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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.3 Arte e Saúde Mental

2.3.5 Intervenções em Arteterapia

Intervenções utilizando a arte como terapia, ou Arteterapia, têm sido empregadas em faixas etárias variadas e em inúmeros contextos, tais como: educação, promoção social, cultura; porém serão citados aqui apenas exemplos de estudos na área da saúde, principalmente relacionados à depressão ou que tenham a depressão como comorbidade.

Um estudo piloto investigou a eficácia da Arteterapia na melhora do desempenho cognitivo de 24 idosos hispânicos, latino-americanos, acima de 60 anos (idade média: 75 anos), residentes nos Estados Unidos, frequentadores de um centro de convivência. A pesquisa constou de um programa quasi-experimental de 12 sessões de Arteterapia, semanalmente. Para avaliar foram usados o Teste do Desenho do Relógio e o Questionário de Falhas Cognitivas (Cognitive Failures Questionnaire – CFQ) antes e após o programa. Foi utilizado um método de intervenção em Arteterapia para facilitar o planejamento e monitoramento das atividades de estimulação cognitiva, ao mesmo tempo em que incentivava a interação entre os participantes. As conclusões sugeriram que a Arteterapia pode ser benéfica para melhorar a autopercepção das próprias habilidades cognitivas, além de contribuir positivamente para o desempenho cognitivo geral (Alders et al., 2010).

Um estudo quasi-experimental, n=50, aplicou em adultos com diagnóstico de câncer uma sessão de Arteterapia com uma hora de duração, com o objetivo de avaliar a dor e outros sintomas comuns a pacientes internados. Foram utilizadas as seguintes escalas: Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton e Índice de Spielberger Ansiedade Traço-Estado antes e após a Arteterapia, além de questões abertas, as quais avaliaram as percepções dos sujeitos sobre a experiência. Foram observadas reduções estatisticamente significativas em oito dos nove sintomas medidos pela Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton, incluindo a pontuação global de aflição, bem como diferenças significativas na maioria dos domínios medidos pelo Índice de Spielberger Ansiedade Traço-Estado. Os indivíduos, predominantemente, expressaram conforto e desejo de continuar a terapia (Naines et al., 2006).

Outro estudo randomizado foi desenvolvido com 41 mulheres entre 39 e 69 anos, com diagnóstico de câncer de mama não metastático. O primeiro grupo passou por sessões individuais de Arteterapia com duração de uma hora, semanalmente, o que ocorreu após o tratamento de radioterapia pós-operatória. O GC era composto por 21 mulheres que não receberam intervenções. O artigo enfoca a evolução dos recursos de enfrentamento, medidos pelo Inventário de Recursos de Enfrentamento, antes do início do tratamento radioterápico, 2

meses e 6 meses após o início. No final do estudo concluíram que houve um aumento global dos recursos de enfrentamento entre as mulheres depois de participarem da intervenção em Arteterapia. Foram observadas diferenças significativas no domínio social entre os grupos estudo e controle na segunda e terceira avaliações. Diferenças significativas também foram notadas no escore total da segunda avaliação. Em outro estudo realizado com mulheres idosas com câncer de mama, a intervenção com Arteterapia auxiliou na melhora psicológica e no bem-estar geral, diminuindo os estados emocionais negativos e reforçando os positivos (Öster et al., 2006; Puig et al., 2006).

Um estudo de 2010 (Slayton et al.), continuando uma revisão de 1999 (Reynolds), identificouestudos entre 1999 e 2007 que mediram os resultados da eficácia da Arteterapia, e sugeriram que há pequena consistência de dados quantitativos para corroborar a alegação de que a Arteterapia é eficaz no tratamento de vários transtornos, sintomas e em diferentes faixas etárias.

Em 2011 foi realizada uma revisão sistemática em Arteterapia, pesquisando o manejo dos sintomas em adultos com câncer. Nesses estudos foram utilizadas diversas medidas de avaliação de resultados, como: questionários, entrevistas, produções dos pacientes, amostras de saliva para medir estresse e narrativa dos terapeutas sobre as sessões. Não foi possível medir o tamanho do efeito devido à heterogeneidade dos estudos. Concluíram que Arteterapia é uma abordagem psicoterapêutica que tem sido usada em adultos com câncer para auxiliar no manejo dos sintomas referentes à doença e no tratamento e, além disso facilitar o reajustamento psicológico concernente à incerteza, mudança, perda e sobrevivência (Wood et al., 2011).

Outra revisão sistemática e meta-análise examinou a Arteterapia em relação à ansiedade, depressão e qualidade de vida em pacientes com câncer de mama. Foram pesquisadas as bases de dados Cochrane, Pubmed e Google Acadêmico desde o início das bases de dados até janeiro de 2012. Dos 318 títulos e resumos identificados e selecionados, foram incluídos treze estudos com 606 participantes. As terapias abrangeram diversos tipos de Arteterapia, dança, musicoterapia, movimento. Os métodos empregados tiveram grande variação na qualidade, de pobre a alta. Os resultados obtidos sugerem que as terapias artísticas parecem afetar positivamente a ansiedade dos pacientes, mas não a depressão ou a qualidade de vida. Não foi possível tirar conclusões quanto aos efeitos da Arteterapia em relação à dor, à avaliação funcional, ao enfrentamento. Todavia essa revisão indicou que as intervenções artísticas podem ter efeitos benéficos sobre a ansiedade em pacientes com câncer de mama (Boehm et al., 2014).

A Arteterapia é reconhecida como sendo benéfica desde meados do século passado, e tem sido empregada, como já mencionado anteriormente, em diversos contextos na área da saúde: com pacientes com doenças crônicas, deficiências físicas, câncer, doenças psiquiátricas, etc., na área educacional, na área social e em todas as faixas etárias (Boehm et al., 2014). Entretanto, embora sua eficácia, a Arteterapia é extremamente subutilizada; uma das razões poderia ser a carência de pesquisas. Foi realizado um estudo que tentou detectar as razões pelas quais a Arteterapia não é utilizada como poderia ser. As questões submetidas a várias instituições foram: a) falta de arteterapeutas ou instrutores; b) falta de interesse ou demanda por funcionários ou pacientes; c) falta de apoio pessoal ou administração; d) falta de financiamento. Esse estudo não obteve resultado para estas questões por não encontrar pessoas capazes de responder o questionário. Chegaram à conclusão de que, apesar da Arteterapia apresentar benefícios para diversas populações, é subutilizada por razões desconhecidas até o momento da finalização deste estudo (Bitonte, De Santo, 2014).

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