• Nenhum resultado encontrado

Intervenção Pedagógica Supervisionada: contexto individual

5. DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO

5.2 Intervenção Pedagógica Supervisionada

5.2.1 Intervenção Pedagógica Supervisionada: contexto individual

A segunda fase do estágio, idealizada para a implementação do projecto, iniciou-se em Janeiro de 2016 (segundo período lectivo), aquando da intervenção no contexto individual, sob a orientação do professor cooperante José Fernando Silva. A intervenção, como referido anteriormente, abrangeu faixas etárias e níveis de aprendizagem distintos (1º ciclo, 2º ciclo e Secundário), permitindo, desta forma, realizar

comparações quanto à utilidade da exemplificação instrumental pelo professor, mediante diferentes graus de aprendizagem instrumental (elementar II e IV, 1º grau, 2º grau, 6º grau e 8º grau). Toda a acção encontra-se detalhadamente explicitada nos planos de aula incluídos neste documento, assim como as reflexões sobre a prática, no campo Observações dos referidos registos da acção. Tal como referido na sub-secção 4.5.1 Estratégias de Ensino-Aprendizagem: contexto individual, as actividades pretenderam averiguar as potencialidades da exemplificação instrumental e a sua adequação a diferentes conteúdos programáticos, repertório e níveis de aprendizagem, através da utilização didáctica de diferentes tipos de exemplificação, enfatizando-se a aprendizagem dos alunos. Perfazendo um total de vinte e uma sessões com a duração unitária de cinquenta minutos, as aulas foram ministradas pelo professor-investigador, na condição de estagiário, com pequenos apontamentos do professor cooperante, envolvendo seis discentes da classe de Oboé do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga. No que se refere à escolha de repertório e conteúdos a trabalhar, depois de analisado o programa e os objectivos pré-estabelecidos para cada aluno, foi debatido o assunto com o professor cooperante e estipulado que seguiria as suas orientações face às necessidades dos discentes, uma vez que o objectivo do projecto estava menos relacionado com as especificidade dos exercícios e mais com a averiguação dos benefícios de determinada estratégia metodológica, serenando a preocupação do professor cooperante face ao cumprimento do programa da disciplina e dos objectivos estipulados para cada aluno.

Numa primeira fase da intervenção, equacionando-se a comparação entre duas estratégias metodológicas possíveis, a prelecção e a modelação, foi dedicado um conjunto de aulas (nove aulas), onde, deliberadamente, se excluiu a exemplificação instrumental da interacção didática em sala de aula. Todos os exercícios e reparos musicais foram dirigidos oralmente (discurso expositivo-explicativo ou reprodução vocal melódica), expondo os alunos exclusivamente à oralidade, permitindo assim comparações futuras face às aulas onde se utilizou a exemplificação. O segundo nível da intervenção foi integralmente dedicado à exemplificação instrumental, mediante a utilização de diferentes tipos de exemplificação ao longo das sessões. Todos os alunos envolvidos na investigação tiveram contacto com as duas metodologias, trabalhando a cada momento escalas, estudos, peças e exercícios de técnica base, abrangendo assim diferentes conteúdos programáticos. Alguns exercícios de técnica base foram realizados ao nível do aquecimento instrumental e do domínio de dificuldades particulares verificadas na fase de observação e nas primeiras intervenções. A ordem de trabalho idealizada e materializada nos planos de aula pressupunha uma aula dedicada às escalas e aos estudos, e uma segunda aula dedicada às peças. Contudo, houve limitações quanto à exequibilidade deste esquema, uma vez que os tempos lectivos abrangidos pelo estágio correspondiam maioritariamente às aulas apoiadas pelo pianista acompanhador, havendo a necessidade ora de suspender o plano traçado, ora de adaptá-lo às necessidades, tendo-se revelado este facto potenciador de

alguma confusão ao longo da intervenção, acabando por ter de se repetir algumas das aulas. Porém, tendo em consideração que a investigação-acção não deixa de lado “eventuais desvios por razões exógenas mas que têm que ser levados em conta” (Coutinho et al., 2009, p. 366), procedeu-se à adaptação dos planos de aula, de forma a levar a bom porto a investigação iniciada.

Analisando a intervenção, impõe-se também a necessidade de sublinhar que os exercícios passíveis de serem realizados, foram amplamente desenvolvidos aquando da fase de observação não participante, não se apresentando de modo surpreendente para os discentes envolvidos no processo. Posto isto, as primeiras aulas permitiram, de forma directa, o contacto com os alunos e as suas dificuldades, revelando-se, em certa medida, uma avaliação dos aspectos passíveis de serem abordados nas futuras intervenções a realizar. Na fase inicial das aulas estabeleceu-se um momento de esclarecimento, por parte do professor cooperante aos alunos, apresentando-se o estagiário e os seus propósitos. No que se refere ao trabalho a desenvolver na intervenção supervisionada, foi referido aos alunos que o esquema das aulas adoptado seria uma imitação do plano das aulas do professor cooperante, uma vez que o objectivo da intervenção e investigação, passaria pela averiguação dos benefícios da exemplificação instrumental, no esquema habitual de trabalho do ensino de oboé do conservatório.

No que diz respeito à exclusão da exemplificação instrumental em aula pelo professor, o “feedback” dos discentes quanto à oralidade foi positivo, correspondendo, através da execução instrumental, às sugestões e às explicações dadas ao longo das aulas no plano didáctico expositivo-explicativo. Como o acto pedagógico não se estabelece unilateralmente, deve afirmar-se que foi sentida, talvez pelo peso da tradição, a necessidade de se utilizar a exemplificação instrumental, sobretudo nos graus de desenvolvimento musical mais avançados, tentando criar uma imagem sonora viva, que permitisse tornar o ensino e a aprendizagem mais envolventes, no que se refere à interpretação musical.

Quanto à exemplificação instrumental e, particularmente, quanto à sua frequência de utilização, parece haver alguma coerência face à observação não participante, estabelecendo-se a mesma relação: níveis avançados de aprendizagem parecem beneficiar mais da exemplificação instrumental (mais necessidade de utilizar a exemplificação/aula e diferentes tipos de exemplificação/aula), por comparação com os primeiros graus, onde se apresentou relacionada sobretudo com aspectos de leitura musical, funcionando numa dinâmica de mimetismo e motivação, tendo havido uma maior necessidade de recorrer às explicações verbais. Mais uma vez se verificou que a exemplificação instrumental para os alunos mais velhos valorizou o trabalho de interpretação musical. Apesar deste aspecto, incluíram-se exercícios de domínio técnico (imitados em diferido pelos alunos), funcionando como prelúdio ao trabalho interpretativo a realizar, uma vez que estavam directamente relacionados com as dificuldades verificadas anteriormente. Por fim, a

análise do “feedback” dos alunos, na fase de intervenção em que se utilizou a exemplificação instrumental, foi igualmente positiva, sendo difícil averiguar efectivamente vantagens de uma metodologia em relação à outra. Questionados, no momento de aula, sobre o entendimento das exemplificações instrumentais, respondiam afirmativamente e com o mesmo nível de concretização musical encontrado aquando da utilização exclusiva da oralidade. De modo geral, a exemplificação instrumental pareceu estabelecer-se como elemento de referência auditiva, localizada e particularizada, no que ao ensino individual de oboé diz respeito, favorecendo a pedagogia e a aprendizagem, qualificando assim o ambiente em sala de aula.