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4.3 – INTERVENÇÕES DE EDIFÍCIOS PESQUISADOS NO IPPAR

O IPPAR é um organismo Público, sendo um dos seus principais objectivos a salvaguarda e valorização de edifícios antigos, que lhe são afectos.

Esta entidade também intervém nos processos de classificação de imóveis, emitindo pareceres sobre as intervenções pretendidas para esses imóveis, bem como os imóveis abrangidos por áreas de protecção (secção 2.5.1.1).

4.3.1 – Claustro do Mosteiro de Salzedas, Tarouca, Viseu – Diagnóstico

efectuado às condições de estabilidade do Claustro do século XVII.

O claustro de Salzedas apresenta fendilhação generalizada, deslocações acentuadas de paredes e de tectos em forma de abóbada, manifestações de humidades, rotura mecânica de materiais, entre outras degradações. Estes claustro ficou ao abandono, contribuindo desta forma para um progressivo acentuar das suas anomalias, estando presentemente em estado de ameaça de ruína, figura 4.44.

a) b) Figura 4.44: Claustro do Mosteiro de Salzedas

a) Claustro grande; b) Claustro pequeno (em ruínas)

4.3.1.1 – Enquadramento

Este edifício é composto por Igreja e Mosteiro (figura 4.45), tendo sido a Igreja classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 95/78 de 12 de Setembro. Posteriormente foi feita segunda reclassificação como Monumento Nacional através do Decreto n.º 67/97, Diário da República de 31 de Dezembro de 1997. O Mosteiro encontra- se actualmente em estudo de classificação.

O edifício em epígrafe encontra-se localizado no centro da localidade de Salzedas, em ambiente rural, em zona de interesse paisagístico, figura 4.46 a).

Edifício de arquitectura religiosa, românica, gótica, maneirista, barroca. Igreja de planta longitudinal com três naves escalonadas, com cobertura em abóbada de aresta e ogivas, com transepto saliente e capela-mor profunda, mais estreita, com sacristia e claustros anexos. [4.15]

Destaca-se a fachada principal da Igreja, com três corpos separados por pilastras, o

central ligeiramente recuado, com pórticos de arco abatido encimados, os laterais, por frontões semicirculares, tendo o central espaldar e cornija encurvados.

O segundo nível do alçado é delimitado por um friso, vendo-se sobre o pórtico principal um frontão curvo interrompido, recebendo um óculo central de perfil recortado e polilobado e sobre os pórticos laterais, dois óculos ovais encimados por cornijas triangulares curvas [4.15], figura 4.46 b).

a)

Figura 4.46: a) Edifício da Igreja e Mosteiro de Salzedas localizado no centro da Vila

b) Fachada principal da Igreja b)

Ao alçado Sul da Igreja, adoçam-se os dois claustros e antigas instalações do mosteiro. Um dos claustros, denominado Claustro Grande (figura 4.44 a), é composto, nas quadras, por arcos de volta inteira no primeiro piso, coberto por abóbadas de ogiva, e galeria superior fechada, com janelas encimadas por frontão triangular e encimadas por beirado. Este claustro é coberto por abóbadas de berço. Numa das alas, situa-se a sala do capítulo de planta quadrangular e abóbada de nervuras, revestida por silhares de azulejo

padrão. A ala Sul comunica com outro claustro (claustro pequeno – figura 4.44 b), em estado de ruína, de arcos de volta inteira, assentes em coluna de fuste liso, desenvolvendo- se, no segundo piso, a residência paroquial. Dependências do antigo mosteiro, em ruínas, e outras construções incaracterísticas completam o conjunto. No exterior, ao lado do alçado principal, um edifício de dois pisos, pertencendo ao antigo convento, com pórtico renascentista, sobre o qual se encontra um nicho rematado por frontão curvo. [4.13]

O Mosteiro de Salzedas é o segundo maior Mosteiro do País, a seguir ao Mosteiro de Alcobaça. O historial do Mosteiro foi tratado em diversas obras, salientando-se em especial a descrição do Roteiro das Abadias Cistercienses de Portugal. Este apresenta consideráveis dimensões em planta 75.0 x 101.0 m². [4.14]

4.3.1.2 – Diagnóstico e levantamento dos danos registados no Claustro

O claustro do Mosteiro de Salzedas apresenta um estado de degradação considerável, com risco de ruína, face aos danos observados. Actualmente encontra-se realizado um estudo referente à estabilidade do imóvel, na zona do claustro grande e estando em fase de desenvolvimento o projecto de reforço e consolidação estrutural para intervir no mesmo.

A pesquisa realizada no IPPAR incidiu sobre o referido estudo de estabilidade, cujos conteúdos se passam a descrever, bem como as intervenções anteriormente realizadas pela DREMN.

i) Intervenções realizadas pela DREMN

Foi feito o registo de anteriores intervenções realizadas pela DREMN, quando o edifício se encontrava afecto a esta entidade, destacando-se as seguintes [4.15], [4.16]:

• Consolidação do claustro pequeno, com laje aligeirada de vigotas pré- esforçadas, com tirantes que uniam os arcos do 1º andar à parede do edifício contíguo, figuras 4.47 a) e b).

• Abóbadas nervuradas em betão armado, figura 4.47 c).

a) b) c) Figura 4.47: a) e b) Laje aligeirada de consolidação do claustro pequeno, com incorporação

de tirantes; c) Abóbada nervurada em betão armado

ii) Inspecção visual

• Paredes

As paredes apresentam deformações consideráveis, provocando em diversos casos a separação das abóbadas e dos arcos formeiros que deveriam dar apoio, figura 4.48 a). O valor máximo de separação entre as abóbadas do 1º piso e a parede exterior da ala poente atinge 80 milímetros a meio vão da parede.

As paredes interiores do claustro apresentam uma deformação em forma de arco (“barriga”), para o exterior, numa situação anormal, atingindo valores máximos de 18 centímetros no ponto central.

Deslocamentos entre o rés do chão e o 1º piso são mais significativos do que os obtidos para as paredes interiores, não se registando grandes diferenças de deslocamentos entre o 1º e o 2º pisos. Além destes factos, verifica-se um aspecto de degradação e envelhecimento das paredes, figura 4.48 b). [4.16]

a) b) Figura 4.48: a) Deslocamento de uma abóbada da parede; b) Aspecto das paredes

• Abóbadas

Foi feito o levantamento de deslocamentos e anomalias das abóbadas, destacando-se [4.16]:

- Levantamento dos deslocamentos verticais do extradorso das abóbadas de berço e das abóbadas nervuradas.

- Abóbada de berço da ala sul, apresenta uma fenda do tipo corrida, a meio do arco, figura 4.49 a).

- Abatimento na ordem de 100 milímetros, no sentido longitudinal. O deslocamento desta abóbada indica uma situação de pré- colapso, encontrando-se a mesma escorada, figura 4.49 b).

- Abóbadas nervuradas com afundamento do extradorso na zona de encontro, figuras 4.49 c) e d).

a) b)

c) d) Figura 4.49: a) Fenda corrida ao longo da abóbada de berço; b) Escoramento de abóbada

c) e d) Fissuras nos encontros das abóbadas com os apoios

iii) Diagnóstico efectuado às condições de estabilidade

• Levantamento rigoroso das fendas/fissuras e deslocamentos existentes As abóbadas apresentam diversas fendas longitudinais com extensões consideráveis. Algumas destas fendas são intersectadas por outras fendas transversais, podendo atingir 10 milímetros.

Separação da pedra de fecho dos arcos, podendo atingir 35 milímetros, figura 4.50 a). Destacamento do encontro de algumas abóbadas com a estrutura de apoio, figura 4.50 b).

a)

Figura 4.50: a) Separação da pedra de fecho de um dos arcos; b) Desligamento de uma abóbada

nervurada da parede de apoio b)

Deformação do cunhal a sudeste, que possui uma deformação muito significativa no sentido para o exterior do claustro. O deslocamento atinge 120 milímetros entre as paredes sul e nascente e uma separação de 50 milímetros, entre as paredes este e a abóbada nervurada. As linhas assinaladas a vermelho na figura 4.51, representam o levantamento de fissuras da ala norte do interior do claustro. [4.16]

Figura 4.51 [4j]: Patologias da parede interior da ala norte

Também se procedeu à análise dos deslocamentos verificados nas paredes interiores do claustro, registando-se valores consideráveis. Estes atingem dimensão de 13 centímetros, como deslocamento para o interior, na parede da ala sul do claustro, figura 4.52.

Figura 4.52 [4j]: Deslocamentos da parede interior da ala Sul do claustro (cotas em mm)

• Zonas de pedra esmagada

Os casos de pedra esmagada ocorrem sobretudo nos arranques dos arcos das abóbadas nervuradas do 1º piso. Esta anomalia tem maior expressão na ala poente, existindo também na ala sul. Este fenómeno é devido à deformação das abóbadas associada à fendilhação do fecho e ao movimento das paredes.

A rotação das abóbadas cruzadas, com separação entre as abóbadas e paredes contíguas, conduz a que os impulsos das abóbadas de preenchimento em tijolo e do material de enchimento se processe de forma concentrada sobre a zona de arranque dos arcos/mísula. Esta enorme concentração de esforços conduz ao elevar de tensões de compressão e esmagamento das pedras de apoio. [4.16]

• Zonas de tijolo deteriorado

Existem diversas abóbadas com tijolo deteriorado, sobretudo ao nível do 2º piso. Neste piso o dano mais visível encontra-se patente na abóbada de berço da ala sul, onde existe desaparecimento de alguns tijolos.