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F0 INTRÍNSECA DAS VOGAIS TÔNICAS DO PB OLIVEIRA JR (1998)

No documento Estudos em variação geoprosódica (páginas 41-45)

Marlucia Lopes Moraes Regina Célia Fernandes Cruz

A F0 INTRÍNSECA COMO PARÂMETRO ACÚSTICO DE IDENTIDADE DAS VARIANTES DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ-TÔNICAS DO PORTUGUÊS FALADO

2. F0 INTRÍNSECA DAS VOGAIS TÔNICAS DO PB OLIVEIRA JR (1998)

Oliveira Jr (1998) comprovou que é possível caracterizar e diferenciar as vogais tônicas do Português Brasileiro (PB) considerando apenas suas medidas de frequência fundamental (F0) intrínseca. Em seguida, Oliveira Jr. (1998) procedeu a uma comparação de seus resultados com os encontrados anteriormente no Inglês Americano (IA). Para tal, seis adultos (três homens e três mulheres) falantes nativos do PB participaram do estudo. O estímulo consistiu em uma lista de 14 palavras (ver Tabela 1) incluindo as sete vogais tônicas do português do Brasil: /i, e, Ɛ, a, ɔ, o, u/. Cada vogal estava inserida em uma estrutura dissilábica C¹V¹C²V², na qual C¹ é uma oclusiva bilabial surda ou sonora /p, b/, V¹ é a vogal alvo e C² também é uma oclusiva surda ou sonora. As palavras foram colocadas na frase veículo “Eu digo _____ agora” e apresentadas aos participantes em ordem aleatória. Cada participante leu três listas diferentes contendo 20 frases. Somente a segunda leitura foi considerada na análise.

Tabela 1 – Vogais utilizadas na pesquisa de Oliveira Jr. (1998, p. 147)

As vogais alvo foram cuidadosamente separadas da frase veículo usando um programa de edição de ondas sonoras. As medidas de F0 foram lidas sistematicamente fora do “pitch point”, que corresponde ao valor em 2/3 da duração da vogal. Testes-T foram feitos para cada vogal em ambos os grupos, masculino e feminino, com o objetivo de determinar se os valores encontrados para o português eram significativamente diferentes dos encontrados para o inglês. Nenhuma diferença estatisticamente significativa foi encontrada em quaisquer dos

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casos. Com o intuito de verificar se o efeito da F0 intrínseca está também presente no PB, um modo intragrupo de análise de variâncias (ANOVAs) foi realizado.

De posse das medidas em Hz, foram elaborados os seguintes gráficos contendo os dados sobre as vogais do PB:

Figura 2 – Valores de F0 em Hz das vogais do PB produzidas pelos

falantes do sexo masculino (Oliveira Jr.,1998, 148)

Figura 3 – Valores de F0 em Hz das vogais do PB produzidas pelos

falantes do sexo feminino (Oliveira Jr., 1998, 148)

Como é possível observar nos gráficos acima, os valores em Hz de F0 das vogais tônicas do PB encontrados por Oliveira Jr. (1998), ficaram como demonstrado no Quadro 3, mais adiante. O valor de F0 do quadro mostra o valor mínimo e o máximo para cada vogal.

Os resultados de Oliveira Jr. (1998), dessa forma, mostraram que, assim como em diversas línguas já estudadas, o efeito da F0 intrínseca está também presente no Português Brasileiro. No que diz respeito à comparação do PB com o Inglês Americano, a distinção anterior/posterior que tem sido verificada como realmente significativa no IA não foi observada no PB. Ao invés disso, parece haver uma tendência em direção oposta, isto é, a vogal [u] – que tem a F0 mais alta do que [i] no IA – tende a ter um valor levemente mais

baixo do que a vogal [i] no PB. O estudo também mostrou que a distinção surda/sonora, que atua como um papel importante nos valores absolutos de F0 da vogal subsequente no IA, parece não ter influência significativa no PB. Argumenta-se que isso pode ocorrer devido à falta de aspiração no PB.

Fala masculina Fala feminina

Vogal Valor de F0 Vogal Valor de F0

[i] 110Hz e 150Hz [i] 180Hz e 300Hz [e] 110Hz e 140Hz [e] 170Hz e 280Hz [Ɛ] 100Hz e 135Hz [Ɛ] 175Hz e 280Hz [a] 100Hz e 130Hz [a] 160Hz e 275Hz [o] 100Hz e 140Hz [o] 175Hz e 275Hz [ɔ] 100Hz e 135Hz [ɔ] 180Hz e 275Hz [u] 100Hz e 145Hz [u] 170Hz e 300Hz

Quadro 3 – Valores de F0 das vogais tônicas do Português Brasileiro encontrados por Oliveira Jr. (1998)

Diante disso, o estudo de Oliveira Jr. (1998) mostra o quanto é importante investigar as propriedades intrínsecas das vogais para os estudos acústicos e perceptuais da Fonética. A pesquisa aqui apresentada tem como base tal estudo, por isso, a metodologia do mesmo foi adaptada para estudar a F0 das vogais médias pré-tônicas da Amazônia Paraense, acreditando que elas podem ser caracterizadas por sua F0 intrínseca. Vale mencionar que, diferentemente do estudo abordado nessa sessão, que trabalhou com vogais tônicas, na presente pesquisa foram analisadas as variantes das vogais médias pré-tônicas /e/ e /o/.

3. METODOLOGIA

Como na metodologia do projeto Norte Vogais já é prevista desde o início a tomada de medida dos valores em Hz de F0 com o auxílio do programa PRAAT e, em seguida, tais

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valores são organizados em uma planilha Excel (ver Figura 6), foram justamente esses valores os utilizados para compor a análise do presente estudo.

Figura 4 – Janela do Excel demonstrando como foi feita a organização dos dados

Todas as amostras de fala dos 18 informantes de cada localidade – Belém, Barcarena e Cametá –, totalizando 54 informantes, foram utilizadas. Dessa forma, os informantes são 27 homens e 27 mulheres, nas faixas etárias de 15 a 25 anos, 26 a 45 anos e acima de 45 anos, com níveis fundamental, médio e superior de escolaridade. Dentre todos, 36 foram submetidos ao protocolo de fala lida e 18 ao protocolo de teste de imagens. De modo geral, a escala de pitch utilizada, para as mulheres, foi de 90Hz a 400Hz e, para os homens, de 70Hz a 200Hz.

Os valores, em Hz, das três variedades paraenses investigadas foram submetidos a testes-T para verificar se as vogais apresentavam entre si diferenças estatisticamente significativas. Os testes mostraram que não havia diferença significativa.

Posteriormente, as medidas de cada variante foram separadas por informante, como é possível ver na Figura 7. Dessa forma, foi possível tirar as médias dos valores em Hz de F0 das variantes estudadas.

Figura 5 – Janela do Excel demonstrando como os dados foram organizados

por informante para que fosse retirada a média de cada variante

De posse dos valores de F0 em Hz, foi utilizada uma planilha de conversão de valores para semitons (ST) . Desse modo, foi possível, também, tirar as médias dos valores em ST para cada variante. Com as médias dos valores de F0 em Hz e ST por informante, foram elaborados gráficos que podem ser visualizados mais adiante.

No documento Estudos em variação geoprosódica (páginas 41-45)