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2.4.5 – Processo de classificação de bens imóveis

O processo de classificação de um imóvel é um acto administrativo, de estudo, fundamentação e reconhecimento dos valores culturais que são reconhecidos e decretados na Lei.

Os valores para reconhecimento do valor de um imóvel encontram-se contemplados no artigo 17º do Decreto-Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro [2.11]:

“a) O carácter matricial do bem; b) O génio do respectivo criador;

c) O interesse do bem como testemunho simbólico ou religioso;

d) O interesse do bem como testemunho notável de vivências de factos históricos; e) O valor estético, técnico ou material intrínseco do bem;

f) A concepção arquitectónica, urbanística e paisagística;

g) A extensão do bem e o que nela se reflecte do ponto de vista da memória colectiva; h) A importância do bem do ponto de vista da investigação histórica e científica; i) As circunstâncias susceptíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem.”

Estes critérios estão relacionados com 3 aspectos associados: • Os critérios histórico – cultural, aplicável aos bens que [2.2]:

- “possuam um importante significado histórico;

- detenham uma especial simbologia para o País, e/ou para as respectivas

populações;

- constituam a memória da fixação humana, das suas actividades artísticas,

económicas, habitacionais, etc..., num espaço e num período considerado;

- sejam a expressão de reconhecimento, de mérito, de um movimento, de uma

tendência ou de uma corrente arquitectónica, arquitectónico-urbanística ou arquitectónico-paisagística, com relevo nacional ou internacional;

- tenham exercido uma influência considerável em determinado período ou

região, indepedentemente de se inscreverem no passado recente, no tempo médio ou no tempo longo”.

• O critério estético – social, aplicável aos bens que [2.2]: - “se destaquem pelas suas características estéticas; - se destaquem pela sua relação com o meio envolvente;

- ilustrem um estádio social evolutivo da intervenção humana, sem prejuízo

desse meio;

- sejam representativos da coexistência ou sobreposição de diferentes crenças

ou tradições naquele espaço, ao longo de diferentes tempos”.

• O critério técnico – científico, aplicável aos bens que [2.2]:

- “se destaquem pelas concepções arquitectónicas e urbanísticas, individual ou

- se destaquem pelas técnicas e materiais construtivos, independentemente de

se tratar de monumentos ou conjuntos “eruditos” ou “populares” e destes se encontrarem em áreas urbanas ou zonas rurais;

- sendo edifícios ou espaços que, embora, não possuindo, estruturalmente,

importante qualificação, foram palco ou cenário de actividades técnico- científicas marcantes ou de reconhecida importância”.

Além destes critérios existem outros que são complementares:

• O critério da integridade, aplicável aos bens que [2.2]:

- “tenham assumido, sem prejuízo fundamental, exigência evoluídas

determinadas pelos próprios materiais, técnicas e funções, ou pelo sentido do lugar;

- sejam representativos de uma área fisico-cultural em que, apesar de uma

natural evolução, esta se tenha processado de forma coerente, em relação ao próprio meio natural, às forças económicas, sociais e culturais desse meio”.

• O critério da autenticidade, aplicável aos bens que [2.2]:

- “tenham mantido, ao longo do tempo, valores originais, ou cujos restauros,

campanhas de conservação ou de eventual conclusão, tenham correspondido a documentação detalhada, e não tenham escamoteado ou não se tenham sobreposto à edificação, função ou enquadramento originários;

- se tenham conservado como testemunho civilizacional, em conjuntos, embora

actualmente desabitados”.

• O critério da exemplaridade, aplicável aos bens que [2.2]:

- “sejam exemplares arquitectónicos, arquitectónico-paisagísticos ou

urbanísticos, raros, únicos ou excepcionais, no seu contexto espácio- temporal, independentemente do tempo, próximo, do tempo médio ou do tempo longo”.

A classificação de um imóvel permite prestigiá-lo e defendê-lo, distinguindo-o de outros imóveis, pelos seus valores histórico, cultural e/ou estético, dotando-o de um enquadramento específico.

É de óbvia importância que a organização e estudo dos processos de classificação sejam levados a cabo segundo normas genéricas aceites em toda a Europa (através de convenções, recomendações, cartas).

Todo o processo passa por um método rigoroso de trabalho, com a realização de um levantamento rigoroso através de fotos antigas, actuais, projectos antigos, actuais, publicações, dados cartográficos, proprietários, caracterizações arquitectónica, histórico, artística e bibliográfica, entre outros elementos que caracterizem da melhor forma possível o imóvel em estudo de classificação. Estes processos de proposta de classificação deverão ser apresentados ao IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico), entidade esta que é responsável pela classificação de imóvel e que se descreverá com mais pormenor na secção 2.5.1.1 deste capítulo.

A partir do momento em que esta entidade determinar a abertura do processo de classificação de um determinado imóvel, este é considerado como “imóvel em vias de

classificação”.

O acto de classificação de um imóvel é geralmente um processo moroso, pela necessidade de conhecimento exaustivo suportado por rigor técnico, científico e audições das diversas entidades (proprietários, autarquias). A Lei portuguesa prevê a entrada em vigor de medidas de protecção na fase de instrução.

Umas das formas de protecção [2.11]: “...não podem ser concedidas licenças de

demolição total ou parcial de bens imóveis classificados ... ou em vias de classificação como tal, sem prévia e expressa autorização do órgão competente da administração central, regional, autónoma ou municipal, conforma os casos.”

Bem como não podem ser restaurados, modificados, conservados, alienados ou alterados sem prévia autorização do IPPAR e devendo os respectivos projectos de Arquitectura ser da responsabilidade de um técnico com qualificação arquitectónica nessa área (Arquitectos).

Outra forma de protecção dos imóveis classificados e em vias de classificação é a definição automática de uma zona geral de protecção (ZGP) de 50 metros, contados a partir dos seus extremos, cujo regime é fixado por Lei.

Concluído o processo de classificação de um imóvel, procede-se à publicação do acto por decreto do Governo. Será também realizada inscrição na Conservatória do Registo Predial passando o imóvel a estar isento de SISA e de contribuição Autárquica.