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5. DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO

5.1 Observação da Prática Pedagógica

Na pesquisa por observação, o investigador tem uma presença activa. Quer adopte uma atitude naturalista, quer experimental, a investigação centra-se nos padrões de comportamento reais dos sujeitos, quando respondem a tarefas bem definidas, em condições cuidadosamente controladas e em determinados períodos de tempo. (Kemp, 1995, p. 20)

No âmbito da Observação da Prática Pedagógica, a informação relacionada com a observação não- participante (iniciada em Outubro de 2015), foi recolhida através de registos naturalistas das aulas observadas no contexto individual e colectivo, organizando-se, posteriormente, os dados e as reflexões sobre as mesmas nos Registos de Observação: Registos de Observação: contexto individual (Anexo CD), e Registos

de Observação: contexto colectivo (Anexo CD). A observação da prática permitiu assim perscrutar os

caminhos, as estratégias e as metodologias escolhidas pelos professores cooperantes, face à missão de nortear o desenvolvimento, a concretização e realização tanto musical como pessoal dos discentes envolvidos no estágio.

Numa primeira fase, a análise da prática - através do questionamento dos actos e das concepções da acção educativa - revelou-se uma fonte importante de informação para construção do Projecto de Intervenção, dando plausibilidade ao tema idealizado e alimentando as interrogações. Neste seguimento, se os momentos de observação, por um lado, permitiram recolher informações sobre a interacção aluno-professor, inferindo-se a dinâmica da sala de aula, por outro lado, promoveram o conhecimento das características individuais dos discentes, verificando-se o seu potencial, dificuldades e motivações. Os momentos de reflexão, pré e pós- observação, estabelecidos com os professores cooperantes e com os alunos, possibilitaram a confirmação do que havia sido intuído através da observação, deslindando as concepções do plano traçado pelos docentes e permitindo, em certa medida, guiar a acção futura.

O desenvolvimento da fase de observação - sobretudo depois da esquematização do Projecto de Intervenção - corroborou a associação da prática em análise às aulas individuais e permitiu verificar o recurso à metodologia, assim como deslindar os diferentes tipos de exemplificação instrumental utilizados pelo professor cooperante no contexto individual. Não obstante a vontade de alargar o âmbito da investigação- acção, utilizando-se também a exemplificação instrumental como estratégia metodológica no contexto das aulas de música de conjunto, deve ser referido que o pendor da tradição quanto a esta prática, parece estar (sobretudo no que ao ensino especializado de música em Portugal diz respeito), voltado para as aulas individuais, como se pôde constatar através da observação da prática nos dois contextos de intervenção.

5.1.1 Observação da Prática Pedagógica: contexto individual

Através da observação sistemática de aulas de música e de ensaios, pode-se começar a compreender a relação entre estas características do comportamento do professor ou do maestro e a atenção, interpretação e atitude do aluno. (Yarbrough, 1995, p. 88)

No que concerne à observação não participante, no contexto individual pôde verificar-se que a exemplificação instrumental foi amplamente utilizada na didáctica do professor cooperante, tendo abrangido grande variedade e tipos de exemplificação. A imitação ou “caricatura” do desempenho do aluno, a exemplificação de frases musicais completas e a duplicação (professor a tocar em uníssono com o aluno), foram as estratégias de exemplificação instrumental mais observadas. Quanto ao repertório, as actividades de exemplificação instrumental estiveram sobretudo relacionadas com o trabalho a realizar nos estudos e nas peças. No que se refere aos exercícios de técnica base e às escalas, a postura foi de averiguação do domínio e da destreza técnica dos alunos, havendo, ocasionalmente, uma demonstração dos exercícios por parte do professor. Os diferentes graus de ensino ocasionaram diferentes abordagens de exemplificação instrumental, tendo havido um predomínio da utilização da metodologia nas aulas dos alunos mais velhos. Neste sentido, a

performance completa dos exercícios, permitindo ao discente ouvir a totalidade do que seria trabalhado ao longo da aula. Ainda assim, a oralidade, pareceu ser o método por excelência, no que se refere à acção pedagógica voltada para o ensino instrumental dos alunos mais novos. O trabalho realizado com os alunos de Iniciação, sobretudo, com o aluno de Iniciação II, consistiu na verificação de competências de leitura, sendo, muitas vezes, trabalhado o solfejo dos exercícios. A oralidade, no que se refere à observação das aulas do ensino secundário, esteve colocada em segundo plano, servindo como didascália à exemplificação instrumental, utilizada recorrentemente como estratégia de ensino-aprendizagem; o professor cooperante tocou na grande maioria das aulas assistidas do 6º e do 8º grau.

Tentando-se estabelecer uma relação entre os tipos de exemplificação instrumental e os conteúdos trabalhados, verificou-se que a exemplificação levada a cabo pelo professor cooperante apoiou o trabalho de desenvolvimento de competências em diferentes domínios, estratificados, posteriormente, em dois grupos acção (técnica instrumental e realização musical), nas tabelas de verificação da apreensão e realização técnico-musical elaboradas para o efeito. No plano da técnica instrumental, grosso modo, ao discurso expositivo-explicativo seguia-se a exemplificação do exercício pelo professor e a posterior imitação do mesmo pelo aluno; enquanto que, a realização musical, cabimentou a “caricatura” da performance do discente e a exemplificação de frases musicais completas pelo professor, num plano de “observa como se faz”. Tocar em uníssono com o aluno, foi, também, uma estratégia bastante observada, possibilitando o suporte da performance do discente, permitindo, desta forma, a continuidade do trabalho a realizar sobretudo nas aulas que pressuponham o ensaio com o pianista acompanhador. Os jogos de “encontra o erro” foram preteridos face a outros tipos de exemplificação instrumental, nas sessões observadas, tais como “caricaturar” o desempenho do aluno e “observa como se faz”.

Através da observação, verificou-se que a exemplificação instrumental pelo professor, relacionada com o domínio rítmico, de articulação e de dinâmica, esteve mais presente nos graus iniciais de aprendizagem, indo de encontro às necessidades individuais dos discentes. Com os alunos mais velhos, ainda que se realizassem exemplificações relacionadas com o desenvolvimento de competências no domínio teórico-musical, a exemplificação instrumental esteve mais voltada para o plano da agógica e expressividade musical para a construção da “identidade performativa” do aluno, tendo em consideração o estilo de composição do texto musical a trabalhar e o estilo interpretativo do professor cooperante.

5.1.2 Observação da Prática Pedagógica: contexto colectivo

No que diz respeito ao contexto colectivo, a observação permitiu verificar que os reparos foram feitos, quase exclusivamente, com recurso ao discurso didáctico expositivo-explicativo, ou concretizados através da reprodução melódica vocal (Canto), das diferentes partes instrumentais. O trabalho observado no contexto colectivo (Música de Câmara), não incluiu a exemplificação instrumental pelo professor cooperante, como pode ser verificado nos Registos de Observação: contexto colectivo (Anexo CD). A metodologia, ao estilo ensaio de grupo, recorreu, a nível estratégico, à utilização da prelecção e do Canto, com paragens e correcções técnico-musicais sempre que entendido como necessário pelo professor cooperante, no sentido de modelar a frase ou o trecho musical.