios ou os titulares das casas de tolerância? Há movimentação de riqueza, há capacidade contributiva. Pode, portanto, o direito tributário exigir imposto sobre estas operações”. BARROS, José Eduardo Monteiro de. Interpretação Econômica em Direito

Tributário. In: MORAES, Bernardo Ribeiro de. Interpretação no Direito Tributário. pp.

178-9. De igual menos incisiva, ALIOMAR BALEEIRO aduz: “(...) parece certo, pois, que o CTN se apresenta tímido quanto à interpretação econômica: insinua-a, mas não a erige em princípio básico, proclamando, pelo contrário, o primado do Direito Privado (...). BALEEIRO, Aliomar.

Direito Tributário Brasileiro. p. 689.

224 SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária. pp. 79-80. Exemplifi-

cando, ROSA JUNIOR: quando a lei elege a compra e venda de bem imóvel como fato gerador de ITBI, quer, em verdade, referir-se à situação econômica pela qual uma pessoa transfere riqueza imobiliária para outra em contrapartida do recebimento de outra riqueza, que é o preço. ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro [...]. p. 379.

225 ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro [...]. p. 380. Com o

2.4 ELEMENTOS INTEGRADORES DO SISTEMA TRIBUTÁRIO