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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.3 Arte e Saúde Mental

2.3.8 Intervenções com Imaginação Dirigida e Relaxamento

O uso de imagens mentais para o controle da dor e para a indução ao relaxamento é descrito já na antiga medicina da China, do Egito e da Índia como uma forma de estabelecer uma comunicação entre a percepção sensorial, a emoção e a modificação corporal (Leão, Silva, 2004). É uma técnica cognitiva que evoca e estimula os sentidos: visão, olfato, audição,

tato. Estes sentidos, em conjunto ou individualmente, produzem alterações regenerativas no corpo e na mente. A imaginação dirigida é um programa de instruções que tem como objetivo auxiliar as pessoas a adquirirem um estado mental e físico por meio do relaxamento muscular e da sugestão de imagens mentais positivas, de forma a atenuar o desconforto associado aos transtornos do humor (Apóstolo, Kolkaba, 2009); além disso, é também muito utilizada em pacientes que sofrem com dores crônicas e desconfortos provenientes de tratamentos (Leão, Silva, 2004). A imaginação dirigida pode agir na mudança do foco da experiência da dor, que em geral ocupa a atenção do indivíduo, provocando um deslocamento atencional para imagens mentais mais agradáveis, com a finalidade de obter resultados terapêuticos. Esse efeito é explicado como indução de relaxamento, liberação de endorfinas e distração (Leão, Silva, 2004). É considerada uma potente intervenção psicológica no alívio da dor e na melhora da depressão, o que se dá ao induzir a imaginação para imagens agradáveis, as quais podem afetar a pessoa positivamente. Essas imagens mentais geralmente são geradas a partir das instruções de outra pessoa, como por exemplo, terapeuta, psicólogo, enfermeiro ou outro profissional habilitado.

Como geralmente ocorre em indivíduos deprimidos, a frequência de pensamentos negativos, a apatia e a empobrecida atividade física e mental impedem que a pessoa saia do círculo vicioso: pensamentos negativos, reclamações, lamentações e situações negativas. A imaginação dirigida auxilia a quebrar a sequência de pensamentos rígidos e automáticos, ruminações, sentimentos de menos-valia, rejeição, tristeza e perdas. Esta técnica proporciona um elo entre mente e corpo, provocando a partir da emoção positiva respostas psicológicas, fisiológicas e comportamentais mais adequadas e funcionais.

Uma revisão sistemática apoiada na suposição de que as imagens mentais estão especialmente relacionadas com a emoção e devido a isso são consideradas relevantes para a psicopatologia, teve como objetivo esclarecer pontos importantes; para tanto, foi dividida em quatro seções: 1) estudar as evidências de que as imagens podem influenciar diretamente os sistemas emocionais cerebrais, os quais levam às sensações. 2) mostrar evidências de que as imagens mentais realmente evocam mais repostas emocionais do que a representação verbal. 3) apresentar um modelo que contrapõe a geração de representações baseadas na linguagem com as representações por meio de imagens mentais, e mostrar os diferentes efeitos nas emoções, nos comportamentos e nas crenças. 4) com base na revisão feita anteriormente, discutir o papel da imaginação nos transtornos emocionais e de que forma poderia ser utilizada em terapias. Concluiu-se que as imagens podem realmente trazer mais respostas emocionais do que a representação verbal de um mesmo evento. As imagens podem

influenciar o comportamento quando percebidas como realidade ou ainda, mesmo quando são distinguidas da realidade, podem provocar uma experiência sensorial imediata que não acontece em outras formas de representações, como a verbal. Dessa forma as imagens mentais atuariam como amplificadoras emocionais, tanto em estados emocionais positivos quanto negativos e em diversos transtornos emocionais (Holmes, Mathews, 2010).

Um estudo teve o intuito de testar a hipótese derivada da teoria cognitiva de Beck, a qual preconiza que a diminuição de pensamentos negativos alivia a depressão. Para reduzir a incidência de pensamentos negativos e avaliar a melhora da depressão, este estudo utilizou duas estratégias cognitivas de enfrentamento: indução a imagens agradáveis e uma tarefa de distração. Constatou-se que a visualização de imagens agradáveis foi mais efetiva em aliviar a depressão do que as tarefas de distração (Skeie et al., 2010).

Outro estudo com duração de quatro semanas, utilizou três modalidades de intervenção para avaliar a eficácia de cada uma em relação à dor: um grupo recebeu treinamento de relaxamento e imaginação dirigida com imagens agradáveis (“Pleasant Imagery” – PI), a fim de provocar a distração da experiência da dor (n=17). Outro grupo recebeu treinamento de relaxamento e imagens com foco ativo nos sistemas da dor (“Attention Imagery” – AI) (n=21). O GC recebeu tratamento medicamentoso usual (n=17). Os pacientes também receberam aleatoriamente 50 mg de amitriptilina por dia ou placebo. A classificação de dor diária foi utilizada por quatro semanas como medida de resultado. Foram encontradas diferenças significativas em relação à dor entre as três condições: a imaginação dirigida com imagens agradáveis – PI teve resultado significativo na redução da dor quando comparada ao GC (p <0,005). O grupo de imagens com foco ativo nos sistemas da dor – AI não diferiu do GC (p <0,05). A amitriptilina não apresentou diferença quando comparada ao placebo, talvez pela curta duração do estudo (p= 0,98) (Fors et al., 2002).

No presente estudo, Arteterapia e Depressão, o relaxamento e a imaginação dirigida foram utilizados com a finalidade de auxiliar as participantes a desviar a atenção das preocupações e dos pensamentos depressivos, induzir e sugerir pensamentos mais agradáveis, focalizar o momento presente e interiorizar a atenção para os sentimentos, além de prepará-las para o trabalho artístico, o que se deu por meio do discurso relacionado ao tema abordado durante o relaxamento em cada oficina e da música utilizada para acompanhar esse discurso. Dessa forma a utilização da imaginação dirigida associada ao trabalho artístico buscou a transformação da visão de mundo, a compreensão de fatos e situações passadas, com a finalidade de integrá-las positivamente como experiências de vida.

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