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Para uma melhor compreensão da intervenção neste estágio, de seguida irá existir o enfoque nas condições e respostas deste contexto.

2.1. Tipologia das sessões

Com base nas caraterísticas de cada utente, existia o encaminhamento para as sessões individuais, de grupo ou ambas.

As sessões de grupo baseavam-se nos grupos já anteriormente referenciados neste relatório: o grupo “Come & Go”, o grupo “PSIC” e o grupo “EF”.

Alguns dos utentes que se encontravam nos grupos, também presenciavam sessões individuais, de forma a potencializar as suas competências.

No caso dos estudos de caso apresentados, ambos estavam em sessões individuais com a estagiária, sendo que o N.B. também se encontrava num grupo (Grupo “Come & Go”).

2.2. Sessões tipo

Relativamente à sessão tipo, apesar das diferentes perturbações existentes no estágio, eram baseadas na mesma tipologia: um diálogo inicial, a parte fundamental e um diálogo final / reflexão. No diálogo inicial, nos primeiros minutos da sessão, procurava-se verificar o estado atual dos utentes e para relembrar a sessão anterior, permitindo uma continuidade entres as mesmas. Na parte fundamental, existiam as atividades elaboradas com base nos objetivos estipulados para o(s) utente(s) em causa, e.g., atividades de relaxação, atividades expressivas, atividades gnoso- práxicas. Na parte final da sessão, existia uma reflexão acerca da sessão vivenciada, permitindo espaço para a exteriorização das vivências do próprio utente, que por vezes foi transmitida de uma forma mais simbólica, e.g. desenhos.

2.3. Espaço de intervenção

No espaço do Centro de Saúde da Damaia, existe uma sala de psicomotricidade com os materiais necessários para a realização das sessões. Nesta sala ocorriam as sessões de grupo, devido à sua grande dimensão. Esta sala tinha uma mesa, cadeiras, um quadro branco e canetas para se escrever nele e materiais caraterísticos da psicomotricidade (arcos, bolas, instrumentos musicais, dados, colchões, almofadas grande e pequenas, lenços, entre outros. A lista dos materiais em detalhe está apresentada em no anexo A.

43 Para as sessões individuais, utilizava-se um gabinete, de menores dimensões, com um colchão para as atividades de relaxação, uma secretária, um computador, três cadeiras e alguns materiais de menores dimensões.

2.4. Instrumentos de avaliação

No decorrer do estágio foram utilizados diversos instrumentos, entre os quais a Bateria Psicomotora (BPM), a Symptom Checklist-90-Revised (SCL-90-R), a Ficha do Esquema de Tensões e a Grelha de Observação do Comportamento (GOC).

Os itens utilizados para avaliar os utentes acompanhados, foram aplicados consoante as características dos mesmos e foram utilizados de forma a realizar um perfil psicomotor, permitindo o estabelecimento de um plano terapêutico. Estes instrumentos também serviram para acompanhar as evoluções dos utentes após o plano terapêutico.

2.4.1. Bateria Psicomotora

A BPM consiste num instrumento de observação e de avaliação criado por Vítor da Fonseca (2001). Este instrumento inclui diversas tarefas de forma a detetar défices funcionais e o potencial dinâmico de aprendizagem da criança, identificando sinais psicomotores.

Este instrumento permite a identificação das áreas fortes e fracas do indivíduo e analisar o seu perfil intraindividual. O perfil psicomotor irá facilitar a compreensão de problemas de cariz comportamental e de aprendizagem (Fonseca, 2001). A idade aconselhada para a aplicação deste instrumento é entre os 4 e os 12 anos (Fonseca, 2010).

A BPM engloba sete fatores psicomotores, que englobam subfactores (Fonseca, 2001): tonicidade (inclui os itens de extensibilidade, passividade, paratonias, diadococinésias e sincinésias), equilibração (engloba os itens de imobilidade, equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico), lateralização, noção do corpo (abrange os itens do sentido cinestésico, reconhecimento direita-esquerda, autoimagem, imitação de gestos e desenho do corpo), estruturação espaciotemporal (inclui os itens de organização espacial, estruturação dinâmica, representação topográfica e estruturação rítmica), praxia global (abrange os itens de coordenação oculopedal e oculomanual, dismetria e dissociação) e praxia fina (engloba os itens de coordenação dinâmica manual, tamborilar e tarefas de velocidade-precisão. Estes fatores estão organizados de forma hierárquica pelas três áreas funcionais de Luria (1973, cit in Fonseca, 2010).

44 Para além destes fatores, ainda existem itens de observação do aspeto somático, dos desvios posturais e do controlo respiratório, tendo em conta o seu impacto no desempenho das tarefas sugeridas (Fonseca, 2010).

Existem 4 níveis de execução para o desempenho nas tarefas apresentadas, descritos ao longo das tarefas. Cada fator engloba determinadas tarefas, que juntando a sua cotação obtém um valor para esse mesmo fator. Assim, o resultado final permite uma melhor análise do perfil intra-individual, segundo quatro níveis: hiperpráxico (4 pontos), eupráxico (3 pontos), dispráxico (2 pontos) e apráxico (1 ponto) (Fonseca, 2010). O perfil hiperpráxico consiste na execução perfeita, precisa, harmoniosa e bem controlada das tarefas, sendo uma classificação excelente e com uma boa organização a nível psiconeurológico. No perfil eupráxico existe uma realização controlada e apropriada das tarefas, sendo um perfil bom, sem a presença de sinais de dificuldade significativos. O perfil dispráxico manifesta dificuldades no controlo das tarefas com sinais desviantes e, assim, é classificado como fraco, com ligeiras disfunções que preditam algumas dificuldades. No perfil apráxico não existe uma resposta ou existe uma resposta com realização incompleta, desadequada e descoordenada, classificando-se como um perfil muito fraco, com disfunções visíveis que demonstram dificuldades consideráveis.

Apesar deste instrumento ser direcionado para crianças, verificou-se a sua pertinência nesta população atendida, uma vez que englobava tarefas e, consequentemente, fatores relevantes, tais como a noção do corpo, o equilíbrio e a tonicidade, que permitiam verificar as dificuldades que normalmente estão presentes nesta população (esquizofrenia e perturbação da ansiedade). Assim, existiu a aplicação dos itens considerados mais pertinentes pela estagiária, permitindo uma orientação para a realização do projeto terapêutico.

2.4.2. Symptom Checklist-90-Revised

Em 1975, Derogatis desenvolveu a SCL-90-R que consiste numa escala de auto- avaliação que permite a avaliação de sintomas manifestados em doentes psiquiátricos. É constituída por 90 itens, englobados em 9 dimensões primárias e 3 índices de sofrimento geral. Cada um dos itens é classificado com base numa escala de 5 valores

relativamente à frequência da manifestação dos sintomas: 1 – nunca; 2 – poucas

vezes; 3 – às vezes; 4 – muitas vezes; 5 – sempre ou quase sempre (Casullo & Pérez, 2008). Este instrumento é fácil de administrar e demora cerca de 15 minutos a ser preenchido. Pode ser aplicado a indivíduos entre os 13 e os 65 anos de idade, caso

45 este não manifestem sintomas delirante no momento da administração do instrumento (Casullo & Pérez, 2008).

Para a sua cotação e interpretação é necessário ter-se em conta determinadas dimensões, entre as quais (Casullo & Pérez, 2008): somatização (manifestação de sofrimento pela perceção de disfunções corporais – e.g. disfunções cardiovasculares, gastrointestinais e respiratórias); obsessão-compulsão (sintomas peculiares da perturbação obsessivo-compulsiva – e.g. pensamento, ações e impulsos que não são desejados mas que o indivíduo não consegue evitar); sensibilidade interpessoal

(sentimentos de inferioridade e inadequação pessoal perante terceiros – e.g.

sentimentos de autodepreciação); depressão (manifestações clínicas da perturbação

depressiva – e.g. perda de motivação e interesse, pouca energia); ansiedade –

sintomas associados a níveis de ansiedade elevados, nervosismo, tensão, ataques de pânico e medos); hostilidade (pensamentos, sentimentos e ações próprios da presença de afetos negativos – e.g. expressão de agressividade, irritabilidade, raiva e ressentimento); ansiedade fóbica (resposta do sentimento de medo de forma constante, irracional e desproporcional em relação a pessoas, a lugares ou a

determinados objetos – e.g. comportamentos de evitamento ou de fuga); ideação

paranoide (distorções do pensamento particulares do comportamento paranoide

e.g. pensamento projetivo, sentimentos de desconfiança, delírios, medo de perder

autonomia); Psicotismo (estilo de vida esquizoide – e.g. solidão, alucinações e

difusão do pensamento).

Quando existe o preenchimento da escala, existe a cotação dos 3 índices de sofrimento geral: o índice global de severidade (corresponde ao nível de severidade do sofrimento presente), o índice de sintomas positivos (inclui os itens com cotação positiva) e o total de sintomas positivos (relacionado com o estilo de resposta, permitindo perceber se o utente apresenta uma tendência para amplificar ou minimizar os seus sintomas).

No estágio este instrumento apenas foi aplicado a um dos utentes, o que estava diagnosticado com Perturbação Generalizada da ansiedade, de forma a compreender melhor os sintomas apresentados por este utente e de forma a ser possível monitorizar os mesmos (nas avaliações iniciais e finais), uma vez que não existiam dados registados sobre este utente.

2.4.3. Ficha do Esquema de Tensões

A avaliação através da Ficha do Esquema de Tensões (Martins, s.d.) é qualitativa e consiste em duas imagens do corpo humano (uma com uma visão anterior do corpo, e

46 a outra numa visão posterior do mesmo). Estas imagens apresentam os diferentes grupos musculares, estando os mesmos divididos por linhas a tracejado.

Antes da aplicação desta avaliação, é sugerido ao utente que tente consciencializar as tensões presentes nas diferentes partes do seu corpo, aconselhando uma postura confortável e, se possível, os olhos fechados, podendo existir ainda alguns movimentos de forma a promover esta consciencialização corporal. Após a escuta interior do utente, solicita-se que o mesmo represente as tensões observadas na ficha do esquema de tensões, utilizando 3 cores distintas: o vermelho para representar as zonas de muita tensão, o amarelo para indicar as zonas com tensão intermédia e o verde para revelar as zonas de pouca ou nenhuma tensão (Martins, s.d.).

Também é possível utilizar-se esta avaliação como monitorização do relaxamento muscular em determinadas sessões de intervenção psicomotora, existindo o preenchimento desta ficha antes e após a sessão em causa.

Através desta avaliação é possível perceber a capacidade de pensamento do utente sobre o seu próprio corpo, assim como a sua capacidade de consciencializar as zonas de tensão e de relaxamento muscular, sendo pedido que o utente apenas identifique as áreas musculares que consegue consciencializar.

Este instrumento foi aplicado ao utente com Perturbação da Ansiedade Generalizada e foi de uma grande pertinência, uma vez que foi possível observar a evolução da consciência corporal presente durante a intervenção.

2.4.4. Grelha de Observação Comportamental

A GOC (Duarte et al., 2015) permite uma avaliação do progresso a nível qualitativa e quantitativa em população de adultos com psicopatologia. Consiste numa avaliação com uma fácil administração, não requerendo material específico nem padronizado e pode ser utilizado em qualquer faixa etária, não dependendo também da condição biopsicossocial dos utentes. Este instrumento engloba três domínios que incluem diversos comportamentos observáveis durante a sessão, nomeadamente o comportamento e o desempenho, a relação e as componentes psicomotoras.

No primeiro domínio estão incluídas a apresentação/postura perante a tarefa, a participação e ajustamento à tarefa, a iniciativa e sugestões, a atitude face à tarefa, a comunicação verbal e não-verbal, o respeito pelas regras, a tolerância à frustração e a memória. No segundo domínio são avaliados questões como a relação com o terapeuta, a relação com os pares e as estratégias de resolução de problemas. O terceiro domínico, das componentes psicomotoras, engloba a lentificação da resposta,

47 a tonicidade, o equilíbrio, a lateralidade, a noção do corpo, a estruturação espaciotemporal e as praxias global e fina (Duarte et al., 2015).

Durante este estágio teve-se em atenção os dois primeiros domínios, uma vez que o último, relacionado com as componentes psicomotoras, já teria sido avaliado com base na aplicação da BPM.

A cotação neste instrumento é realizada com base na frequência do comportamento em causa, utilizando-se a seguinte escala para o efeito: 1- “nunca/quase nunca”; 2 – “poucas vezes”; 3 – “muitas vezes”; 4 – “sempre/quase sempre”. Para além da cotação de cada item, existe espaço para as observações dos técnicos em relação a detalhes que considerem relevantes relativamente aos comportamentos observados (Duarte et al., 2015).

Este instrumento não era utilizado no espaço@com, sendo adicionado pela estagiária nas suas avaliações, permitindo uma avaliação sem ser necessário sessões específicas para o efeito. A GOC também permitiu uma avaliação mais completa de diversos aspetos do utente, melhorando o conhecimento em relação à relação dos utentes consigo próprios e com o meio.

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