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PROJETO NORTE VOGAIS ORIGEM DOS DADOS

No documento Estudos em variação geoprosódica (páginas 37-41)

Marlucia Lopes Moraes Regina Célia Fernandes Cruz

A F0 INTRÍNSECA COMO PARÂMETRO ACÚSTICO DE IDENTIDADE DAS VARIANTES DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ-TÔNICAS DO PORTUGUÊS FALADO

1. PROJETO NORTE VOGAIS ORIGEM DOS DADOS

Desde 2007, o projeto Norte Vogais tem se dedicado a descrições do processo de variação das vogais médias pré-tônicas do português falado no Estado do Pará ao Norte do Brasil. As descrições sociolinguísticas realizadas sobre o falar de cinco municípios paraenses - Cametá (RODRIGUES; ARAUJO, 2007), Mocajuba (CAMPOS, 2008), Breves (CASSIQUE ET AL 2009; DIAS ET AL, 2007), Breu Branco (MARQUES, 2008; CAMPELO, 2008; COELHO, 2008) e Belém (CRUZ ET AL 2008; SOUSA, 2010) - indicaram a manutenção das médias pré-tônicas como a variante de maior frequência de ocorrência em detrimento ao alteamento, assim como os casos de abaixamento registrados nos dados foram interpretados como resultados de harmonia vocálica.

Diante do avanço das descrições sociolinguísticas do português falado na Amazônia paraense, o projeto Norte Vogais, em 2010, estabeleceu uma nova diretriz: refinar os resultados de tais descrições, procedendo à análise acústica das vogais átonas do português falado no estado do Pará. Nesse sentido, as análises acústicas do sistema pré-tônico empreendidas por Cruz (2012), Cruz; Costa e Silva (2012), Costa e Cruz (2013), Costa e Cruz (2014), Cruz, Lopes, Costa (2014), Souza (2015), Costa (2015) – todas integrantes do projeto Norte Vogais - na variedade do português falada nos municípios de Belém, Cametá e Barcarena ratificaram que a manutenção das vogais médias pré-tônicas é a variante de maior ocorrência no português falado nas respectivas variedades, corroborando com as investigações sociolinguísticas.

O projeto Norte Vogais analisa dados obtidos por meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados, a saber: a) leitura de um texto em voz altae b) teste induzido por imagem. No protocolo de fala lida, os informantes produzem vocábulos contendo a vogal alvo por meio da leitura de um texto sobre futebol. O texto conta com a presença de 51 vocábulos alvo. Já no protocolo de teste de imagens, 72 vocábulos selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeção de imagens referentes a estes vocábulos, solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou três vezes para que o melhor sinal sonoro fosse considerado na pesquisa. Em ambos os protocolos, os vocábulos foram selecionados com base no contexto de alta variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguísticos realizados anteriormente.

Esse banco de dados é composto com a amostra de fala de 18 (dezoito) informantes nativos da cada variedade investigada – Belém, Cametá, Barcarena, Mocajuba e Bragança – estratificados em sexo (masculino e feminino) faixa etária (15 a 25 anos; 26 a 45 anos; acima

38 Gisele Braga Souza et al.

de 45 anos) e grau de escolaridade (ensino fundamental; ensino médio; ensino superior). Para a elaboração do presente trabalho foram utilizados osdados de leitura dos falantes de Belém e Barcarena e de teste de imagens de Cametá.

/e/ /o/

b/e/bida p/e/pino r/e/polho ap/o/sentado c/o/zinha nam/o/rados

c/e/rveja p/e/queno s/e/gunda b/o/neca d/o/mingo paraf/o/lia

cab/e/luda p/e/rfume s/e/rviço b/o/nita f/o/gueira p/o/lícia

c/e/rtificado pr/e/cisa s/e/tenta b/o/rracha f/o/guete pr/o/cissão

c/e/rveja p/e/rigo t/e/atro c/o/brador f/o/rmiga pr/o/fessora

d/e/zesseis p/e/scadores t/e/soura c/o/légio f/o/rmigueiro pr/o/fundo

/e/mprego pr/e/guiça v/e/ado c/o/madre g/o/rdura r/o/cambole

/e/scola pr/e/sente v/e/rgonha c/o/mandante g/o/verno r/o/ndônia

/e/scravo pr/e/sidente c/o/mer h/o/spital s/o/rriso

/e/stante qu/e/brado c/o/mpadre l/o/teria t/o/alha

f/e/liz qu/e/rido c/o/mprido m/o/eda t/o/mate

f/e/chada pr/e/sídio c/o/stura m/o/radores

m/e/nino r/e/médio c/o/ruja m/o/squiteiro

Quadro 1 – Lista dos 71 vocábulos contendo as vogais médias alvo presentes nos protocolos de coleta de dados

Os dados selecionados foram segmentados no programa PRAAT, em 6 (seis) níveis, a saber: a) enunciado, b) palavra, c) palavra alvo, d) sílaba, e) vogal, d) duração da vogal. Para a transcrição fonética adotamos o alfabeto SAMPA1. Ainda no programa PRAAT foi feita a extração dos vocábulos alvo do sinal de áudio, seguido do isolamento dos sinais de áudio e transcrição em arquivos individuais.

No programa PRAAT, também foram realizadas as tomadas de medidas físicas na parte central de cada vogal alvo, a saber: F1, F2, F0 e duração. Para compor os resultados do presente trabalho foram utilizadas somente as medidas de F0, como veremos adiante. Vale ressaltar que a escala de pitch utilizada na análise foi considerada por informante, como descreveremos em detalhes também mais adiante. Depois de tais procedimentos, todos os dados foram organizados em uma planilha Excel, juntamente com as informações dos informantes e seus respectivos códigos, os quais são dados seguindo o quadro a seguir:

Código Significado

B Português brasileiro

E Pará

0 Belém

1 Primeira Faixa Etária (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etária (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etária (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Médio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

01/18 Ordem Cronológica do Informante

Y Código do Protocolo de Fala Lida

X Código do Protocolo de Teste de Imagens

40 Gisele Braga Souza et al.

Após a tomada de medidas físicas, a primeira etapa da análise foi definir o espaço acústico das vogais alvo de cada variedade investigada, utilizando a média dos valores em Hz de F1 e F2.

Figura 1 – Espaço acústico com os valores de F1 e F2 das vogais médias pré-tônicas

da fala feminina e masculina das variedade de Barcarena, Belém e Cametá

Na Figura 1, que traz os dados da fala feminina e masculina, observa-se que, na fala feminina, as variantes ocupam espaços acústicos semelhantes nas três variedades, principalmente, no caso das variantes anteriores [i] e [e] que são muito próximas entre si e distantes de [E] em Barcarena, Belém e Cametá. Quanto às posteriores, Belém destoa de Barcarena e Cametá por apresentar o [u] mais distante das demais variantes.

Já na fala masculina, verifica-se que, assim como na fala masculina, [i] e [e] são muito próximos entre si e distantes de [E] nas três variedades estudadas. Já as variantes posteriores, de modo geral, apresentam espaços acústicos distintos de uma variedade para outra, mas Barcarena se assemelha à Cametá em virtude da grande proximidade entre [u] e [o].

Testes-T também foram realizados com as medidas de F1 e F2 para saber se havia diferença significativa entre as variantes das vogais médias pré-tônicas. Os resultados dos testes foram negativos para todas as três variedades investigadas – Belém, Barcarena e Cametá.

A análise acústica das variantes das vogais alvos, considerando seus valores em Hz de F1 e F2, indicou, que apesar de visualmente se poder discriminá-las no espaço acústico, a

diferença entre os valores de F1 das variantes não era significativa. O teste estatístico T

verificar, se esta mesma identidade era reforçada pelos demais parâmetros físicos, em particular pelo parâmetro físico de F0.

No documento Estudos em variação geoprosódica (páginas 37-41)